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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou a empresários que Geraldo Alckmin, seu vice na chapa à Presidência da República, pode liderar as discussões sobre mudanças na legislação trabalhista. Aliados do ex-presidente afirmam que a proposta tem aparecido com frequência nas conversas reservadas com o empresariado.

Se eleito, o ex-presidente quer fazer uma discussão ampla sobre as mudanças antes de propor alterações nas regras trabalhistas, num modelo testado nos seus dois mandatos na Presidência.

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Diante da receptividade do empresariado à ideia, o que era uma sugestão ganhou contornos concretos, e Alckmin passou a ser um porta-voz do posicionamento de Lula a respeito da legislação trabalhista em eventos dos quais participa sozinho com empresários.

Em encontro fechado com cerca de 20 integrantes de grupo de líderes empresariais, Alckmin disse que as propostas de mudanças em um eventual governo Lula não iriam rever o princípio do "acordado sobre o legislado", base da reforma trabalhista aprovada no governo Temer. Ele garantiu também que não haverá a volta do imposto sindical.

O próprio Lula já se posicionou contra o imposto sindical. "A gente não precisa de imposto sindical. O que a gente quer é que seja determinado, por lei, que os trabalhadores e a assembleia livre e soberana decidam qual é a contribuição dos filiados", disse ele em abril. Mas as centrais sindicais cobram que haja alguma contribuição e cláusulas que estimulem a sindicalização e negociação coletiva.

O programa do PT fala em uma nova legislação, com atenção a autônomos, trabalhadores domésticos, teletrabalho e trabalhadores por app. Também defende respeitar "decisões de financiamento solidário e democrático da estrutura sindical".

Apesar de o PT ter feito adaptações no discurso em relação à proposta de um "revogaço" na reforma trabalhista de Temer, o assunto continua um dos mais sensíveis para os empresários.

Como mostrou o Estadão, Alckmin recebeu a missão de ampliar a interlocução com representantes do agronegócio, da saúde, do mercado financeiro e da cultura, e passou a despachar do QG da campanha petista, com sala próxima à de Lula.

"Ultimamente, o Lula está falando em restituir os direitos que foram retirados com a reforma trabalhista. Mas não tem procedência nenhuma falar em restituir os direitos", diz José Pastore, professor de Relações do Trabalho da FEA-USP. Ele pondera que o empresário também tem de entender que o negociado não é eterno.

Com a pandemia e a transição de muitos trabalhadores para o modelo home-office, o uso do WhatsApp como ferramenta de trabalho se tornou ainda mais frequente. Porém, a utilização dessa tecnologia acabou por criar uma situação muito delicada, na qual, por conta da possibilidade da comunicação em tempo real, muitos funcionários acabam por se sentir na obrigação de responder às demandas em horários que excedem o previsto na jornada de trabalho.

Esse problema é ainda mais agravado por não existir especificações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) sobre o direito do trabalhador à desconexão ou mesmo a punição dos empregadores e superiores em caso do envio de tarefas e exigências de respostas por Whatsapp fora do expediente. Para resolver isto, neste mês de dezembro um projeto de lei apresentado na câmara dos deputados solicitou a alteração da CLT para regulamentar o uso das ferramentas digitais.

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Em caso da aprovação da proposta, o trabalhador terá o direito à "desconexão" não sendo obrigado a responder às mensagens, e-mails ou até mesmo atender ligações após a conclusão do horário estabelecido para sua atuação, como também em caso de férias, descanso remunerado, intervalos e outras pausas garantidas por lei. Até lá, muitos profissionais alegam certo conflito com seus superiores em relação ao envio de demandas por meio do WhatsApp.

“Eu trabalho com atendimento ao cliente, então muitas vezes como as pessoas não compreendem esses limites na busca por respostas, meus superiores acabam enviando essas demandas mesmo após meu horário de trabalho. É compreensível que exista certos problemas urgentes, mas por vezes acabo tendo que estar online,  independente do horário, até que a situação se estabilize”, afirma um trabalhador, que preferiu não se identificar, e atua em modelo home office, ao LeiaJá.

O profissional entrevistado, mesmo trabalhando à distância, possui carga horária definida e um sistema de registro de pontos. Contudo, de acordo com ele, isso não impede que novas demandas cheguem em seu horário de descanso e que ele seja cobrado por isso.

“Não há reclamações diretas, mas nas vezes que tentei sinalizar que estava fora do meu expediente, senti que o tom da conversa se tornou mais abrupto. Sinto que mesmo sabendo dos meus direitos, às vezes piso em “casca de ovos”, tendo que abrir mão da minha vida pessoal para mostrar serviço no trabalho e não ser “substituído” tão facilmente.”, relata o profissional. 

Esse cenário não é incomum no mundo do trabalho, mas foi ainda mais agravado pelas novas tecnologias e aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp. Isso porque sem a limitação geográfica vivida no modelo exclusivamente presencial, os funcionários agora podem, de maneira muito mais fácil, levar o trabalho para casa e se submeter a realização de tarefas fora do horário.

O que a lesgislação diz

Em entrevista ao LeiaJá, o advogado trabalhista e professor Fábio Porto, afirma que mesmo com essa facilidade digital e sem lei específica, os profissionais não têm a obrigação de atender a essas demandas e possuem direito de exigir que seu tempo de descanso seja respeitado.

“Na verdade, tudo se resume ao fato de que o funcionário não deve estar à disposição permanente do seu empregador, tendo assim direito à desconexão, embora não seja o termo previsto expressamente na legislação brasileira, ao contrário de outros países como a França, por exemplo.”, afirma o advogado.

Enquanto a possibilidade de horas extras, o projeto de lei em andamento na Câmara dos Deputados prevê a formalização do recebimento de demandas por WhatsApp fora do expediente como banco de horas. Ainda ao LeiaJá, o especialista em direito trabalhista afirma que qualquer atividade fora da jornada prevista deve ser contabilizada como horas extras.

“O empregador não pode enviar mensagens eletrônicas (WhatsApp, e-mail, Telegram) para o funcionário fora do horário de expediente, sob pena de caracterizar jornada extraordinária, fazendo jus o empregado ao recebimento do adicional de horas extras, caso exija do funcionário a pronta resposta”, esclarece.

Contudo, de acordo com Fábio, os trabalhadores que atuam no modelo home office podem ser lesados nesta situação caso não tenham um controle da jornada de trabalho. Desse modo, é fundamental a existência de um acordo entre as partes contratantes e contratadas, para elaboração de um contrato escrito, seja ele coletivo ou individual, que determine os limites das relações de trabalho.

Ainda segundo o advogado, o funcionário pode recusar o contato e a solicitação de demandas de seus empregadores ou superiores, em caso de extensão de sua jornada de trabalho, ciente que a relação empregatícia ficará, provavelmente, estremecida. Porém, nestas condições, se ocorrer uma eventual demissão ou até mesmo um caso de assédio moral, existe a possibilidade de se recorrer judicialmente, caso ocorra a comprovação do acontecimento.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou que pretende mudar a legislação trabalhista para aproximá-la da "informalidade". "No que for possível, sei que está engessado no artigo sétimo (da Constituição), mas tem que se aproximar da informalidade", declarou em reunião com parlamentares do DEM nesta quarta-feira (12), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O artigo 7º trata dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, como férias e décimo terceiro.

Bolsonaro falou sobre o assunto ao fazer críticas ao PT e ao Bolsa Família. Ele disse ser favorável ao programa, mas destacou que deve possibilitar formas de saída e oportunidades de emprego.

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Ele também afirmou, ao se referir ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que "se tiver clima a gente resolve esse problema". Bolsonaro disse que "não dá mais para quem produz ser vítima de ações de uma minoria, mas de uma minoria atuante".

O presidente eleito criticou a decisão do MPT por pedir multa de R$ 100 milhões da empresa Havan e de seu dono, Luciano Hang, por suposta coação de funcionários durante período eleitoral para apoiarem Bolsonaro. "O Luciano Hang está com uma multa de 100 milhões porque teria aliciado funcionários a votarem em mim. Como é que os caras conseguem bolar um negócio desses?", questionou.

Ele disse, mais uma vez, que "ser patrão no Brasil é um tormento". "Eu poderia ter microempresa, mas sei das consequências depois se meu negócio der errado. Devemos mudar isso daí."

Também defendeu que os patrões e as empresas sejam tratados como amigos. "Nós queremos que tenha fiscalização sim, mas que chegue no órgão a ser fiscalizado e que a empresa seja atendida como amiga. Vê o que está errado, faz observações, dá um prazo, e depois volta pra ver se a exigência foi atingida. E aí multa. Não fazer como está aí. Ser patrão no Brasil é um tormento."

Na semana passada, Bolsonaro já havia dito que é preciso mudar "o que for possível" na legislação trabalhista, mas não detalhou quais pontos quer priorizar. Ele defendeu um aprofundamento da reforma trabalhista já aprovada pelo governo Michel Temer a diversos partidos que se reuniram com ele no CCBB.

Bolsonaro repetiu a afirmação de que "é difícil ser patrão no Brasil". "Nós temos direitos demais e empregos de menos, tem que chegar a um equilíbrio. A reforma aprovada há pouco tempo já deu uma certa tranquilidade, um certo alívio ao empregador e repito o que falei ontem: é difícil ser patrão no Brasil", reforçou.

Líder da Oposição no Senado, Humberto Costa (PT) afirmou que os trabalhadores já começam a sentir os “efeitos cruéis” da nova legislação trabalhista, que entrou em vigor no último sábado (11). De acordo com o parlamentar, algumas empresas e sindicatos patronais anunciaram alterações na contratação de profissionais, como a ampliação dos terceirizados, redução do horário de almoço e revisão da jornada de trabalho nos sábados, domingos e feriados.

“Já estamos sentindo os efeitos cruéis desta reforma, que é extremamente perversa para os trabalhadores e praticamente acaba com os direitos laborais dos brasileiros. A reforma beneficiou os mais ricos, os patrões e deixou os trabalhadores praticamente reféns dos empregadores. Vivemos um dos períodos mais duros da nossa história, sem dúvida, o mais danoso para o povo desde a revogação da Lei Áurea”, afirmou.

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A reforma trabalhista alterou mais de 100 dispositivos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). “Do jeito que as coisas estão, as pessoas vão ter que pagar para trabalhar. Talvez pedindo esmola na rua, as pessoas consigam ganhar mais dinheiro do que neste tipo de trabalho. Não podemos permitir que a força de trabalho brasileira se desvalorize, se precarize tanto. Isto é inaceitável. Vamos  reforçar as mobilizações em todo país para denunciar o desmonte da CLT”, conclamou o senador.

A McDonald’s se posicionou nesta quinta-feira (20), por meio de nota, a respeito de uma audiência pública realizada no Senado Federal sobre as condições de trabalho da empresa. No documento, a instituição garantiu cumprir a legislação brasileira e expôs respeitar manifestações sindicais.

Confira a nota na íntegra abaixo:

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“A companhia, operadora da marca na América Latina, com estrutura independente do McDonald’s Corporation, informa que respeita manifestações sindicais e esclarece que os mais de 40 mil funcionários da empresa são representados por 80 sindicatos em todo o País, conforme orientação do Ministério do Trabalho. Temos absoluta convicção do cumprimento da legislação trabalhista, seguida pela companhia desde a abertura do seu primeiro restaurante brasileiro, há 36 anos.

A empresa tem orgulho de ser a porta de entrada de milhares de jovens no mercado de trabalho. Nossas práticas laborais são premiadas e reconhecidas pelo mercado. Foi pioneira na implementação do ponto eletrônico e recebeu o selo ‘Primeiro Emprego’ do Ministério do Trabalho. Nossos funcionários recebem treinamento contínuo, tanto para as funções operacionais, quanto para valores como trabalho em equipe, comunicação, liderança e hospitalidade. Em mais de três décadas de Brasil, a empresa já capacitou mais de 1,5 milhão de pessoas.

Na última segunda-feira (17), a empresa foi premiada como a 13ª Melhor Empresa para Trabalhar pelo Great Place to Work”.

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