Tópicos | Mestre Afonso

Com apenas 18 anos, Karen Aguiar recebeu uma missão de gente grande. Ela foi designada pelo avô, o Mestre Afonso Aguiar - falecido em abril de 2018 -, para cuidar do patrimônio da família: a Nação do Maracatu Leão Coroado, uma das mais importantes e antigas de Pernambuco, com 155 anos de tradição. Nesta segunda (25), Karen abriu o Carnaval do Leão, ao lado de sua família, na Noite dos Tambores Silenciosos de Olinda.Entre uma toada e outra, Karen, tocando um dos caixas da nação, parou para falar com o LeiaJá. No primeiro Carnaval sem seu avó, o coração da menina estava cheio de emoção: \"A ficha tá caindo agora; parece que ele tá morrendo agora\". Após a partida do avô, foram jogados os búzios - como manda a tradição -, para saber quem a espiritualidade desejaria ver à frente da nação. O nome de Karen surgiu e ela, apesar de tão jovem, não se intimidou: \"Ele (Mestre Afonso) já tinha me dito, ele me pediu pra cuidar da nação, foi a missão que ele me deixou\".Desde então, é Karen quem apita nos ensaios do Leão, preparando o baque para o Carnaval. Nascida e criada no terreiro do Leão, a jovem não hesita, pois passou a vida toda sendo preparada. Mas, apesar de designada para a função, é Afonsinho, irmão de Karen, quem vai levar o maracatu para a rua no Carnaval. Ela entende: \"Meu avô disse que eu não seria mestra\".A tradição do maracatu de baque virado não permite às mulheres serem mestras. Em Pernambuco, apenas uma ocupa esse espaço, a Mestra Joana, da Nação Encanto do Pina (também escolhida pelos búzios\". Karen diz não ter essa \"ambição\": \"Ser mestre é um título muito forte, pesado. São 155 anos de peso, de ancestralidade. Se o Mestre Afonso não dizia que era mestre, quem sou eu pra fazer isso?\"

Na tarde desta segunda (16), batuqueiros, amigos e familiares se despediram do Mestre Afonso, mestre da Nação de Maracatu de Baque Virado Leão Coroado. Afonso faleceu no último domingo (15), aos 70 anos, vítima de um infarte. Sua despedida foi ao som de cânticos sagrados da religião de matriz africana, o candomblé, e toadas da nação que ele comandou por mais de duas décadas.

O corpo de Mestre Afonso foi velado na sede do Leão Coroado, localizada no bairro de Águas Compridas, Olinda. Por volta das 15h30, um cortejo seguiu do local do velório até o Cemitério Público de Águas Compridas, onde houve o sepultamento. Por todo o caminho, batuqueiros da Nação Leão Coroado tocaram seus tambores em uma última homenagem ao seu mestre. Familiares, amigos e representantes de outras nações de maracatu de baque virado também acompanharam, a maioria vestindo branco e cantando loas.

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Afonso Aguiar assumiu a nação Leão Coroado em 1997, sucedendo um dos maiores mestres de maracatu de Pernambuco, Luís de França. Por pouco mais de duas décadas, Mestre Afonso conduziu a nação levando-a para diversos cantos do Brasil e do mundo, em apresentações e oficinas ministradas por ele. O Leão Coroado é uma das mais importantes e antigas nações em atividade no Estado e é reconhecida como Patrimônio Vivo.

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O maracatu de baque virado perdeu, na noite deste domingo (15), um de seus mais importantes mestres. Afonso Aguiar, mestre da Nação de Maracatu Leão Coroado, faleceu, aos 70 anos,  em Olinda.

Segundo amigos próximos, Afonso sofreu um infarto fulminante durante a realização de um toque em seu terreiro, no bairro de Águas Compridas. O velório deve acontecer no próprio terreiro onde o mestre exercia a função de liderança.

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Afonso Aguiar estava à frente do Maracatu Leão Coroado desde 1997. Ele foi o sucessor do Mestre Luíz de França, uma das maiores referências da cultura do baque virado em Pernambuco. Além de liderar a nação centenária - o Leão Coroado é uma das mais antigas nações de baque virado em atividade no Estado, com 155 anos de história,  reconhecida como Patrimônio Vivo de Pernambuco -, Mestre Afonso viajava o mundo ensinando os fundamentos do maracatu e, também, eatava à frente da Associação de Maracatus de Olinda (AMO).

Nas redes sociais, batuqueiros de várias nações e apreciadores do maracatu prestaram suas homenagens ao mestre. A Associação de Maracatus Nação de Pernambuco comentou: "A cultura negra e os maracatus nação estão em luto"; os perfis das nações Almirante do Forte e Cambinda Estrela também prestaram homenagens.


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