Tópicos | estagflação

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tentou apresentar um discurso otimista nesta terça-feira, 05, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Ele garantiu que o Brasil "está longe de uma estagflação". Também tentou amenizar o peso de indicadores correntes, a exemplo de dados de inflação mensal e de indicadores antecedentes de crescimento. Ele afirmou que há uma elevada "variância" desses indicadores e que é preciso saber colocá-los em uma perspectiva de médio e longo prazos.

Tombini reforçou que a confiança continua sendo um problema para a economia brasileira, na visão dele, é o que falta para os investimentos do setor privado deslancharem. Parte do crescimento em ritmo mais moderado, segundo o presidente do BC, é influenciado ainda pela crise na Argentina. "Nossas exportações para a Argentina - que representam 10% da produção - caíram mais de 30% este ano. A Argentina é o nosso terceiro maior parceiro comercial, depois de China e Estados Unidos, representando 8% das nossas vendas totais", afirmou.

##RECOMENDA##

A despeito dessa preocupação com os argentinos e dos níveis de confiança ainda aquém do ideal, o Banco Central avaliou que o País avançou a um ritmo mais moderado no primeiro semestre, mas que isso deve mudar na segunda metade do ano, quando o País voltará a crescer de maneira mais intensa.

Tombini, no entanto, reconheceu que o setor de serviços entrou em um ritmo de expansão moderado em comparação com os anos anteriores, o que foi considerado um processo normal de acomodação. Ele também admitiu que não se pode descartar um recuo na produção industrial em 2014. "Passado o período de ajuste, o crescimento tende a voltar ao patamar mais próximo do PIB potencial. As concessões de infraestrutura e logística gerarão mais competitividade em todos os segmentos", completou.

FMI

De acordo com Tombini, a autoridade monetária olha com atenção as análises feitas sobre a economia brasileira feitas por organismos internacionais, mas disse que o BC não deve "se deixar levar" por esses documentos. Ele também criticou a reação de parte dos analistas frente a recentes divulgações feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o País. "O FMI disse que a nossa posição externa está moderadamente fraca em relação aos fundamentos de médio e longo prazo. Mas essa análise nos colocou junto a Canadá, Austrália e Reino Unido, e não vi ninguém dizer que esses países estão vulneráveis", afirmou.

Para Tombini, o BC tem tratado de forma segura o cenário de mudanças externas e tem uma posição razoável no enfrentamento desse processo, que está em curso desde o ano passado. "A prova do pudim tem sido a capacidade que o Brasil tem mostrado no enfrentamento dessa situação. Estamos bem atualizados e dialogando com comunidade internacional", completou.

O presidente do BC enumerou a baixa relação entre a dívida externa e o PIB e avaliou que o volume de reservas internacionais é confortável, e não exagerado. Ele disse ainda que a volatilidade global tende a cair gradualmente, mas ponderou que quando essa incerteza sobe, ela corre em forma de soluço. "Temos um setor financeiro sólido, bem provisionado e capitalizado, inclusive rentável. Estamos usando nossos instrumentos para garantir a estabilidade financeira", argumentou.

"Ontem, cinco fundos elevaram sua participação no mercado brasileiro e certamente uma economia à beira de uma crise não teria esse tipo de reação do mercado", concluiu.

Pela primeira vez, as tensões entre Israel e Palestina e entre Ucrânia e Rússia entraram no discurso da autoridade monetária. A avaliação é de que elas devem ser monitoradas porque têm impacto em ativos financeiros e nos mercados.

Apesar das negativas do governo federal sobre risco de desabastecimento de energia no Brasil, analistas já fazem as contas do impacto que a medida poderia trazer para a economia interna. Em relatório enviado aos clientes nesta sexta-feira (14), o banco suíço UBS calculou que um corte de energia na casa de 10% durante 12 meses poderia provocar uma queda entre 0,7 e 1,5 ponto porcentual no Produto Interno Bruto (PIB).

Nesse cenário, a inflação poderia subir 1,2% e a taxa de desemprego, 0,5 ponto porcentual. Segundo o relatório assinado pelos economistas Guilherme Loureiro e Thiago Carlos, a combinação desses fatores poderia elevar a percepção de que a economia brasileira estaria indo na direção de uma estagflação e ter implicações políticas importantes, considerando que as eleições ocorrem em outubro deste ano.

##RECOMENDA##

"Um racionamento de energia poderia empurrar o PIB para zero e uma inflação acima da meta", afirmam os economistas, no relatório. Segundo eles, a presidente Dilma Rousseff hoje é favorita na corrida presidencial, com 44% das intenções de voto, segundo a última pesquisa CNT/MDA. "No entanto, a nosso ver, a eleição deve ser mais apertada do que o mercado está projetando nos preços, já que as pesquisas ainda não refletem o impacto completo da coalizão entre Eduardo Campos e Marina Silva."

Baixo investimento

Os economistas dizem não acreditar num racionamento de energia neste ano, mas diante do aumento do risco (especialmente o desenhado pela PSR Consultoria, de 24%) e das previsões ruins de hidrologia para março, resolveram traçar alguns cenários. No relatório, eles afirmam que o sistema elétrico vem sofrendo deficiências estruturais de produtividade, baixos investimentos e condições de chuva desfavoráveis.

"Para piorar a situação, a fim de evitar maior inflação ao consumidor no ano passado, o governo reduziu as tarifas de energia em 20%, estimulando a demanda em um ambiente onde a oferta já estava apertada." O resultado, afirmam os economistas, é a queda no nível dos reservatórios ao menor nível desde 2001, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a decretar um racionamento com corte de 20% do consumo de energia.

A diferença entre 2001 e 2014, explicam eles, está na maior capacidade de geração termoelétrica, que hoje pode produzir 27% da energia do País. Além disso, hoje o País tem um sistema de transmissão mais robusto que permite maior transferência de energia de uma região para outra. Em 2001, por exemplo, os reservatórios da Região Sul estavam cheios e não podiam ajudar o Sudeste por causa da falta de capacidade das linhas para fazer o intercâmbio.

Melhora

O nível dos reservatórios da Região Sudeste/Centro-Oeste - que está em pior situação no País - apresentou ligeira melhora nas últimas duas semanas. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as represas das hidrelétricas da região estavam com o armazenamento em 35,84%. De 1.º de março até agora, o aumento foi de 1,24 ponto porcentual. Embora seja um avanço lento, o nível fica mais próximo da meta do ONS para o mês, que é 40% de armazenamento.

Teoricamente, se ficasse abaixo desse porcentual, o risco de decretar um racionamento neste ano seria maior. Mas, como os próprios economistas do UBS afirmam, em ano de eleição presidencial, uma medida como essa teria impactos bastante negativo na campanha da presidente Dilma Rousseff. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando