Tópicos | zika e chikungunya

A chefe do setor de neurologia do Hospital da Restauração (HR), Lúcia Brito, anunciou nesta sexta-feira (29) novos dados sobre as arboviroses dengue, zika e chikungunya. Com um registro inédito na literatura da medicina mundial, Pernambuco registra os primeiros oito casos em que há relação do zika vírus com a síndrome autoimune chamada encefalomielite disseminada aguda, que ataca o cérebro e a espinha dorsal.

Essa não é a primeira vez que o vírus da zika é relacionado a um distúrbio autoimune. Anteriormente, a síndrome de Guillain-Barré, que ataca os nervos periféricos fora do cérebro e espinha dorsal e pode causar uma paralisia respiratória temporária nos pacientes, já havia sido relacionada ao vírus da zika. Com a nova descoberta, o Hospital da Restauração sai na frente na pesquisa e a equipe médica apresentou o estudo na semana da Reunião Anual da Academia Americana de Neurologia em Vancouver, no Canadá, na última semana.

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De acordo com dados registrados pelo HR, de dezembro de 2014 até março de 2016, são quase 180 casos de manifestações neurológicas das arboviroses,  dengue, zika e chikungunya. A neurologista explica que ainda não há uma constatação na medicina sobre quais seriam as causas da doença. "Nas pesquisas iniciais, vimos que o próprio vírus pode ter replicação dentro do Sistema Nervoso Central (cérebro). Mas também pode ser desencadeado por um processo inflamatório autoimune. Não temos essas respostas ainda", afirmou Lúcia Brito.

A neurologista explica que quase 60 foram confirmados de Guillain-Barré. Entre encefalites (comprometimento do cérebro), mielites (comprometimento da medula espinhal) e encefalomielites (comprometimento do cérebro e da medula espinhal ao mesmo tempo) são quase 30 casos confirmados. "Até o momento, desde março de 2015, já tínhamos uma noção de aumento dos casos encefalomielite. São oito casos definidos no momento e a investigação deve continuar", completou.

Durante a pesquisa laboratorial da encefalomielite disseminada aguda, dois dos primeiros pacientes que foram positivos para o zika estão com sequelas, mesmo depois de um ano e dois meses. Uma criança está com um déficit cognitivo e motor e um paciente adulto está com um déficit motor, que vem recuperando, e uma alteração da visão em um alto grau. A neurologista explica que apesar de existir o tratamento, em torno de 20% a 30% dos pacientes ainda permanecem com sequelas. 

Não há uma faixa etária específica para a doença. Pode atingir desde uma criança até um indivíduo da terceira idade. Mas o predomínio é entre 20 a 50 anos. "É uma doença que já existia e para que possamos fazer essa relação com o vírus da zika é necessário que, antes de apresentar o quadro neurológico, o paciente tem que ter apresentado o quadro clínico da arbovirose, ou seja, febre, dor muscular, articular", explica a médica.

O principal sintoma da doença é uma alteração da consciência, crises convulsivas e déficit motor ou de outros segmentos no corpo. "A sintomatologia depende do quadro neurológico que o paciente apresenta. Se há o acometimento do Sistema Nervoso Periférico, teremos a síndrome de Guillain-Barré. Já na Encefalomielite Aguda Disseminada o paciente apresenta alteração do nível de consciência, podendo entrar em coma ou ficar muito agitado com alteração de comportamento e alucinações, além do déficit motor", conclui a chefe do departamento de neurologia do HR.

O diagnótico é feito a partir do quadro clínico que o paciente apresenta e através da imagem por ressonância magnética, em que podemos encontrar as lesões no cérebro.  O Hospital da Restauração costumava receber no máximo três casos de encefalomielite aguda disseminada ao ano. Durante a epidemia de zika, foram sete casos em apenas um semestre. Segundo a médica, ainda há muito estudo e pesquisa pela frente para investigar as relações das arboviroses com doenças que vêm crescendo.

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