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Embora a prioridade do governo seja reformar a Previdência, Jair Bolsonaro tem dito que também pretende "aprofundar" a reforma trabalhista. Mas, ao contrário das mudanças nas regras de aposentadoria, que já são alvo de forte resistência dos parlamentares, alterações na CLT devem encontrar um caminho mais livre: a bancada sindical na próxima legislatura - que se inicia em fevereiro - será a menor dos últimos 30 anos.

De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a partir do próximo mês a Câmara terá apenas 35 parlamentares com origem ou ainda ligados a sindicatos.

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A quantidade é bem inferior a da atual legislatura, que contava com 51 deputados nesse campo de atuação. Entre 2010 e 2014 havia pelo menos 83 deputados federais vinculados ao sindicalismo. No Senado, a bancada ligada às pautas sindicais caiu de nove para cinco parlamentares.

Já a bancada patronal - que considera os empresários que se elegeram para o Congresso no ano passado - também diminuiu, mas em proporção muito menor. De 250 parlamentares para 234, sendo 196 na Câmara e 38 no Senado.

Ou seja, para cada deputado sindicalista haverá mais de cinco deputados empresários. No Senado, essa proporção é de pelo menos um para sete. Além disso, na avaliação do Diap, as bancadas que cresceram nessa legislatura - militares, evangélicos e ruralistas - não têm dificuldades em votar a favor da agenda patronal.

"A agenda no Congresso continuará voltada para o interesse dos empresários, com um espaço cada vez mais estreito para a discussão pelos trabalhadores. A primeira reforma trabalhista reduziu os recursos dos sindicatos, sem um período de transição para se buscar alternativas financeiras. Isso se refletiu em uma menor capacidade de eleger representantes", avalia o analista político do Diap, Marcos Verlaine.

Moderação

Segundo ele, como o próprio presidente Bolsonaro já deixou claro que não deve abrir grandes canais de entendimento com as centrais sindicais, o trabalho da bancada que representa essas entidades deverá ser o de criar espaços para que o debate não fique interditado.

"Só pode bater de frente quem tem força equivalente. A bancada sindical não terá condições de enfrentar a bancada dos patrões. A moderação é o melhor caminho. É importante negociar, porque qualquer vitória já será importante no atual contexto."

Para tocar tanto a reforma da Previdência como o aprofundamento da reforma trabalhista, Bolsonaro escalou o relator desta última na Câmara, o ex-deputado Rogério Marinho, que não se reelegeu em 2018.

Durante a campanha, o presidente prometeu a criação de uma nova carteira de trabalho com outras cores na capa (a carteira verde-amarela), que seria voluntária para os jovens e teria menos direitos que os garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

A Constituição Federal já assegura no artigo 7.º uma série de direitos (mais de 30), como a aposentadoria, repouso semanal remunerado, 13.º salário, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e seguro-desemprego. Mas o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em seu primeiro discurso à frente da pasta que o novo governo "vai inovar e abandonar a legislação fascista da CLT".

Para o professor de Direito do Trabalho do Insper, Fernando Peluso, a vantagem numérica no Parlamento aponta para um cenário favorável a novas mudanças na legislação trabalhista, mas não significa que o governo "passará por cima" da oposição.

"A proposta terá de obedecer o mesmo trâmite usual do Congresso, e qualquer tentativa de reforma trabalhista gera comoção social e barulho no mercado. Como se trata de um assunto que envolve questões políticas muito fortes, a aprovação pode não ser tão fácil como parece", avalia o professor.

Além disso, aponta Peluso, a depender do desempenho do governo nas tratativas da reforma da Previdência, as mudanças na legislação trabalhista podem até mesmo ser adiadas por um tempo. "Se houver um desgaste político muito grande pela aprovação da Previdência, o governo pode optar por segurar as mudanças trabalhistas até recompor esse cenário que hoje parece muito favorável." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A presidente Dilma Rousseff vetou nesta sexta-feira a criação de uma nova taxa para financiar o movimento sindical. Ao sancionar lei que regulamenta a profissão de comerciário, a presidente decidiu não aprovar o parágrafo que previa a chamada "taxa negocial", que poderia ser cobrada pelos sindicatos junto a sua categoria, no limite de até 1% do salário por mês.

Segundo apurou a Agência Estado, a presidente se surpreendeu com a repercussão negativa, nos últimos dias, diante da possibilidade da nova taxa ser criada. Pelo projeto aprovado no Congresso que aguardava sanção presidencial, os comerciários seriam a primeira profissão do Brasil a contar com estrutura sindical (sindicatos, federações e confederações) com duplo financiamento: o imposto sindical e a nova taxa.

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O Palácio do Planalto defende a substituição do atual modelo de financiamento, calcado desde 1943 no imposto sindical, pela taxa negocial. Hoje, todos os 47 milhões de trabalhadores recolhem o equivalente a um dia de trabalho por ano ao governo federal, que reparte o bolo de quase R$ 2 bilhões por ano, com o movimento sindical. No acordo selado pelo governo com as centrais sindicais em 2008, quando elas começaram a receber uma parte do dinheiro, a substituição pela taxa negocial estava prevista para ocorrer em 2010. Isso não aconteceu.

Defesa interna

Nas discussões internas que antecederam a sanção da lei, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, defendeu a criação da nova taxa, ainda que sem a extinção do imposto sindical, como um primeiro passo rumo à reforma desejada em Brasília. A presidente chegou a pedir ao Ministério do Trabalho que formulasse um decreto direcionando os recursos da taxa negocial para atividades de saúde e educação nos sindicatos.

"O governo não recuou de sua vontade de reformar o sistema sindical, mas a presidente considerou inapropriado criar uma nova taxa sem acabar com a antiga", disse um interlocutor da presidente no Planalto.

Em nota oficial, o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, comemorou a regulamentação da carreira, mas criticou o veto presidencial. "Para revolta e desgosto de todos os sindicatos e federações de comerciários do Brasil, houve o veto. Nossa luta agora volta ao Congresso, para a derrubada do veto", disse.

Mesmo empresários do ramo do comércio criticaram o veto da presidente. Segundo afirmou o presidente do conselho de assuntos sindicais da Fecomercio em São Paulo, Ivo Dall'Ácqua Júnior, a criação da taxa negocial estimularia o trabalho dos sindicatos, hoje acomodados ao dinheiro garantido do imposto sindical. "Vivemos uma autofagia do movimento sindical no País, com a criação de sindicatos de fachada apenas para abocanhar uma parte do bolo repartido pelo governo", afirmou Dall'Ácqua. "Perdemos a oportunidade de criação de um novo modelo".

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