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O empenho de emendas parlamentares em 2023 foi maior do que o dobro do que foi feito no último ano do governo passado, de acordo com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha. Segundo ele, de janeiro a 28 de dezembro, foram empenhados R$ 34,681 bilhões em emendas, o equivalente a 106,1% a mais do que os R$ 16,824 bilhões de 2022. 

O empenho é a reserva do dinheiro que vai ser pago depois que o serviço for concluído ou a compra for entregue. “Cada recurso (das emendas parlamentares) significa mais unidades de saúde, escolas, para habitação, para infraestrutura das cidades, para o desenvolvimento local e para a área da cultura (por exemplo)”, afirmou Alexandre Padilha. O ministro defendeu que a alocação do dinheiro leva em conta o conhecimento dos parlamentares para as diferentes realidades locais.   

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Padilha identificou que diferentes tipos de emendas foram contempladas, o que incluiu aumento de recursos tanto para as demandas individuais dos parlamentares (93% a mais do 22, chegando a R$ 20,6 bi), das bancadas (crescimento de 27,2%, no total de R$ 7,3 bilhões), e também das comissões (elevação de 2.050%, que foi de R$ 308 milhões para R$ 6,6 bilhões). 

Municípios

O governo ressaltou ainda a elevação dos pagamento das transferências especiais (indicadas pelos parlamentares e voltadas a municípios). Em 2023, segundo o ministério, o governo Lula pagará 100% dos R$ 7,09 bilhões iniciais, além de R$ 1,7 bilhão do governo anterior.   “O governo do presidente Lula garantiu apoio às finanças dos municípios, das prefeituras esse ano, com a compensação de recursos do Fundo de Participação dos Municípios. Foram R$ 10 bilhões a mais, ou seja, fortalecendo ainda mais as prefeituras”, afirmou Padilha. 

Caravana

O ministro acrescentou que, para garantir a efetividade dos recursos, o governo criou a “Caravana Federativa”, que irá levar representantes de vários ministérios para se reunir com prefeituras e governos estaduais para esclarecer como ocorre, legalmente, a liberação e como aplicar esses recursos.

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, anunciou a liberação de R$ 3 bilhões em emendas parlamentares para cerca de 3 mil municípios. De acordo com o ministro, os recursos serão possíveis "graças ao diálogo e à cooperação entre o Congresso e o governo federal".

O anúncio foi feito às vésperas da Marcha dos Prefeitos, evento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que ocorre em Brasília na próxima semana, conforme mostrou o Broadcast Político. "Estaremos de braços abertos para receber prefeitas e prefeitos de todo o Brasil", anunciou o ministro no Twitter.

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De acordo com Padilha, os recursos vão ajudar na retomada de obras e na implantação de diversos projetos. "Esses recursos só vão chegar graças ao diálogo e à cooperação entre o Congresso e o governo federal. As emendas foram apresentadas por parlamentares de diversos partidos e o governo analisou todas elas com base em critérios técnicos", declarou.

O ministro afirmou que as verbas deixaram de ser pagas no governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que agora foram autorizadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Isso mostra o nosso compromisso na reabilitação do pacto federativo, após o desgoverno dos últimos anos", disse.

Investigação da Polícia Federal acusa três deputados federais do partido do presidente Jair Bolsonaro, o PL, de participarem de suposto esquema de cobrança de propina de 25% sobre o valor de emendas parlamentares destinadas ao Maranhão. As verbas da saúde desviadas do orçamento da União retornariam aos deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE), por meio de um esquema criminoso que envolvia ameaças. O líder do esquema seria Josimar Maranhãozinho, que usa suas empresas para lavagem de dinheiro.

O valor desviado, segundo a PF, é de R$ 1.667.750,00, que corresponde a 25% das emendas enviadas por Maranhãozinho, Pastor Gil e Bosco Costa a municípios maranhenses. No esquema, segundo a PF, um agiota empresta dinheiro para parlamentares investigados, os quais se comprometem a devolvê-lo por meio do desvio de parte dos valores oriundos das emendas parlamentares.

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A PF destaca que é estranho um deputado do Sergipe, caso de Bosto Costa, enviar "emendas de alto valor" (R$ 4 milhões) para o Maranhão, o que indicaria, segundo a Polícia, que "este Estado pode ter se tornado um 'paraíso' para o desvio de emendas parlamentares".

Maranhãozinho, segundo a PF, "é quem está à frente da estrutura criminosa, capitaneando não somente a destinação dos recursos públicos federais oriundos de emendas (próprias e de outros parlamentares comparsas) para os municípios, mas também orientando a cobrança (utilizando, inclusive, de estrutura operacional armada), ao exigir dos gestores municipais a devolução de parte dessas verbas". Ele usaria uma "estrutura operacional, que lhe é subordinada, para exigir a devolução de parte dos recursos federais oriundos dessas emendas em benefício da organização criminosa).

O envolvimento dos parlamentares começou a ser apurado após seus nomes aparecerem em anotações apreendidas na primeira fase da Operação Ágio Final, que investigava ameaças ao ex-prefeito de São José de Ribamar-MA, Eudes Sampaio. Ele disse ter sido alvo de extorsão em fevereiro de 2020, quando era prefeito, pelo agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como Pacovan, e pelo ex-prefeito de Água Doce-MA Rocha Filho. Eles foram à sede da prefeitura de São José de Ribamar e exigiram pagamento de propina de R$ 1.667.750,00, alegando serem os responsáveis pelo envio de recursos federais para ações na saúde no município. O prefeito recusou e procurou a polícia para dizer que ele e sua família sofreram graves ameaças.

A PF pediu e obteve na justiça a prisão de Pacovan e de outros dois investigados. Na operação, foram colhidos materiais que apontaram o caminho para os parlamentares como beneficiados do esquema. "Foram encontrados indícios que apontam para a presença de congressistas no direcionamento e desvio de porcentagens de emendas parlamentares, que eram objeto de extorsão por parte do braço operacional da estrutura criminosa."

A PF diz que parlamentares negociam diretamente com lobistas captação e desvio das emendas, e negociam com prefeitos a devolução de parte das verbas encaminhadas.

COM A PALAVRA, JOSIMAR MARANHÃOZINHO

Em nota publicada nas redes sociais, o deputado afirmou que colabora com as investigações e fala em 'espetacularização' da ofensiva.

 

COM A PALAVRA, OS PARLAMENTARES

A reportagem buscou contato com os deputados até a publicação deste texto, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta sexta-feira (11), uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços ligados a três deputados federais do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. Entre os alvos está o deputado Josimar Maranhãozinho (MA), que foi flagrado pela PF com maços de dinheiro no âmbito de investigação sobre um esquema de desvios de emendas parlamentares. A PF também vasculha endereços ligados aos deputados Bosco Costa (SE) e Pastor Gil (MA).

Os mandados foram expedidos pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, e são cumpridos nas residências dos parlamentares e escritórios em suas bases. Os investigadores chegaram a solicitar diligências nos gabinetes dos deputados, mas o pedido foi indeferido pelo ministro. A Procuradoria-Geral da República chegou a recorrer da decisão, mas o Plenário do STF manteve a decisão de Lewandowski, em sessão virtual.

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Como mostrou o Estadão, há pelo menos dois inquéritos sigilosos abertos no Supremo para apurar o esquema batizado de "feirão das emendas" por deputados e assessores - entre eles Maranhãozinho. A suspeita é de que parlamentares cobram comissão para indicar recursos do Orçamento a uma determinada prefeitura. O dinheiro seria pago por empresas interessadas nas obras e serviços ou pelo próprio agente público.

A operação de hoje é um desdobramento da Ágio Final, iniciada no Maranhão em dezembro de 2020. Na origem do caso, um prefeito maranhense denunciou à PF que um agiota do Maranhão conhecido como Pacovan cobrava propina e dizia que atuava para parlamentares. A PF aprendeu entre os papéis desse investigado lista com nomes dos parlamentares agora sob investigação.

Em outubro, o ministro da Controladoria-Geral da União Wagner Rosário disse em audiência pública na Câmara dos Deputados que existem várias investigações sobre venda de emendas parlamentares e qualquer dia teríamos notícias.

As vendas de emendas estão entre os principais riscos de corrupção no chamado orçamento secreto. O esquema, revelado pelo Estadão, permite a deputados e senadores, em troca de apoio do governo, escolher onde quiserem enviar bilhões dos cofres públicos sem que seus nomes apareçam. Assim, por exemplo, podem mandar milhões para Estados que não representam para obras que não vão beneficiar seus eleitores e em troca receber pagamentos indevidos.

Defesas

A reportagem busca contato com os deputados. O espaço está aberto para manifestações.

A declaração do pastor José Wellington Bezerra da Costa sobre suas intervenções em repasses de emendas a parlamentares causou desconforto entre líderes evangélicos e provocou críticas. Como o Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) revelou, José Wellington - um dos líderes mais influentes da Assembleia de Deus no Brasil - admitiu que a igreja tem feito a intermediação do pagamento de emendas para eleger três de seus filhos em São Paulo. "A emenda só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus", afirmou ele, durante reunião de obreiros, na segunda-feira (7), em São Paulo.

Os filhos do pastor - o deputado federal Paulo Freire Costa (PL-SP), a deputada estadual Marta Costa (PSD) e a vereadora Rute Costa (PSDB) - tiveram acesso a R$ 25 milhões em recursos públicos, no ano passado.

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Para o reverendo Valdinei Ferreira, líder da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, o episódio expõe uma distorção na relação entre igrejas e políticos. "É mais um sinal de apodrecimento das relações entre religião e política. As igrejas devem cobrar políticas públicas e podem ser parceiras do poder público na execução de determinadas ações, mas não entrar na lógica de um despachante", disse Ferreira. Para ele, a intermediação de emendas abre margem para corrupção e enriquecimento de líderes religiosos. "Certamente, a igreja ganha o poder, mas perde a credibilidade."

'Foco'

Nas redes sociais, o pastor Carlito Paes - da Igreja da Cidade, de São José dos Campos (SP) - também criticou o comportamento do religioso. "Pastores e igrejas, acordem, ainda temos tempo de ajustar o foco para o real Evangelho e para igreja, temos tantas oportunidades!", escreveu Paes, que votou em Jair Bolsonaro, em 2018, mas hoje não apoia mais o presidente.

A participação de um pastor na escolha do destino das emendas parlamentares não é vista como crime, segundo procuradores ouvidos pela reportagem. O caso de José Wellington, porém, pode ter consequências graves se uma investigação constatar desvio de recursos públicos.

O líder da bancada evangélica no Congresso, deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), defendeu a prerrogativa de religiosos atenderem suas bases. "Meu pastor nunca me indicou um único município ou instituição para que fosse enviado um real de emenda. Mas isso é uma decisão do parlamentar, de seus líderes e suas bases", disse ele, que é ligado à Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada por Silas Malafaia.

Os recursos para o Ministério da Educação deverão ter aumento da ordem de 28% em 2022, em comparação a 2021, podendo chegar a R$ 134,7 bilhões. A informação foi dada nesta quinta-feira (3) pelo relator das emendas destinadas à Educação na Comissão Mista de Orçamento (CMO), senador Wellington Fagundes (PL-MT). Ele participou da segunda audiência pública da Subcomissão Temporária para Acompanhamento da Educação na Pandemia, que funciona no âmbito do Senado. Com esse aumento de verba, o parlamentar acredita que será possível a adoção de medidas para garantir um retorno seguro dos estudantes às escolas em todo o país, num cenário de pós-pandemia de coronavírus. 

Mas, além do reforço no Orçamento, Fagundes defendeu a discussão e a elaboração de medidas estratégicas pedagógicas eficientes tanto para a continuidade do ensino remoto quanto para aqueles que não se adaptaram às novas tecnologias educacionais. Ele considerou um avanço para o Brasil a sanção da Lei 14.187/2021, que autoriza estruturas industriais destinadas à fabricação de vacinas de uso veterinário a serem usadas na produção de imunizantes contra a covid-19. E ponderou que, além de ter ajudado o país a progredir na imunização dos brasileiros, também é fundamental o Congresso Nacional se empenhar sobre uma agenda que “desembarace a educação no país”. 

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"Todo esse trabalho em favor da ciência é para abrir o mercado promissor que tem como cliente o Brasil, colocando no braço de cada brasileiro o imunizante “verde e amarelo”, nos deixando preparados para outras pandemias ou epidemias. E colocando de volta o aluno em sala de aula com total segurança. Renovo a minha disposição nessa verdadeira missão de guerra, falando para cada brasileiro que passou pelo medo de ter a vida ceifada ou pela tristeza de perder um ente querido", declarou. 

Investimento, não "despesa"

Presidente da subcomissão, que é vinculada à Comissão de Acompanhamento da Covid-19, o senador Flávio Arns (Podemos-PR) falou da expectativa em torno dos investimentos no setor e reforçou que a ideia é reunir a contribuição do máximo de colaboradores e gestores, de modo a minimizar os efeitos da pandemia sobre a realidade da educação nas diversas regiões do país. Ao adiantar que a próxima audiência pública do colegiado está agendada para a as 10h da segunda-feira, dia 8, Flávio Arns disse que tem a intenção de tornar o debate permanente e, o acompanhamento dessas ações, continuado ao longo de 2022. 

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) afirmou que, sem educação, não há democracia, desenvolvimento e nem ciência e tecnologia. Na visão da parlamentar, é inadmissível que o poder público continue considerando educação uma mera "despesa", ao invés de vê-la como investimento, já que a área é a “mola do crescimento nacional”. Ela criticou a Emenda Constitucional 95, que congelou investimentos públicos em áreas como saúde, educação e ciência social por 20 anos, bem como a MP 795/2017, que resultou na Lei 13.586/2017, e dá incentivos fiscais para empresas petrolíferas. 

"Não está faltando dinheiro, mas estão destinando o retorno de impostos que seriam da educação para encher os bolsos de quem já têm muito. E aqui estamos fazendo o que existe de mais importante: dar conhecimento à população, porque tem de onde tirar os recursos. O abismo é cada vez maior entre os mais ricos e os mais pobres deste país e a gente não pode perder a capacidade de se indignar. É preciso investir em educação, ciência e tecnologia, que o resto vem naturalmente. E isso é uma decisão política", afirmou. 

Desafios acentuados

Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Manoel Gomes Araújo Filho disse que o órgão está entre os mais interessados no retorno das aulas presenciais. Segundo ele, questões como defasagem na aprendizagem, má formação dos profissionais do ensino e falta de estrutura nas escolas existem desde antes da pandemia e somente foram reforçados durante a crise sanitária. Para o debatedor, não há respostas diretas ou específicas que resolvam os problemas da educação no país. Segundo Heleno, esse caminho passa por diálogos sociais e políticos que, conforme declarou, ainda não foram institucionalmente estabelecidos. 

Na opinião de Araújo Filho, embora discussões como as promovidas pelo Senado sejam um caminho, o mesmo não ocorre por meio do Poder Executivo. Ele disse que nenhum ministro do governo de Jair Bolsonaro respondeu a pedidos da CNTE para discussões sobre temas que tenham ligação direta com o assunto. 

"Isso se repete em muitos governos estaduais ou municipais, onde as decisões são tomadas por pequenos grupos, chamados de especialistas, mas desconsiderando o conhecimento da comunidade escolar, que são as pessoas que sabem a fundo as realidades e necessidades e podem contribuir com estratégias muito mais eficazes para reduzir esses problemas já levantados". 

Educação laica e inclusiva

Um trabalho conjunto com os professores brasileiros de modo a assegurar a garantia do direito a uma educação laica, pública, inclusiva e equitativa. Esse é um dos maiores desafios ao cenário da educação brasileira no próximo ano, na opinião do presidente da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME), Manoel Humberto Gonzaga Lima. Conforme o debatedor, é necessário estabelecer uma consciência coletiva sobre os números da exclusão escolar impostos pela pandemia em 2020 e 2021 e tratar com atenção especial as escolas do campo, segundo ele, afetadas com maior força pela realidade da falta de tecnologias para aprendizagem. 

Lima elogiou as iniciativas do Senado no tocante às melhorias para a educação e mencionou, como exemplo, o empenho da Casa para a aprovação e a promulgação da emenda constitucional que tornou permanente o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Para o especialista, tem sido fundamental o trabalho dos parlamentares na elaboração da estratégia educacional para os próximos anos. 

Participação popular

A audiência pública teve a participação de internautas, que enviaram encaminhamentos, dúvidas e sugestões por meio do canal e-Cidadania. É o caso de Rafael dos Santos Torres, do Rio Grande do Sul, que defendeu a volta das aulas presenciais e embasou seu posicionamento no fato de ter percebido como a educação de uma irmã mais nova foi afetada pelo isolamento social obrigatório. Para Junia Alba Goncalves, de Minas Gerais, o ensino durante a pandemia revelou muitas fragilidades nas políticas públicas, uma delas, conforme descreveu, foi a falta de oferta de tecnologias aos alunos e professores. E Anna Christina Sebaio, também de Minas Gerais, escreveu que levar os alunos para a sala de aula tem sido um trabalho árduo. “Necessitamos despertá-los novamente para fazer parte da escola”, declarou.

*Da Agência Senado

 

Mesmo com as polêmicas em relação ao Orçamento aprovado pelo Congresso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse não ver problema em relação à peça orçamentária.

"Isso negociação foi feito com a Economia e o Congresso, que é quem fala de orçamento com o Congresso. Quem excedeu no seu acordo vai ter que voltar atrás. Quem excedeu, quem não, quem cumpriu, como eu disse no início da discussão, a nossa prioridade não é essa discussão; isso aí fica a cargo de quem vai opinar, porque tecnicamente o orçamento não tem problema. Absolutamente, nem para o Presidente nem para os órgãos que dele precisam para fazer a política pública se desenvolver no ano de 2021", disse Lira na Câmara nesta quarta-feira, 7.

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Foi divulgado nesta quarta-feira, 7, um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a regularidade do corte de despesas obrigatórias para o aumento de emendas parlamentares no Orçamento de 2021. O documento diz que há elementos de "densa relevância" para a análise da Corte de Contas, mas pede uma série de informações ao Ministério da Economia e à Casa Civil para embasar sua análise.

"Eu não vou me pronunciar sobre hipótese. Eu não vi o parecer do TCU, só vi a imprensa falar que ele era bastante superficial. Nós estamos aguardando a posição do Governo com relação à sanção do Orçamento", disse Lira.

O relatório preliminar foi feito depois que um grupo de deputados da Câmara e o senador Alexandro Vieira (Cidadania-SE) questionaram irregularidades na lei orçamentária como fixar despesas em montante insuficiente para cobrir todos os compromissos de caráter obrigatório da União em 2021. Os parlamentares pediram uma posição oficial do TCU.

O governo ainda debate quais são os caminhos para corrigir a peça e evitar penalidades sobre as irregularidades. Lira cobrou agilidade sobre a sanção da peça, mas disse acreditar que até amanhã "tudo estará resolvido".

"Nós continuamos sem Orçamento e sem poder atender determinados programas, a folha de pagamento. Então, não me preocupam esses detalhes, eu penso que todo acordo deve ser honrado na sua plenitude de parte a parte, e aí, é esperar para ver qual a decisão do Governo, e eu acho que até amanhã isso deve estar resolvido", disse.

Para Lira, se há falhas, a solução poderá ser dada por vetos a trechos do projeto ou envio de novas proposições para adequação.

"É de se esperar normalmente a posição com naturalidade. Toda essa especulação não gera nenhum proveito para o Brasil, que está sofrendo com pandemia, correndo atrás de vacinas, esperando que nós, políticos e técnicos do Governo Federal, de parte a parte, qualquer um dos Poderes possa contribuir para a saída deste momento de dificuldade que a gente vive, o resto é superficial", disse.

Deputados e senadores indicaram quase R$ 2 bilhões em emendas parlamentares para repasse direto a Estados e municípios neste ano, sem intermediação dos ministérios nem pente-fino do Tribunal de Contas da União (TCU). O volume das chamadas emendas sem carimbo é três vezes maior do que o indicado em 2020, quando foram pagas pela primeira vez.

Com a transferência direta, prefeitos e governadores podem usar o recurso em qualquer área, sem prestar contas no momento do repasse, diferentemente do que ocorre com outros tipos de emendas, carimbadas para projetos específicos. A fiscalização das transferências especiais caberá aos tribunais locais.

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Emendas parlamentares são recursos indicados todos os anos por deputados e senadores no orçamento da União e é usado por eles como ferramenta para aumentar o cacife político em seus redutos eleitorais. O pagamento é obrigatório, mas o momento da liberação é negociado com o Executivo, e serve como moeda de troca por votos em projetos de interesse do governo no Congresso.

Em 2020, essas emendas totalizaram R$ 621,2 milhões e, neste ano, ficarão em R$ 1,979 bilhão, conforme proposto pelos parlamentares no projeto de Lei Orçamentária (LOA). A proposta deve ser votada no Congresso até o próximo dia 24.

O argumento dos congressistas para escolher esse tipo de emenda é a rapidez para a chegada da verba em obras e projetos de interesse nos redutos eleitorais. Como não passam por ministérios nem precisam de atestado técnico de órgãos como a Caixa Econômica Federal, o risco de o recurso ficar "pendurado" e atrasar é menor, afirmam.

Das emendas empenhadas nos últimos seis anos, por exemplo, R$ 28,6 bilhões ainda não foram pagos. No caso das transferências especiais, tudo foi pago no mesmo ano, o que ampliou a adesão do Congresso a esse tipo de indicação.

"Antes, se a obra dependia da Caixa, eram seis anos até receber o recurso. Tinha prefeito que não via a obra acontecer. Hoje, a gente manda e ele faz em sete meses", afirmou o deputado Eduardo Bismarck (PDT-CE), que indicou R$ 7,5 milhões para o Ceará nessa modalidade. "A fiscalização na ponta é tão eficiente quanto na esfera federal. Talvez até melhor, porque os órgãos estão próximos de quem está executando a obra."

As transferências especiais são autorizadas para emendas individuais, aquelas indicadas por cada deputado e senador no Orçamento. Uma mudança na Constituição, em dezembro de 2019, permitiu esse recurso no Orçamento para os anos seguintes. Agora, o Congresso avalia ampliar o modelo sem carimbo para aquelas indicadas coletivamente por parlamentares de um mesmo Estado. Não há consenso, porém, sobre essa ampliação porque parlamentares de oposição aos governadores de seus Estados resistem a repassar recurso livre às administrações estaduais.

O primeiro ano das emendas sem carimbo, em 2020, serviu como um teste, na avaliação dos parlamentares. Vendo os recursos chegarem com mais rapidez em relação às outras indicações, a adesão aumentou. "Realmente, só conseguirei verificar o exato uso na prestação de contas, mas espero que o dinheiro público chegue o quanto antes a quem precisa", disse o senador Plínio Valério (PSDB-AM), autor de R$ 1,980 milhão em emendas sem carimbo.

Fiscalização

O Tribunal de Contas da União (TCU), que fiscaliza as contas do governo federal, e o Ministério da Economia, responsável pelas transferências indicadas pelos parlamentares, ainda não verificaram onde foi gasto o dinheiro repassado por meio de emendas especiais, sem carimbo, no ano passado, quando houve eleições municipais.

As transferências especiais, segundo o TCU, ainda não foram tratadas em nenhum processo específico, mas serão contempladas na análise das contas do presidente Jair Bolsonaro, a ser enviada ao Congresso em junho. Na prática, porém, a fiscalização depende da prestação de contas feitas por Estados e municípios. "Como o controle do atendimento dessas condições fica a cargo do governo local, a prestação de contas pelo ente beneficiário torna-se crucial na verificação e na fiscalização do cumprimento da legislação", disse o TCU.

Em resposta ao Estadão, o Ministério da Economia classificou esse tipo de emenda como um "marco inovador, uma vez que essa nova modalidade proporciona mais simplicidade na transferência desses recursos". A pasta criou uma plataforma na internet para acompanhar os repasses para prefeitos e governadores - eles não são obrigados, porém, a prestar contas de como gastaram o dinheiro nesse portal. "O acompanhamento da execução desses recursos deve ser realizado pelos órgãos de controle competentes, como os Tribunais de Contas Estaduais e Municipais."

Pela Constituição, as emendas sem carimbo passam a pertencer aos municípios e Estados no momento da transferência. Pelo menos 70% precisam ser aplicados em investimentos e não podem entrar na conta de arrecadação a ponto de aumentar as despesas com o pagamento de servidores. Quem recebe pode aplicar o recurso onde quiser, o que é criticado por órgãos de controle por representar um "cheque em branco".

"Nunca acompanhei prestação de contas. Isso é feito pelos prefeitos para os tribunais. É uma novidade muito recente", afirmou o deputado Júlio Cesar (PSD-PI), que colocou R$ 6,1 milhões em emendas livres para municípios do Piauí. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

No momento em que discute de onde tirar dinheiro para uma nova rodada de auxílio emergencial, o Congresso se prepara para derrotar o governo e tomar o controle de fatia maior do Orçamento. Além do que já têm direito por meio de emendas, deputados e senadores querem aumentar em R$ 18,4 bilhões o valor em que podem indicar a destinação. Desta forma, caberá aos parlamentares dizer como e com o que o Executivo vai gastar R$ 34,7 bilhões do dinheiro público neste ano.

Não é a primeira vez que o Congresso tenta ampliar o montante das emendas parlamentares, nome dado às indicações feitas ao Orçamento para destinar recursos a redutos eleitorais de políticos. No ano passado, por exemplo, houve uma queda de braço com o governo de Jair Bolsonaro pelas chamadas emendas de relator, que somavam cerca de R$ 30 bilhões. A manobra, tratada na época como "chantagem" pelo Palácio do Planalto, foi vetada pelo presidente.

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Os deputados e senadores, porém, não saíram de mão abanando e foram contemplados ao indicar o destino de recursos para o combate à pandemia de covid-19. Como revelou o Estadão, o governo também abriu o cofre para eleger aliados nos comandos da Câmara e do Senado. Foram ao menos R$ 3 bilhões em recursos extraordinários liberados para ajudar a angariar votos em favor do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Agora, o Planalto conta com o apoio destes aliados para conter o apetite de parlamentares por recursos públicos. A deputada Flávia Arruda (PL-DF), escolhida por Lira para presidir a comissão de Orçamento, observou que os valores ainda estão em discussão. "Esse número (R$ 18,4 bilhões) é das dezenas de emendas apresentadas, mas não foi aprovado ainda", disse ela ao Estadão. A votação do relatório final na comissão está marcada para o próximo dia 23.

O meio usado pelos parlamentares para indicar os R$ 18,4 bilhões a mais foram as chamadas emendas de comissões, em que cada colegiado da Câmara e do Senado entra em acordo para apontar o destino dos recursos.

Em dezembro, o Congresso abriu caminho para transformar as emendas de comissões em impositivas, ou seja, quando o governo é obrigado a pagar. Bolsonaro vetou esse trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas deputados e senadores agora se preparam para derrubar o veto. Uma sessão para analisar a decisão do presidente está prevista para a primeira quinzena do mês.

Técnicos do governo alegam não haver espaço no Orçamento para aumentar as despesas com emendas e, caso o valor a mais seja aprovado, o Congresso deverá indicar de onde pretende cortar. Se o Planalto conseguir evitar a derrota e mantiver o veto, apenas as emendas individuais e de bancadas - que totalizam R$ 16,4 bilhões - estarão garantidas para os parlamentares.

Justificativa

Para justificar o aumento de recursos das emendas, parlamentares alegam que governadores e prefeitos tiveram queda nos repasses neste início de ano, enquanto ainda enfrentam restrições por causa da pandemia de covid-19. Sem o chamado "Orçamento de guerra", que aumentou a destinação de dinheiro da União para Estados e municípios em 2020, afirmam que é preciso incrementar o caixa dos governos locais neste ano também.

"Na Saúde, nós poderemos ter problemas muito sérios a partir do segundo semestre", afirmou a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC).

As emendas para saúde, porém, representam uma fatia pequena das indicações das comissões - R$ 1,6 bilhão. O maior valor, de R$ 4,8 bilhões, tem como objetivo irrigar o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que financiou pequenos negócios no ano passado em função da crise de covid-19, mas não tem orçamento para este ano.

A indicação foi aprovada por senadores na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que discute tornar o programa permanente. "Os senadores não vão se furtar, em momento nenhum, de estar ao lado, de proteger e de ajudar para que o microempresário continue vivo, respirando", afirmou o senador Jorginho Mello (PL-SC), autor do projeto que criou o Pronampe e da emenda de R$ 4,8 bilhões. Vice-líder do governo e um dos principais aliados de Bolsonaro no Senado, Jorginho não apontou, no entanto, de onde sairão os recursos para o programa.

O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), disse acreditar que o valor das emendas de comissão caia nos próximos dias. "Essas emendas não guardam coerência nenhuma com o que vai ser aprovado, porque não tem dinheiro para isso", admitiu. Segundo o senador, é usual que o valor seja reduzido na versão final do Orçamento.

Gomes também disse que o Congresso deverá manter o veto de Bolsonaro à LDO, evitando que as emendas de comissões se tornem obrigatórias. "Até acho que no futuro vai acabar sendo, mas não neste momento. O Orçamento está muito restrito por causa do auxílio (emergencial), das dificuldades da economia", afirmou.

O Ministério da Economia e a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política do Planalto, também foram procurados, mas não se manifestaram.

Recursos contra covid-19

Após críticas de que a Câmara está mais preocupada em blindar parlamentares de processos do que com a pandemia de covid-19, o presidente da Casa, Arthur Lira, fará um movimento nesta terça-feira para sair da agenda negativa. Lira vai receber uma comitiva de governadores, em Brasília, para discutir como aumentar os recursos destinados ao enfrentamento da pandemia.

O Estadão apurou que Lira irá sugerir aos governadores que orientem os deputados de seus Estados a alocar todas as suas emendas e as de bancada para ações de combate ao coronavírus. O presidente da Câmara também vai propor que a Comissão de Orçamento vote recomendação expressa para que qualquer excesso de arrecadação seja direcionado prioritariamente à pandemia, sob o argumento de que a situação é "excepcional". Deve dizer, ainda, que cabe aos governadores "liderar" essa mobilização.

Num aceno ao mercado, Lira vai destacar que, para respeitar o teto de gastos, será necessário compensar eventuais novas despesas cortando recursos de outras rubricas. A iniciativa marca uma posição antagônica ao presidente Jair Bolsonaro, que vive em atrito com os Estados.

Dezoito governadores reagiram ontem à tentativa do presidente de empurrar para eles a culpa pelo recrudescimento da pandemia. A atitude de Lira não significa, porém, um distanciamento de Bolsonaro. Mas é uma saída política após críticas de que, sob sua gestão, a Casa adotou agenda corporativa e comprou briga com o Supremo Tribunal Federal.

Desde que foi eleito para comandar a Câmara, há um mês, Lira vinha defendendo a vacinação em massa. A pauta das últimas semanas, no entanto, priorizou a autonomia do Banco Central, a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, que não avançou, marcando sua primeira derrota. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), cumpre agenda em Brasília nesta quarta-feira (24). O gestor da capital pernambucana tem reuniões na tarde de hoje na Secretaria do Tesouro Nacional e no Ministério de Infraestrutura. Os encontros estão marcados, respectivamente, para às 15h e 16h. A pauta das reuniões não foi adiantada pelo pessebista, que está no centro do poder brasileiro desde essa terça-feira (23). 

Nessa terça, ele se reuniu com os coordenadores da bancada de Pernambuco na Câmara, os deputados Augusto Coutinho e Wolney Queiroz. O prefeito articulou a destinação de recursos, por meio de emendas parlamentares, para obras e investimentos no Recife. 

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“Reunião muito produtiva com os deputados Augusto Coutinho e Wolney Queiroz e tivemos a oportunidade de discutir a destinação de emendas da bancada de Pernambuco para obras importantes que temos planejadas para o Recife. Tratamos de projetos nas áreas de Saúde, Educação, Infraestrutura, entre outras áreas estratégicas. Vamos continuar buscando todas as fontes de recurso possíveis para fazer os investimentos que o Recife precisa”, afirmou o prefeito João Campos.

Além das tradicionais emendas individuais que cada parlamentar federal têm direito, há o instrumento da emenda de bancada, que permite a destinação de recursos acordada pelo conjunto dos representantes do Estado no Congresso Nacional.

A Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério da Cidadania publicou, na edição desta quinta-feira do Diário Oficial da União, portaria para tornar públicas as programações financeiras oriundas de emendas parlamentares individuais impositivas destinadas às ações de enfrentamento do novo coronavírus. As emendas, executadas pelo Fundo Nacional de Assistência Social, referem-se ao exercício financeiro de 2020 e restos a pagar do exercício financeiro de 2019.

Segundo o texto da portaria, as programações visam a estruturação da rede de serviços do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), sendo: à estruturação da rede socioassistencial dos Estados, municípios e do Distrito Federal, para fins de investimento; ao incremento temporário às transferências financeiras para fins de custeio.

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Clique aqui para ver a íntegra da Portaria e o anexo com a distribuição dos recursos.

Disposto a agradar ao Centrão para barrar eventual processo de impeachment e forçado a gastar para combater o novo coronavírus, o governo do presidente Jair Bolsonaro bateu recorde de liberação de emendas parlamentares durante a pandemia. Somente em abril, R$ 6,2 bilhões foram empenhados (quando a gestão se compromete com a despesa) - trata-se do maior valor para um único mês desde 2016, ano em que o monitoramento individual das emendas passou a ser possível.

O montante efetivamente pago também foi o maior para um único mês ao longo dos últimos anos, R$ 4 bilhões. As emendas são indicações feitas por deputados e senadores de como o governo deve gastar o dinheiro do Orçamento. Os parlamentares costumam direcionar as verbas para seus redutos eleitorais e, com isso, ganham a paternidade de obras e ações que beneficiam diretamente seus eleitores, o que acaba contribuindo com suas reeleições. O dinheiro vai para construções de praças, pontes, hospitais, compra de equipamentos hospitalares, distribuição de cestas básicas, entre outras ações.

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Em abril, por exemplo, o deputado Dimas Fabiano (PP-MG) recebeu créditos na página oficial da prefeitura de Passa Quatro, cidade mineira em que tem influência. "Sabia que o município de Passa Quatro vai repassar para a Casa de Caridade (Santa Casa) R$ 225 mil, por meio de emenda parlamentar do deputado Dimas Fabiano?", destacava a publicação oficial. Sabendo disso, o governo usa as emendas para barganhar apoio em votações no Congresso.

Os dados são do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) e foram compilados a pedido do Estadão pela ONG Contas Abertas. O levantamento considera todos os tipos de emendas: individuais, de bancada, de comissões e do relator. "É recorde absoluto, de empenho e de pagamentos. Até então, o maior empenho tinha ocorrido no final do ano passado. Em dezembro, foram R$ 3,9 bilhões", afirmou o secretário-geral da ONG Contas Abertas, o economista Gil Castello Branco.

Embora seja obrigado a pagar as emendas, o Executivo controla o calendário de transferências. O histórico desses repasses mostra que governos costumam acelerar o ritmo do desembolso quando precisam de apoio na Câmara e no Senado para aprovar projetos cruciais e até mesmo para barrar processos de impeachment.

Apesar de não ter sido o único fator que explique a maior liberação de emendas, o novo canal de diálogo do governo com o Centrão teve influência nesses pagamentos, na visão de Castello Branco. "Não é só o 'toma lá, dá cá' (de cargos). Houve volume atípico de emendas de relator e tem a pandemia. As emendas para Saúde são maiores, mas metade delas tem de ser para Saúde mesmo. E em abril, claro, estamos na fase do Centrão, que está nadando de braçada", disse o economista.

Dos R$ 6,2 bilhões empenhados em abril, R$ 3,7 bilhões estão relacionados à Saúde. Outros R$ 2 bilhões, porém, dizem respeito a demandas em ministérios da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional. As pastas controlam obras que despertam interesse eleitoral.

O pagamento de emendas na primeira metade deste ano é fundamental para políticos. O período de campanha impõe restrições aos gestores, entre elas a vedação de repasses a partir de julho. Caso não ocorram no primeiro semestre, os desembolsos só podem ser feitos após as eleições, o que seria um problema para lideranças que buscam holofotes nas disputas municipais, seja para concorrer ou para apoiar aliados.

Efeito

"Se deixasse para liberar em novembro, poderia não surtir o mesmo efeito", admitiu líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB).

Para técnicos da Câmara, é comum ocorrer aumento dos repasses em abril e maio porque o Executivo costuma usar cerca de cem dias, a partir da sanção da lei orçamentária, para avaliar eventuais problemas. Ainda assim, o dinheiro empenhado em abril foi quase o dobro dos R$ 3,3 bilhões reservados no mesmo mês de 2018.

Em abril, os pagamentos mais robustos foram, individualmente, para parlamentares de partidos do Centrão, que, até então, não haviam conseguido liberações. O maior beneficiado, com R$ 15,9 milhões, foi Josimar Maranhãozinho (PL-MA), homem da confiança de Valdemar Costa Neto.

Valor praticamente semelhante foi liberado por emendas de Mauro Lopes (MDB-MG), integrante do Conselho de Ética da Câmara e conhecido pela complacência com colegas que são alvo de processos no colegiado. Em terceiro, com R$ 15,7 milhões pagos em abril, Juarez Costa (MDB-MT), bolsonarista que flerta com o Centrão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Tradicional moeda de troca, as emendas parlamentares continuam tendo importância no jogo político, especialmente em anos eleitorais. Ainda que parlamentares tenham saído fortalecidos em recentes mudanças de regras, as emendas ainda são utilizadas como instrumento de barganha por presidentes.

Na cadeia das emendas parlamentares estão, além dos deputados e senadores, o governo federal que executa a alocação dos recursos e os municípios e Estados, destinatários do dinheiro que se transforma em investimentos locais e, eventualmente, palanque eleitoral.

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Mesmo o presidente Jair Bolsonaro, que se elegeu com um discurso contra a "velha política", se utilizou das emendas parlamentares em negociações. Só na semana da votação da reforma da Previdência, por exemplo, Bolsonaro liberou R$ 1,13 bilhão em emendas publicadas em edições extraordinárias do Diário Oficial da União.

Ao longo de 2019, primeiro ano de mandato, Bolsonaro desembolsou R$ 5,7 bilhões em emendas parlamentares, valor recorde em comparação aos presidentes anteriores.

Para o Orçamento de 2020, cada um dos 513 deputados e 81 senadores pôde propor até R$ 15,9 milhões em emendas individuais.

O que é e como funciona uma emenda parlamentar?

Emendas parlamentares são recursos do Orçamento público cuja alocação é indicada por deputados estaduais, deputados federais e senadores. Recebem esse nome porque são realizadas por meio de emendas ao projeto de Orçamento estadual ou federal, que é votado anualmente pelos parlamentares para o ano seguinte.

Como prevê a Constituição Federal, é função dos congressistas legislar sobre diretrizes orçamentárias e o Orçamento anual. Em outras palavras, no âmbito federal, são os deputados e senadores que deve indicar, analisando a proposta do poder Executivo, como a União deve gastar os recursos públicos.

No âmbito estadual, a mesma tarefa cabe aos deputados estaduais. A alocação dos recursos é definida por meio de uma lei aprovada pelo Legislativo, que ao longo de sua tramitação é "emendada" pelos parlamentares. Cada político costuma direcionar dinheiro às cidades ou regiões de interesse, onde são suas bases eleitorais.

Em tese, as emendas parlamentares visam a uma melhor distribuição dos recursos públicos, já que os legisladores estão mais próximos que o Executivo de seus redutos e conhecem melhor as necessidades específicas de cada região.

Quais são os tipos de emendas parlamentares?

No caso dos recursos federais, existem quatro tipos de emendas feitas ao Orçamento:

Emenda individual: de autoria de cada deputado ou senador

Emenda de bancada: coletiva, de autoria de bancadas estaduais ou regionais

Emenda de comissão: coletiva, apresentada por comissões técnicas da Câmara e do Senado

Emenda da relatoria: indicada diretamente pelo relator do projeto

O que é a emenda impositiva?

Dos quatro tipos de emenda, dois são de execução obrigatória pelo poder Executivo: as individuais e as de bancada. Dessa forma, são chamadas de "emendas impositivas".

As emendas individuais se tornaram de execução obrigatória em 2015, depois da aprovação de uma PEC no Congresso. Até então, o governo não era obrigado a executar as emendas, e seu pagamento era utilizado como moeda de negociação com os parlamentares. Em junho de 2019, o Congresso voltou a aprovar uma nova PEC, desta vez tornando obrigatória a execução das emendas de bancada.

Na prática, os parlamentares se fortaleceram, já que garantiram maior controle do Orçamento e têm uma cota mínima de emendas a ser executada anualmente. Por outro lado, ficou menor o poder de barganha do governo federal, embora ainda possa determinar o ritmo de liberação dos recursos das emendas ao longo do ano.

A lei impõe limites ao valor total das emendas impositivas na mão dos congressistas. De acordo com o artigo 165 da Constituição, as emendas individuais "serão aprovadas no limite de 1,2% da receita corrente líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo". O texto determina que metade desse valor seja destinado a ações e serviços na área da saúde. Já as emendas de bancada podem alcançar até 1% da receita corrente líquida.

A discussão do Orçamento impositivo gerou uma crise entre o Congresso e o presidente Bolsonaro no início do ano, quando os parlamentares aprovaram um texto que, na prática, tornava obrigatória a execução das emendas de comissão e da relatoria.

Em meio ao impasse, uma fala do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, vazou em uma transmissão, gerando fortes reações. O general acusou deputados e senadores de "chantagem": "Nós não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Fodam-se".

Depois de semanas de negociação, o Congresso recuou e ficou com o controle de cerca de metade do valor previsto inicialmente.

As emendas podem influenciar as eleições municipais 2020?

O envio de emendas a suas bases é um importante instrumento político para deputados e senadores que, em ano de eleições municipais, podem beneficiar prefeitos aliados com recursos importantes em um contexto de crise. O dinheiro, que pode ser convertido em obras ou aquisições, se transforma em visibilidade para ambas as partes e pode gerar vantagens eleitorais.

A transferência direta de R$ 649 milhões para Estados e municípios, por meio de emendas parlamentares, acendeu o sinal amarelo no Tribunal de Contas da União (TCU). O receio é que o Congresso passe um "cheque em branco" para prefeitos e governadores neste ano eleitoral. A preocupação tem motivo: pela primeira vez, a União vai destinar recursos apontados por deputados e senadores sem haver uma norma clara de como esse dinheiro será fiscalizado.

Emendas são indicações de como o governo deve gastar parte do dinheiro do Orçamento e sempre serviram como instrumento de barganha entre Executivo e Legislativo. Incluem desde obras de infraestrutura, como a construção de uma ponte, por exemplo, até valores para programas de saúde e educação. Até o ano passado essas transferências precisavam ser intermediadas por um ministério relacionado - dinheiro para construir uma creche, por exemplo, dependia de liberação do Ministério da Educação.

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No fim de 2019, porém, o Congresso criou uma exceção e aprovou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que autoriza deputados e senadores a destinar uma parte dos recursos de suas emendas diretamente para os cofres de prefeituras e governos estaduais sem passar pelo "filtro" dos ministérios.

Com essa estratégia, o dinheiro chega mais rápido e pode ser aplicado, por exemplo, em obras prometidas por prefeitos que buscarão a reeleição neste ano. Do total de R$ 649 milhões, 60% - ou R$ 389,4 milhões - devem ser transferidos ainda no primeiro semestre, antes das disputas municipais de outubro.

Os repasses vão pular etapas necessárias para outros tipos de emendas, como verificação técnica de contratos entre prefeitura e governo federal e prestação de contas para o TCU e a Caixa. Na ausência do "carimbo", a única exigência é que 70% do valor sejam usados nas chamadas despesas de capital, como obras e compra de máquinas, e não aplicado em pagamento de servidores e encargos da dívida. O TCU ainda avalia se poderá fazer auditorias nesses repasses.

"Estamos aguardando porque trabalhamos em cima da norma vigente. O Brasil precisa virar essa página de tirar proveito do dinheiro público", disse o presidente do TCU, José Múcio Monteiro, ao Estadão/Broadcast Político. Técnicos da corte de contas têm receio de que os repasses abram brecha para desvios de dinheiro público.

A proposta, inicialmente, previa a fiscalização por tribunais de contas locais. Após reações contrárias, porém, o trecho foi retirado e a medida, aprovada e promulgada sem qualquer menção de como o dinheiro será controlado. A emenda pode ter ficado pior que o soneto, dizem técnicos do Congresso e integrantes de órgãos de controle.

Relator da PEC, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) vai destinar R$ 5,3 milhões para o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, aplicar onde quiser. Minas será o Estado mais beneficiado neste ano, com R$ 84,6 milhões. Na outra ponta, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), fará o mesmo com R$ 7,5 milhões para o Amapá, seu reduto eleitoral.

Dos R$ 15,9 milhões a que tem direito em 2020, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), por sua vez, vai enviar R$ 3,8 milhões para Sergipe na nova modalidade. Para ele, a essência da proposta é positiva ao desburocratizar o repasse, mas falha em não prever a fiscalização.

Vieira prometeu apoiar um novo projeto para devolver ao TCU e ao Ministério Público Federal o poder de fazer o pente-fino nas transferências. O Podemos também deve apresentar uma proposta para regulamentar a fiscalização. "Sabe-se que há má aplicação dos recursos orçamentários por intermédio das emendas. Estamos vendo no Congresso tentativas de afrouxar regras com o pretexto da agilidade", afirmou o líder do Podemos no Senado, Alvaro Dias (PR).

Controle

O Ministério da Economia lançou uma plataforma para que seja feito o acompanhamento das transferências de verba por parte de parlamentares e de quem receberá o recurso. A prestação de contas na plataforma, porém, será opcional.

"Achamos que, apesar de não haver uma norma obrigando, haverá uma conjuntura de interesses dos municípios para dar transparência", afirmou a diretora do Departamento de Transferências da União, Regina Lemos. Questionada pela reportagem sobre quem acompanhará a aplicação desses repasses, a assessoria do Ministério da Economia respondeu que "a fiscalização de recursos públicos cabe aos órgãos de controle, observando suas respectivas esferas de competência".

Diferenças:

Como são as emendas "carimbadas" (R$ 8,8 bilhões)

1. Deputado ou senador indica, no projeto do Orçamento, destino de recursos para uma ação ou obra específica (por exemplo: a construção de uma creche ou dinheiro para comprar suprimentos em determinado hospital).

2. A prefeitura ou o Estado que vai receber o recurso procura o ministério relacionado para que a transferência seja efetivada. Na maior parte dos casos, é necessário que a prefeitura ou o Estado firme um convênio com o governo federal para receber o recurso. Os repasses são intermediados pela Caixa e o ministério cobra uma prestação de contas detalhada. A fiscalização fica a cargo do TCU.

Como ficam as emendas "sem carimbo" (R$ 649 milhões em 2020)

1. Deputado ou senador indica, no Orçamento, o destino de recursos para prefeituras ou Estados sem vinculação específica.

2. O recurso é repassado do Tesouro diretamente para o caixa dos prefeitos e governadores, que podem escolher como utilizar o dinheiro. O chefe do Executivo local pode ou não informar como usou o recurso enviado via emenda. Mas isso será

opcional.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente Jair Bolsonaro liberou um valor recorde de emendas parlamentares no seu primeiro ano de mandato. Ele desembolsou R$ 5,7 bilhões em 2019, valor acima dos R$ 5,29 bilhões que haviam sido pagos por Michel Temer em 2018 (o montante mais alto até então, já considerada a inflação do período). A conta mostra que, apesar da relação conturbada com o Congresso e das críticas ao "toma lá, dá cá", o governo não deixou de atender a demandas de deputados e senadores para investir recursos em suas bases eleitorais.

Emendas são indicações feitas por parlamentares de como o governo deve gastar parte do dinheiro. Elas incluem desde obras de infraestrutura, como a construção de uma ponte, por exemplo, até valores destinados a programas de saúde e educação. Embora as emendas sejam impositivas - o governo é obrigado a reservar espaço no Orçamento para pagá-las -, cabe à Presidência decidir quando os valores serão liberados. Por isso, a hora em que o repasse é feito é usada para barganhar apoio a votações importantes no Congresso.

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Com o discurso de que não pratica o "toma lá, da cá" - liberação de verbas em troca de apoio parlamentar - Bolsonaro praticamente manteve o ritmo de pagamentos que marcou governos anteriores e usou uma prática comum na política brasileira: acelerou a liberação de dinheiro quando precisou de apoio dos parlamentares.

O principal exemplo foi a aprovação da reforma da Previdência, em julho. Os R$ 3,04 bilhões empenhados naquele mês - a primeira etapa da liberação de emenda - só não superaram o mês de dezembro, quando líderes partidários deram um ultimato: ou o governo pagava o que foi prometido nas negociações deste ano ou o Congresso não aprovaria mais nenhum projeto do Executivo, nem mesmo o Orçamento, o que poderia levar a um "apagão".

O resultado da barganha foi o empenho de mais R$ 3,57 bilhões e o pagamento de R$ 1,27 bilhão até 28 de dezembro, dado mais atualizado do Siga Brasil, sistema do Senado que permite acompanhar a execução do orçamento federal.

Procurada, a Secretaria de Governo, responsável pela articulação do empenho e pagamento das emendas parlamentares, não comentou a liberação recorde. Segundo a pasta, os dados consolidados devem ser divulgados na próxima semana.

Para o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), o pagamento das emendas foi possível por causa do "enorme esforço fiscal", "reflete o início da recuperação da política econômica" do governo e também "mostra o respeito do presidente Bolsonaro pelo Congresso". "Ele prioriza a execução orçamentária vinculada à solicitação de parlamentar", disse o senador.

Corrida

Servidores das equipes de orçamento e técnicos das assessorias parlamentares de ministérios viraram noites nos últimos dias de 2019 para conseguir empenhar o maior número de emendas. Alguns parlamentares também fizeram um plantão incomum em Brasília entre o Natal e o Ano Novo, em busca de recursos para prefeitos aliados.

"Talvez eu seja o único senador que esteja aqui até agora", comentou o tucano Roberto Rocha (MA), que gravou vídeos no Palácio do Planalto e na portaria de ministérios para comemorar a liberação de dinheiro na virada do ano. A "peregrinação" deu certo no Ministério do Desenvolvimento Regional. O líder do PSDB conseguiu o empenho de R$ 16 milhões da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) para asfaltar ruas em quatro municípios do Maranhão: Bacabal, Imperatriz, Santa Inês e Presidente Dutra. As emendas deram um reforço no caixa dos prefeitos - três deles estão no final do primeiro mandato, ou seja, podem concorrer à reeleição no ano que vem - além de um reforço na relação com o senador, que pretende disputar o governo maranhense em 2022.

Ações

Dos recursos liberados por Bolsonaro via emenda parlamentar em 2019, 95% são relacionados a gastos com saúde - R$ 5,4 bilhões. A área é a única que, pela lei, tem destinação obrigatória por parte dos deputados e senadores. Entre as ações que mais tiveram dinheiro liberado no ano passado estão também obras rodoviárias, como a manutenção de trechos na região Norte e a reforma de adequação da BR-116, entre Pelotas e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Parlamentares de partidos do bloco conhecido como Centrão, como PP, DEM e PL, e aliados próximos ao presidente Jair Bolsonaro tiveram a maior quantia de emendas liberadas até agora, destaca matéria do jornal O Estado de S. Paulo. No topo da lista está o deputado Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), vice-líder do governo na Câmara e um dos aliados mais fiéis ao Palácio do Planalto. Dos R$ 15 milhões indicados por ele no Orçamento deste ano, R$ 12 milhões já foram pagos. Outro fiel escudeiro do presidente, o deputado Eder Mauro (PSD-PA), conseguiu liberar R$ 11,6 milhões.

Até a semana passada, o governo já havia empenhado R$ 8,6 bilhões dos R$ 9,2 bilhões previstos para o ano inteiro. Primeira etapa para a liberação do recurso, o empenho é fase em que o governo se compromete a reservar a despesa na dotação orçamentária. Menos da metade foi efetivamente pago (R$ 4,2 bilhões).

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As emendas são indicações que deputados e senadores fazem no Orçamento para destinar recursos a suas bases eleitorais. Os parlamentares podem apontar investimentos em serviços e obras, como a construção ou manutenção de unidades de saúde, reformas de escola ou construção de pontes, por exemplo. Com isso, podem lucrar politicamente, enaltecendo ter sido responsável por levar dinheiro àquela localidade.

Os pagamentos das emendas individuais são obrigatórios, mas a prioridade dada para liberar antes recursos indicados por algum congressista depende de negociação política. Por isso, é comum serem utilizadas como moeda de troca pelo Planalto em votações importantes.

Questionado sobre o motivo de ter mais emendas liberadas em relação aos colegas da Câmara, Feliciano disse ter um perfil diferente da maioria, mas negou favorecimento do Planalto. "A maioria dos deputados tem acordo com prefeito e essas coisas. Eu não tenho", afirmou. "Não sei nem qual é o critério que o governo usou para isso, até porque eu não me preocupo com isso. Eu nunca fui na Casa Civil falar: eu preciso que libere emenda", completou.

Mesmo deputados que não exercem mais o cargo, mas ainda estão envolvidos no dia a dia da política, tiveram prioridade na fila de pagamentos das emendas. Foi o caso do ex-assessor do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), Leonardo Quintão (MDB-MG). Ele ficou apenas dois meses no Palácio do Planalto, mas conseguiu o desbloqueio de quase tudo que sobrou na "sua conta" com o governo. Foram empenhados R$ 14,9 milhões e pagos R$ 12,1 milhões. Quintão teve direito de indicar emendas porque ainda era deputado no ano passado, quando o Orçamento deste ano foi discutido no Congresso.

No "top 10" dos que conseguiram liberar mais em emendas há um "intruso". O ex-deputado Andres Sanchez (PT-SP) já teve R$ 13,9 milhões empenhados. Uma análise do destino dos recursos, porém, mostra que o governo empenhou apenas as indicações que o petista fez para engordar o Fundo Nacional da Saúde, usado para despesas em hospitais e outras unidades de saúde.

O governo costuma usar as emendas parlamentares para alcançar o valor mínimo que a lei determina para recursos do Orçamento destinados a áreas de saúde e educação. Outras ações indicadas por Sanchez, para programas na área de esporte na cidade de Parapuã, no interior de São Paulo, estão "zeradas".

O Estado mostrou no sábado que, sob ameaça de ver travada a agenda econômica no Congresso, o governo cedeu à pressão de parlamentares e acelerou a liberação de emendas em novembro. Até a última semana do mês, foram empenhados R$ 2,2 bilhões. É a segunda maior reserva de recursos feita em um único mês desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu.

O Planalto alega que o valor maior em novembro se deve ao descontingenciamento de verbas, anunciado pelo Ministério da Economia no dia 18. O desembolso ocorreu após o Centrão dar um ultimato ao Planalto: ou quita a "dívida" contraída na negociação pela aprovação das mudanças das regras da aposentadoria ou o governo não aprova mais nada neste ano no Congresso.

Partidos

Na análise por partido, PSD, MDB, DEM, PTB, PL e PP lideram a lista das legendas que mais conseguiram, proporcionalmente, liberar os recursos dos seus deputados. O PSD do ex-ministro Gilberto Kassab conseguiu a execução de 75% (R$ 446,66 mi) dos R$ 594 milhões empenhados. Como revelou o Estado no sábado, levantamento do governo mostra que o PSD também é o partido que mais conseguiu emplacar indicações políticas na administração federal, com 154 cargos.

Procurado para comentar a ordem da liberação das emendas, o Palácio do Planalto não se manifestou até a conclusão desta edição.

Risco de expulsão

Um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Marco Feliciano (SP) corre o risco de ser expulso do Podemos. O partido deve concluir até o fim do mês um processo contra o parlamentar. Um dos casos em análise pelo conselho de ética da legenda é o gasto de R$ 157 mil com um tratamento odontológico reembolsado pela Câmara, revelado pelo Estado em agosto. Na época, o parlamentar argumentou que precisava corrigir um problema de articulação na mandíbula e reconstruir o sorriso com coroas e implantes na boca.

Durante a campanha, Feliciano declarou apoio a Bolsonaro, apesar de o partido ter um candidato próprio: o senador Alvaro Dias. A possível saída forçada de Feliciano ocorre dentro da estratégia do Podemos de se afastar do "bolsonarismo" e se firmar como a sigla da Lava Jato. O partido tem atraído parlamentares da centro-direita descontentes com o governo e, só no Senado, passou de cinco para dez parlamentares nos últimos meses - a segunda maior bancada. Como mostrou o Estado, o crescimento tem incomodado aliados do presidente.

Feliciano se filiou ao Podemos em 2018 com a expectativa de que, sendo pastor da Assembleia de Deus, pudesse ser um puxador de votos.

O deputado afirmou que não está acompanhando o processo disciplinar. "Não estou nem a par disso. Para mim, o que acontecer está bom", disse, negando que vá deixar o Podemos por decisão própria. "Que o eleitor julgue o caso. Um partido expulsa um deputado por apoiar um presidente da República. Aí, não tem mais o que fazer", afirmou, acrescentando que fechou um acordo com o Podemos desde a campanha eleitoral para ser independente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Recursos destinados por deputados e senadores para financiar obras e programas nas suas bases eleitorais não contribuem para melhorar a vida das pessoas. Na hora em que se decide para onde parte das emendas parlamentares deve ser enviada, necessidades reais da população são ignoradas. Estas são algumas das conclusões de uma auditoria em emendas feitas entre 2014 e 2017 que o Tribunal de Contas da União (TCU) acaba de concluir.

Todos os anos, parlamentares podem decidir onde o governo deve colocar parte dos recursos públicos. Ao todo, cada um tem o direito de apresentar até 25 emendas individuais. O valor muda ano a ano. Em 2020, serão R$ 15,9 milhões por parlamentar, o que significa que o destino de R$ 9,5 bilhões será decidido pelos 513 deputados e 81 senadores do Congresso.

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A emenda destinada a custear o 7.º Réveillon Popular de Nova Xavantina (MT), em 2018, ilustra o alerta do TCU para a utilização de investimento público em eventos que não são prioridade. O então deputado Ezequiel Fonseca (PP-MT) enviou R$ 100 mil para a prefeitura realizar a festa com show sertanejo. O Ministério do Turismo autorizou o empenho (promessa de pagamento), mas voltou atrás após a equipe de fiscalização flagrar a venda de espaços para ambulantes.

O TCU encontrou ainda um caso de verba pública que financiou atividades privadas. A Associação Fluminense de Reabilitação, instituição filantrópica que atua na saúde pública, adquiriu com dinheiro de emenda um baropodômetro (equipamento para estudo de pisada e postura) por R$ 20 mil. O equipamento foi usado para atendimento de quem poderia pagar por consulta particular a R$ 420.

"Este caso ilustra uma potencial falta de priorização dos recursos para questões mais prementes da área de saúde, no qual uma entidade privada recebe recursos públicos para a aquisição de equipamento que não é colocado à disposição da população", disseram os auditores.

A Corte de Contas tem entre suas responsabilidades fiscalizar o Legislativo e fazer recomendações para melhora no uso do dinheiro público. Para essa auditoria, os técnicos analisaram uma amostra de 42 emendas em 16 Estados, que englobam 25 obras do Ministério do Desenvolvimento Regional, estimadas em R$ 24 milhões, e compra de 43 equipamentos no valor de R$ 10,3 milhões pelo Ministério da Saúde.

Essas emendas foram apresentadas por deputados da legislatura anterior à atual e executadas até 2017, durante os governos Dilma Rousseff e Michel Temer. Os parlamentares que tomaram posse este ano apresentaram emendas para execução em 2020. O pente-fino alarmou os técnicos. "Há risco de ocorrência de situações indesejáveis, principalmente na grave situação fiscal pela qual passa o País, de haver destinação de recursos para objetos não prioritários ou que requeiram soluções estruturais prévias."

Parcela de culpa

O descompasso entre as propostas dos parlamentares e as necessidades reais do País também tem responsabilidade do governo federal. Pela análise da auditoria, a maior parte dos ministérios não orienta a alocação de recursos. Apenas as pastas de Saúde, Educação, Turismo, Cidadania, Infraestrutura, Ciência e Tecnologia e Mulheres recomendaram para onde os políticos deveriam destinar emendas. Eles podem aceitar ou não.

Por determinação legal, o Ministério da Saúde é o que mais recebe emendas individuais - 50% delas devem custear ações na Saúde. Ainda assim a pasta "não disponibiliza aos parlamentares informações sobre os Estados com maior carência financeira na área da saúde, sobre a dimensão epidemiológica e demográfica, sobre as necessidades ou sobre a capacidade dos serviços de saúde em cada localidade", anotou o TCU.

Os técnicos também concluíram que os governos têm sido pouco transparentes sobre os critérios utilizados para liberar o dinheiro das emendas. Embora sejam impositivas - o Executivo é obrigado a pagar -, a prioridade e o ritmo são fruto de negociação política e, segundo o TCU, sem "critérios objetivos".

Na gestão Bolsonaro, o processo é controlado pela Secretaria de Governo e costuma seguir um calendário conveniente a pautas de interesse do governo. O mês com maior liberação de recursos foi julho, em meio à aprovação da reforma da Previdência. Ontem, o Estado mostrou que o governo liberou R$ 2,2 bilhões em emendas após um grupo de deputados ameaçar paralisar as votações.

Documentação

Problemas burocráticos também se tornam um entrave à aplicação eficaz da verba pública. Quando o governo dá aval para liberar o dinheiro, muitas vezes o valor acaba retido devido à dificuldade de prefeituras e Estados para formular projetos. Nesses casos, o parlamentar pode redirecionar a emenda, mas o processo recomeça do zero.

Em Águas Claras, cidade no entorno de Brasília, uma emenda do então deputado Vitor Paulo (Republicanos) destinava R$ 869 mil para construção de uma passarela de pedestres próxima a uma futura estação do metrô, que deve atender 15,5 mil passageiros. A verba não saiu por falhas na documentação.

No Estado de São Paulo, o parque Gabriel Chucre, em Carapicuíba, na Região Metropolitana, ficou sem verbas para reforma. O contrato foi rescindido por falta de envio da documentação. Desde o ano passado, 64 convênios e contratos vinculados a emendas para obras foram anulados.

O TCU também aponta que, em média, o primeiro repasse de dinheiro - o pagamento é parcelado - demora dois anos para ocorrer, o que faz com que a conclusão dos projetos atrase. Atualmente, as obras de infraestrutura urbana demoram em média oito anos.

Procurado, o presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, responsável por analisar as contas públicas, senador Marcelo Castro (MDB-PI), não quis se manifestar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Congresso Nacional se movimenta para aprovar e promulgar, tudo nesta semana, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para permitir que deputados e senadores negociem livremente com prefeitos e governadores o destino de emendas parlamentares individuais - sem vinculação com programas do governo federal, como é hoje. A ideia é permitir que as prefeituras tenham um dinheiro extra para usar onde quiserem antes das eleições municipais de outubro do ano que vem.

A proposta retira de órgãos federais a fiscalização desses recursos, o que daria margem a questionamentos jurídicos. Um dos atingidos será o Tribunal de Contas da União (TCU), que tem a prerrogativa de fiscalização do recurso federal, tarefa que passará a ser feita por órgãos de monitoramento locais. A medida foi criticada por procuradores da República, que dizem que ela enfraquece não apenas o combate à corrupção, mas também a "boa governança de recursos públicos".

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Apresentada em 2015 pela então senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), hoje deputada federal, a PEC foi resgatada no Senado por Davi Alcolumbre (DEM-AP). O projeto tira o poder de manobra do Palácio do Planalto e dos ministérios na destinação dos recursos, mas, ao mesmo tempo, agiliza verbas aos municípios - promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Com isso, Bolsonaro pavimenta sua relação com prefeitos e parlamentares que exercem liderança regional.

A PEC foi aprovada na Câmara com 391 votos favoráveis e só 6 contrários na terça-feira. Contou ainda com o apoio da liderança do governo, que orientou o voto favorável à proposta. Ela deve passar pelo Senado nesta terça-feira, 26, em dois turnos de votação, e já seguir para promulgação - diferentemente de projetos de lei e medidas provisórias, PECs não dependem de sanção presidencial.

Certeza

Certo da viabilidade da estratégia e mesmo antes da aprovação da proposta, o Congresso reabriu na sexta-feira o prazo para parlamentares indicarem emendas ao Orçamento do ano que vem, já considerando a adoção das novas regras. Assim, deputados e senadores poderão alterar a indicação da emenda de uma obra específica, por exemplo, e deixar o dinheiro livre para os prefeitos.

Isso porque, pela proposta, prefeitos e governadores poderão escolher para onde vai o dinheiro. O texto assegura a transferência direta, a Estados e municípios, de 60% das emendas individuais, num total de R$ 5,7 bilhões, ainda no primeiro semestre do próximo ano.

Ao aprovar a PEC, a Câmara ignorou parecer técnico da Casa. A Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara avaliou que a medida poderia fragilizar o orçamento e desviar recursos das prioridades definidas pelo governo federal e aprovadas no Congresso. "Sem a especificação de despesas, afasta-se dos contribuintes e do público em geral o conhecimento da atividade e da política financeira aprovada pelo governo federal", afirmava o parecer.

Quanto à reabertura do prazo para a indicação de emendas dentro das novas futuras regras, a assessoria da Comissão Mista de Orçamento (CMO) informou que essas emendas na nova modalidade serão analisadas pelo Comitê de Admissibilidade de Emendas, vinculado ao Congresso, só após a promulgação do texto e alegou que foi necessário reabrir o sistema antes disso para viabilizar a transferência dos recursos em 2020.

Novas regras

A PEC havia sido resgatada pelo Senado neste ano. Em abril, os senadores aprovaram o texto. Como a Câmara alterou o conteúdo, a PEC retornará agora para análise do Senado. Parlamentares justificam a proposta com a necessidade de destravar recursos para a "ponta", onde está o eleitorado, especialmente nos municípios.

Cada congressista tem direito a destinar R$ 15,9 milhões em emendas individuais por ano. O valor total dessas emendas será de quase R$ 10 bilhões em 2020. A Constituição manda que metade do montante seja aplicada em saúde. Na outra metade, os parlamentares escolherão se destinam os recursos na nova modalidade, chamada de "transferência especial", ou na antiga, a "com finalidade definida".

Na transferência livre, o dinheiro não será mais fiscalizado pelo TCU, e o controle caberá a tribunais de contas e promotores locais. A proposta provocou reação de auditores do tribunal. Nota da Associação da Auditoria de Controle Externo do TCU encaminhada a senadores diz que a pulverização da fiscalização dificulta o diagnóstico de fraudes sistêmicas na aplicação de recursos federais. "A proposta representa inaceitável retrocesso em relação aos avanços conquistados com a promulgação da Constituição de 1988, cujo resultado pode ser o aumento da percepção de impunidade."

Mas, para o presidente da comissão especial da Câmara que analisou a proposta, Eduardo Bismarck (PDT-CE), a fiscalização por tribunais de contas e promotores locais vai ter mais eficiência. "Quem perde poder normalmente grita. Na hora em que eu levo a fiscalização para a ponta, ela é muito mais atuante", afirmou. "A emenda serve para mostrar que o parlamentar conseguiu aquele recurso no momento adequado junto à população. O parlamentar precisa de visibilidade, mandar o dinheiro para determinada coisa e aquela coisa acontecer."

'Estímulo para coisa errada'

O presidente do TCU, ministro José Múcio Monteiro, afirmou neste Domingo (24) que está preocupado com a PEC que retira do tribunal e de outros órgãos federais a fiscalização do uso de verbas da União repassadas a Estados e municípios que deve ser apreciada pelo Senado.

Múcio disse que tirar o TCU desse processo de averiguação do uso das emendas com recursos federais "é um estímulo para quem quer fazer a coisa errada".

"Fico preocupado com essa mudança", afirmou. "Imagine se a pessoa tiver a certeza de que não vai ser fiscalizada? É um estímulo para quem fazer a coisa errada", destacou o ministro.

Múcio também ressaltou que "hoje já não é fácil fiscalizar as emendas carimbadas, imagine essas outras". Apesar do receio, o presidente do TCU disse acreditar em um debate amplo sobre o tema e que isso não deve passar fácil no Congresso. "Eu acredito que isso ainda vai ter muita discussão. Tem que ser muito bem pensado. Afinal, é uma mudança radical tirar o controle do dinheiro público."

Controles enfraquecidos

A PEC enfraquece a boa governança de recursos públicos, segundo autoridades ouvidas pela reportagem. "O dinheiro das emendas parlamentares é uma verba de origem federal e sempre teve fiscalização federal", disse o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Fábio George Cruz da Nóbrega. Uma mudança, segundo ele, estaria subvertendo essa lógica.

"(A PEC) retira a competência e a expertise construída pelos órgãos federais na fiscalização desses recursos - e aí eu coloco TCU, CGU (Controladoria- Geral da União), Polícia Federal e Ministério Público Federal."

Para Vladimir Aras, procurador regional da República em Brasília, a proposta que tramita no Congresso tem o potencial de enfraquecer "o sistema de controle externo do dispêndio e aplicação de verbas públicas originalmente federais".

Depois de examinar o texto aprovado pela Câmara, Aras fez duas objeções ao projeto. "A Caixa Econômica Federal deixaria de atuar no enquadramento e na fiscalização dos projetos, que não teriam finalidade específica nos Estados e municípios", afirmou.

O procurador apontou que a transferência de recursos como doação, sem vinculação a projetos, "acaba aumentando o risco de mau emprego, desperdício e até mesmo de desvio". Ele disse ainda que os Tribunais de Contas locais "têm problemas de composição e não funcionam adequadamente em grande parte dos Estados".

Na visão do procurador, embora as cidades precisem receber dinheiro de modo não burocrático, o sistema de doação direta pode comprometer o resultado. "Ou seja, obras e projetos importantes mal feitos ou desvirtuados", argumentou.

Além de ter participado das investigações transnacionais da Operação Lava Jato, Aras foi o candidato à chefia do Ministério Público que contou com apoio reservado dos procuradores das forças-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Rio e São Paulo.

Regra

De acordo com Nóbrega, quando o assunto é desvio de recursos públicos, duas súmulas do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinam o que é competência da Justiça Federal e o que fica aos cuidados das justiças dos Estados.

Atualmente, verbas de origem federal que são enviadas a Estados e municípios mediante convênios e contratos de repasse - caso das emendas - seguem sujeitos à fiscalização federal.

Cabe às autoridades locais fazer o acompanhamento nos casos em que o dinheiro é repassado a cidades e Estados por força de repartição de impostos, como no caso dos Fundos de Participação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar do discurso crítico ao que chama de "velha política", o presidente Jair Bolsonaro repetiu uma prática trivial de seus antecessores na relação com o Congresso e liberou um valor recorde em emendas parlamentares às vésperas da votação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, aprovada na quarta-feira passada com 379 votos a favor.

Foram R$ 2,7 bilhões empenhados em apenas dez dias, sendo R$ 1,5 bilhão em emendas individuais apresentadas por 550 deputados e ex-deputados federais. A quantia representa uma média diária de R$ 268 milhões em desembolso em julho, mais do que o dobro da média registrada em maio de 2016 - R$ 123 milhões -, quando foi empenhado o maior volume de recursos em um único mês - R$ 3,8 bilhões - desde que a execução das emendas pelo governo passou a ser obrigatória, em 2015.

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Naquela ocasião, tanto a presidente cassada Dilma Rousseff, que estava sendo afastada do cargo pelo Senado, quanto o ex-presidente Michel Temer, que assumia o comando do País, usaram as emendas parlamentares impositivas como instrumento de barganha política, em busca de votos contra e a favor do impeachment.

As emendas são indicações de gastos no Orçamento da União por deputados e senadores, que costumam privilegiar seus redutos eleitorais nos repasses de dinheiro para obras ou programas. O teto equivale a 1,2% da receita corrente líquida - R$ 13,7 bilhões neste ano -, sendo que metade deve ser destinado à saúde. Embora sejam impositivas, é o governo que controla o fluxo de liberação dos recursos.

Até junho, Bolsonaro havia liberado apenas 13% dos recursos previstos. A baixa execução dos repasses era motivo de queixas recorrentes de deputados do Centrão e da própria base governista. Com a liberação recorde no início deste mês, esse porcentual mais do que dobrou, chegando a 32,5%, segundo dados do Siga Brasil, painel de execução de emendas parlamentares controlado pelo Senado.

Prática é a mesma adotada pelos antecessores em votações cruciais

Os números mostram que o expediente utilizado por Bolsonaro às vésperas da aprovação da reforma da Previdência na Câmara é o mesmo adotado pelos antecessores em votações cruciais no Congresso. Em 2017, por exemplo, Temer liberou R$ 3,2 bilhões em emendas no mês de dezembro, quando ainda tentava aprovar sua reforma previdenciária. O projeto não avançou em razão da contaminação do debate eleitoral.

Seis meses antes, Temer já havia usado o poder do controle da liberação de emendas impositivas para conter o momento mais crítico de seu governo, as denúncias de corrupção, obstrução da Justiça e organização criminosa feitas contra ele pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base na delação da J&F.

Foram R$ 2 bilhões liberados em emendas em junho, um mês após a divulgação da conversa gravada entre o ex-presidente e o empresário Joesley Batista, e mais R$ 2,2 bilhões empenhados em julho, quando a primeira denúncia de Janot chegou à Câmara. Em agosto e outubro, a maioria dos deputados rejeitou a abertura de uma investigação contra o emedebista.

Em 2015, Dilma já havia concentrado a liberação de dinheiro para obras e programas indicados pelos parlamentares logo após o pedido de impeachment chegar à Câmara, em outubro daquele ano. Foram mais de R$ 3 bilhões empenhados em três meses. Apesar disso, o então presidente da Casa, Eduardo Cunha (MDB-RJ), autorizou a abertura do processo após o PT votar contra ele no Conselho de Ética.

"Todos os presidentes, em maior ou menor grau, utilizaram do expediente das emendas para conseguir apoio. Embora muitos achem isso pouco republicano, não há nada ilegal. A questão é que Bolsonaro se constituiu como o ‘novo’, que condenava isso como prática da velha política. Mas falar é uma coisa, governar é outra. Ele acabou jogando a pedra para o alto sem pensar que o telhado dele é de vidro", afirmou o cientista político Rodrigo Prando.

Bolsonaro minimizou as críticas que sofreu por causa das emendas alegando que, como elas são impositivas, suas liberações independem da vontade do presidente. "Tudo o que é liberado está no Orçamento. Nada foi inventado. Não tem mala, não tem conversa escondidinha em lugar nenhum. É tudo à luz da legislação", disse um dia após a aprovação da reforma.

Deputados pró-reforma lideram ranking de verbas

Deputados aliados do governo Jair Bolsonaro e de partidos do Centrão que votaram a favor da reforma da Previdência lideram o ranking dos parlamentares que mais tiveram emendas liberadas neste ano, segundo dados oficiais do portal Siga Brasil, controlado pelo Senado.

No topo da lista aparecem os deputados Marco Feliciano (Podemos-SP) e Misael Varella (PSD-MG), com R$ 12,1 milhões em recursos empenhados cada um, seguidos por Alex Manente (Cidadania-SP), com R$ 11,9 milhões. Todos foram favoráveis ao texto-base da reforma.

Na sequência está Clarissa Garotinho (PROS-RJ), com R$ 11,6 milhões. Ela é um dos cinco parlamentares presentes no ranking dos 30 deputados que mais tiveram emendas liberadas até agora que votaram contra a reforma da Previdência. Os outros quatro são do PT.

Para André Fufuca (PP-MA), décimo da lista, com R$ 10,7 milhões em emendas, a liberação recorde dos recursos às vésperas da votação e o placar expressivo a favor da reforma são uma coincidência. "No meu ponto de vista essas questões são independentes. Muitos parlamentares dessa nova legislatura foram eleitos com um discurso em defesa da reforma", disse.

Já Alex Manente atribuiu a quantia liberada de suas emendas à atuação de seus assessores no Ministério da Saúde. "Mérito da minha equipe, que fez o cadastro das emendas assim que o ministério abriu o procedimento, no final de março. Por isso, acredito que tenha saído mais rápido", afirmou.

Dos R$ 4,5 bilhões em emendas impositivas liberadas pelo governo Bolsonaro até sexta-feira passada, R$ 3 bilhões se referem a emendas individuais dos deputados (66%), R$ 1 bilhão são emendas de bancadas e R$ 479 milhões de senadores. A bancada do Ceará foi a mais beneficiada, com R$ 126,7 milhões, seguida por Santa Catarina (R$ 115,2 milhões) e Maranhão (R$ 105,6 milhões).

Segundo os dados do portal Siga Brasil, que monitora a execução de emendas, 90% dos gastos indicados pelos parlamentares foram direcionados ao Ministério da Saúde (R$ 4 bilhões), enquanto que o restante ficou distribuído entre outras dez pastas, como Educação, com apenas R$ 59,8 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Com a proximidade da votação da reforma da Previdência, o governo abriu mais uma vez os cofres e liberou R$ 171,916 milhões em emendas parlamentares para a saúde. A liberação foi publicada em edição extra do Diário Oficial nesta quarta-feira, 10.

Com isso, subiu para R$ 1,34 bilhão o montante autorizado pelo governo para gastos com recursos de emendas parlamentares desde o início desta semana, em que o governo trabalha para garantir os votos para a aprovação da reforma previdenciária. O valor corresponde a 1,03% do total do orçamento da saúde para o ano, de R$ 130 bilhões.

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O governo já havia liberado outros R$ 38,578 milhões e, na segunda-feira, outros R$ 1,13 bilhão também tinham sido repassados, todos para a área saúde. Na edição extra de hoje, foram publicadas quatro portarias destinando recursos da cota dos parlamentares para a Atenção Básica, Média e Alta Complexidade. Outras 38 portarias haviam sido publicadas desde segunda-feira com outras destinações de recursos de emendas.

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