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O projeto Vivendo e Aprendendo Maracatu Nação Cambinda Estrela - Salvaguardando Saberes realizará uma aula espetáculo nesta terça-feira (5) na Escola Municipal Mário Melo, situada na Rua Oliveira Fonseca, em Campo Grande, a partir das 14h. Inspirado nos 88 anos de história e tradição do Maracatu Nação Cambinda Estrela, o projeto conta com o incentivo do Sistema de Incentivo à Cultura do Recife (SIC).

Criado com o intuito de aplicar praticamente a Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas públicas do país, a iniciativa é liderada pela Produtora Cultural Wanessa Paula Santos. Ela utiliza a rica tradição de 88 anos do Maracatu Nação Cambinda Estrela como base de conhecimento, buscando referências para implementar a Lei nas escolas municipais do Recife.

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O trabalho adota uma abordagem abrangente, incorporando dança, cinema, música e a valorização da estética afro como ferramentas de reflexão. Destinado a crianças, adolescentes e jovens no Centro Cultural Cambinda Estrela, além de estudantes da rede pública municipal de ensino, o projeto visa enriquecer o aprendizado e promover a consciência cultural.

Confira abaixo a programação completa das oficinas:

Dia: 05 de Dezembro de 2023

Aula Espetáculo: Baque dos saberes  e  Palestra: A Cultura Afro, modismo e apropriação: Como manter as tradições? Local - Escola Municipal Mario Melo, Rua Oliveira Fonseca - Campo Grande, Recife - às 14h

Dia: 06 de Dezembro de 2023

Aula Espetáculo: Baque dos saberes  e  Palestra: A Cultura Afro, modismo e apropriação: Como manter as tradições? Local: Escola Municipal  Olindina Monteiro, R. da Bela Vista, s/n - Dois Unidos, Recife - às 14h

Dia: 07 de Dezembro de 2023

Oficina de Estética Afro - 09h; Cine clubismo: documentário “O Maracatu Nação” - 11h Oficina de Dança Afro - 15h  Oficina de percussão No baque virado às 17h Local: Centro Cultural Cambinda Estrela, R. Dr. Elias Gomes, 420 - Campina do Barreto, Recife

O maracatu de Baque Virado carrega as tradições dos orixás africanos no Brasil e em Olinda. A manifestação reconhecida como patrimônio cultural ecoa novamente nas ladeiras de Olinda durante o Dia do Maracatu, em 1º de agosto, nesta terça-feira. O encontro acontecerá no Sítio Histórico de Olinda, durante a 16ª edição do Dia do Maracatu.

A comemoração gratuita é realizada pela Associação dos Maracatus (AMO), em parceria com a Prefeitura de Olinda. A ocasião celebra essa manifestação e homenageia pessoas que dedicaram suas vidas ao Maracatu, como Mestre Luiz de França, Mestre Afonso e muitos outros.

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As nações se concentram no Largo do Amparo, a partir das 19h e seguem em cortejo para o Quatro Cantos.Para ressoar os tambores, caixas, gonguês, ganzás e agbês, as oito Nações Maracatus dão o tom e ritmo da tradição, incluindo: Maracatu Leão Coroado, Maracatu Nação Camaleão, Maracatu Nação De Luanda, Maracatu Tigre, Maracatu Várzea do Capibaribe, Maracatu Nação Pernambuco, Maracatu Nação Maracambuco e o Maracatu Estrela de Olinda.

Da assessoria

O maracatu de Baque Virado carrega as tradições dos orixás africanos no Brasil e em Olinda. A manifestação reconhecida como patrimônio cultural ecoa novamente nas ladeiras de Olinda durante o Dia do Maracatu, em 1º de agosto, próxima terça-feira.

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Sandro Barros / PMO
O encontro acontecerá no Sítio Histórico de Olinda, durante a 16ª edição do Dia do Maracatu. A comemoração gratuita é realizada pela Associação dos Maracatus (AMO), em parceria com a Prefeitura de Olinda. A ocasião celebra essa manifestação e homenageia pessoas que dedicaram suas vidas ao Maracatu, como Mestre Luiz de França, Mestre Afonso e muitos outros.
Para ressoar os tambores, caixas, gonguês, ganzás e agbês, oito Nações Maractus dão o tom e ritmo da tradição, incluindo: Maracatu Leão Coroado, Maracatu Nação Camaleão, Maracatu Nação De Luanda, Maracatu Tigre, Maracatu Várzea do Capibaribe, Maracatu Nação Pernambuco, Maracatu Nação Maracambuco e o Maracatu Estrela de Olinda.
Mais sobre o Maracatu de Baque Virado ou Nação
O Maracatu Nação, também conhecido como Maracatu Baque Virado, é uma expressão cultural essencial para a formação da identidade afro-brasileira. Composto por um conjunto musical percussivo, o espetáculo apresentado durante o Carnaval destaca-se pela harmonia estética e musicalidade.
Além de carregar inúmeras simbologias ligadas ao culto religioso, os grupos também remontam às antigas coroações de reis e rainhas congo. Por isso, em dezembro de 2014, o Maracatu Nação foi registrado como Patrimônio Imaterial Brasileiro.


SERVIÇO - Dia do Maracatu: Oito Nações de Maracatus ecoam nas ladeiras de Olinda

Data: 1 de agosto

Concentração: Largo do Amparo

Horário: 19h

Entrada: Gratuita

*Da assessoria de imprensa

 

Reservado para os Maracatus Rurais, o polo da Avenida do Forte, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, é o tapete vermelho, nesta segunda-feira (20), para diversas agremiações que esperaram pelo Carnaval de 2023 para voltar a desfilar. Porém, infelizmente, esse desejo ficou apenas para o próximo ano para o grupo Águia Dourada.

Vindo de Carpina, a agremiação do Maracatu Baque Solto (MBS) Águia Dourada não pode performar seu espetáculo e apenas desfilou pela avenida. Informada pela organização do evento, o grupo foi desclassificado por atraso e deixou o público indignado.

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O folião Gilmar dos Santos mora na Avenida do Forte e acompanha os desfiles em todos os carnavais. Junto de outros amigos, ele expressou sua revolta com a situação, além de demonstrar empatia pela agremiação que veio de tão longe:

“Esse maracatu veio de Carpina, mas porque chegou atrasado não vai poder participar da competição dos grupos de acessos. Acho que isso é injustiça, né? É injustiça para quem faz um trabalho deste durante o ano todinho e agora que veio para competir, porque chegou atrasado não compete.”

Lindomar Xavier é diretora da Águia Dourada e explicou que o motivo do atraso foi o ônibus de vinda. “O nosso ônibus quebrou em Carpina e a gente tentou conseguir outro, mas demorou para empresa mandar outro e teve esse atraso do ônibus”, relata.

Emocionada, a diretora chorou ao pensar nos seus companheiros de grupo. “Faz três anos que a gente não brinca por causa da pandemia. Estamos nos preparando para hoje há mais de dois anos e fomos nos organizando para esse ano sair bonito, mas aconteceu esse problema do ônibus”, lamenta Lindomar.

A agremiação deveria ter chegado ao local de 10h30 para se apresentar às 11h, porém com um atraso de uma hora na chegada, o grupo foi desclassificado. O jurado Clébio Marques explica que há uma parte do regulamento que prevê a punição por atraso.

“Quando ela passa do horário de apresentação, ela [a agremiação] é penalizada por não concorrer no concurso. Ela pode apresentar-se sem estar concorrendo pela premiação. Não tem como recorrer pois, infelizmente, faz parte do regularmento”, explicou o jurado, ao LeiaJá.

Com cores e energia, o desfile de agremiações reuniu cultura e diversão no polo Avenida do Forte, no Recife, nesta segunda-feira (20). Os grupos de acesso de Maracatu de Baque Solto (MBS) garantiram a festa, desde às 9 horas da manhã, e devem passar das 2 horas da madrugada.

Uma das atrações foi o MBS Leão da Serra de Carpina, agremiação que existe desde 1981, segundo Imerson Marques, membro do grupo há 3 anos. Imerson conta que participar no Maracatu de Baque Solto vem de família.

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“A animação, a amizade, a folia, isso eu conheci através da minha mãe. Minha mãe brincava, eu peguei desde pequeno e comecei a brincar também. É uma energia muito boa, três dias de carnaval é muito pouco”, conta o folião.

 

Imerson Marques e o estandarte do MBS Leão da Serra de Carpina.

Clébio Marques é jurado do concurso das agremiações carnavalescas do Recife há quase 20 anos e defende a importância de reviver a cultura Pernambucana após a pandemia.

“Após dois anos de pandemia, estar revivendo o Carnaval e estar revivendo as agremiações é um marco na nossa história. Isso é muito importante porque a maior parte delas são de comunidades, não só de cidades do interior como também aqui da capital, e querem apresentar seu trabalho que desenvolvem o ano todo”, disse.

São mais de 20 agremiações por dia e oito horas de competições, em apenas um dia de desfile. Os vencedores do primeiro, segundo e terceiro lugar de cada modalidade receberão, além dos troféus, prêmio em dinheiro.

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O Carnaval de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, tem uma programação extensa para este domingo (19). Quem optar por brincar nas ladeiras da Márim dos Caetés, vai ter frevo, samba, maracatu e outros ritmos para embalar a festa.

Veja a programação das agremiações para este domingo de Carnaval:

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- Patusco (9h): Amaparo, 292

- Mucha Lucha (10h):  Alto da Sé

- Congobloco Batebum (10h): PRAÇA DO CARMO – FRENTE DA SEDE

- Bateria AUÊ (10h):  De Frente a Faculdade Focca         

- D’BRECK – Grêmio Recreativo Escola de Samba D’breck (10h): Largo do Bonfim

-Flor de Zíaco (10h): Rua 15 de novembro

-Bloco dos Sujos (12h): Rua 10 de novembro

- TCM MULHER DO DIA (14h):  Galpão Beer – Rua Paulino dos Santos

- Bloco Maluco Beleza (16h): RUA PRUDENTE DE MORAES – ESTAÇÃO DA LUZ 

- Clube Carnavalesco Vassourinhas de Olinda (16h): Largo do Guadalupe           

Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda (17): PRAÇA DO BONSUCESSO

- Adriana do Frevo (17h): Guadalupe

- Maracatu Nação Camaleão (18h): Praça de São Pedro

 

Na manhã desta segunda-feira (28), o Procon-PE, a Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) e a Polícia Militar estiveram em Nazaré da Mata para fiscalizar algumas sedes de agremiações. Chegando na Zona Norte do Estado, os fiscais encontraram os locais fechados, cumprindo assim os protocolos de segurança em combate à pandemia da Covid-19.

Foram visitadas as agremiações Maracatu Estrela Brilhante, O Amunam, Maracatu de Baque Solto Cambinda Brasileira, Águia Misteriosa, Maracatu Beija Flor e Jacaré em Folia. A Praça do Caboclo, onde são realizadas as apresentações dos grupos, no município, também foi inspecionada.

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Além de Nazaré da Mata, as equipes envolvidas no supervisionamento estiveram presentes também, no último final de semana, em Pesqueira e Bezerros.

O ano de 2021 deixará marcas profundas naqueles que amam o Carnaval. A não realização da festa, em virtude da pandemia do coronavírus, deixou triste os foliões que aguardam vários meses para curtir a folia e causou impactos severos naqueles que dependem do ciclo carnavalesco para sobreviver. Para os profissionais que se dedicam à manutenção de agremiações da cultura popular, a falta do Carnaval provocou muito mais que apenas lágrimas, causando baixas financeiras em seus cofres e, também, comprometendo a continuidade de saberes e tradições muitas vezes seculares. Com a possibilidade da repetição desse quadro em 2022, algumas agremiações pernambucanas temem o risco de fecharem em definitivo as portas e não voltarem mais às ruas. 

No mundo do samba, poucas são as escolas promovendo ensaios regulares para esquentarem suas baterias e desfilantes. Em entrevista ao LeiaJá, Rafael Nunes, presidente da Liga Nordeste das Escolas de Samba e da Escola Pérola do Samba, além de vice-presidente da Federação Nacional das Escolas de Samba (Fenasamba), revelou que muitas agremiações do segmento  preferiram aguardar pela definição do Governo do Estado de Pernambuco quanto à realização do Carnaval em 2022 antes de promoverem qualquer atividade.

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A espera apertou o cronograma para as escolas, que necessitam de bastante tempo, mão de obra e recursos financeiros para produzirem um desfile. Somando isso ao prejuízo acumulado durante o ano de 2021, a viabilidade de um espetáculo totalmente novo para 2022 fica cada vez menor. “Não há tempo de se fazer fantasias e carros alegóricos até fevereiro. Na minha opinião, como cidadão, acredito que não vai ter Carnaval oficial. Carnaval vai ter porque o povo faz de qualquer jeito, mas bancado pelo poder público acredito que não terá”. 

Nunes conta, também, que muitas escolas da Região Metropolitana do Recife estão com as contas apertadas, sofrendo corte de energia por falta de pagamento e até correndo o risco de fecharem de fato. Para tentar reverter o quadro, a Federação propôs à Prefeitura do Recife que, em caso de realização do Carnaval, fossem realizados desfiles simbólicos, com número reduzido de componentes e sem a disputa do tradicional concurso de Carnaval para que todas pudessem garantir suas subvenções e terem os valores dos prêmios divididos de forma igual. “Se não fizermos isso, vai ser mais um ano sem ganhar novamente. Sofremos um forte impacto e para se recuperar, para o concurso, as escolas vão precisar de muito mais que um ano”.

As escolas de samba pernambucanas estão aguardando a definição do Governo do Estado quanto à uma possível realização do Carnaval em 2022. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

Já para os afoxés o ritmo de retomada tem sido um pouco diferente. Segundo Fabiano Santos, presidente da União dos Afoxés de Pernambuco (UAPE) e do Afoxé Alafin Oyó, todas as agremiações já estão desenvolvendo atividades, sobretudo as religiosas. A expectativa é de que haja alguma “celebração” do Carnaval 2022, ainda que seja de forma reduzida, em clubes ou espaços fechados, ou até mesmo de maneira híbrida ou remota. 

Fabiano lamenta que, após um ano sem Carnaval e sem a renda que ele proporciona às agremiações, “as pessoas estão quebradas,  tentando literalmente sobreviver” e afirma que o auxílio emergencial ofertado pela Prefeitura do Recife e ainda a  Lei Aldir Blanc, no último ciclo, não foram suficientes para suprir as demandas de todos. “O auxílio do Carnaval 2021 foi a maior balela. As pessoas se iludiram com essa  possibilidade, mas não conseguiu atender a cadeia produtiva geral. Como foi dividido por porcentagem, tiveram entidades que ganharam o que se tinha almejado, mas que também não serve pra nada, se você pensar em toda a cadeia produtiva, cantores, dançarinos, costureiras, você não consegue fazer a distribuição. Houve entidades que receberam R$ 980. Nas linhas miúdas do auxilio, não só os afoxés mas maracatu e outras entidades se prejudicaram muito”.

Para o presidente da UAPE, um segundo ano consecutivo sem a realização do Carnaval representa o risco de fragilizar ainda mais essas agremiações, muitas delas correndo o risco de encerrarem suas atividades em definitivo. Fabiano acredita que o momento servirá para  consolidar uma já existente “relação inferiorizada” da cultura popular com o poder público e que muitas entidades do segmento acabarão caindo novamente “na indução do erro de aceitar qualquer coisa” como remuneração, ou auxílio.

“A gente vive uma disputa de classe a qual nós permanecemos ainda nesse lugar do prestador de serviço, de mão de obra barata, inclusive fazendo a releitura da própria escravidão. A escravidão tinha essa mão de obra em valor tranquilo para estabelecer lucro, é o que temos hoje. A cultura popular é essa mão de obra que permanece na mesma relação trazendo lucro para o estado. A gente recebe muito menos do que deveria ou o velho pão para se alimentar e estar mantendo esse ciclo vicioso de que os coronéis ganham, é a escravidão paga”, disse o presidente da Uape. 

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Outra organização que cuida de um dos maiores símbolos da cultura tradicional pernambucana, o maracatu de baque virado, também teme passar mais um ano sem atividades. Fábio Sotero, presidente da Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe) e da Nação Aurora Africana, diz que no meio, todos estão bastante preocupados com o surgimento da nova variante do coronavírus, a ômicron; e com a possibilidade de passar mais um ano sem ir às ruas, “poucos maracatus estão realizando algum tipo de atividade”. 

No lugar do sonho com mais um ano de brilho e muito batuque, a realidade das nações é a perspectiva de mais um período amargando prejuízo. “Já estão acontecendo diversos eventos como se estivesse tudo normalizado mas as agremiações ainda estão sofrendo com a  pandemia porque elas vão ser as últimas a terem alguma coisa, enquanto os eventos estão acontecendo a todo vapor, as agremiações estão ainda a ver navios sem perspectiva de nada”. 

Sotero também criticou a aplicação da Lei Aldir Blanc para os fazedores de cultura popular. Para ele, o auxílio foi mesmo “um balde de água fria” com poucos contemplados, ao passo que "artistas grandes, já consagrados” acabaram levando uma fatia maior do bolo. “As agremiações ficaram ao relento, ou com apenas alguma migalha”. No último mês de outubro, a Amanpe chegou a promover um protesto em frente à Prefeitura do Recife exigindo melhorias nas subvenções pagas às nações e outras medidas que dariam maior suporte a elas, no entanto, até o momento não houve, segundo o presidente, nenhuma definição quanto às pautas apresentadas. 

Para Fábio, passar mais um ano sem colocar os batuques nas ruas causará impactos quase irreparáveis. Com as nações ‘no vermelho’ e muitos maracatuzeiros que tiveram que parar sua dedicação ao ‘brinquedo’ para conseguirem gerar renda através de outros ofícios, as consequências e prejuízos precisarão de muito tempo e apoio para serem revertidas. Algumas, talvez, não conseguirão ser solucionadas.

“Algumas manifestações vão deixar de existir porque tem gente que não vai dar continuidade. Se o próximo Carnaval for no mesmo formato deste de 2021, no qual a prefeitura inventou um auxílio emergencial para calar a boca que foi uma vergonha, uma migalha, então mais uma vez a gente vai ter perdas de extrema importância, uma perda irreparável. Não foi fácil, não está sendo fácil e vai ser pior ainda caso isso se repetir. A gente vai tentar negociar uma possível apresentação virtual ou alguma coisa nesse sentido que não seja apenas aquele auxílio emergencial vergonhoso”, finalizou o presidente da Amanpe. 

As nações de maracatu também estão em situação de fragilidade. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

Auxílio do poder público

O LeiaJá procurou as prefeituras do Recife e de Olinda para questionar sobre as tratativas para um possível Carnaval em 2022. Através de sua assessoria de imprensa, a gestão recifense afirmou estar discutindo o assunto com a ajuda de um comitê formado por cidades que realizam grandes carnavais, como Rio de Janeiro e São Paulo, e que a decisão levará em conta as orientações das autoridades sanitárias.

Sobre as subvenções pagas às agremiações, eventuais auxílios financeiros aos grupos da cultura popular e artistas, ou outras estratégias de apoio a esses profissionais, a Prefeitura do Recife não emitiu resposta. “As tratativas sobre o Carnaval 2022, neste momento, no Recife, são conduzidas pela comissão formada em setembro, da qual faz parte a Secretaria de Saúde, realizando o monitoramento permanente do quadro sanitário e das recomendações”, diz a nota. 

A gestão de Olinda também afirmou, através de sua assessoria, estar trabalhando “com três hipóteses: não realização; que a festa aconteça com controle de acesso; realização do Carnaval em um cenário epidemiológico de 90% da população brasileira totalmente imunizada”. Além disso, colocou que a decisão será tomada “conjuntamente com outros municípios”. A respeito de possíveis auxílios financeiros à artistas e agremiações também não houve resposta. 

Na última quarta (1º), o secretário de saúde do estado de Pernambuco, André Logo, estipulou um prazo para a definição sobre a realização do Carnaval do próximo ano em terras pernambucanas. Durante reunião da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), o secretário afirmou que até o dia 15 de janeiro de 2022 a pauta será decidida.

 

Com mais de duas décadas de história, a nação do Maracatu Encanto do Dendê está juntando forças para voltar para ‘a rua’. Após uma parada de seis anos, por problemas financeiros e estruturais, o Dendê mudou de direção, de casa, e agora busca apoio dos apaixonados por esta tradição pernambucana para reviver seus momentos de glória. Nesta sexta (28), a nação apresenta uma live, em seu canal do YouTube, para apresentar o novo momento e levantar fundos a fim de regularizar sua documentação. 

Fundada em 1998, no bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife, por Edmilson Lima do Nascimento, o Mestre Missinho, o Encanto do Dendê se apresentou nos principais eventos do Carnaval do Recife, como a Noite dos Tambores Silenciosos e a abertura oficial do evento, quando ainda era realizada por Naná Vasconcelos; além de também se apresentar na cidade vizinha, Olinda. Além disso, a nação desenvolvia projetos sociais em sua comunidade, promovendo oficinas de percussão, costura e confecção de instrumentos. Em seus tempos áureos, o Encanto do Dendê chegou a contar com 130 integrantes, entre batuque e corte.

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No entanto, com o passar do tempo, manter a nação passou a ser tarefa muito difícil para o Mestre Missinho. Com pouco apoio do poder público, dificuldade em levantar recursos e problemas de saúde, o fundador do Dendê acabou abandonando as atividades. Após converter-se à religião evangélica, Missinho começou a vender instrumentos e fantasias da nação, e tudo indicava que essa trajetória havia, de fato, chegado ao fim. Porém, no início de 2020, uma visita despretensiosa à casa de Missinho mudaria o curso dessa história. 

Na época à frente da Nação Aurora Africana, o mestre de apito Danillo Mendes, encontrou-se com Missinho para uma visita cordial. Na ocasião, o fundador do Dendê sugeriu ao mestre que se juntasse a um de seus sobrinhos, Adílio Santos, para assumir a nação. Os dois toparam o desafio e caíram “de cabeça” no projeto de retomada do Encanto; o primeiro à frente do batuque e o segundo, assumindo a presidência da agremiação. 

O mestre de apito Danillo Mendes assumiu o batuque da Nação Encanto do Dendê. Foto: Reprodução/Instagram

Danillo e Adílio receberam o Dendê com quase nada: apenas poucos instrumentos - um gonguê feito de cilindro de oxigênio e dois caixas sem pele - um estandarte e um documento completamente desatualizado, a “escritura”. Meses mais tarde, o mestre de apito acabou se desvinculando do Aurora Africana e decidiu dedicar-se exclusivamente à ‘nova’ nação. “Sou muito grato à minha escola, minha formação foi no Aurora Africana. Tudo que passei lá dentro serviu pra criar a minha forma de ver maracatu. Vem muito dessa escola para o Encanto do Dendê”, disse Danillo em entrevista ao LeiaJá. Com o mestre vieram alguns batuqueiros de sua antiga ‘casa’ e outros simpatizantes que decidiram somar na reconstrução desse maracatu.  

Nova fase

O desafio do Encanto do Dendê, agora, é colocar toda sua documentação em dia para poder participar de editais de auxílio financeiro e, futuramente, voltar a participar dos eventos oficiais de Carnaval no Recife e Olinda. A nação já conseguiu apoio de amigos e outros grupos, como Pitoco de Aiyrá, da Nação Estrela Brilhante do Recife, Jamesson Florentino, da Nação Baque Forte, e do grupo Tambores de Olokun. Com essa ajuda inicial, e dinheiro investido do próprio bolso, o mestre e Adílio começaram a confeccionar novos instrumentos e outros materiais necessários para a retomada da nação. Tudo tem sido feito e guardado na oficina de marcenaria de Danillo, localizada em Jaboatão, Região Metropolitana do Recife.

Para reforçar o retorno do Dendê, nesta sexta (28), a nação apresenta uma live, em seu canal oficial do YouTube, com seus batuqueiros e alguns convidados. Durante a apresentação, o público poderá contribuir com qualquer valor através de doações feitas pelo PIX. O apurado será empregado na regularização dos documentos da agremiação. 

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O objetivo do mestre Danillo, e demais componentes que embarcaram nesse ‘sonho’, é, tão logo seja possível, reviver os momentos de glória do Dendê na rua, lugar onde o maracatu vive toda sua plenitude. “Eu quero ver o Encanto na rua, tocando o baque virado dele e só dar sequência pra que a agremiação nunca deixe de existir. Que tudo isso (a pandemia) passe, que nenhuma pessoa mais conhecida da gente vá embora por causa desse vírus e que no próximo Carnaval a gente esteja na rua, na avenida tocando e  se divertindo. O propósito não é disputar nada com ninguém, é só batucar e botar a baiana pra rodar a saia”, finaliza o mestre. 

Serviço

Live da Nação Encanto do Dendê

Sexta (28) - 20h

Youtube e Facebook

PIX: 060.893.684-74



 

Prestes a completar 90 anos de história, o Maracatu Almirante do Forte, uma das mais tradicionais nações de baque virado do estado de Pernambuco, vem enfrentando dificuldades. Além da pandemia do novo coronavírus, que paralisou as atividades da agremiação lhe tirando a renda, as fortes chuvas que caíram na Região Metropolitana do Recife, no último final de semana, destruiu parte de sua sede, localizada no Bongi, Zona Oeste da capital. Agora, a diretoria da nação busca ajuda do público e dos admiradores do maracatu, Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, para se reerguer e manter as portas abertas.

Segundo o vice-presidente e contramestre do Almirante, José Antônio da Silva, mais conhecido como Toinho, o grande volume de chuvas que caiu no Recife no último sábado (10) e domingo (11) acabou danificando parte da sede da agremiação. Alguns equipamentos eletrônicos e itens do acervo, como estandartes e os tambores, conseguiram ser salvos a tempo, no entanto, parte da estrutura da casa que abriga o maracatu acabou danificada pela água. “A rua encheu (de água) e acabou entrando pela sede. A geladeira, a gente perdeu. Mas as roupas, máquinas de costura conseguimos colocar no escritório e salvar. A gente agora precisa fazer o piso da sede para que ele fique mais alto do que o nível da rua”, disse em entrevista exclusiva ao LeiaJá. 

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A Nação Almirante do Forte é uma entre outras tantas agremiações de cultura popular pernambucana gravemente atingidas pela pandemia do novo coronavírus. Além da perda de alguns integrantes para a Covid-19, a impossibilidade de manter suas atividades, por conta dos protocolos de segurança sanitária e a não realização do último Carnaval, neste ano de 2021, deixou a nação sem renda para custear despesas fixas, como energia e manutenção de equipamentos e da própria sede. 

Comandada por Toinho e seu pai, o Mestre Teté, eles dependem apenas de recursos próprios para custear as necessidades da nação. “É triste ver todas as nações passando por esse momento difícil. Isso dói no coração, é complicado. O dinheiro que a gente ganha não dá pra fazer tudo. Meu pai depende da aposentadoria dele, eu botando o dinheiro que ganho na oficina, é pouco, mas eu gosto muito da minha missão”. 

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Sendo assim, a agremiação iniciou uma campanha de arrecadação de fundos para reparar os estragos causados pelas últimas chuvas e cuidar de seu acervo. Interessados em ajudar a agremiação quase centenária, podem fazê-lo pelos dados bancários abaixo ou entrando em contato através do instagram @almirantedoforte. A expectativa é de que a nação consiga chegar a seu nonagésimo aniversário, no dia sete de setembro, com a casa arrumada e repleta de esperança para voltar a rufar os seus tambores na rua, com o seu público, assim que possível. “Queremos voltar com  as oficinas para os jovens da comunidade, trazer a garotada pra perto da gente e dar continuidade ao nosso trabalho, depois que passar essa pandemia”, finaliza Toinho. 

Para ajudar:

Banco: Caixa Econômica

Conta Poupança: 21519-5

Operação: 013

Agência: 1028

José Antônio da Silva

 

 









 

O maracatu é uma manifestação cultural ‘barulhenta’. Os tambores das nações tradicionais ‘cantam’ alto e há quem diga que o peso desse som é de “uma tonelada”. No Carnaval do Recife, um dos eventos mais emblemáticos de sua programação reúne diversas nações de maracatu na segunda-feira carnavalesca: a Noite dos Tambores Silenciosos, realizada no Pátio do Terço. É quando todos tocam juntos e, pontualmente, às 00h, cessam os batuques para homenagear os ancestrais e reverenciar a cultura negra.

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Na última segunda (15), dia em que seria realizada, a Noite dos Tambores não aconteceu, em virtude da suspensão do Carnaval. Sem poder ir às ruas, algumas nações de maracatu usaram as redes sociais para marcar o momento e engrossar o coro pela importância de se proteger da pandemia do novo coronavírus. Os vídeos foram publicados no perfil oficial da Associação de Maracatus de Pernambuco (Amanpe). 

Nas postagens, os maracatuzeiros falaram sobre o momento de pesar pela falta do Carnaval mas, também, da esperança de retornar às ruas assim que possível. Também foram homenageadas as famílias que perderam entes por conta da Covid-19. “Hoje, nossos tambores não irão rufar e sim, pela primeira vez na história, os tambores sagrados silenciaram literalmente. A Amanpe e todas as nações de maracatu de Pernambuco prestam homenagem às famílias de milhares de vítimas dessa triste pandemia. E de uma forma diferente vem saudar todos maracatuzeiros espalhados pelo mundo. Nunca é tarde lembrar, fiquem em casa, se cuidem, usem máscara, tomem vacina. Em 2022, vamos rufar nossos tambores e celebrar a vida em homenagem aos que se foram”. 

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Rufar solitário

A Nação do Maracatu Porto Rico decidiu marcar o momento de outra forma. Alguns integrantes foram até o Pátio do Terço e realizaram uma cerimônia simbólica à porta da Igreja de Nossa Senhora do Terço. Eles cantaram, tocaram e fizeram um minuto de silêncio quando o relógio bateu as 12 horas. O momento foi transmitido ao vivo pelo Instagram. "Estamos aqui batendo uma foto na frente da igreja onde toda a cerimônia é feita, onde tudo é pedido, principalmente o bem, a paz, a saúde nesse momento tão difícil para todos nós. Não só a Naçao do Porto Rico está sentindo, em lágrimas, em choro, essa emoção vem de todos que fazem nação de maracatu”, disse um dos integrantes. 

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A segunda-feira de Carnaval guarda espaço para um dos eventos mais tradicionais da folia recifense: a Noite dos Tambores Silenciosos. É quando diversas nações de maracatu de baque virado se encontram no Pátio do Terço, localizado no Bairro de São José, região central da cidade, para uma celebração que mistura os batuques profanos aos toques sagrados da religião de matriz africana. O momento homenageia a ancestralidade negra e funciona também como uma prece às suas divindades para que o Carnaval seja de alegria e de paz.

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Mundialmente famosa, a Noite dos Tambores Silenciosos atrai turistas de toda a parte além dos brincantes de maracatu do Recife. A festa foi idealizada na década de 1960, por uma mulher, Maria de Lourdes Silva, mais conhecida como  Badia. Neta de escravos, ela foi moradora do Pátio do Terço até o fim de sua vida e partiu dela a ideia de lembrar os negros escravizados - muitos que passaram por aquele lugar na rota do comércio escravagista -, que morreram sem conhecer o Carnaval. 

A ideia de Badia ganhou corpo com a ajuda de dois homens, o jornalista Paulo Viana, e o advogado Edvaldo Ramos. A princípio, o evento era encenado pelo grupo de teatro Equipe, no chão, à porta da Igreja do Terço, e não tinha o caráter religioso que possui hoje. Mas com o crescimento da festa e o forte potencial turístico visto nela, sua dinâmica foi mudando ao longo dos anos. “Foi criando curiosidade e um pouco de interesse porque onde rola dinheiro você sabe que as coisas se expandem. Tanto é que teve um ano que a prefeitura botou arquibancadas no Pátio e ficou estreito para os maracatus se apresentarem. Mas, também, só foi esse ano porque eles viram que nem deu lucro e nem deu certo mesmo”, relembra Maria Lúcia Soares dos Santos, filha de criação de Badia. 

Dona Lúcia mantém viva a memória da mãe. Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens

Atualmente, Dona Maria Lúcia, de 72 anos, continua morando na casa que foi da mãe, dando continuidade ao seu legado. A herança vem de longe. Badia também foi criada, naquele mesmo endereço, por outras duas mulheres negras, conhecidas como Tias do Axé: “duas irmãs a qual a mãe veio da África fugida no porão de um navio”. Elas não tiveram filhos e acabaram assumindo a criação de Badia após a partida de sua mãe biológica: “Quando a mãe de Badia morreu, Sinhá assumiu Badia e Iaiá ficou como tia e fizeram uma outra família”. Todas elas sobreviviam lavando roupa e jogando búzios, aliás, a casa também tinha espaço para a adoração de orixás uma vez por ano apenas, no mês de outubro.

Badia também costurava e era responsável por vestir grande parte das agremiações carnavalescas do Bairro de São José. “Todo ano nascia uma e de todas elas, ela foi madrinha”, diz Lúcia. Sua dedicação e apreço pela folia momesca, inclusive, lhe rendeu o título de Dama do Carnaval, e ela chegou a ser a homenageada do Carnaval do Recife em 1985. Além de ter idealizado a Noite dos Tambores Silenciosos, Badia também teve participação na fundação do Galo da Madrugada e fundou a troça Coroas de São José, na qual desfilava nas quintas-feiras pré-carnavalescas a bordo de um jipe. Hoje, nas tais quintas, o Pátio do Terço recebe o Baile Perfumado, prévia criada em sua homenagem.

O apreço de Badia pelo Carnaval ficou perpetuado em toda a família. No período, Dona Lúcia costuma receber em sua casa turistas que buscam conhecer melhor a história de sua mãe e também os brincantes que precisam de apoio. “A casa aqui é aberta o Carnaval todo. Todos os maracatus entram aqui pra ir no banheiro, trocar a roupa. Abro a porta de muita boa vontade, se der pra dar um lanche eu dou, e tô aqui. Quando a prefeitura precisa de mim estou presente, não cobro nada, mas também não ganho nada”.

A casa de Badia, construída por escravos, é tombada pelo IPHAN. Foto Arthur Souza/LeiaJàImagens

A filha de Badia lamenta o descaso e o esquecimento com os quais a história de sua mãe é tratada. A casa em que mora com o marido e o filho, Leandro Soares, é a única a servir, ainda, como residência no Pátio, tomado pelo comércio. Tombado em 2014 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial brasileiro, o imóvel - construído por escravos - precisa de reparos específicos tanto por sua estrutura muito antiga quanto pelo tombamento que impede que os proprietários mexam nela. 

Segundo Lúcia, o telhado acometido por uma praga de cupins precisa ser restaurado mas ela não consegue ajuda nem autorização necessárias para trocá-lo. “Tenho três ofícios pedindo socorro à prefeitura. Quando eu comecei a ‘bulir’ na casa veio um cidadão que tem interesse na (compra da) casa e me denunciou que estava modificando a casa,  aí veio a Fundarpe. Eu fui lá na Fundarpe, mostrei os ofícios e nada. Se eu não tenho conhecimento e não sei falar, eu não tava aqui não, tava embaixo do viaduto. Desde que Badia morreu em 1991 que peço socorro e nunca fui socorrida”.

Para manter a casa, Lúcia e a família tocam um restaurante, que funciona de segunda a sábado vendendo almoço comercial. Leandro complementa a renda vendendo galeto. Sem ajuda externa, os três se esforçam tanto para sustentar o imóvel em pé quanto para manter viva a memória de Badia. “O espaço é rico, essa casa foi a primeira casa construída em Pernambuco, ela tem mais de 200 anos. Só que o tempo foi passando e a cultura foi enriquecendo, mas ainda não está no nível que a gente espera. Deve ser o desinteresse, falta de cultura”, lamenta Leandro.

Memória de Badia

Dona Lúcia e o filho Leandro mantém a casa com a renda do restaurante. Foto Arthur Souza/LeiaJáImagens

A herdeira de Badia ainda sonha em transformar a casa da Dama do Carnaval em um ponto de referência da cultura negra em Pernambuco. Entre os projetos, estão a abertura de um memorial, um espaço cultural e de formação, com cursos de culinária e cabelo afro, e um restaurante afro. Leandro diz que todos os planos estão “no papel mas não tem o interesse de autoridades, de chegar junto com patrocínio”.

Já Lúcia, segue confiando em sua fé nos orixás e no esforço da sua família para concretizar os sonhos. “Tudo que eu sei hoje em dia eu aprendi com ela. As lembranças, muitas estão nessa casa, eu tô aqui lutando pra sobreviver, zelar pela casa e pelo nome dela e das velhas (Sinhá e Iaiá) também que partiram. Antes de morrer eu quero deixar aqui um restaurante afro, pra ficar uma lembrança firme dela e da família dela”.

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Neste domingo (14), Nazaré da Mata, cidade a 60 Km do Recife (PE), conhecida como a Capital do Maracatu Rural, amanheceu silenciosa. Assim como nas demais localidades com forte tradição carnavalesca, o vazio das ruas era o retrato de 2021: o ano em que a pandemia do novo coronavírus nos 'roubou' o Carnaval.

Tal silêncio, no entanto, foi quebrado momentaneamente por um caboclo solitário que, devidamente caracterizado, deu um pequeno passeio pela cidade para manter viva a tradição. Assim como ele, alguns outros brincantes da manifestação, em cidades como Araçoiaba e Condado, vestiram suas fantasias para marcar a data e manterem viva sua tradição. 

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Em Nazaré, a iniciativa foi de Anderson Miguel, mestre de apito do Maracatu Águia Misteriosa e um dos mais importantes mestres da nova geração do baque solto. Para marcar o Carnaval 2021, o mestre deixou a bengala de lado, vestiu-se de caboclo e saiu para um passeio solitário pela cidade. "Sozinho, sem aglomerar; o caboclo, ele é um herói. Eu fico sem meu Carnaval não, podem me prender", disse.

O 'mestre-caboclo' fazia referência à proibição expressa do Governo do Estado à qualquer manifestação carnavalesca, em virtude da pandemia. Representantes do Ministério Público chegaram a visitar a sede do Águia Misteriosa para orientar sobre as restrições que, caso descumpridas, resultariam em multa ao maracatu.

De máscara e sozinho, Mestre Anderson fez um pequeno percurso para deixar marcado o Carnaval 2021. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Antes da saída de Anderson, o estandarte da agremiação foi posto do lado de fora da sede, como forma de marcar o momento. Para o presidente do Águia Misteriosa, Vicente Manoel da Silva, a dor de passar um ano sem Carnaval - o primeiro em 50 dedicados à festa -, mal podia ser colocada em palavras: "É muito difícil", limitou-se a dizer.

A preparação para o passeio foi cuidadosa, com direito a banho de limpeza, para proteger contra más energias, uma tradição do brinquedo. O banho foi preparado por Dona Maria Célia, filha do fundador da agremiação, Seu Zé Rufino, e esposa de Vicente. Ela se dedica ao maracatu desde os 10 anos de idade e nunca tinha visto um Carnaval como esse. Emocionada, ela chorou ao ver Anderson fazer as primeiras manobras, já na rua.

Dona Célia registrou a saída de Anderson e chorou, emocionada. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

No seu trajeto solitário, o caboclo percorreu cerca de 1,6 km. A passagem de Anderson, que precisou trocar o cravo que se leva na boca, segundo a tradição da manifestação, pela máscara de proteção, chamou a atenção dos moradores que acenavam das janelas e portões das casas. O passeio terminou em frente à catedral da cidade, localizada na Praça Papa João XXIII, onde ele fez seus últimos movimentos.

De volta à sede do Águia, Seu Vicente o recebeu com os olhos marejados e um sorriso de alento no rosto. "Um (caboclo) conta por todos, né?", disse em tom de comemoração. Para Anderson, a sensação foi de ter cumprido uma missão: "Nazaré da Mata é a terra do maracatu, não é um vírus que vai parar nossa tradição. Foi tudo muito certinho, seguindo os protocolos; eu posso dizer que eu brinquei o Carnaval, com a esperança de dias melhores".

Na praça, o caboclo higienizou as mãos com álcool. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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#CabocloNaRua

Assim como o mestre Anderson, outros folgazões do maracatu rural, como são chamados os brincantes, fizeram questão de deixar marcado o Carnaval de 2021. Espalhados pelas cidades de Nazaré, Araçoiaba,Condado e também na Região Metropolitana do Recife, os caboclos vestiram suas indumentárias e registraram a resistência de sua tradição. Paramentados com a máscara de proteção, eles compartilharam pela internet as imagens de suas evoluções acompanhadas pela hashtag #CabocloNaRua. 

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Os maracatus de baque virado de Olinda têm compromisso certo para a segunda-feira que antecede o Carnaval: a Noite Para os Tambores Silenciosos de Olinda. O tradicional evento, que mistura festa e religiosidade, celebraria sua 20ª edição nesta segunda (8), porém, em virtude da pandemia do novo coronavírus, e consequente cancelamento do ciclo carnavalesco no estado de Pernambuco, a celebração ficou impedida de acontecer. Para que o dia não passe em branco, os tambores tomarão lugar em ambiente virtual, através de lives. 

Realizada pela Associação dos Maracatus de Olinda (AMO), a Noite Para os Tambores Silenciosos chega a seu 20º ano de existência em meio a uma pandemia global. Impossibilitada de promover o tradicional evento, a organização levou para o ambiente virtual a celebração. “Vamos ter o ato religioso da Noite acontecendo em cada nação realizando na sua casa, reverenciando aos Eguns, e pedindo saúde e proteção que ajudem-nos a superar essa não realização do tradicional Carnaval de Pernambuco  presencial”, diz uma postagem na página da associação. 

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Para marcar a data, o babalorixá Ivanildo de Oxóssi, mestre do Maracatu Estrela de Olinda, realizará uma cerimônia em homenagem ao evento em seu terreiro. O ritual será gravado e exibido posteriormente nas redes sociais da AMO. O Maracatu Nação Badia também homenageia os Tambores Silenciosos em uma live nesta segunda (8), às 20h. Idealizada pela desfilante Haia Marak (@haiamarak), a live reverencia o evento com participação de alguns batuqueiros do Badia e do babalorixá Wellington de Yemanjá. 

Para quem toca maracatu de baque virado, a chegada do segundo semestre é o fim das férias pós-Carnaval. É quando batuqueiros e demais integrantes das nações, em Pernambuco, começam a tirar a poeira dos instrumentos e figurinos para começarem a preparação de mais uma festa. Alguns, iniciam os trabalhos até antes disso. Em 2020, porém, o movimento será diferente. Com a pandemia do novo coronavírus ainda em curso no Estado, e no Brasil, não se sabe como será o Carnaval de 2021 e os brincantes precisam de estratégias para não deixar o brinquedo morrer. 

É aí que entram as redes sociais, que abriram espaço para que a tradição possa ter sua manutenção garantida durante esse período de distanciamento social e incertezas. Se em meados do século 20 Chico Science fincou uma parabólica na lama e assim levou o peso do maracatu para o resto do país e parte do mundo, a nova geração, neste século 21, afinou os modens e diminuiu ainda mais os limites geográficos para cultura pernambucana. Apesar de secular, o baque virado provou ser adaptável aos novos tempos e é através das lives, pelas ondas da internet, que batuqueiros, nações e mestres estão conseguindo manter seus tambores ressoando. 

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É de sua casa na comunidade da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, que o batuqueiro Vinícius Alves de Souza, o Vini, comanda a página Maracatus PE (@maracatuspe), com quase 1.300 seguidores. Integrante da Nação Sol Brilhante, e neto de uma das maiores referências dentro do baque virado - Dona Ivanise, fundadora da Nação Encanto da Alegria, falecida em 2007 -,  Vini criou o perfil para ajudar a promover as nações, sobretudo as menores. “É uma página para falar sobre maracatu, porque não tinha nenhuma, não tinha nenhum tipo de divulgação”, disse em entrevista ao LeiaJá.

Com a chegada da pandemia Vini resolveu movimentar o perfil promovendo lives com outros batuqueiros e mestres de diversas nações: “Eles não tinham onde se manifestar, contar sua história, falar sobre sua nação, e a página serviu pra isso. Fui o primeiro a fazer as lives e hoje quase todo dia tem uma live sobre maracatu em várias páginas, fico feliz por plantar essa semente”. Segundo Vinícius, a audiência das transmissões do Maracatus PE vem de países como Bélgica, França e Alemanha, além dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas e outros. Tudo é feito de maneira simples, sem grandes aparatos, e às vezes, “a internet falha”, mas o resultado tem sido positivo e a resposta tanto do público quanto dos maracatuzeiros tem sido a melhor possível. “Já tenho umas lives agendadas que os próprios mestres me pediram”, comemora. 

Vini em live com o mestre Felipe, da Nação Encanto da Alegria. Imagem: Reprodução/Instagram

Próximo à casa de Vini, na comunidade do Alto José do Pinho, outro batuqueiro também resolveu abrir um canal de comunicação para as nações de maracatu. Thiago Rodrigo da Silva, mais conhecido como Thiago Nagô, tem conversado com batuqueiros e mestres de diferentes nações, no seu perfil pessoal (@thiagonago), em uma série que ele batizou de A vida e a história dos batuqueiros tradicionais dos maracatus nação. 

A motivação de Nagô é mostrar ao público a parte ‘de dentro’ das nações e seus integrantes, compartilhando uma vivência que muitas vezes fica escondida atrás do som dos batuques e do brilho dos figurinos. “O pessoal de fora quando vem visitar as nações de maracatu só vê o lado cultural do brinquedo, mas além disso existe uma vida pessoal do batuqueiro, do mestre, muitos com  trabalhos sociais e outros que passam por dificuldades financeiras durante o ano, fora do maracatu. Então eu queria que a gente pudesse compartilhar essas histórias de fora da nação, como é o dia a dia, como é lidar com preconceito, com racismo dentro das comunidades”. 

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Integrante da Nação Estrela Brilhante do Recife, Nagô já promoveu bate-papos com batuqueiros e mestres de diferentes gerações e nações - de Afonsinho, do Leão Coroado, herdeiro direto de um dos mais respeitados mestres de maracatu, Afonso Aguiar, falecido em 2018, ao mestre Teté, um dos mais antigos mestres em atividade em Pernambuco, liderança da tradicional nação Almirante do Forte.

Nas conversas, além de histórias pessoais e sobre as nações, Thiago e seus entrevistados compartilham fundamentos e ensinamentos do maracatu. O público tem aproveitado a oportunidade para entender um pouco mais sobre a manifestação pernambucana. “Tem muitos grupos espalhados pelo Brasil e fora do Brasil, isso talvez seja uma forma de eles se conectarem com a gente, com as nações de maracatu. É uma forma de comunicação com essa galera que não tem oportunidade de estar pagando passagem o ano todo para para vir para o Carnaval do Recife e acompanhar de perto as nações”. 

Thiago Nagô em live com o contra-mestre Toinho e mestre Teté, da Nação Almirante do Forte. Imagem: Reprodução/Instagram

A estratégia parece ter caído como uma luva para os brincantes e apaixonados pelo maracatu, mas existem limitações. Jamesson Florentino (@florentinojamesson), presidente e articulador da Nação Baque Forte (@maracatubaqueforte), de Tejipió, Zona Oeste do Recife, enumera algumas. “Você tem que ter tempo, local, equipamento, e daí a gente já percebe uma certa desigualdade para alguns grupos, alguns maracatus poderem realizar”. 

O articulador também tem feito lives em suas redes sociais, entrevistando integrantes de nações e compartilhando conteúdo relacionado à manifestação. A prioridade, segundo ele, é dar espaço para aqueles que têm mais dificuldade no acesso à comunicação. “A gente começou dialogando exatamente com esses maracatus que estavam meio à margem, mais distantes, e foi bem legal a resposta, a participação das pessoas. Mas você vê que são poucos grupos que fazem, acho que uns cinco no máximo e no universo de quantos tem, né? Existe um mercado em torno disso, e tem muitas pessoas que consomem. Eu esperava que houvesse uma coisa mais coletiva pra realizar essas interações por iniciativa de alguma organização que promovesse, mas não houve, conversando com outros grupos a gente resolveu tomar nossa própria iniciativa”. 

Mas, apesar de ver bons resultados vindos dessa interação em tempos de isolamento social, através das redes, Jamesson acredita que no pós-quarentena o ‘maracatu virtual’ não se firmará como uma tendência. “Os maracatus que tem uma certa estrutura, disponibilidade de pessoas que entendem desse tipo de procedimento talvez consigam continuar com esse formato, mas acho que isso não vai ficar não, porque o principal da cultura popular é o contato. A cultura é o povo na rua, o ensaio, o desfile, a comunidade batendo perna e vendo o que tá acontecendo”. 

Jamesson Florentino em live com mestre Marcelo Thompson, da Nação de Oxalá. Imagem: Reprodução/Instagram

EAD do batuque

Além de bate-papos e entrevistas, os batuqueiros estão promovendo também aulas de percussão à distância. Thiago Nagô é um deles. O percussionista levou sua experiência de oficineiro, com aulas e workshops presenciais realizados  em grupos de todo o Brasil, para a internet. Em turmas online, ele tem ensinado, além do maracatu de baque virado, ritmos tradicionais do Candomblé Nagô e da Jurema Sagrada, com as aulas de ilu. “É bem diferente com relação à aula presencial mas tá sendo uma experiência boa. Tô conseguindo administrar bem essas aulas, passar um pouco do meu conhecimento e poder também tá sobrevivendo da música que é o mais importante”.

Jamesson, do Baque Forte, também tem ministrado oficinas online. Ele ensina ritmos como afoxé e o coco, além de técnicas para instrumentos como congas, pandeiro e bombo, em aulas gratuitas. “Antes de fazer, eu conversei com várias pessoas da área pra me orientar sobre essa questão do mercado. Mas, a gente que é da cultura há um certo tempo nunca teve muito esse tato com a coisa do dinheiro, do cobrar por um conhecimento, então ficou difícil pra mim entender essa coisa de criar um espaço virtual, pra pessoas pagarem e aprenderem aquilo, já que é uma coisa que é do povo. Aí comecei a soltar alguns materiais ao vivo e alguns que eu tô organizando ainda”. 

Segundo o oficineiro, a experiência tem servido também para que ele próprio possa desenvolver um certo conhecimento com captação e edição de vídeo, e apesar de algumas dificuldades, o compartilhamento de saberes e experiências através das redes sociais tem sido positivo. “O pessoal gosta, acompanha. Eu tenho um pouco de limitação por causa de equipamento, espaço, mas à medida que você vai fazendo, vai melhorando, Talvez com o tempo eu vire um digital influencer”, brinca. 

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Onde e como se conectar

Apesar de dificuldades e limitações técnicas, a vontade dos maracatuzeiros de levar sua mensagem e tradições além parece ser maior. São vários os canais nos quais é possível acompanhar lives sobre o brinquedo pernambucano, conferir aulas dos ritmos tradicionais e ficar por dentro do que acontece no meio do maracatu. Além dos entrevistados desta matéria, vários outros batuqueiros e nações - sem falar nos vários grupos percussivos, apadrinhados por maracatus de Pernambuco, espalhados por todo o país -, têm aproveitado o isolamento social provocado pela pandemia do coronavírus para se conectar pelas ondas da internet, seja pelo Instagram ou YouTube. Confira alguns.

Nação Estrela Brilhante do Recife (@estrelabrilhantedorecife); Nação Cambinda Estrela (@maracatunacaocambindaestrela); Nação Porto Rico (@ncaoportoricooficial); Nação Leão Coroado (@maracatuleaocoroado); Nação Gato Preto (@maracatugatopreto); Pitoco de Aiyrá (@pitocoaxetu). 

 

Símbolo da cultura pernambucana, o maracatu de baque virado é uma tradição centenária que resiste e sobrevive às mais diversas dificuldades impostas pela passagem do tempo, através da dedicação e amor daqueles que integram as nações. Instaladas em comunidades pobres da Região Metropolitana do Recife, as nações de maracatu, que tanta alegria e beleza levam para o Carnaval pernambucano, estão colocando toda essa paixão em ações de solidariedade para ajudar a seus integrantes e moradores de seus entornos, nesse momento em que muitos estão impossibilitados de garantir o seu sustento por conta da pandemia do coronavírus. 

Para tanto, as próprias nações estão promovendo campanhas de arrecadação de alimentos e produtos de higiene, num esforço coletivo que visa superar a falta de políticas públicas mais efetivas voltadas para os fazedores de cultura popular. Outras, como a Nação Baque Forte e Nação Cambinda Africano receberam doações de grupos de maracatu da Europa e de outros estados brasileiros. Várias comunidades já foram beneficiadas por essas mobilizações, mas os interessados ainda podem ajudar com doações de cestas básicas ou, até mesmo, dinheiro. Confira onde e como colaborar. 

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Nação Almirante do Forte

Localizada no Bongi, Zona Oeste do Recife, o Almirante do Forte, liderado pelo Mestre Teté, está arrecadando mantimentos para ajudar sua comunidade. As doações podem ser feitas por dois canais. Informações: (21) 96501-0567.

Banco do Brasil

Ag: 3090-2

CC: 107240-4

CPF: 074.359.927-63

Ana Paula de Araújo Paulo

Nubank

Banco - 260 - Nu pagamentos

Ag: 0001

CC: 5700257-2

CPF: 074.359.927-63

Ana Paula de Araújo Paulo

Nação Leão Coroado

Centenária e Patrimônio Vivo de Pernambuco, a Nação Leão Coroado também está na luta para ajudar a comunidade de Águas Compridas, de Olinda. Informações pelos números: (81) 985885693/996668558.

Banco do Brasil

Ag: 7-8

CC: 10854-5

CNPJ: 09.789.314/0001-90

Maracatu Leão Coroado

Nação Aurora Africana

Fundada e sediada em Jaboatão, a jovem nação Aurora Africana, presets a completar duas décadas de atividade, também está captando doações para seus integrantes e para moradores das comunidades localizadas no entorno de sua sede. A nação vai fzer alguns sorteios entre os doadores, como forma de agradacer pela solidariedade. Entre os itens sorteados estarão instrumentos de maracatu e camisas do Aurora. 

Banco do Brasil

Ag: 0934-2

Poupança: 28608-7

Fabio de Souza Sotero

Itaú

Ag: 7125

CC: 17176-4

Lysandra Felizardo P. da Paz

Caixa Econômica

Ag: 0648

OP: 003

CC: 0001108 - 6

Nação do Maracatu Aurora Africana

Nação Cambinda Estrela

O Cambinda Estrela fica localizado na comunidade de Chão de Estrelas, na Zona Norte do Recife, mas assiste a outras várias comunidades próximas, como Capilé, Cidade de Deus, Saramandaia e Cajueiro, através de seu Centro Cultural. A nação também está arrecadando doações. Informações: (81) 981509354/985171065.

Caixa Econômica Federal

Ag: 0050

OP: 03

Conta: 2516-7

Nação Gato Preto

A Nação Gato Preto está empenhada em ajudar a sua comunidade, Alto dos Coqueiros, na Linha do Tiro, Zona Norte do Recife. Também há uma vaquinha virtual para arrecadar doações. 

Caixa Econômica Federal

Ag: 4976

Op: 001

Conta: 22959-4

Neide Greice M de M Silva

Nação Estrela Brilhante do Recife

O Estrela Brilhante do Recife criou uma vaquinha virtual para arrecadar donativos para sua comunidade, o Alto José do Pinho, na Zona Norte da cidade. A campanha já ajudou cerca de 270 famílias, mas ainda quer fazer mais. Informações pelo (81) 986857206.

 

 

Na última semana, uma ação policial contra o grupo de maracatu Baque Mulher Matinhos, do Paraná, causou a reação de batuqueiros e pessoas ligadas a essa expressão cultural em todo o Brasil. Impedidas de realizar o seu ensaio, algumas integrantes chegaram a ser detidas e tiveram seus instrumentos levados pela polícia. Após as imagens da ação viralizarem na internet, nações pernambucanas, grupos de todo o país e a própria Associação de Maracatus de Pernambuco (Amanpe), se pronunciaram em repúdio ao ocorrido. 

A ação aconteceu na última quarta (22), quando o grupo Baque Mulher Matinhos realizava seu ensaio na Praia Brava (PR). As batuqueiras foram abordadas por cerca de oito policiais militares ordenando o fim do ensaio sob a alegação de que o grupo estaria incomodando os moradores. Os oficiais também apreenderam instrumentos e acabaram detendo três integrantes.  Nas imagens que circularam pela internet é possível ver que a ação termina de forma truculenta, uma das meninas chega a ser chamada de "vadia” . O Baque Mulher Matinhos é um dos representantes nacionais do Baque Mulher, grupo criado no Recife (PE) pela Mestra Joana Cavalcante, única mulher mestra de maracatu nação. 

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Após as imagens do caso viralizarem, grupos de maracatu, nações pernambucanas e a Amanpe assinaram nota oficial em repúdio ao ocorrido. "Estamos revoltados com tamanha violência, opressão, ignorância e truculência (mais uma vez) por parte de uma corporação que deveria oferecer segurança, à estas mulheres e à população. Tem que haver reação, mobilização em prol da Cultura e de seus fazedores e fazedoras, tem que haver denúncia, pois é absurdo o que está acontecendo, nos faltam palavras, nesse momento de consternação absoluta"! Assinam a nota grupos de Minas gerais - como o Tira o Queijo e Coletivo Couro Encantado -; do Rio de Janeiro - Rio Maracatu e Tambores de Olokun -; União Européia - União Maracatu e Tumaraca Paris -; e nações pernambucanas - como o Aurora Africana, Raízes de África, Nação de Oxalá e Leão Coroado -; além da Amanpe.  

Confira na íntegra

A ASSOCIAÇÃO DOS MARACATUS NAÇÃO DE PERNAMBUCO - AMANPE, juntamente com INÚMERAS Nações de Maracatu de Pernambuco e diversos coletivos culturais, tais como: Trovão das Minas, Baque de Mina, Tira O Queijo, espaço Gonguê e TODOS os grupos percussivos de Maracatu de Baque Virado sediados em BH/MG, estamos REVOLTADOS com tamanha violência, opressão, ignorância e truculência (mais uma vez) por parte de uma corporação que deveria oferecer SEGURANÇA, à estas mulheres e à população.

Tem que haver REAÇÃO, mobilização em prol da Cultura e de seus fazedores e fazedoras, tem que haver DENÚNCIA, pois é absurdo o que está acontecendo, nos faltam palavras, nesse momento de consternação absoluta!

O Maracatu de Baque Virado (também chamado de Maracatu-Nação) é o mais antigo ritmo afro-brasileiro - Patrimônio Imaterial do Brasil, titulo este concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Temos DIREITOS assegurados por Lei, para exercermos nossas atividades e trabalhos culturais em locais públicos, em plena luz do dia, e, de acordo com Leis, que deveriam ser respeitadas, consta que:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

"Art. 5º) Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença..."

Prestamos todo nosso apoio e solidariedade às companheiras que foram obrigadas a vivenciar esta violência, mas somente nosso apoio, não basta. Tem que haver DENÚNCIA e REAÇÃO, de todos os grupos culturais, sejam estes do Brasil e do mundo e os coletivos que desejarem assinar esse manifesto, repudiando esse estado opressor, serão muito bem vindos, mais que isso, necessários!

 

É domingo. Nas ruas dos sítios históricos do Recife e Olinda o som dos tambores de maracatu ecoam por todas as esquinas. A variedade de grupos que replicam o batuque das tradicionais nações do brinquedo é imensa e a quantidade de integrantes confirma a força e o valor dessa tradição. Mas, nem sempre foi assim. Em meados dos anos 1970 e 1980, poucos eram os 'bombos' que soavam e Pernambuco chegou a contabilizar a existência de apenas sete nações de baque virado. Foi nesse cenário de esquecimento e desvalorização que surgiu um grupo que ajudaria a mudar o curso dessa história, o Nação Pernambuco. 

Antes mesmo do manguebeat de Chico Science colocar a capital pernambucana no mapa musical do país, o Nação Pernambuco começou a trabalhar para tirar o maracatu do esquecimento. Nascido em Olinda, em 1989, o grupo idealizado por Bernardino José, ator de carreira com experiência no Balé Popular do Recife, se propôs a dar nova cara e destino à essa tradição pernambucana. Ao lado de Amélia Veloso, também atriz e membro do Balé Popular, ele buscou na tradição os preceitos que dariam norte ao novo grupo. "O primeiro passo era manter a rua como referência, a gente surge na rua como um grêmio cultural e carnavalesco, mas com a  proposta de preservar o contato com o chão, que eu chamo de ‘transcurso secular’", conta Bernardino.

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Foi a vivência nos cortejos de rua por Olinda e pelo Recife, numa época em que o Carnaval não era o Multicultural - "ainda era meio abandonado", relembra Amélia -, e  as batucadas que acabavam regadas a 'ponche' na porta de Badia, importante figura que motivou a Noite dos Tambores Silenciosos no Pátio do Terço; que formaram a essência do Nação Pernambuco. O convívio com grandes mestres de nações tradicionais como Roberto Pescocinho (hoje no Nação de Luanda) e Teté (da Nação Almirante do Forte) também colaborou para que o grupo elaborasse sua essência, até hoje, ancorada nos preceitos fundamentais da tradição. 

Bernardino José: "A gente é uma agremiação que tem esse encantamento de botar (o maracatu) no palco"

A veia artística de seus fundadores, no entanto, foi o que fez o grupo ir além, e logo as ruas deram lugar aos palcos em espetáculos que imprimiram nova cara e sonoridade a esse maracatu. "O maracatu até a gente era performático, com a gente, ele passou a ser dramático, ele começou a ganhar voz, diálogo, aí vem a questão da ópera. A gente começou a dar voz às figuras do maracatu, através da música e dos poemas de Solano Trindade", explica Bernardino. 

Em 1992, o Nação Pernambuco estreou seu primeiro espetáculo, Batuque da Nação, no Teatro Beberibe, no Centro de Convenções. Era o início de um novo século, o 20, e também o começo de uma nova era para a cultura pernambucana. O manguebeat, movimento fundado por Chico Science também ganhava corpo e colaborou para o que o maracatu ganhasse maior visibilidade e valorização em todo o mundo.

O próprio Science foi um dos espectadores do Nação e ambos os movimentos acabaram caminhando de forma semelhante: "O maracatu era visto de uma forma muito depreciativa antes. Quando a juventude chegou, tudo ficou melhor. Nem ele (Chico) nem a gente se restringiu ao povo negro, abrimos (o maracatu) para todo mundo. Aconteceram os dois (movimentos) mais ou menos ao mesmo tempo e teve essa disponibilidade de abrir para que as pessoas conhecessem. Foi um período de abertura de cabeças", comenta Amélia. 

A sede provisória do Nação Pernambuco funciona em um casarão emprestado pela Prefeitura de Olinda, no Carmo. 

A história de lá pra cá já é bem conhecida. O Nação Pernambuco ganhou os palcos e ruas do mundo e, agora, do alto de seus 30 anos, é reconhecido como um dos mais importantes grupos da cultura pernambucana trabalhando, além do maracatu, outros ritmos tradicionais do Estado, como o coco, o caboclinho e a ciranda. As sementes desse trabalho  estão espalhadas não só pelo Brasil, como também pela Europa, por meio de alunos saídos das escolas da agremiação e outros grupos que nasceram inspirados e influenciados por ela. Os trabalhos registrados, como os quatros CDs e um DVD, além de cerca de 40 músicas autorais também são ferramentas que disseminam e perpetuam essa trajetória.  

Em sua terra natal, Olinda, o Nação continua trabalhando em função do Carnaval e na manutenção da tradição do maracatu. A luta pela continuidade do grupo, no entanto, é grande, devido à falta de patrocínio. “É murro em ponta de faca, porque a gente não tem apoio pra nada. A gente sobrevive de apresentações mesmo. Não tem diferença de uma batucada de maracatu que tá começando hoje”, diz Amélia. Na sede provisória do grupo, localizada no Carmo, funcionam as escolas de dança e percussão que formam os bailarinos e batuqueiros que vão integrar a nação. O fluxo de interessados é tamanho, que a agremiação já deu vida a muitos outros grupos, como o Congobloco, o Toque Leoa e o Badia, entre outros. 

Esse movimento de multiplicação é, de fato, o grande trunfo do Nação. Todo o trabalho desenvolvido, nas últimas três décadas, vem resultando na valorização da tradição do baque virado e na manutenção desse legado pernambucano para as novas gerações, como bem ilustra Bernardino: "O que a gente tá fazendo aqui é uma preparação para o que vem depois. A gente tá trabalhando todo esse universo e as gerações que vêm começam a assimilar, a gente simplesmente tá dando vida a isso. Quando a gente começou, a gente não se entregou às amarras do sistema político que diz que você tem que fazer ‘isso’ porque é tradicional. Eu não uso palavras como folclore e raiz, a gente é semente". 

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Aniversário

Os 30 anos do Nação Pernambuco serão celebrados com diversas atividades que começam neste mês de dezembro e prometem ganhar o ano de 2020. Neste domingo (15), a sede do grupo promove uma festa que, além de celebrar o Nação, também vai comemorar os 15 anos de uma de suas ‘crias’, o Congobloco. Já no dia 21 de dezembro, uma outra celebração, no mesmo local, vai receber convidados, como o Afoxé Oxum Pandá, entre outros, e aulas de dança. Para janeiro, está prevista uma exposição que contará, em linha cronológica, a história desse grupo que, como gostam de colocar os seus fundadores, "revitalizou" o maracatu. 

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Pernambuco é a terra do maracatu, lugar onde, séculos atrás, essa cultura foi criada pelos negros escravizados  trazidos para cá. Os tambores ecoam por todos os cantos do estado e, além das centenárias nações - que detém os saberes e o legado dessa manifestação - inúmeros grupos percussivos se valem do batuque das alfaias recriando e dando novo uso a essa tradição. A força do ‘bombo’ de maracatu e o fascínio que consegue causar ultrapassou a barreira dos terreiros e ruas chegando até às  igrejas evangélicas. Hoje, diversas congregações possuem grupos de percussão que fazem do batuque um instrumento de evangelização.

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É na própria Bíblia que os batuqueiros evangélicos buscam motivação e explicação para seu trabalho. “A gente tem como base o versículo primeiro a Samuel 10, a partir do versículo cinco, Samuel fala pra Saul  que ele vai encontrar um grupo de profetas tocando tambores. Através disso, a gente anexou com a cultura e trouxe algo regional que a gente pode aproveitar, conectar”, explica Gilberto Portela, líder do grupo Tangedores, criado há 11 anos na Igreja Batista do Largo da Paz.  O pastor Edison Ricarte Martiniano dos Santos, à frente de um outro grupo, o Ministério Rugido do Leão,  da Igreja Obreiros de Cristo da Imbiribeira, ratifica: “Eu entendo que existe uma crença que eles, as culturas de matriz africana, são os criadores de ritmos e do som afro. Eles acreditam que estamos roubando sua cultura e usando sua ‘música’ de forma indevida. Cabe ao povo de Deus apresentar as verdades bíblicas acerca do uso desses instrumentos”. 

A “crença” citada pelo pastor Ricarte está ligada ao tradicional uso que as religiões e manifestações musicais de matriz africana fazem dos tambores, incluindo o maracatu nação. Tal ligação oferece aos grupos evangélicos alguns obstáculos que precisam ser quebrados por eles, como a aceitação na sociedade e, até mesmo, dentro da própria igreja. “Tanto dentro da igreja quanto fora há um mix de reações, tem umas pessoas que estranham, tem uns que apoiam. O toque aparentemente é parecido (com o maracatu tradicional) mas quando você escuta a letra é diferente, então a palavra (de Jesus) querendo ou não chega”, diz Samuel Cardoso, líder da parte musical do Tangedores. 

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Levar “a palavra” e evangelizar através do som dos tambores é o objetivo desses grupos. Eles se apresentam nas suas igrejas, durante os cultos, além de visitarem outras congregações, ruas e praças públicas, fazendo apresentações  até mesmo no Carnaval. “O objetivo do grupo é levar o amor de Deus às pessoas e dizer que elas são livres”, diz o pastor Ricarte. “Uma coisa que a gente prioriza é a música cantada, que seja passada a palavra através da arte, através da música. Mais importante que os toques é a letra”, frisa Samuel do Tangedores. 

O grupo Tangedores, da Igreja Batista do Largo da Paz tem 11 anos de história. Foto: Paula Brasileiro/LeiaJáImagens

O líder do grupo da Batista do Largo da Paz faz questão de explicar que seu grupo busca se distanciar do maracatu tradicional feito nas nações. Ele conta que o Tangedores busca mesclar ritmos, como coco e samba reggae, além de usar instrumentos não habituais do maracatu, como a zabumba, para fazer um som diferenciado. “É um grupo percussivo que a gente pode utilizar vários instrumentos e vários tipos de toque. A gente não é obrigado a fazer apenas os toques que eles fazem lá fora, a gente adequou o batuque ao louvor da igreja”. 

Tradição centenária

O maracatu de baque virado, ou maracatu nação, tradição secular do estado de Pernambuco, foi tombado como Patrimônio Cultural do Brasil, em 2014, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tamanha a sua relevância cultural. O estado conta com nações centenárias, como o Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, Maracatu Leão Coroado e Elefante que carregam, com o som dos seus tambores, saberes ancestrais e tradições culturais e religiosas, dada a ligação do brinquedo com a religião de matriz africana.

Para os maracatuzeiros, o batuque evangélico tem sido visto como uma violência contra eles. Adriano Carlos dos Santos, mestre do Maracatu Nação Cambinda Estrela, grupo com 84 anos de história, conta que se sentiu afrontado ao ver um batuque evangélico tocar em plena Noite dos Tambores Silenciosos - encontro de maracatus realizado na segunda-feira de Carnaval no Pátio do Terço, centro do Recife com forte simbologia religiosa: “Fiquei um pouco sem entender, mas eu vi como uma afronta. Os evangélicos, alguns, trabalham muito nessa postura de afrontar, diminuir o povo de terreiro, que faz cultura popular. Eles também, ao mesmo tempo, fazem isso para estarem em todos os espaços. Tem micareta do senhor, banda de axé, pagode, forró, tudo no segmento musical, porque como o processo é de venda também, de atingir o público, então eles querem estar em todos os segmentos”.

Mestre Adriano, do Maracatu Nação Cambinda Estrela, sediado na comunidade de Chão de Estrelas. Foto: Paula Brasileiro/LeiaJáImagens

Wanessa Paula, presidenta do Cambinda Estrela, complementa dizendo que os maracatuzeiros se sentem desrespeitados ao verem sua cultura sendo usada pelos evangélicos: “É uma total falta de respeito, você para e não entende até que ponto o uso deles de se apropriar das coisas pra poder se beneficiar e ocupar todos os espaços até onde vai. Isso é muito danoso. Nós somos os detentores dessa cultura, somos nós que sabemos da questão religiosa, da questão dos sotaques (forma de tocar), nós temos nosso próprio sotaque e não aceitamos que ele seja feito dessa forma que nos agride”.

Eles comentam já terem visto e até mesmo passado por situações de enfrentamento como serem denunciados em noites de ensaio na comunidade, receberem pessoas entregando panfletos com mensagens evangélicas durante suas atividades e, até mesmo, embate entre grupos distintos. “Eles estão vindo com a ideia de converter o pessoal, o discurso ficou eufemístico, um eufemismo muito grande de parecer que tá fazendo algo puramente pela cultura mas tá fazendo um ataque meio suave. Eles estão chegando nos grupos, chamando as pessoas pra saírem dali que aquilo ali não é coisa boa, ´é coisa do capeta, venha pra igreja porque aqui tem disso que você gosta’. É uma apropriação intencional, não tão fazendo só porque gostam do ritmo. Eles estão fazendo isso pra tirar as pessoas da tradição. Antes eles faziam só pela música, e hoje eles começaram a utilizar algumas estratégias e essa é uma delas e perigosa. A gente está muito preocupado com essa postura”, diz Walter França Filho, presidente do Maracatu Nação Raízes de África, que tem quase 30 anos de existência. 

Mestre Walter e Walter Filho, do Maracatu Nação Raízes de África, sediado em Água Fria. Foto: Paula Brasileiro/LeiaJáImagens

Walter é filho de um dos mais importantes mestres de maracatu nação de Pernambuco, Walter França. À  frente do Raízes de África, o mestre também demonstra preocupação com o crescimento dos batuques evangélicos mas já tem preparada a defesa de sua nação. “A gente aqui vai fazer um bocado de toada de maracatu, quando eles entregarem um ‘santinho’ a gente entrega duas toadas a ele. Se eles dizem que é uma brincadeira do diabo, do satanás, o que é que eles vem fazer no lugar do satanás? Ele não vai adquirir alma assim. Deus disse, desde que  a gente esteja em um canto cantando musica, a gente está alegrando outros corações, ali não tem maldade. Não se muda as coisas assim. Do jeito que tá acontecendo, é uma violência. É Iran e Iraque”.

Preocupados, batuqueiros, mestres e lideranças das nações pensam em procurar meios legais para resguardar suas tradições. Wanessa e Walter Filho contam que a Associação dos Maracatus de Pernambuco (Amanpe), se prepara para acionar o Ministério Público no sentido de buscar meios para se defender de possíveis ataques e intolerância religiosa. “Nós de terreiro somos tão educadas, se a gente tiver fazendo um arrastão (quando se toca caminhando pelas ruas) e passar na frente de uma igreja a gente para. O vizinho evangélico faleceu, a gente não ensaiou. Tem pessoas que denunciam os ensaios, mas a gente respeita. Mas o bom é que, mesmo com as dificuldades, a gente faz um trabalho de conquista na comunidade. Movimenta a comunidade, nossos eventos movimentam a economia da comunidade, então a gente mostra que tá aqui, tem o momento do som, mas é melhor o som do que os jovens estarem na inércia, fazendo besteira”, diz Adriano, Mestre do Cambinda Estrela. 

Impasse

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Sendo maracatuzeiros e evangélicos de universos tão distintos e distantes, existe maneira de ambos coexistirem e tocarem em harmonia? A possibilidade se coloca como um verdadeiro desafio e os questionamentos vêm dos dois lados. “O curioso é que antes era tudo ‘do cão’, se as pessoas que estavam tocando ‘pro cão eram do cão’, por que hoje tocar a música que era ‘do cão’? Tá o que, convertendo a música? Existe esse ato de conversão? O que é a fé? Quando nós estamos fazendo maracatu existe um lado religioso mas você não precisa ser religioso pra estar no maracatu, se esse pessoal se interessa pela música é até interessante porque acaba quebrando um pouco aquele discurso que eles tinham antes. Então isso quer dizer que a gente não é ‘do cão’. O que mudou? O cão mudou? Quais as intenções que eles tem em cima do maracatu?’, questiona Walter Filho. Wanessa, do Cambinda, endossa: “Não é coisa do mundo, do demônio? Então pra que fazer um maracatu de Jesus? É uma contradição”.

Já o Mestre Adriano e o pastor Ricarte concordam, pelo menos, em um ponto, dificilmente nações e grupos percussivos evangélicos conviveriam em harmonia. “Grupos de percussão a gente convive com todos, mesmo com aqueles que querem ser mais maracatu que as nações. Mas esse ‘maracatu da salvação’ não rola. O discurso é muito pesado, preconceituoso, Infelizmente são pessoas que acham que pra conquistar tem que destruir. A gente não trabalha nesse processo de destruição e violência”, diz o primeiro. O segundo tem opinião semelhante: “Eles acreditam na apropriação cultural, eles não conhecem a nossa verdade. Estão cegos e cabe aos que enxergam, o povo de Deus, ajudá-los na compreensão de que os tambores foram criados com o objetivo de louvar o Senhor. Respeito, sim, harmonia, não. Não dá para misturar óleo e água. Eles tocam para os seus deuses e nós para o Rei dos Reis e Senhor dos senhores. Respeitamos sua cultura mas não nos unimos a eles”.

O Ministério Rugido do Leão ganha as ruas no Carnaval com seus 132 integrantes. Foto: Cortesia

Já Samuel, do Tangedores, vai além. O líder do batuque ressalta a importância do respeito e frisa que seu grupo não busca agredir nem atacar quem quer que seja, e que existe uma “generalização” do senso comum no que diz respeito ao comportamento dos evangélicos. “As pessoas que falam isso podem ter tido uma situação com determinado grupo e gerou esse sentimento. Entre os próprios maracatus nação existe uma intolerância absurda entre eles. Os maracatus só se juntam, eles não se unem, eles só se juntam na abertura do Carnaval porque estão todos no mesmo ideal que é a invocação da comemoração para o início do Carnaval, fora aquele dia, se um maracatu tiver tocando aqui o outro não passa. A intolerância tá no meio deles, entre eles".

Samuel busca no passado, uma explicação para o momento presente: "Se você for falar de coisa musical, a gente não podia tocar um samba porque só quem pode tocar são as escolas de samba do Rio de Janeiro, então, essa questão de dizer que a gente tá se apropriando, não é. A história do maracatu não é religiosa, a história do maracatu era uma apresentação musical que era feita pelos negros e escravos para o rei e a rainha de portugal, os maracatus nação usam entidades que são os guias dos grupos, mas os primeiros faziam como homenagem, como existiam os bobos da corte, era uma diversão”.  Larissa Serpa, batuqueira do Tangedores, sintetiza o sentimento dos seus: “A gente só tá resgatando algo que já é nosso, baseado na bíblia”.

A sede do Maracatu Nação Porto Rico recebe, nesta quarta (25), o lançamento do livro Nossa Rainha, Mãe Elda, Ancestralidade e Devoção. A obra homenageia a ialorixá e os 103 anos de sua nação. O lançamento começa às 19h.

O livro do pesquisador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e de Povos Tradicionais do Grupo Ser Educacional (NEABIT), Jorge Arruda, é dedicado à Nação Porto Rico que, em 2019, completa 103 anos de história. A obra traz poesias e relatos bibliográficos e fotográficos que contam a importância sócio cultural de sua presidente, ialorixá e rainha, Elda Viana. 

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Fundado no século 19, em Palmares, Mata Sul de Pernambuco, e trazido para o Recife em 1916 o Maracatu Nação Porto Rico é hoje uma das mais importantes nações de maracatu de baque virado de Pernambuco. Com diversos títulos de campeão do Carnaval do Recife, a nação já foi homenageada na folia recifense (em 2016) e já passou por diversos continentes do mundo, como Ásia e Europa, fazendo apresentações, oficinas e até apadrinhando grupos percussivos. 

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Serviço

Lançamento do livro Nossa Rainha, Mãe Elda, Ancestralidade e Devoção

Quarta (25) - 19h

Maracatu Nação Porto Rico (Rua Eurico Vetrúvio, 483)

Gratuito

 

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