Tópicos | Walter Carvalho

Walter Carvalho é figura quase onipresente no cinema brasileiro, famoso por trabalhar "mais que remador de Ben-Hur", na expressão de Nelson Rodrigues. Conhecido como diretor de fotografia excepcional, tendo parcerias com os mais respeitados autores do nosso cinema (mas também não recusa trabalho com iniciantes), é também cineasta, diretor de documentários como Janela da Alma e as cinebiografias de Cazuza e Raul Seixas. Walter, irmão do documentarista Vladimir Carvalho, ganha a partir desta quinta-feira, 1, uma grande retrospectiva de seus filmes no Caixa Belas Artes.

Você destacaria momentos-chave em seu trabalho como fotógrafo, pontos de viragem, momentos de inovação? "Talvez o primeiro que fotografei - Incelência para Um Trem de Ferro, do meu irmão Vladimir Carvalho - tenha sido uma marca essencial. Eu era muito garoto, estava fazendo uma coisa pela primeira vez sem saber muito bem como. Central do Brasil foi um filme que abriu uma janela de reconhecimento para meu trabalho".

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Outro excelente filme que foi muito importante é Lavoura Arcaica. Este foi marcante para todos os envolvidos naquela jornada com o livro de Raduan Nassar.

"Foram os pintores, os arquitetos, os escultores que levaram o homem a pensar sobre suas próprias atividades. A noção de narrativa nasce com Giotto, Cimabue. Na Capela de Pádua entendemos hoje toda a estrutura do quadro, da composição, da montagem, da luz, do movimento e sobretudo do tempo narrativo. Um pouco mais de 60 anos apenas separam a morte de Giotto do nascimento de Masaccio, ou seja, os iniciadores de uma civilização, como qualificou Kenneth Clark. A meu ver, tudo se inicia a partir daí com o Renascimento e a descoberta da perspectiva. É através dessas manifestações que surgem os primeiros fotógrafos, os primeiros documentaristas da história pictórica. Vermeer era um documentarista".

Walter trabalhou com um elenco de diretores brasileiros como Walter Salles, Karim Aïnouz, Claudio Assis, Luiz Fernando Carvalho, José Henrique Fonseca, etc. Como se dá, nesses casos, a colaboração entre o diretor do filme e o diretor de fotografia? "Não me limito às questões da fotografia, exclusivamente. Procuro me envolver com as ideias da narrativa. Posso descobrir a imagem de um filme numa frase do roteiro ou num pensamento do diretor quando conversamos. Deixo a tecnologia por último, ela é uma ferramenta. Não encontro a linguagem em manuais. Talvez por isso tenha me aproximado mais dos diretores e muitas vezes influí nas ideias do roteiro. Mais do que um técnico, passei a colaborador".

Sobre os diretores de fotografia estrangeiros com os quais dialoga esteticamente, gente como o recém-falecido Gordon Willis, ou Sven Nykvist, o fotógrafo do Bergman, Raoul Coutard, que fez vários filmes do Godard, etc, ele diz que "falando sobre Storaro, se tivesse nascido no período da Renascença, seria um pintor. Gordon Willis, com o domínio absoluto do escuro da luz, é inigualável. Sven Nykvist representa o rigor da composição, basta ver a sequência do diálogo do personagem com a morte em Sétimo Selo, de Ingmar Bergman. Os movimentos de câmera de Raul Coutard em A Bout de Souffle são seminais e copiados durante décadas, permanecem novos até hoje. O fotógrafo Fred Kelemen do Béla Tarr, que fez O Cavalo de Turim e O Homem de Londres, registra uma beleza perturbadora que me leva para um outro lugar. Falo dos diretores de fotografia, mas posso dizer que fotógrafos como Josef Koudelka, William Klein, Christer Strömholm, Sylvia Plachy, Robert Frank, me inspiram tanto quanto os pintores".

Em termos da passagem da direção de fotografia para a direção de filmes, ele conta que "talvez possa dizer que foi um passo natural, mas isso não explica tudo. Gosto da imagem, me seduz a ideia de transformar o código verbal em imagem. Quando comecei com cinema não pretendia dirigir. Trabalhei durante muito tempo e com muitos diretores de várias origens e ainda continuo fotografando. Sou um fotógrafo que dirige. Um dia entrei no set não como um fotógrafo para cuidar de um aspecto da feitura do filme, e sim para cuidar de todos os aspectos, e novamente toda sensação de que estava começando se repetiu. Apesar de conhecer os caminhos e os atalhos, ali estava a recomeçar. No momento, estou finalizando meu próximo filme depois do Brincante. Filme que iniciei há 13 anos e se chama Um Filme de Cinema, que nasceu dessa preocupação: como construímos um plano".

Fez também documentários extraordinários como Janela da Alma e Moacir Arte Bruta. Sobre como compara esse trabalho documental com o da ficção, Walter diz "em Ideias Fixas, de João Cabral de Melo Neto, ele comenta que "o lógico em cinema era ser sempre documentário. Não sei por que o cinema tem de fingir a realidade". Eu entendo. Estamos lançando o meu mais novo filme, Brincante, com Antonio Nóbrega. Não consigo classificá-lo".

Os planos mais imediatos de trabalho de Walter são, de acordo com ele "fui um dos diretores da minissérie O Rebu. Agora estou em plena preparação para fotografar o Redemoinho, filme de (José Luiz) Villamarim, roteiro de (George) Moura, baseado no livro de Luiz Ruffato Inferno Provisório. Estou lançando no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo meu novo filme, Brincante, enquanto finalizo Um Filme de Cinema, uma reflexão sobre a linguagem do cinema, com o produtor Marcello Maia. Em final de novembro, lanço meu livro de fotografias Contrastes Simultâneos".

Há mais de duas décadas o multiartista Antonio Nóbrega e sua esposa Rosane Almeida inauguravam, no bairro Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo, o Instituto Brincante. Instalado num prédio de 800 metros quadrados, o espaço se denomina uma área de conhecimento e assimilação da cultura brasileira e atendeu diretamente a mais de 20 mil pessoas. Mas o instituto se tornou uma das mais recentes vítimas da especulação imobiliária em São Paulo. É que Antonio Nóbrega recebeu no começo de julho uma ação de despejo e terá até o dia 10 de agosto para tirar sua trupe do local. Para chamar a atenção da sociedade, o artista criou o movimento #FicaBrincante e realizará no próximo domingo (3), no Parque Ibirapuera, um evento chamado Brincada que contará com várias manifestações artísticas de alunos, ex-alunos e professores do instituto, além da sociedade civil, com direito a show do próprio Antonio Nóbrega e exibição de cenas do filme Brincante, de Walter Carvalho, sobre a trajetória artística de Nóbrega. O LeiaJá conversou com o artista pernambucano sobre o #FicaBrincante e a negociação para permanecer na casa na Vila Madalena, além de detalhes do filme Brincante. Nóbrega também comenta a perda de Ariano Suassuna, com quem sempre teve uma relação artística bastante íntima. Confira a conversa:

Qual a proposta deste encontro que vocês vão promover no próximo domingo (3)?

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O evento vai ser no Parque Ibirapuera e está dentro da proposta do #FicaBrincante (movimento em prol do instituto). Nós estamos organizando o que chamamos de Brincada, que é um evento de cultura no qual os participantes vão puxar rodas de dança aqui, se juntar pra tocar alfaias acolá, com a proposta de inundar o parque com várias atividades culturais. O evento no Parque Ibirapuera está marcado para começar às 16h, e às 18h eu subirei ao palco do Auditório Ibirapuera, que é um palco muito grande, ao lado de nove músicos para fazer uma apresentação.

É verdade que vocês receberam uma ação de despejo? Já houve alguma nova negociação com o dono do imóvel onde fica o Instituto Brincante? Qual o desejo de vocês neste sentido?

Sim, é verdade, mas até agora não houve nenhuma negociação. E pelo visto o proprietário do imóvel continua a manter a ação de despejo. Mas, da nossa parte, o desejo é de permanecer no local, uma área onde estamos há 21 anos. Nós devíamos ter sido os primeiros a ser consultados sobre o imóvel e não fomos. A Vila Madalena é um lugar que não tem espaços culturais e o Instituto Brincante vai fazer mais falta do que um edifício no local. Eu digo isso simplesmente pelo fato de que vivemos num mundo repleto de pressão, e os espaços culturais de hoje meio que têm essa função de ‘despressionar‘ a sociedade. Pode soar meio pretensioso, mas são equipamentos da arte que humanizam as pessoas, e isso vai fará muita falta naquela região da cidade.

Aqui no Recife há talvez uma situação que permite uma analogia a esta situação - apesar de não se tratar de um equipamento cultural - no Cais José Estelita. Em sua opinião, os espaços culturais e o patrimônio das cidades sucumbirão diante do dito desenvolvimento urbano?

Acho que cada caso é um caso. Eu sou contra a ocupação predatória e discriminada de espaços da cidade pela especulação imobiliária. Eu não posso dizer que estou inteiramente a par do que tem acontecido no caso do Cais José Estelita, no Recife, e teria até um certo cuidado em dizer que são casos parecidos. O Instituto Brincante existe há 21 anos e é um espaço atuante em São Paulo. Já o Cais José Estelita trata-se de uma região importante da cidade, mas que estava em desuso e acabou caindo nas mãos da especulação imobiliária. O que acho interessante nestes dois processos é que a sociedade está sendo convidada a discutir os problemas, sem ficar à revelia das construtoras e do absolutismo financeiro. Vivemos um novo tempo que não dá espaço para este tipo de prática.

Como surgiu a ideia de fazer o filme Brincante, com direção de Walter Carvalho?

Eu já tenho trabalhado com o Walter Carvalho há um tempo. Ele dirigiu meus três DVDs, Nove de Frevereiro, Lunário Perpétuo e Naturalmente. Fruto desse entendimento que construímos juntos, pensamos em fazer o filme Brincante, que é uma ideia de anos atrás. Vários diretores do país me procuraram pra dirigir este trabalho, mas por questões de agenda e desencontros isso acabou não sendo possível. Mas num certo dia eu acabei me encontrando com o Walter, e numa conversa sobre o projeto Brincante ele me disse ‘quem vai fazer esse filme sou eu’.

Na semana passada o Brasil perdeu um dos maiores agitadores culturais do país, Ariano Suassuna. Você teve uma relação próxima com ele, principalmente no que diz respeito ao Movimento Armorial. Para você, qual a maior contribuição que Ariano deixou aos brasileiros?

Ariano foi uma figura muito singular e que deixa ao Brasil a sua multidisciplinaridade. Ele era dramaturgo, romancista, cronista, ensaísta, poeta, dentre tantas outras coisas. A obra dele se ramifica em várias vertentes. Era um homem da ação, tanto pelo ativismo cultural, que lhe rendeu a ocupação de cargos públicos, como pela sua atuação nos palcos e com seus espetáculos. Certamente o país ficou órfão, mas ele deixou rastros que, se forem aprofundados, e certamente o serão, nós teremos muitas oportunidades de conhecer ainda mais esse cometa que foi Ariano Suassuna.

Ameaçado de ser despejado do local onde existe há mais de duas décadas, o Instituto Brincante, em São Paulo, espaço cultural fundado pelo pernambucano Antonio Nóbrega, promove uma festa de resistência no próximo domingo (3). O encontro em prol da campanha #FicaBrincante será realizado no Parque Ibirapuera, às 16h, e contará com um show de Nóbrega e atividades de dança, música, oficinas de brinquedos e brincadeiras ministradas por professores, alunos e ex-alunos do instituto.

A expectativa é que milhares de pessoas, convocadas através de um evento no Facebook, compareçam ao Parque Ibirapuera neste domingo (3) para participar do evento. “Queremos reunir artistas de São Paulo de todas as linguagens como acrobatas, palhaços, dançarinos e contadores de histórias", diz Rosane Almeida, coordenadora do Instituto Brincante ao lado de Antonio Nóbrega. O pernambucano deve subir ao palco do Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer às 18h.

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Durante a apresentação, serão exibidas cenas do filme Brincante, dirigido por Walter Carvalho e com estreia prevista para novembro deste ano, que conta a trajetória artística de Antonio Nóbrega. O evento encerra com uma grande ciranda com a participação de todo o público.

Situação do Instituto Brincante

O terreno onde se encontra o Instituto - que abriu as portas como espaço de ensaios e apresentações dos espetáculos de Nóbrega e Rosane em 22 de novembro de 1992 - na Rua Purpurina tem 800 metros quadrados. O espaço se denomina uma área de conhecimento e assimilação da cultura brasileira e atendeu diretamente a mais de 20 mil pessoas. 

Por lá passam encenações, shows de música, cursos e oficinas sobre as mais variadas expressões artísticas do País. Hoje, o local também recebe espetáculos de teatro, música e dança e conta com um centro de documentação com textos, fotos, vídeos e músicas.

Serviço

Brincada e show de Antonio Nóbrega #FicaBrincante

Domingo (3) | 16h

Área externa do Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer (São Paulo)

(11) 3629 1075

A nova novela das 23h da Rede Globo, O Rebu, estreou nesta segunda (14). De acordo com dados prévios do Ibope, o remake começou com média de 22,7 pontos. A trama obteve picos de 33. Sua antecessora, Saramandaia, até então detinha o título, com média de 27 pontos. Já Gabriela e O Astro registraram, respectivamente, 30 e 28 pontos.

Apesar de ter tido a audiência mais baixa desde a retomada do horário das 23h, a novela possui o diferencial de ter um enredo de um dia que é contado em 37 capítulos.   

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A versão original, escrita por Bráulio Pedroso, era composta por 112 capítulos. Com essa redução, o roteiro se enxuga e ganha agilidade, prendendo a atenção do telespectador. Através de flashbacks, a novela traz os desdobramentos que resultaram no crime que será revelado no decorrer dos episódios. 

No primeiro capítulo, um corpo foi encontrado boiando na piscina na festa promovida por Angela Mahler (Patricia Pillar) e Carlos Braga Vidigal (Tony Ramos). A descoberta do assassino é o norteador de O Rebu

A releitura é assinada por George Moura e Sergio Goldenberg, com direção de fotografia de Walter Carvalho e direção geral e núcleo de José Luiz Villamarim. Com uma produção de luxo, boa parte das cenas foi gravada na Argentina. Somam-se a isso figurinos deslumbrantes e uma fotografia sofisticada com pouca cor. 

O longa Brincante, de Walter Carvalho, que conta a trajetória do músico e performático pernambucano Antônio Nóbrega, ganhou uma animação no final do vídeo com os créditos do trabalho. 

A animação vai além da função original de dar créditos e emociona com uma viagem pelos caminhos percorridos por Nóbrega pelo Brasil, em um pequeno caminhão, ao lado de sua mulher Rosane Almeida. 

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O curta é dirigido pelo filho de Antônio, Gabriel Nóbrega, e foi feito por uma equipe de cinco profissionais e em um cenário de apenas 2m². Na forma de teatro, a animação resgata a memória de Gabriel, que acompanhou o pai durante anos como baterista do grupo.

As cenas foram inspiradas em desenhos que o diretor, quando adolescente, criava no convívio familiar, nos ensaios em estúdios e em turnês pelo Brasil e pelo mundo.

A produção se utilizou de materiais reutilizados, como garrafa pets. Já com o uso de uma folha plástica, as luzes do cenário refletem no material, o que torna possível criar o efeito de uma aurora boreal sem recursos de pós-produção. Todos os objetos foram construídos à mão. O longa-metragem Brincante deve ser lançado ainda neste ano.

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