Tópicos | Os pássaros

A atriz americana Tippi Hedren revela em sua nova autobiografia que Alfred Hitchcock a agrediu sexualmente e a intimidou quando trabalharam juntos na década de 1960.

Hedren já havia acusado o diretor de assédio sexual em numerosas ocasiões, incluindo em entrevistas em 2012 para o filme da HBO "The Girl", que relata a suposta obsessão do cineasta com ela.

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Mas em "Tippi: A Memoir", publicado nesta terça-feira, a atriz afirma que o assédio do diretor deu lugar à agressão em algumas ocasiões.

Tirada da obscuridade por Hitchcock no filme de 1963 "Os Pássaros", Hedren afirma que após assinar um contrato de cinco anos com o diretor passou a ser assediada com frequência.

Segundo a atriz, certa vez Hitchcock se debruçou sobre ela, em sua limusine, e tentou beijá-la.

Em outra ocasião, o diretor a encurralou e pediu que o tocasse. "Cada vez que o encontrava só ele tinha alguma maneira de expressar sua obsessão por mim, como se eu devesse lhe corresponder de alguma forma".

Hedren, mãe da atriz Melanie Griffith, também afirma que Hitchcock utilizava seu motorista para pressioná-la.

Hitchcock e Hedren trabalharam juntos em "Marnie", um filme baseado na história de uma cleptomaníaca com problemas mentais e sexuais.

A atriz disse ter consciência sobre a crença generalizada de que um homem que obriga sua "namorada frígida, inalcançável" a manter relações sexuais com ele era uma fantasia pessoal de Hitchcock sobre ela.

O cineasta britânico, que faleceu em 1980, manifestou seu amor e ficou agressivo na medida em que era rejeitado, revelou a atriz.

"Jamais revelei detalhes sobre isto e não o farei nunca. Simplesmente digo que ele me agarrou e colocou as mãos sobre mim".

"Era sexual, perverso e feio", revelou Hedren, que não comentou nada antes porque na ocasião "assédio sexual e assédio eram termos que não existiam".

Hitchcock, frustrado com a resistência da atriz, teria ameaçado arruinar sua carreira.

Quem viu o recente Hitchcock, de Sacha Gervasi, acompanhou o processo de criação de um dos grandes filmes de todos os tempos. Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, estava em crise na época de Psicose. Com a cumplicidade da mulher, Alma Reville, conseguiu dar a volta por cima. No final do filme, de novo com o prestígio em alta, ele dá uma entrevista. O repórter lhe pergunta o que vai fazer, a seguir. Hitchcock diz que não sabe, mas um pássaro pousa em seu ombro, ele o olha, olha para a câmera. Gervasi sugere - está nascendo Os Pássaros. Ou o marqueteiro Hitchcock está só criando seu teatro?

Quando Os Pássaros tomaram de assalto as telas de todo o mundo, em 1963, não foram poucos os críticos que se decepcionaram. Somente com o tempo o filme se impôs como uma das obras-primas de Alfred Hitchcock, e hoje dispõe de excelente reputação entre estudiosos. Com Vertigo/Um Corpo Que Cai, de 1958, acontecera a mesma coisa e o filme é hoje, segundo votação da revista Sight and Sound, o melhor de todos os tempos. Um Corpo Que cai ganhou reestreia recente, em cópia restaurada. Os Pássaros também volta novinho em folha. Gerações que só conhecem o clássico de Hitchcock da TV e do DVD agora vão poder vê-lo numa sala de cinema.

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Os Pássaros integra a chamada "trilogia edipiana" do mestre. Personagens edipianos sempre se fizeram presentes na obra de Alfred Hitchcock - as mães dominadoras de Cary Grant em Interlúdio e Ladrão de Casaca -, mas algo se passa a partir de Psicose e, depois, através de Os Pássaros e Marnie - Confissões de Uma Ladra, entre 1960 e 64. É fato - Hitchcock e Freud nasceram um para o outro.

Norman Bates vira o emblema do Édipo hitchcockiano. Vive num pesadelo do qual não pode emergir. Mitch em Os Pássaros e Marnie, sua versão feminina, são personagens "curáveis". É o sentido da trilogia.

A origem é uma história curta de Daphne du Maurier, que já fornecera a Hitchcock a trama de Rebecca, a Mulher Inesquecível, seu único filme a vencer o Oscar (em 1940), mas ele não recebeu o prêmio de direção. Melanie (Tippi Hedren) e Mitch (Rod Taylor) conhecem-se numa pet shop de São Francisco. Sentem uma atração óbvia e ela o segue na pequena cidade de Bodega Bay. Melanie quer surpreender o cara.

Leva-lhe, de presente, uma gaiola com pássaros. Em Bodega Bay, há, sem motivo aparente, um apocalíptico ataque de pássaros.

Muita polêmica já rolou sobre o significado do ataque dos pássaros. O filme pode muito bem ser uma parábola cristã. Mitch é dominado pela mãe, que impede seus relacionamentos. O mundo todo vive separado. O ataque dos pássaros força a humanidade a ser solidária. As pessoas precisam se unir. Os Pássaros termina em aberto, não é um happy end. Outro ataque pode ocorrer. Na época, o filme era uma proeza técnica. Hoje, seus efeitos ficaram datados, mas a construção do suspense e a complexidade das relações (e dos personagens) continuam fazendo sua força. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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