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Hospitais e clínicas da Argentina estão em alerta, após a divulgação, nesta semana, de casos de brasileiros, bolivianos e argentinos exercendo a medicina ilegalmente e sem diploma.

A polêmica começou na última quarta-feira, depois que o hospital Dr. Angel Marzetti, da localidade de Cañuelas, denunciou que dois brasileiros trabalharam no local durante meses como falsos médicos, usando identidade, título e matrícula de dois profissionais da mesma nacionalidade.

O centro de saúde afastou de seu quadro outros quatro médicos que apresentavam irregularidades em seus documentos.

Segundo o Colégio de Médicos da Província de Buenos Aires, que concentra um terço da população do país, existem 26 fraudes apenas nesse distrito.

O Colégio detectou casos de cidadãos argentinos e estrangeiros que fraudaram suas identidades, não concluíram seus registros ou omitiram a revalidação de seus títulos na Argentina, no caso dos estrangeiros.

- Matrícula de aposentada -

Entre estes casos se destaca o de "uma médica boliviana que usava a matrícula de uma colega aposentada e, quando fomos prendê-la, escapou", contou à AFP o médico Rubén Tucci, presidente do Conselho Superior do Colégio de Médicos da província de Buenos Aires.

Também foi revelado o primeiro dos casos ocorridos na cidade de Buenos Aires, envolvendo um boliviano de 27 anos que não teria estudado medicina e exerceu a profissão de forma ilegal em uma clínica psiquiátrica particular do bairro de Caballito chamada Emanuel.

Um venezuelano de 34 anos também é investigado por usar a matrícula de uma mulher para poder trabalhar nos plantões da clínica Ángel Pedro Salas, localizada no bairro de San Martín, periferia de Buenos Aires.

"Ele chegou a fazer três plantões na clínica. Nós o detectamos, telefonamos para a polícia e ele foi preso", contou Tucci.

"A saúde da população é prioridade para nós, e isto está em risco", assinalou o profissional. "É uma irresponsabilidade absoluta dos diretores das clínicas contratar estes tipos de pessoa, porque eles têm apenas que entrar em contato conosco para verificar a documentação de um médico."

Os ministérios da Saúde da nação, da província e da cidade de Buenos Aires ainda não iniciaram investigações oficiais, uma vez que os casos ocorreram em órgãos municipais, embora, ao serem consultados, tenham afirmado que acompanham de perto o assunto.

- Controles fracos -

"Pode ser que as autoridades estejam preocupadas, porque há muitos lugares onde o controle tem sido muito fraco, e todas as notícias que saírem farão com que todos comecem a investigar, embora não acredite que haja muitos casos", assinalou o médico Carlos Schwartz.

O profissional, integrante do grupo Pacto Argentino pela Inclusão na Saúde (País), disse que "não é raro que os casos detectados envolvam estrangeiros, porque com os países latinos há acordos extremamente fracos, e eles começam rapidamente a exercer. Além disso, são muito mais baratos do que os médicos argentinos. Ao contrário, um médico europeu não pode exercer a profissão na Argentina."

"Quase todos os casos que surgiram historicamente foram de estudantes muito avançados, pessoas que não concluíram o curso por algum motivo e fazem tarefas de prática", indicou Schwartz.

A Justiça decretou a prisão preventiva de Vilka de Souza Nobre e Jaime Ricardo Chumacero Cabezas Junior, supostos falsos médicos que atuavam em unidades de saúde da região de Sorocaba. Os dois fazem parte de um grupo de seis profissionais acusados de falsidade ideológica e exercício ilegal da Medicina. O encerramento da primeira fase das investigações foi anunciado nesta sexta-feira, 24, pela Polícia Civil de Sorocaba.

Dois dos acusados - Pablo do Nascimento Mussolin e Natani Thaisse de Oliveira - estão presos. Cabezas e Vilka passam agora a serem considerados foragidos e são procurados pela polícia. Cabezas é formado em Medicina na Bolívia e chegou a prestar o Revalida, o exame nacional de revalidação de diplomas médicos, no Estado de Mato Grosso, mas não foi aprovado. Vilka também alegou ter formação no exterior, mas não aparece nas listas de candidatos ao Revalida.

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A polícia apurou a atuação de outros dois falsos médicos em unidades de saúde de Alumínio, Mairinque e São Roque, na região de Sorocaba, mas eles não tiveram os nomes divulgados - um deles já morreu, segundo a polícia. Também são investigadas três empresas de serviços médicos que contrataram os falsos profissionais. No total, eles podem ter atendido a mais de dois mil pacientes. Os 60 atestados de óbito assinados pelos falsos médicos estão sendo revistos.

A Santa Casa de São Roque, região de Sorocaba, está convocando cerca de 400 pacientes atendidos por falsos médicos para a realização de novo atendimento. De acordo com o diretor do hospital, Jorge Haddad, o objetivo é refazer os procedimentos para garantia de que não haverá danos à saúde dessa clientela. Ainda segundo ele, nenhum dos pacientes corria risco de morrer quando passou pela consulta. Também estão sendo verificados 40 atestados de óbito assinados pelos suspeitos nesse hospital.

De acordo com Haddad, três profissionais que apresentaram registros falsos no Conselho Regional de Medicina (CRM) atuaram na unidade de saúde. Eles foram contratados pelas empresas Innova e Guazza, que estão sob investigação da Polícia Civil. Apenas um dos investigados, Pablo do Nascimento Mussolin, que utilizava o CRM em nome de Pablo Galvão, médico do Rio Grande do Norte, realizou 114 plantões na Santa Casa durante cerca de dois anos. Natani Taisse de Oliveira, que usava documentos da médica Natalia de Oliveira, também atendeu no hospital. Os dois são os únicos que estão presos.

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Dos outros quatro falsos médicos identificados, a jovem conhecida por Vilka, que usava o CRM de Cibele Lemos e Silva, teve a prisão preventiva decretada, mas está foragida. Um dos supostos falsos médicos morreu há poucos meses, segundo a Polícia Civil. A polícia analisa documentos e livros apreendidos em escritórios das empresas Innova, Guazza e Instituto Ciência da Vida (ICV), que forneciam a mão de obra dos médicos aos hospitais.

O Ministério Público de Mairinque já pediu a quebra de sigilo de todos os envolvidos. A Innova e o ICV alegam que também foram vítimas da fraude, já que tinham como apurar o uso dos documentos falsos. As duas empresas e a Guazza informaram que, a partir dos fatos denunciados, ampliaram o rigor na seleção e contratação dos profissionais.

Os falsos médicos que atuavam na região de Sorocaba, interior de São Paulo, assinaram pelo menos 60 declarações de óbito durante o período em que trabalharam na rede pública de saúde. Os atestados, apreendidos pela Polícia Civil durante a Operação Falsos Médicos, desencadeada na sexta-feira (17), contêm as assinaturas de quatro médicos que trabalharam usando registros falsos no Conselho Regional de Medicina (CRM). A maioria das certidões foi emitida nos últimos meses em hospitais e unidades de pronto atendimento de São Roque, Mairinque e Alumínio.

De acordo com o delegado seccional de Sorocaba, Marcelo Carriel, como as declarações foram dadas por pessoas que, em tese, não tinham habilitação para atestar a causa das mortes, os procedimentos terão de ser revistos. "A investigação vai dizer se esses óbitos são decorrentes de mau atendimento ou de causas diferentes daquelas que foram relatadas", disse.

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Quatro profissionais não aptos a exercer a medicina já foram identificados - dois, Pablo do Nascimento Mussolin e Natani Thaisse Oliveira, estão presos. Também já foi identificada a médica que utilizava o nome de Cibele L., e outro profissional que não teve o nome divulgado. Um quinto caso está em investigação no âmbito da operação, que deve se estender a cidades da Grande São Paulo, onde os falsos médicos também teriam atuado.

A polícia investiga se os titulares dos registros no Conselho Regional de Medicina (CRM) sabiam do uso indevido. Os falsos médicos recebiam de R$ 40 a R$ 60 mil por mês por sua atuação em unidades conveniadas com o Sistema Único de Saúde (SUS). A Innova, empresa responsável pela contratação, informou em nota que as admissões foram feitas com base nos documentos pessoais e nos registros no CRM apresentados pelos supostos médicos. Segundo a empresa, não foi possível detectar as falsificações porque os documentos eram compatíveis com o prontuário inserido no site do CRM.

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