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O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, mas, ainda assim, é crescente o número de pessoas que estão tirando a proteína animal do seu prato. Segundo pesquisa feita pelo Ibope, em abril de 2018, 14% da população do país se declara vegetariana, porcentagem que representa 30 milhões de brasileiros. A mesma pesquisa descobriu que 60% dos entrevistados comprariam mais produtos veganos se os preços fossem acessíveis. O que nos leva a questionar: veganismo é coisa de gente rica?

A associação do estilo de vida vegano à classes sociais mais abastadas é quase imediata. A maneira pela qual a informação chega à população também pode contribuir, dando ao movimento uma cara mais elitista e os valores praticados em restaurantes do segmento e nas prateleiras de supermercados que dispõem de produtos específicos costuma afastar quem precisa fazer o 'milagre da multiplicação' na sua renda mensal. Porém, algumas dessas pessoas toparam o desafio e estão começando a compartilhar sua experiência ajudando no crescimento do número de vegetarianos e veganos nas periferias do Brasil afora.

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É o caso dos irmãos Eduardo e Leonardo Luzivetto dos Santos, de Campinas, interior de São Paulo. Veganos há quatro e dois anos, respectivamente, os dois criaram uma página no Instagram, a @veganoperiferico, para mostrar que é possível adotar esse estilo de vida morando na periferia. O perfil dos irmãos traz dicas, informações, dados e, sobretudo, incentivo; com linguagem simples, desmistificando muito do que se supõe sobre o veganismo.

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Em entrevista ao LeiaJá, Leonardo contou que a motivação para a criação do perfil veio da vontade de ajudar na causa: "A página surgiu de uma vontade nossa de mostrar que uma pessoa de periferia, que ganha um salário mínimo e tem uma vida super corrida, pode se alimentar de forma mais adequada, sem prejudicar a saúde; pode se prevenir de doenças se alimentando, ajudando os animais, pode sim, é possível".

Leonardo concorda que existe uma "visão capitalista" do veganismo que afasta as pessoas. O seu objetivo, junto ao irmão, é provar que esse estilo de vida pode ser acessível a partir de escolhas mais conscientes: "Se a pessoa manter o pé no chão, consumir legumes, verduras, vegetais, um arroz com feijão, aí é tranquilo. Olhar no mercado um sabonete mais em conta, que não testa em animais, dar uma lida no rótulo, tudo isso facilita. Não tem segredo, as pessoas tem que ter consciência e entender que todo consumo tem uma consequência e vai da pessoa ver se essa consequência é boa ou ruim".

O jovem também dá uma dica imprescindível para que essa visão mais capitalista seja derrubada em definitivo: "Eu diria para as pessoas ficarem espertas, pra não cair tanto na lábia de quem está sendo patrocinado por marcas para vender produtos. Essas pessoas ganham muito dinheiro com isso, fazem um marketing muito bonito e começam a influenciar as pessoas de forma consumista, totalmente fugindo da ideia que o veganismo propõe que é a libertação dos animais".

O resultado é cerca de 90 mil seguidores que fazem questão de dar um retorno ao conteúdo produzido pelo Vegano Periférico: "Tem muita gente de periferia mandando mensagem pra gente dizendo que se sentiu representada. A gente recebe muitas mensagens todos os dias e foi de uma maneira bem 'naturalzona'".

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Além das fotografias, que mostram os pratos e produtos que os irmãos consomem, as postagens da página trazem informações e dados, sempre com linguagem simples e bastante clara. Esse também é um dos meios pelo qual a dupla pretende conquistar os seguidores. "É a língua que a gente fala, que a gente se comunica aqui na quebrada. A gente quer falar pra todo mundo dessa forma. Não vou deixar a coisa toda rebuscada, 'formalzona', para falar só para um determinado tipo de pessoa, estudantes ou gente de alta classe. É do jeito que o povão fala, o jeito que a gente fala", explica Leonardo.

*Fotos: Reprodução/Instagram

 

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