Tópicos | Hamilton Apolônio

Há quem diga que religião e política não se misturam, principalmente pela instituição da laicidade do Estado. Porém, posturas recentes do Papa Francisco, líder mundial da igreja católica, têm instigado diversos movimentos religiosos brasileiros justamente ao contrário. Em Pernambuco, aproveitando as eleições gerais deste ano, grupos que integram uma iniciativa católica chamada “Fé e Compromisso” querem ampliar a participação de leigos, como são intitulados os fiéis sem cargos religiosos, na política local. 

O grupo surgiu há 10 anos e tem, segundo a deputada estadual Terezinha Nunes (PSDB), o aval do arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido. A tucana, que é católica praticante, foi eleita em 2014 com o apoio dos movimentos que compõem a iniciativa e espera voltar à Assembleia Legislativa (Alepe) após encarar as urnas novamente em outubro. Mas a novidade é que os católicos pernambucanos também querem emplacar uma vaga na Câmara Federal, com a candidatura do fundador da Comunidade Boa Nova, Hamilton Apolônio. 

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A prova viva de que a igreja está querendo ir além dos discursos nas missas e aumentar o espaço político está na postura do papa. Considerado revolucionário em algumas questões, Francisco vem surpreendendo a alta corte do clero e os fiéis com suas atitudes e discursos. 

Em certa ocasião, o papa chegou a dizer que os católicos devem se envolver na política porque ela  “é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum” e completou: “os leigos cristãos devem trabalhar na política. Dirão-me que não é fácil. Mas também não o é tornar-se padre. A política é demasiado suja, mas é suja porque os cristãos não se implicaram com o espírito evangélico. É fácil atirar culpas... mas eu, que faço? Trabalhar para o bem comum é dever de cristão”. 

No Brasil, o envolvimento da igreja nas questões políticas ficou latente em 2017, quando a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tomou partido diante da conjuntura. O alto clero brasileiro se colocou contrário à medidas adotadas pelo presidente Michel Temer (MDB) e passou a convocar a igreja para lutar contra, por exemplo, as reformas trabalhista [já em vigor] e previdenciária [em tramitação na Câmara dos Deputados]. 

Dom Fernando Saburido foi um dos que encabeçou a luta, convocando “o povo de boa vontade” para participar de atos públicos e pressionar os políticos a não aprovar tais medidas que, segundo ele, “merecem imediato repúdio”. Além das reformas, diante da conjuntura vivida no ano passado, Saburido também chegou a defender eleições indiretas caso Temer fosse destituído do cargo e fez ponderações sobre o cenário político. “É um momento muito difícil. Nós temos que nos unir. É a força da unidade que vai resolver as coisas. O governo está numa situação difícil, insustentável”, disse. 

Diante da manifestação dos líderes, o que evoca uma participação mais ativa dos fiéis, faz com que os católicos sintam-se autorizados a ingressar na vida política. “A conjuntura nacional é bem complicada e não oferece opções. É necessário agir como cristão na política e a igreja católica precisa adentrar com mais força. Resisti bastante a fazer isso, mas chega um momento que você pensa ou eu faço ou fico calado, não reclamo de mais nada. Os discursos do papa Francisco me motivou bastante”, declarou Hamilton, que ainda não definiu a qual partido se filiará. 

O combate a política suja

Sob a ótica do pré-candidato a deputado federal, mesmo sendo “um instrumento fantástico”, a política “se tornou muito manchada pelo volume de corrupção que o Brasil está passando”, mas apesar disso ele aceitou encarar o desafio sob a justificativa de que “quando aqueles que são chamados por Deus não atendem, outros que não são chamados, para cumprir funções tão importantes, acabam chegando e não realizando o necessário”. 

“Resisti por causa dessa realidade, você tem medo de entrar em um ambiente que está totalmente sujo, mas tem muita gente boa neste ambiente, que arrisca a vida. Então vamos arriscar também”, salientou. 

Esse cenário, envolto por investigações e acusações de corrupção, pode ser favorável na busca do crescimento da representatividade católica. Para Terezinha Nunes, a conjuntura fará com que “as pessoas sejam mais seletivas no voto”. 

“Os católicos não tem a mesma tradição que os evangélicos tem na política, esse interesse dos católicos é mais recente. Acreditamos que este ano, pelo desgaste todos da política, e esse movimento de buscar alguém com ficha limpa para votar, isso cresça. Temos notado maior interesse em discutir política e escolher pessoas que tenham mais haver com a doutrina cristã e as defesas deles”, destrinchou a deputada estadual. 

Para ampliar o número de votos direcionados aos políticos católicos, o movimento Fé e Compromisso tem promovido oficinas e palestras nas igrejas pautando, segundo Terezinha, “a necessidade de aprender a votar e escolher os candidatos”. Indagada se desejam imitar os métodos evangélicos de doutrinação, ela negou.  

Mesmo sendo 66% dos pernambucanos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, os católicos não tem uma bancada formada, ao contrário do que acontece com os evangélicos, que crescem exponencialmente as bancadas nas casas legislativas. 

Defesas dos mandatos

Hamilton é responsável por uma comunidade conhecida por trabalhar a recuperação de dependentes químicos, pauta bem comum entre os políticos evangélicos. Entretanto, ele disse que vai ampliar sua defesa, caso seja eleito. 

“Vou procurar levar as necessidades do estado para a Câmara Federal, claro, mas a defesa da família e dos valores cristãos estão impregnados em mim. Tenho o desejo de ser alguém que faz a interlocução entre o poder e as necessidades de todas as regiões do estado, a partir de diálogos com os bispos”, assegurou, pontuando que não deixará de lado questões como saúde e segurança, que estão diretamente ligadas ao combate às drogas. 

Hamilton também disse já ter tratado do assunto com Dom Fernando e os bispos de outras unidades regionais como Dom Henrique Soares, responsável pela Diocese de Palmares, e Dom Paulo Jackson, da Diocese de Garanhuns. “É um tipo de atividade que não sei como alguém pode querer entrar nela sozinho. Sozinho ninguém pode. Tenho a adesão de todos os bispos da província de Pernambuco e quero, junto com eles, pleitear pelas necessidades do estado”, reforçou.

Na Região Metropolitana do Recife, o Fé e Compromisso concorrerá com a dobradinha Terezinha Nunes e Hamilton Apolônio, mas também estuda lançar nomes de outras regiões do estado. Atualmente, na bancada pernambucana, nenhum deputado federal atua como representante da igreja católica. 

*Foto 1 [Papa Francisco] - ALBERTO PIZZOLI / AFP

*Foto 2 [Terezinha Nunes e Hamilton Apolônio] - Reprodução do Facebook/Hamilton Apolônio

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