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TEXTO Jullimaria Dutra   EDIÇÃO Raquel Monteath

Na beira da praia, o balanço do mar contínuo leva o barco cheio de oferendas. Em um cortejo que envolve homens, mulheres, idosos e crianças - em sua maioria, seguidores do candomblé ou do catolicismo -, uma celebração religiosa acontece em todo o Brasil e presentes são jogados nas águas para ela, a Rainha do Mar.

E é assim todo dia dois de fevereiro. Os pedidos e oferendas para Nossa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora dos Navegantes (em um paralelismo com a religião Católica) são realizados. Comemora-se nesta data o dia de uma das orixás que fazem parte da Mitologia Africana: Iemanjá. Na Umbanda, além de ser a deusa padroeira dos náufragos, ela é considerada a mãe de todas as cabeças humanas.

A santa, cujo nome deriva da expressão Iorubá “Yèy Omo ejá” (Mãe cujos filhos são peixes) é um orixá africana, conhecida por todos como Rainha dos Mares. Na mitologia Yoruba, a dona do mar é Olokun que é mãe de Yemojá, ambas de origem Egbá que é cultuada em muitos países e por variados nomes - inclusive na África, onde seu nome Aiocá significa “terras misteriosas da felicidade e imagem das terras natais”.  

Durante o período da escravidão no Brasil, os negros africanos passaram a usar o pseudônimo de Iemanjá e encontraram na maneira mais branda - o “sincretismo”, que é a fusão de doutrinas de diversas origens – uma forma de perpetuar os cultos tradicionais sem a intervenção dos seus senhores, que consideravam inadmissíveis as manifestações pagãs em suas propriedades, por terem uma formação religiosa católica.

No País, o culto a Iemanjá ganhou o gosto popular e foi difundido das religiões afro-descendentes para o meio artístico. São inúmeras as composições de autoria popular para saudar “Janaína do Mar”, assim como canções litúrgicas. Adriana Calcanhoto, Otto, Marisa Monte e Maria Betânia são alguns dos que reverenciam em suas letras e interpretações a santa, que ganhou o mundo com a imagem vestida, ora de azul ora de verde, de seios fartos (que remete à fertilidade) e de beleza escultural.

(...) Perfume, flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Para ela se enfeitar
Como se saúda a Rainha do Mar?
Como se saúda a Rainha do Mar?
Alodê, Odofiaba,
Minha-mãe, Mãe-d'água,
Odoyá!
Qual é seu dia,
Nossa Senhora?
É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar (...)

(Canto de Oxum - Maria Bethânia)

Conhecida por ser vaidosa, os seguidores da deusa da fertilidade a presenteiam, quase sempre, com espelhos, pentes, flores, colares e brincos para agradá-la. Alguns entendem que, se ela devolve o presente jogado ao mar, significa que o desejo não será realizado. Por esta razão, há pessoas que soltam suas oferendas apenas em alto mar, evitando que seus pedidos não sejam realizados.

O etnólogo e fotógrafo franco–brasileiro, Pierre Verger, em seu livro Dieux D’Afrique registrou: “Iemanjá é o orixá dos Egbá, uma nação ioruba estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemoja. Com as guerras entre nações, os iorubas levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokuta, no início do século XIX. Não lhes foi possível levar o rio, mas, transportaram consigo objetos sagrados, suportes do axé da divindade e o rio Ògùn, que atravessa a região, tornou-se a partir de então, a nova morada de Iemanjá. Este rio Ògùn não deve, entretanto, ser confundido com Ògún, o orixá do ferro e dos ferreiros”.

A versão de Verger foi introduzida no País e Iemanjá passou a ser representada como a mãe que protege os filhos a qualquer custo; a mãe de vários filhos e peixes, que cuida de crianças e animais domésticos.

Na cidade de Salvador, no Estado da Bahia, acontece uma das maiores festas do Brasil em sua homenagem. A celebração envolve milhares de pessoas que, trajadas de branco, saem em procissão até o templo-mor, localizado próximo à foz do Rio Vermelho, onde depositam variedades de oferendas.

Já no Recife, em Pernambuco, o dia de Iemanjá é comemorado em oito de dezembro, mas no dia dois de fevereiro existem pequenas celebrações referentes à deusa dos mares, muito embora a maior parte dos terreiros e cultos sejam direcionados ao orixá Oxúm, representado no catolicismo por Nossa Senhora da Saúde. A costureira D. Enilda Dutra, moradora do bairro do Arruda, há mais de 30 anos frequenta terreiros de Umbanda. “No Recife, a data não é tão celebrada quanto em Salvador, pois o dia em que comemoramos é o de Nossa Senhora da Conceição, em dezembro. Mas existem alguns locais na cidade que celebram, em fevereiro, a data de Iemajá”, explica.

Ainda no mês do fevereiro, Iemanjá é também cultuada em diversas praias brasileiras. Uma manifestação que reúne milhares de pessoas, das mais variadas condições sociais. Negros, brancos, ricos, pobres se encontram e curvam-se em reverência às mãos dos orixás, em busca de crescimento e da proteção espiritual.

Saiba mais sobre a Rainha do Mar:

Dia: Quinta-feira
Data: 2 de fevereiro
Metal: prata e prateados
Cor: prata transparente, azul, verde água e branco
Comida: manjar branco, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, ebôya, ebô e vários tipos de furá
Arquétipo dos seus filhos: voluntarioso, fortes, rigorosos, protetores, caridosos, solidários em extremo, ingênuos, amigo, tímido, vaidosos com os cabelos principalmente, altivos, temperamentais, algumas vezes impetuosos e dominadores, e tem um certo medo do mar
Símbolos: abebé prateado, alfange, agadá, obé, peixe, couraça, adê, braceletes, e pulseiras

Confira a riqueza da festa de celebração à Iemanjá em Rio Vermelho, na Bahia:


Serviço

Recife:
Panela de Iemanjá
Local: Brasília Teimosa
Horário: 19h

Salvador:
Mirante Yemanjá
Atrações: Batifun e Filhos de Jorge
Local: Terraço Hotel Golden Tulip, Rio Vermelho
Horário: 13h
Ingressos: R$ 150 (só a festa) e R$ 270 (festa + hospedagem) - ALL INCLUSIVE
Vendas: Ticketmix/ Tri Tour Eventos

Festa Odoyá Yemanjá
Atrações: Alexandre Peixe, Psirico e Magary Lord
Local: estacionamento da Villa Forma
Horário: 14h
Ingressos: Arena – R$ 50 (feminino) e R$ 60 (masculino) / Front Stage – R$ 90 (feminino) e R$ 120,00 (masculino) - ALL INCLUSIVE
Vendas: Padaria Bar, Academia Villa Forma (Rio Vermelho) e Ilha exclusiva de venda no Shopping Iguatemi

Oferendas - Dia de Iemanjá
Atrações: Bloco de hoje a 8, Marcela Bellas, DJs Pavlos Neptune, Camilo Fróes, Riffs, Suki 4 Tons, Bankiva e Maira 16 Toneladas
Local: Orla do Rio Vermelho - Rua da Paciência
Horário: 12h
Gratuito

Festa de Yemanjá
Atrações: Banda TH e Nata do Samba
Local: Zen - Dining & Music (Rio Vermelho)
Horário: 12h
Ingressos: R$ 90 (feminino) e R$ 120 (masculino) - ALL INCLUSIVE

Feijoada Terra & Mar
Atrações: Roney e Raney, samba Clube e Dj Nenga
Local: Moema Batataria
Horário: 13h
Ingressos: R$ 80 (feminino) e R$ 120 (masculino) - ALL INCLUSIVE

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