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Uma arte milenar que demanda conhecimentos de matemática, geometria e física, além de paixão e curiosidade. Assim é a luthieria, ofício de construção e reparos de instrumentos musicais de corda, sopro e percussão. O profissional que se dedica a ele é chamado de luthier. Esse precisa dispor não só dos conhecimentos citados acima como também de muito amor pela música para confeccionar os instrumentos que estarão nos palcos ou nas mãos de músicos.  

Foi a curiosidade, inicialmente, que levou o paulista Jônatas Kerr a mexer em seus primeiros instrumentos. Ao ganhar uma guitarra, aos 12 anos, ele achou que o instrumento precisava ganhar personalidade e então, decidiu reformá-la. "Arranquei a tinta com caco de vidro, pintei com verniz, ficou toda grudenta, mas eu tava feliz, sempre gostei muito de mexer com as coisas. Eu não tinha essa relação com o instrumento de 'ah, a guitarra é mágica', eu olhava e achava 'isso aqui é um pedaço de madeira e eu preciso mexer nela'", relembra.

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A 'trela' de menino era só o embrião do que Jônatas viria a fazer no futuro. No ano de 2015, ele precisava de um banjo. Sem dinheiro para comprar um instrumento novo a solução foi construir um com o que ele tinha à mão. A empreitada deu tão certo que, além de gravar a música, ele abriu um canal no YouTube para compartilhar com outros interessados a arte da luthieria, mas com um diferencial: todos os instrumentos são construídos com materiais recicláveis a custo quase zero. "Em 2016 eu comecei o canal Luthieria de Pobre que o próprio nome já deixa claro, não sou um profissional, quero fazer pela brincadeira de fazer uma coisa mais amadora mesmo, de baixo custo, voltada pra quem tá começando".

De lá para cá, o músico paulista já ensinou a construção de inúmeros instrumentos. Muitos que ele nem sabia tocar e aprendeu depois da confecção, como o ukulele. "Se eu quero tocar um instrumento e eu não tenho, eu vou lá e construo", diz. O retorno do público tem vindo de todas as partes do mundo e alguns espectadores até entraram para a profissão de luthier após aprender com seu conteúdo. Para Jônatas, essa arte pode estar ao alcance de qualquer um. "Uns terão mais 'dom' que outros. Eu mesmo comecei sem nunca ter mexido nessa área, eu comecei tentando e ficou legal e eu segui fazendo. Quero sempre estar construindo um instrumento novo".

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Outro luthier que abraçou o ofício a partir da necessidade foi o pernambucano Cristiano Ferraz. Após entrar para o mundo da música e começar a tocar, a falta de dinheiro para a compra de instrumentos, somada ao interesse em aprender a confeccioná-los, o fez ganhar uma nova profissão que já desempenha há mais de 10 anos. 

Cristiano assina a grife de instrumentos percussivos Castanho, que produz 'bombos' de maracatu, caixa, ganzá, Ilu, atabaque, zabumba, triângulo, pandeiro, reco reco de bambu, tambor de boi do Maranhão e caxixi, entre outros. Ele conta que aprendeu inicialmente com um amigo de 'batuque', e depois passou por cursos e projetos multiculturais que aprimoraram seus conhecimentos de luthier.

O ofício também somou em sua vida como músico dando-lhe nova percepção acerca das sonoridades e ritmos: "Às vezes o som do instrumento não está legal e em  muitas situações só de ouvir você já sabe como resolver o problema pois seus sentidos acabam virando um radar para várias coisas. Ele vai procurar o melhor do instrumento porque somos um só".

Para Cristiano, poder tocar em um instrumento construído de maneira artesanal pode levar o músico a resultados ímpares. "A diferença está na qualidade do som que eu procuro. Cada instrumento é único e não tem como repetir peça e o tratamento no material para poder tirar o melhor dele". Essa dedicação na confecção de cada peça é recompensada no momento em que ele, o artesão, pode ver suas criações ecoando. "É uma realização, pois eu estou ali junto no tocar ou balançar. Os timbres me arrepiam e isso é massa".

Artista e operário

Para confeccionar um instrumento, o luthier precisa saber tocar ou, pelo menos, entender de música. Mas não só isso, ele também precisa ter noções de geometria, matemática, física e habilidade para usar ferramentas como serras, furadeiras e lixas, entre outras. O ofício manual e artesanal demanda esforço físico, mas também habilidades mais subjetivas que transformam esse operário em artista. 

Jônatas Kerr acredita que não há como separar um do outro porque ambos necessitam da mesma dedicação para conseguir aprimorar suas técnicas. "A música tem um lado de emoções mas tem também o lado técnico, o lado de aprimorar e fazer tudo várias vezes até ficar perfeito e acho que tem que ter as duas coisas. A pessoa tem que estar pronta pra se envolver em um trabalho que não gosta às vezes, repetindo até ficar bom e aí com a técnica dominada poder executar e botar pra fora seu lado artístico, então acho que não tem muito essa diferença".

Cristiano concorda. Envolvido com a arte da música desde pequeno por influência da mãe que era cantora de Pastoril, o luthier pernambucano se vê operário e artista e, da fusão dessas duas facetas, é que ele desenvolve o seu trabalho. "Sou as duas coisas pois somos múltiplos, a arte entranha no nosso corpo ao criar e explode na hora do fazer música, são inseparáveis".

Imagens: Reprodução/YouTubeLuthieriadePobre

Divulgação/Elysângela Freitas

Reprodução/InstagramCastanhoInstrumentos

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