Tópicos | Operação S.O.S

O que levou o secretário de transportes do Pará Antônio de Pádua de Deus Andrade a ser preso temporariamente na Operação S.O.S foi uma série de transferências bancárias feitas em seu benefício pelo suposto operador Nicolas Andre Tsontakis Morais entre julho e dezembro de 2019, tonalizando R$ 331 mil.

Segundo o ministro Francisco Falcão, relator da investigação no Superior Tribunal de Justiça, as transferências configuram 'veementes indícios de pagamento de propina', supostamente pagas em razão da contratação de empresa ligada a Nicolas para execução das obras de uma ponte em Acará, a 115 km de Belém, no valor de mais de R$ 25 milhões.

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Na decisão em que autorizou a ofensiva da Polícia Federal aberta nesta terça (29), Francisco Falcão apontou que o nome de Andrade 'surgiu incidentalmente' nas investigações, no bojo da análise financeira de Morais, apontado pela Polícia Federal como o elo entre médicos e empresários de São Paulo com a alta cúpula do Governo do Pará.

As investigações que levaram à S.O.S se debruçaram inicialmente sobre supostas fraudes na contratação de organizações sociais por mais de R$ 1,2 bilhão para gestão de unidades de Saúde do Pará, incluindo os hospitais de campanha para combate ao novo coronavírus. No entanto, apesar do foco no desvio de recursos da Saúde, os investigadores dizem que foi possível verificar que as ilicitudes na administração pública do Pará tinham um 'caráter sistêmico' e alcançaram ao menos quatro Secretarias de Estado, entre elas a de Transporte.

A Polícia Federal chegou à pasta chefiada por Andrade, não pelas transferências feitas em seu benefício por Nicolas, mas em razão de um repasse feito pela empresa Protende MHK Engenharia ao suposto operador financeiro do grupo criminoso investigado.

De acordo com a PF, a empresa repassou quase R$ 8 milhões para Nicolas em momento coincidente com a obtenção de contrato celebrado, mediante dispensa de licitação com o Governo do Pará. Ainda segundo a PF, em período próximo ao recebimento dos valores advindos da MHK, Nicolas repassou os valores para Andrade.

A corporação frisou ainda que, além da movimentação financeira, conversas telefônicas interceptadas indicam que Nicolas tratou de assuntos afetos à Secretaria de Transporte com o governador Helder Barbalho, mais especificamente sobre temas relacionados à rodovia PA-150.

"Veementes, portanto, os indícios acerca da prática de corrupção passiva por parte do Secretário de Transportes, bem como a atuação de Nicolas André Tsontakis como o principal operador da organização criminosa junto aos agentes políticos do Governo do Estado do Pará", registrou Francisco Falcão ao abordar os fatos imputados ao secretário de Transportes.

Operador também teria recebido por lobby em favor de OSs, diz PF

O valor repassado a Nicolas pela Protende MHK não é o único que o suposto operador financeiro teria recebido em razão de suposta atuação junto ao governo do Pará. A PF também apontou 'fortes indícios' de que Nicolas intermediou a ida de organizações sociais para o Estado, 'a fim de implementar o esquema criminoso de desvio de recursos públicos através de contratos de gestão na área da Saúde'.

Segundo a PF, quando da qualificação das OSs Instituto Panamericano de Gestão, Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Birigui, Associação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Pacaembu e Instituto Nacional de Assistência Integral, em junho de 2019, Nicolas recebeu um carro avaliado em R$ 443 mil pago pela empresa G.A. Granja Limpeza e Segurança Eirelli. A companhia presta serviços em contratos de gestão firmados pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Birigui.

COM A PALAVRA, O GOVERNO DO PARÁ

No dia em que a Operação S.O.S foi deflagrada, o governo do Pará divulgou a seguinte nota:

"Sobre a operação da Polícia Federal, que ocorre nesta terça-feira (29.09), o Governo do Estado esclarece que apoia, como sempre, qualquer investigação que busque a proteção do erário público."

COM A PALARA, O SECRETÁRIO DE TRANSPORTES

Até a publicação desta matéria, a reportagem buscou contato com a defesa do secretário preso na S.O.S, mas sem sucesso. O espaço permanece aberto a manifestações.

Na representação enviada ao ministro Francisco Falcão, pela deflagração da Operação S.O.S na manhã desta terça (29), a Polícia Federal apontou que, apesar das investigações se debruçarem sobre o desvio de recursos públicos, por meio da contratações de organizações sociais para a gestão de unidades de saúde e hospitais de campanha, foi possível verificar que as ilicitudes na administração pública do Pará tinham um 'caráter sistêmico' e alcançaram ao menos quatro Secretarias de Estado - Saúde, Educação, Transporte, Casa Civil da Governadoria e Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia.

A ofensiva que cumpre 12 mandados de prisão e 41 de busca e apreensão, nesta terça (29), mira 12 contratos celebrados entre agosto de 2019 a maio de 2020 pelo Governo do Estado do Pará com quatro organizações, totalizando o valor de R$ 1.284.234.651,90. No entanto, ao representar pela abertura da S.O.S., os investigadores citaram dados das Operações Para Bellum e Solécia para apontar suposta 'existência de uma corrupção institucionalizada, dentro de uma estrutura de Poder, com fortíssimos indícios de participação de agentes públicos e políticos, incluindo o governador e seus secretários'.

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"Portanto, o que a princípio aparentava ser um caso isolado de fraude em licitação, com o desenrolar das investigações, revelou-se como sendo mais uma atuação da organização criminosa do governo do Estado do Pará, possivelmente, chefiada por Helder Barbalho […]", registra trecho da representação policial reproduzido na decisão de Francisco Falcão.

No documento, o próprio ministro do STJ considerou haver 'robustos indícios da anuência e participação' do governador em esquema criminoso dedicado a desvios de recursos da Saúde destinados a contratação de organizações sociais para gestão de hospitais públicos do Pará, dentre eles os hospitais de campanha para o combate à pandemia do novo coronavírus.

Em outro trecho do pedido, as autoridades policiais também registraram a possibilidade de Helder Barbalho exercer função de liderança no grupo criminoso, 'com provável comando e controle da cadeia delitiva'.

"As investigações indicam que o governador do estado do Pará, Helder Barbalho, tratava previamente com empresários e com o então chefe da Casa Civil Parsifal Pontes sobre assuntos relacionados aos procedimentos licitatórios que, supostamente, seriam loteados, direcionados, fraudados, superfaturados, praticando prévio ajuste de condutas com integrantes do esquema criminoso e, possivelmente, exercendo função de liderança na organização criminosa, com provável comando e controle da cadeia delitiva, dado que as decisões importantes acerca dos rumos da organização criminosa lhe pertenciam", registra trecho transcrito na decisão que autorizou a S.O.S.

Segundo a PF, há coincidência de atores e de modus operandi em quatro investigações atualmente em curso: dois inquéritos que tramitam no STJ sobre fraude na compra de equipamentos-médicos hospitalares para o combate ao novo coronavírus; um inquérito junto ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região sobre aquisição de cestas básicas, pela Secretaria de Educação; e a apuração em tela, 'com destaque para a participação direta do governador e do secretário do Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Pasifal de Jesus Pontes, nos contatos com empresários posteriormente contratados pela Administração Pública, na maioria dos casos com a dispensa do certame licitatório, em procedimentos com veementes indícios de fraude e direcionamento'.

"Existem fortes indícios de um quadro de corrupção sistêmica imbricada no seio do Governo do Estado do Pará, que conta com a atuação de agentes públicos e políticos de seu mais alto escalão. Logo, não há de se falar em uma análise isolada dos fatos, pelo contrário, o contexto apresentado através das investigações conduzidas pela Polícia Federal apontam para a gravíssima e reiterada prática de fraudes, direcionamentos, superfaturamentos e desvios e recursos públicos perpetrados por uma organização criminosa, altamente estruturada, que atua de modo estável e permanente na consecução de seus objetivos espúrios", afirmou a PF.

COM A PALAVRA, O GOVERNO DO PARÁ

"Sobre a operação da Polícia Federal, que ocorre nesta terça-feira (29.09), o Governo do Estado esclarece que apoia, como sempre, qualquer investigação que busque a proteção do erário público."

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