Tópicos | Santa Dulce dos Pobres

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) aprovou nesta terça-feira (11) a inclusão do nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, canonizada na Igreja Católica como Santa Dulce dos Pobres, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O livro encontra-se no Panteão da Liberdade e da Democracia Tancredo Neves, que fica na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Com a aprovação, o PL 5.641/2019 será analisado pelo Plenário e, se for aprovado, seguirá para a sanção do presidente Lula.

O relatório foi feito pelo senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) e apresentado pelo senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP). O texto aproveita um relatório anterior, de Otto Alencar (PSD-BA), que não chegou a ser votado.

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O parecer lembra que Irmã Dulce nasceu em 1914 em Salvador e desde muito jovem demonstrou empatia e solidariedade incomuns para com as pessoas mais pobres. Aos 13 anos, com o apoio do pai, começou a acolher mendigos e doentes em casa, transformando a residência da família num centro de atendimento à população carente. Foi nessa época, também, que começou a se dedicar à vida religiosa.  Após formar-se professora, entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão (SE). No mesmo ano, aos 19 anos de idade, recebeu o hábito de freira e adotou, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce.

Suas obras sociais ajudaram a transformar a vida de milhares de pessoas por ela acolhidas. Após muita peregrinação, fundou em 1949 um albergue improvisado em um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, em Salvador. O local deu origem ao hospital Santo Antônio, hoje o maior hospital da Bahia. Dez anos depois, foi instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e, no ano seguinte, inaugurado o Albergue Santo Antônio.

Por sua dedicação à população carente, Irmã Dulce foi indicada em 1988 pelo então presidente da República, José Sarney, ao Prêmio Nobel da Paz, indicação que contou com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia. O próprio papa João Paulo II, em sua primeira visita ao Brasil (1980), ao conhecer a obra da freira baiana, pediu-lhe pessoalmente que mantivesse seu trabalho com os pobres. 

"Irmã Dulce trabalhou incansavelmente, até o fim da vida, junto às pessoas mais necessitadas. Morreu aos 77 anos tendo deixado um grande legado à sua cidade, à Bahia e ao país. Em reconhecimento às suas obras sociais, foi canonizada em 2019 pela Igreja Católica, tendo recebido o título de Santa Dulce dos Pobres. É por sua dedicação aos pobres, necessitados e excluídos, por seu exemplo de caridade e desprendimento, que acreditamos ser justa a inclusão de Irmã Dulce no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria", destaca o relatório lido por Pontes. 

*Da Agência Senado

Cerca de 43 mil pessoas acompanharam neste domingo (20) as mais de 5 horas de programação em homenagem à Santa Dulce dos Pobres, na Arena Fonte Nova, em Salvador. Durante o evento, foi celebrada missa em homenagem à santa, presidida por dom Murilo Krieger, arcebispo da capital baiana.

"Quando a senhora poderia ter imaginado que um dia, num domingo, uma multidão se reuniria por sua causa num estádio de futebol? Futebol, aliás, que a senhora tanto apreciou nos seus tempos de adolescência", afirmou o arcebispo durante a homilia, dirigindo-se ao Anjo Bom da Bahia.

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Além da celebração, que uniu todo o estádio em momentos de silêncio absoluto e também na entoação de cânticos, foi apresentado o espetáculo teatral Império do Amor, que mostrou a vida de Irmã Dulce, desde que ela decidiu transformar um galinheiro em um espaço para abrigar doentes até sua morte e canonização. Participaram quase 700 atores, sendo 482 crianças e adolescentes do Centro Educacional Santo Antônio (Cesa), além de idosos da instituição e artistas.

Um dos momentos de grande emoção foi a passagem dos dois miraculados: Claudia Santos, que foi curada de uma grave hemorragia após dar à luz o filho Gabriel, que a acompanhava; e José Maurício Moreira, que voltou a enxergar depois de 14 anos cego. O público também ovacionou a participação dos cantores Margareth Menezes e Saulo. O Padre Antônio Maria cantou Nossa Senhora.

Presente na celebração, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), ressaltou que o exemplo de vida de Santa Dulce não deve ser seguido apenas por católicos, mas por toda a sociedade. "É uma inspiração de fé não só para pessoas católicas, mas também de outras religiões. A inspiração não vem necessariamente da religião, mas do exemplo de vida, da dedicação. Por isso, afirmamos que Irmã Dulce está acima das religiões pela sua vida e história de cuidado com as pessoas."

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), comentou a construção do Caminho da Fé, trajeto que vai levar os fiéis e turistas a dois dos pontos religiosos mais importantes de Salvador: o Santuário de Santa Dulce dos Pobres, no bairro de Roma, e a Basílica do Senhor do Bonfim, no bairro de mesmo nome.

"O que nos traz aqui primeiramente é nossa fé, mas claro que a prefeitura precisa ter a inteligência de desenvolver ainda mais uma estratégia de turismo religioso em nossa cidade", explicou. "A ideia é que a gente possa receber um número umas vez maior de turistas interessados em conhecer mais de perto a nossa Santa Dulce."

Após o fim da celebração, todo o público assistiu a uma procissão com a imagem de Santa Dulce sob as luzes das lanternas de celular e entoando o hino à Santa: "Salve a Santa Dulce do amor; veja os grandes feitos do Senhor".

A primeira celebração no Brasil em homenagem à Santa Dulce dos Pobres foi realizada neste domingo, 20, na Arena Fonte Nova, em Salvador. A expectativa é de que 55 mil pessoas acompanhem a extensa programação, que inclui apresentações musicais, espetáculo teatral e missa presidida por dom Murilo Krieger, arcebispo da capital baiana.

Os portões abriram às 12h, mas desde cedo devotos da santa baiana já esperavam nas filas para garantir o melhor lugar. Foi o caso de Joaquim Albuquerque, de 66 anos, que chegou às 7h para garantir o primeiro lugar na fila em um dos setores do estádio. Ele viajou do Rio Grande do Norte para a Bahia para assistir à celebração, em agradecimento por uma graça alcançada.

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"A conheci quando morei aqui, ela ainda era Irmã Dulce. Depois voltei para meu Estado. Um mês atrás, eu adoeci. Tive uma infecção intestinal muito séria. Me peguei com ela e pedi que fizesse a vontade do Senhor. Hoje estou aqui, curado, só agradecendo", contou Albuquerque, emocionado.

Todo tipo de homenagem pode ser vista entre os devotos. A artista plástica Ivana Lemos Justo, de 55 anos, trouxe duas de suas obras, um busto e uma imagem de Irmã Dulce. Ela lamentava que não poderia entrar na Fonte Nova com as peças.

"A obra dela me emociona muito e meus trabalhos são sempre relacionados ao que me toca, é como uma obrigação", diz Ivana. "Desde criança eu conhecia as obras dela, o trabalho nos Alagados (localidade de Salvador). Hoje minha filha é enfermeira nas Obras Sociais Irmã Dulce", afirmou.

A programação foi iniciada às 12h30, com apresentações musicais. Haverá participação de artistas como Margareth Menezes, Saulo, Adelmario Coelho, Targino Gondim e o tenor Thiago Arancam.

Irmão Dulce tornou-se santa no domingo passado, 13, em cerimônia realizada no Vaticano pelo papa Francisco.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, falou sobre a canonização de Irmã Dulce.

Qual a importância, sobretudo para as comunidades de Salvador, da canonização de Irmã Dulce?

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Para muitos, falar de um santo ou uma santa parecia uma referência a quem morou na Europa e em séculos passados, já que a maioria dos santos conhecidos tem essas características. De repente, a comunidade baiana está descobrindo que os santos não são seres angelicais, distantes, mas pessoas próximas, que muitos conheceram ou das quais se ouve diariamente testemunhos. Tenho certeza de que, a partir da canonização de Irmã Dulce dos Pobres, será mais fácil explicar a todos que santidade não é um privilégio de poucos ou de pessoas especiais, mas está ao alcance de todos, e é obrigação de todos buscar a santidade.

Quais são os valores de vida de Irmã Dulce que mais devem ser lembrados pelos católicos?

Sua simplicidade, seu foco em Jesus Cristo, sua capacidade de vê-lo no necessitado e a capacidade que teve de esquecer-se de si mesma para responder às necessidades que se apresentavam e se multiplicavam a sua frente.

Podemos afirmar que o Brasil terá ainda muito mais santos?

Em 1991, João Paulo II disse que "o Brasil precisa de santos". Começou, então, uma corrida em torno de tais modelos; abriram-se dezenas de processos e, com surpresa, se percebeu que o que nunca faltou no Brasil foi a presença de pessoas extraordinárias - de verdadeiros santos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Às 10h34 (5h34 no horário de Brasília) deste domingo, 13, o papa Francisco oficialmente fez de Irmã Dulce, a Santa Dulce dos Pobres, a 37ª personalidade brasileira canonizada pela Igreja Católica. Ela é a primeira mulher nascida no País a se tornar santa.

A cerimônia, na Praça São Pedro, no Vaticano, reuniu, segundo a guarda local, cerca de 50 mil pessoas e fez outros quatro novos santos: um teólogo inglês, uma freira italiana, uma freira indiana e uma catequista suíça.

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"Em honra da Santíssima Trindade, pela exaltação da fé católica e para incremento da vida cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e Nossa, depois de refletir por muito tempo, ter invocado a ajuda divina e ouvido a opinião de irmãos bispos, declaramos e definimos santos os beatos John Henry Newman, Giuseppina Vannini, Maria Thresia Chiramel Mankidiyan, Dulce Lopes Pontes (Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes) e Marguerite Bays, e os inscrevemos no registro dos santos, estabelecendo que em toda a Igreja eles sejam devotamente honrados entre os santos", afirmou o papa, no momento solene.

O público aplaudiu fervorosamente.

Foi visível o número de brasileiros entre os fiéis. Bandeiras do País e trajes verde e amarelo podiam ser notados em todas as partes da praça.

Agraciados pelos milagres de Irmã Dulce presentes no Vaticano

Em um dos momentos mais emocionantes da cerimônia, foi exibida uma relíquia de Irmã Dulce: um pedaço de osso de sua costela, impregnado em uma pedra de ametista.

O músico José Maurício, considerado curado milagrosamente por graça de Santa Dulce, estava presente. Foi a recuperação de sua cegueira o milagre decisivo para a canonização da santa brasileira. Na homilia, o papa destacou o fato de que dos cinco novos santos, três eram freiras. "Invocamos como intercessores", referiu-se aos novos santos. "Mostram-no que a vida religiosa é um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo."

Já o primeiro milagre de Irmã Dulce ocorreu em 2001, quando a sergipana Claudia Santos, hoje com 50 anos, enfrentava uma grave hemorragia após o parto do segundo filho e chegou a ficar em coma, com insuficiência renal. Após a equipe médica usar todos os recursos que poderia, a recomendação foi que se preparassem para a morte.

"Estou aqui desde as 20 horas de ontem. Eu não poderia deixar de vir. A emoção é muito grande de relembrar tudo aquilo que passou, hoje a minha fé é muito maior", afirmou à reportagem. "Depois do que passei, vi que nós realmente não somos nada."

Claudia começou a melhorar de forma milagrosa com a visita do padre José Almir de Menezes, devoto de Dulce. Ela compareceu ao Santuário Irmã Dulce, em Salvador, usando como pingente a santinha que recebeu do religioso durante as orações.

O milagre foi oficializado pelo Vaticano em 2011, dez anos após a recuperação de Claudia.

"Foi uma bênção de Deus, agradeço primeiramente a Deus e pela intercessão de Irmã Dulce. Não era nem para eu estar aqui, ela é minha santinha", afirmou.

Comitiva de autoridades brasileiras

A comitiva de autoridades brasileiras foi acomodada à esquerda do altar, em espaço reservado para convidados não religiosos. O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB); os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o governador da Bahia, Rui Costa (PT); e o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), estavam entre os presentes.

Além dos políticos brasileiros, participaram da cerimônia o presidente da Itália, Sergio Mattarella, o príncipe Charles, do Reino Unido, além de autoridades da Índia, da China, da Irlanda e da Suíça.

Antes da missa, o padre brasileiro Antonio Maria, o sanfoneiro cearense Waldonys e a cantora baiana Margareth Menezes tocaram e cantaram a música oficial da canonização da freira brasileira.

Na hagiografia de Irmã Dulce consolidada pelo Vaticano, ela passa a ser apresentada como alguém que "desde a infância, se destacou por uma grande sensibilidade para com os pobres e necessitados".

"Sua caridade era maternal, carinhosa", diz o texto, impresso no livreto da canonização. "A sua dedicação aos pobres tinha uma raiz sobrenatural e do Alto recebia forças e recursos para dar vida a uma maravilhosa atividade de serviços aos últimos."

O documento ainda afirma que, quando a freira morreu, já gozava de "grande fama de santidade".

Biografia

Nascida em 26 de maio de 1914 em Salvador, Irmã Dulce foi batizada Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes. Era filha de um dentista e professor da Universidade Federal da Bahia, Augusto, e uma dona de casa, Dulce. Perdeu a mãe aos 7 anos e, por isso, decidiu homenageá-la, adotando seu nome na vida religiosa, aos 19 anos - quando ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

Sua vocação para ajudar os mais necessitados se tornou pública na adolescência. Aos 13 anos, ela começou a acolher doentes e moradores de rua em sua casa. O centro de atendimento informal acabou conhecido como "a portaria de São Francisco".

Logo depois de assumir o hábito, tornou-se professora de uma escola mantida por sua congregação. Por formação, Dulce era normalista, oficial de farmácia e auxiliar de serviço social. Deu aulas principalmente de Geografia e História.

Criou um movimento operário cristão e, um pouco mais tarde, fundou a organização que existe até hoje, com destaque para o atendimento a doentes.

Irmã Dulce também gostava de artes, principalmente música. Em 1948, fundou o Cine Teatro Roma, palco de shows de grandes nomes da MPB, como Roberto Carlos e Raul Seixas. A religiosa ainda criaria cinemas em Salvador.

Ainda em vida, recebeu o apelido de "o anjo bom da Bahia". "Miséria é a falta de amor entre os homens", dizia a freira.

Em 1988, ela foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.

"O amor supera todos os obstáculos, todos os sacrifícios. Por mais que fizermos, tudo é pouco diante do que Deus faz por nós", é outra de suas frases famosas.

Seus últimos 30 anos de vida foram especialmente difíceis por conta de um enfisema pulmonar, que reduziu sua capacidade respiratória em 70%. Irmã Dulce chegou a pesar apenas 38 quilos.

Canonização

Na história contemporânea da Igreja, é o terceiro caso mais rápido de canonização: Irmã Dulce se tornou santa 27 anos depois de sua morte. O papa João Paulo II foi canonizado nove anos após a morte; já Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), 19 anos depois.

O processo de canonização de Irmã Dulce foi iniciado em janeiro de 2000. Na ocasião, seus restos mortais que estavam na Igreja da Conceição da Praia, em Salvador, foram transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), na mesma cidade.

Em abril de 2009, o papa Bento XVI reconheceu suas virtudes heroicas. Irmã Dulce passou a ser considerada então venerável.

Em outubro de 2010, a Congregação para a Causas dos Santos atestou a autenticidade do primeiro milagre atribuído à religiosa - orações para ela, em 2001, teriam interrompido hemorragia de 18 horas de uma parturiente, em Sergipe. Em 22 de maio de 2011, Irmã Dulce foi beatificada em missa presidida pelo cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, em Salvador.

Neste ano de 2019, veio o reconhecimento do segundo milagre: a cura de uma cegueira causada por glaucoma, em 2014. Em 14 de maio, papa Francisco anunciou que Irmã Dulce seria canonizada.

Mas o maior milagre de Irmã Dulce tem muito mais de árduo trabalho humano do que de forças divinas. Em 1959, a freira fundou uma instituição filantrópica em Salvador. A Osid é hoje um complexo composto de 17 núcleos, com uma gama de serviços gratuitos que vão de escola de ensino integral a hospital com tratamento de câncer. O centro médico atende a 2 mil pessoas por dia.

Anualmente, são realizados ali 2 milhões de procedimentos, com 12 mil cirurgias e 18 mil internações. Tudo de graça. O complexo realiza 3,5 milhões de atendimentos por ano.

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