Selton Mello, ator desde os 6 anos de idade, tornou-se cineasta e construiu a curta, porém louvável, filmografia sob as luzes e sombras de nomes como Cassavets, Fellini, Tornatore e uma sensibilidade própria. Em "O Filme da Minha Vida" esta última é a que fala mais alto, apesar do longa ser recheado de cinefilia, referências, inspirações e aspirações. Baseada no livro "Um Pai de Cinema", do famoso escritor chileno Antonio Skármeta, a produção estreia nesta próxima quinta-feira (3) nos cinemas do país.
Promovendo seu novo trabalho, Selton veio a Recife e falou de um sentimento de liberdade, apesar de ser este seu primeiro filme com roteiro adaptado."Comecei com um filme muito denso (Feliz Natal). Depois disse: não, eu quero fazer algo diferente disso agora. Daí surgiu 'O Palhaço', que, de fato, é totalmente diferente. E esse é 'O Filme da Minha Vida. De todos, o que mais fala sobre mim e no qual me senti mais livre", comentou. O cineasta, que também atua no filme, não poupou elogios a Skármeta. "Ele confiou muito na gente, ajudou em tudo que foi preciso e sabia que queríamos manter toda essência do seu trabalho que é incrível".
##RECOMENDA##O escritor chileno talvez tenha se surpreendido com a beleza da adaptação comandada por Selton. O filme tem direção de fotografia de Walter Carvalho, antigo parceiro do ator e cineasta. A nostalgia da amizade foi apontada como um fio condutor e guia do resultado visto em tela. "O filme tem muito isso da nostalgia, das memórias afetivas. E filmar com o 'Waltinho' para mim traz tudo isso. Pra mim e pra ele. Parece que a câmera entende o sentimento e vai seguindo por onde e como o filme precisa", explicou.
A trilha sonora também é outro elemento de grande destaque do filme e, segundo o diretor, cada música foi escolhida a dedo. "A gente tinha listas e listas de músicas. Eu escutei todas elas, mais de uma vez e fui em busca das que se comunicam, dialogam com o que a gente tá passando, com a trajetória do Tony", ressaltou.
No novo longa, Tony (Johnny Massaro) precisa lidar com o sumiço do pai, um imigrante francês (Vincent Cassel), o aflorar de paixões (Bruna Linzmeyer, Bia Arantes, Cinema), a vida como professor, a solidão da carinhosa mãe (Ondina Clais Castilho) e a "tutela" de Paco (Mello), um amigo do pai sumido. Isso "lá pelas bandas do Sul, lá pelos anos 60", como descreveu o diretor. "É uma espécie de 'Era Uma Vez'. Algo dentro e fora de tempo e espaço".
Perguntado se deseja continuar fazendo filmes no Brasil ou projeta trabalhos intencionais, o cineasta não deixou dúvidas. "Quero ser reconhecido por meus trabalhos feitos aqui. Eu admiro muito meus amigos que lutaram e estão lutando até hoje pelos seus espaços fora do país. Isso é lindo, é um sonho também. Eu espero que as pessoas vejam meus trabalhos e que a gente alcance o máximo possível, no país ou fora dele", concluiu.