Em coletiva de imprensa, a Polícia Federal detalhou a Operação Manager, deflagrada nesta segunda-feira (12) contra uma organização criminosa envolvida com a concessão fraudulenta de aposentadorias rurais. A suspeita é que uma das pessoas presas, o vereador e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Cabo, Amaro Honorato da Silva, estaria conseguindo o benefício em troca de votos – desde 2004, ele tem se elegido como vereador do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR).
Além de Amaro do Sindicato, como é conhecido, também foi preso Abelardo Severino das Chagas, gerente da agência da Previdência Social de São Lourenço da Mata, na RMR. Abelardo seria responsável por conceder os benefícios mesmo tendo conhecimento de que a documentação era falsa.
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No total, 1.065 benefícios possuem indícios de irregularidade. O rombo aos cofres públicos inicialmente havia sido divulgado como girando em torno de R$ 11 milhões. A PF atualizou o número. Desde 2013, quando há os primeiros indícios da fraude, o esquema teria causado um prejuízo de R$ 34 milhões ao INSS.
Segundo as investigações, o esquema funcionava da seguinte forma: funcionários do sindicato aliciavam trabalhadores rurais para tirar seus benefícios previdenciários – essas pessoas não teriam direito ao benefício, geralmente, por não possuírem idade suficiente ou não haver de fato trabalhado na área rural. A documentação falsa era aprovada por Abelardo, quando, na verdade, deveria ser aprovada por analistas da previdência. “Um processo como, para entrar no sistema, demora cerca de uma hora, uma hora e meia. Mas nesses casos duravam cerca de sete minutos”, conta a delegada Carla Patrícia, da Delegacia de Repressão aos Crimes Previdenciários.
Após conseguir o benefício, um agente financeiro que ainda está sendo investigado conseguia que os beneficiários obtivessem crédito consignado no valor de dez vezes o salário mínimo. Cerca de R$ 5 mil desse valor seria repassado às cabeças da organização e o restante ficava com o trabalhador.
Outros pontos que chamaram a atenção do INSS e da Polícia Federal foram o fato de que trabalhadores do Cabo estavam se cadastrando em São Lourenço da Mata e não no próprio município; e a disparidade no número de benefícios autorizados. De junho de 2013 a abril de 2016, a agência de São Lourenço deferiu os 1065 benefícios, enquanto no mesmo período a agência do município de Goiana, que possui o mesmo porte, autorizou 171 benefícios.
Quatro pessoas do sindicato, suspeitas de realizarem os aliciamentos, foram conduzidas coercitivamente à Polícia Federal para esclarecimentos. A Justiça já autorizou o bloqueio das aposentadorias. Cada um dos 1065 casos será analisado e se houver comprovação que o trabalhador sabia da irregularidade ele também poderá ser preso por estelionato contra a Previdência Social.