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O próprio ministro da Fazenda Joaquim Levy não fez "marola" - como ele definiu mesmo - ao explicar as razões que levaram o governo a rever, na semana passada, a meta de superávit primário. Levy citou dois fatores. A recessão e a queda da arrecadação. Para o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, faltou um terceiro item: contas extras. No primeiro semestre, o governo arcou com despesas adicionais de R$ 21 bilhões para manter a máquina pública e suas obrigações - as chamadas despesas de custeio.

Segundo Mansueto, boa parte dessas despesas não estava na cabeça da nova equipe econômica quando traçou as metas de superávit. Tratam-se, em sua maioria, de "uma herança maldita", como definiu o economista, que não estava clara no final do ano passado. "Eu não tinha a mínima ideia do peso delas e acho que a equipe econômica também não", diz.

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O economista acompanha o desempenho fiscal, mês a mês, a partir de dados da Receita e do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siaf). Para ele, o governo até conseguiu cortar quase R$ 2 bilhões de gastos com pessoal beneficiando o primário. Mas o resultado segue pressionado pelo custeio - por antigos e novos gastos, que limitam a economia.

Algumas das despesas que surpreenderam cobrem "pedaladas fiscais" (subterfúgios para fechar as contas). A despesa de exercícios anteriores, por exemplo, teve alta de R$ 4,4 bilhões. Na lista estão despesas com saúde que são obrigatórias, mas foram proteladas e sequer empenhadas: o governo não registrou o serviço. Quando é assim, o custo não aparece nem como resto a pagar.

Incluem-se também pagamentos de juros por atraso na transferência de recursos do Tesouro para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e para o Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Veja bem: pagamento de juros. "É como se o banco estivesse financiando o governo: foram R$ 1 bilhão de juros só para o BNDES", diz Mansueto.

O maior extra veio de uma despesa nova: a compensação que o Tesouro Nacional faz ao INSS, por causa de perdas geradas pela desoneração da folha de pagamento. Somaram R$ 4,6 bilhões. A desoneração é uma criação do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Para Levy, a medida é cara e ineficiente, mas está prevista em lei e a Fazenda encontrou resistência no Congresso para acabar com ela.

Pesaram gastos antigos também. Seguro-desemprego e abono salarial acrescentaram R$ 2,4 bilhões à conta. Em parte, porque o Congresso demorou para votar mudanças nas regras de concessão do benefício, consideradas benevolentes em relação ao resto do mundo.

Como está cada vez mais difícil cortar, Mansueto vislumbra um cenário desalentador, mesmo com a mudança da meta. "Fazer o (resultado) fiscal hoje é mais desafiador do que há seis meses", diz. Hoje o ajuste depende de receitas extraordinárias, que precisam vir de privatizações e concessões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em um relatório divulgado nesta quinta-feira, 11, para detalhar os principais fatores que a levaram a reduzir a perspectiva do rating do Brasil, a agência de classificação de risco Moody’s afirma que o superávit primário este ano deve ficar em apenas 1,4% do PIB, "abaixo da meta já revisada de 1,9% e bem inferior ao nível de referência histórico de 3,1% para esse indicador". Segundo a agência, o déficit geral do governo este ano deve ficar em 4,5% do PIB, de 3,7% em 2013 e de apenas 1,4% em 2010.

A Moody’s afirma que o governo perdeu bastante espaço de manobra no âmbito fiscal, devido principalmente a três fatores. O primeiro é o uso de receitas extraordinárias para elevar o superávit primário, que subiram fortemente nos últimos anos, atingindo quase 3% do PIB em 2013 e 2014. "Nós prevemos que, no futuro, será mais difícil para o governo aumentar ou mesmo manter tais receitas nos níveis atuais."

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O segundo fator é que, com a redução da Selic, o ambiente de juros mais baixos em 2012 e na primeira metade de 2013 levou a uma redução nos custos de financiamento do governo, trazendo um alívio para as contas públicas. Com as recentes altas na taxa básica promovidas pela Banco Central, esse cenário mudou, eliminando essa tendência de queda nos custos de financiamento. Com a inflação perto do teto da meta, a agência espera que as condições monetárias continuem apertadas, mantendo esses custos elevados.

Tendência de alta

Por fim, a agência cita que a decisão do governo de reduzir os empréstimos do Tesouro aos bancos estatais ajudou a conter o endividamento da administração pública. Entretanto, esse recurso também se esgotou. A Moody’s aponta que o governo chegou a injetar recursos nesses bancos que equivaliam a quase 10% do PIB. Agora, com as quedas recentes nos repasses, esse nível caiu para apenas 0,6%. "Nós consideramos que esse nível represente o mínimo, já que é improvável que as injeções de recursos promovidas pelo Tesouro sejam eliminadas de uma vez", explica o relatório.

A agência aponta ainda que a dívida bruta do governo tem estado relativamente estável nos últimos 15 anos, oscilando na faixa de 50% a 60% do PIB. Atualmente, entretanto, "é evidente que o nível da dívida tem registrado uma tendência de alta". A Moody’s estima que a dívida vai atingir 60% este ano, bem acima da mediana de 41% dos países com rating na categoria Baa.

"Se isso não for revisto, os indicadores sobre a dívida soberana poderiam subir para níveis que são inconsistentes não apenas com o rating atual, mas que poderiam ser incompatíveis com os do grupo Baa de pares do Brasil", alerta o texto.

Esta semana a Moody’s rebaixou a perspectiva da nota Baa2 do Brasil de estável para negativa. Se o País saísse da categoria Baa, isso significaria perder o grau de investimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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