Foi uma surpresa - o último longa exibido, Exilados do Vulcão, de Paula Gaitán, recebeu o principal prêmio do 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Um tanto hermético para o público em geral, o filme de Paula é vagamente inspirado no romance Sobre a Neblina, de Christiane Tassis. O enredo é desidratado ao ser transposto para a tela, e o que se vê é um trabalho sensorial, de muita força nas imagens e nos sons. Recebeu também o candango de melhor som, para Fábio Andrade e Edson Secco.
O resto da premiação foi pulverizado. Todos os concorrentes de ficção foram contemplados, com exceção de Os Pobres Diabos, de Rosemberg Cariry, que ficou apenas com o prêmio do público.
##RECOMENDA##A maior injustiça foi cometida contra Riocorrente, obra de impacto de Paulo Sacramento, que recebeu apenas troféus de montagem e fotografia. Foi a oportunidade perdida pelo festival de apontar o trabalho mais intenso e plugado com mundo contemporâneo.
O júri, que andou com a cabeça nas nuvens, produziu alguns acertos. Entre eles, os troféus de atriz (Maeve Jinkings) e atriz coadjuvante (Nash Laila), ambas de Amor, Plástico e Barulho. Deu um troféu póstumo ao fotógrafo Aloysio Raulino por Riocorrente, seu último trabalho em ficção e de fato a melhor imagem do festival. Em gesto populista, concedeu o também póstumo candango de ator coadjuvante para Carlos Reichenbach, falecido ano passado.
Carlão foi imenso diretor e uma das pessoas mais queridas do cinema brasileiro. Mas, ator? E o que dizer do prêmio de diretor para Michael Wahrmann, de Avanti Popolo, obra em que atua Carlão? Uma premiação no mínimo confusa. Já o júri de documentários andou bem ao dar o prêmio para o polêmico e bem-humorado O Mestre e o Divino, de Tiago Campos, sobre as relações entre xavantes e um exótico padre alemão salesiano.
Em resumo: o festival foi bom, atravancado pelo excesso de filmes e atrações secundárias. Mais enxuto e com júris de pés fincados no chão, talvez pudesse fazer jus à fama de mais importante e politizado dos festivais brasileiros. Neste último quesito, ficou devendo em 2013.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.