As luvas fazem toda a diferença na vida de Magrão. Quando está com o adereço, o goleiro de 41 anos é o jogador mais velho em atividade na Série A, titular do Sport que enfrenta neste domingo o Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro, no Recife, pela 26ª rodada. Se está com as mãos livres, ele volta a ser Alessandro Beti Rosa e ainda assim mantém laços com o futebol. A função é a de ser pai de dois atletas em início de carreira, um deles também goleiro como ele.
A longa carreira profissional de mais de 20 anos deixou Magrão com a curiosa situação de conciliar a vida como jogador à de pai de dois atletas. Só no Sport são 13 temporadas, mais de 700 jogos, nove títulos e 33 pênaltis defendidos - o que ele conta com a vibração de quem faz um gol. Essa lista de feitos vai aumentar, pois com contrato assinado até dezembro de 2019, ele estará em ação pelo menos até os 42 anos.
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"As pessoas acham que se você passa dos 30 anos já está velho no futebol. Não é assim. O maior problema não é a idade, mas a cabeça. O psicológico conta mais", disse ao Estado. Magrão atribui a longevidade no futebol aos cuidados especiais com a alimentação. Ele evita comidas gordurosas e refrigerante, por exemplo. "Não sou de engordar facilmente. Por isso me chamam de Magrão."
Magrão vira Alessandro sem as luvas. Usa o celular para conversar regularmente com os filhos Rafael, de 17 anos, que é goleiro da base do São Paulo. Lucas, de 18, é lateral-direito e está no Valgatara, da quarta divisão da Itália. Os dois saíram cedo de casa por causa do futebol. Magrão sempre os apoiou. A filha mais velha, Gabriela, é formada em Direito e está de mudança para Portugal. Fará um mestrado.
O veterano goleiro do Sport prefere ser discreto no papel de pai de jogador. Para ele, opinar demais pode ser prejudicial e colocar pressão nos meninos. "Eles têm de construir a história deles. Quando o chamam de filho do goleiro Magrão, peço para que o chamem de Rafael."
Magrão não esperava que seus meninos seguissem a carreira do pai. Muito menos que um fosse goleiro como ele - o outro é lateral. Com Lucas, o incentivo foi para não ser defensor. "Quando ele era pequeno, pegava a bola e driblava todo mundo. Eu brincava que ele tinha de jogar no ataque, para ganhar mais dinheiro", brinca.
O ídolo do Sport admite ter demorado a comprar o primeiro par de luvas para Rafael na esperança de fazê-lo mudar de ideia. Não deu certo e ele teve de ceder. "Eu comecei a jogar na linha, só que vi que não ia dar muito certo. Então, fui para o gol e acabei gostando", conta Rafael, que tem como ídolos o próprio pai e Rogério Ceni. Na última semana, o garoto esteve no Japão e foi campeão de um torneio sub-17 pelo São Paulo.
"Meu pai fala que goleiro tem de ser tranquilo, tem de passar confiança aos companheiros, então eu procuro sempre ser assim também, como ele é", diz. O paizão se enche de orgulho.
Quando o calendário traz Magrão para São Paulo, ele sempre se encontra com o filho Rafael. Eles se viram em agosto. O time pernambucano enfrentou o Santos, na Vila Belmiro. Como Lucas mora na Itália, se falam pelo celular.
Quem sofre com tantos atletas na família é Marilu, mulher de Magrão. "Ela já fica nervosa quando estou jogando. Agora diz que a saga vai continuar", diverte-se. O casal está junto há mais de 20 anos e superou momento difícil nos últimos anos, quando Marilu teve um câncer.
Com contrato assinado, Magrão não tem data para parar. Ele está preocupado em ajudar o Sport a sair da zona de rebaixamento. Como tem mais uma temporada no clube, quer continuar no time e sonha em atingir mais um recorde. Se ganhar outro título, chegará a dez e se isola como o atleta com mais conquistas da história do Sport.
Para o futuro, longe do gol, Magrão não sonha em trocar as luvas por uma prancheta de treinador. A carreira à beira do campo não o atrai. "É uma profissão muito difícil de seguir. Você perde três ou quatro jogos e já está na corda bamba, perto de ir embora. A família sofre com isso, é ruim", explicou. O plano dele é de continuar a acompanhar o crescimento dos três filhos e avaliar oportunidades para ser, quem sabe, dirigente do Sport.