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O atraso crônico das obras de linhas de transmissão de energia vai começar a afetar a operação da maior hidrelétrica brasileira. A partir de setembro, a usina de Belo Monte, em construção no Pará, ficará tecnicamente impedida de entregar todo o volume de energia que suas turbinas já são capazes de produzir, por causa de linhas de transmissão de energia que deveriam estar prontas, mas que até hoje só existem no papel.

A restrição técnica, conforme apurou o Estado, foi oficialmente comunicada pela concessionária Norte Energia, dona de Belo Monte, ao Ministério de Minas e Energia (MME), ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

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Com seis turbinas da casa de força principal já em operação, além de seis máquinas de menor porte da casa de força complementar, a usina atingiu potência de 3.899 megawatts (MW) - o limite que a rede atual de transmissão consegue suportar. Acima disso, essa malha, que foi improvisada para distribuir a energia da usina, não aguentaria. Ocorre que, entre setembro e dezembro, mais duas máquinas de 611 MW cada entrarão em operação, energia adicional suficiente para atender mais de 2,1 milhões de pessoas. Sem linha, essas turbinas terão de ficar desligadas.

O governo alega que, com o período seco na região e a baixa vazão do Rio Xingu nesta época, o acionamento de Belo Monte já seria reduzido, independentemente das máquinas à disposição. Em novembro, porém, com o início do período chuvoso, seria hora de operar a plena carga, o que agora está em xeque.

Não bastasse o prejuízo operacional que a falta de transmissão pode produzir - a geração hidrelétrica reduziria a dependência do uso de usinas térmicas, mais caras e poluentes -, há a possibilidade de que o consumidor brasileiro tenha de pagar por uma geração que não usou, já que Belo Monte tem direito a ser remunerada, porque não tem nada a ver com o atraso das linhas de transmissão.

O plano de distribuição de energia de Belo Monte se apoia na construção de três novas linhas. A primeira, conhecida como "linhão pré-Belo Monte", teve seu contrato assinado com a espanhola Abengoa em fevereiro de 2013. Previa-se que essa rede de 1.854 km de extensão ficasse pronta em fevereiro de 2016. Seria a malha de estreia da hidrelétrica, afinada com o cronograma das 18 máquinas de 611 MW da usina. Essa rede levaria a carga inicial de Belo Monte para o Nordeste; outras duas linhas de 2,1 mil km cada, que seguem para o Sudeste, entrariam em operação em março de 2018 e dezembro de 2019. O projeto da Abengoa, no entanto, naufragou com a crise financeira da empresa. Nada foi feito.

Desde o ano passado, o governo tem improvisado a entrega da energia de Belo Monte com redes locais de transmissão que chegam ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Ao jornal "O Estado de S. Paulo", o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, disse que o governo está empenhado em adiantar o cronograma da linha que segue até São Paulo. O plano é apertar o passo nas obras da concessionária Belo Monte Transmissora de Energia, para tentar ligar a linha liderada pela chinesa State Grid em dezembro. "Acreditamos que seja viável essa antecipação. Assim, teríamos o aproveitamento de todas as máquinas de Belo Monte sem problemas, já no período chuvoso."

A estratégia foi confirmada pelo MME. "Em função do período seco, até o mês de dezembro, somente haverá disponibilidade hídrica para geração em até seis unidades geradoras", declarou o ministério. "Com a antecipação do sistema de transmissão e com a previsão das afluências à Hidrelétrica de Belo Monte, não se vislumbra, até dezembro de 2017, restrição de escoamento da geração disponível na usina, mesmo com a entrada em operação de unidade geradoras adicionais."

Por nota, a Norte Energia declarou que, "de acordo com a legislação que rege o setor, qualquer unidade geradora conectada ao SIN assegura receita ao empreendedor, independentemente de questões referentes à transmissão da energia".

Os problemas só não são maiores porque a hidrelétrica atrasou seu cronograma. Belo Monte deveria estar com nove turbinas de grande porte em operação, em vez de seis. A conclusão da hidrelétrica, prevista para janeiro de 2019, foi reprogramada para janeiro de 2020.

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