Desde o dia 14 de maio de 1999, coordeno o Conselho de Voluntário(a)s da AACD/Recife que cuida de crianças (e adultos, no caso de amputados) muito pobres com deficiências graves e irreversíveis (malformação congênita, lesão medular, amputados, paralisia cerebral, distrofia neuromuscular, mielomeningocele e microcefalia). A unidade atende cerca de 600 pacientes/dia, em seis especialidades médicas, contando com 160 profissionais e 280 voluntários.
Ali, tenho recebido as mais profundas lições sobre a vida na sua ampla e complexa dimensão. Os pacientes me ensinaram o valor da vida diante de impedimentos, em princípio, excludentes de uma participação social plena e igualitária. Digo, em princípio, porque todos os cuidados terapêuticos buscam integrar os pacientes ao mundo que, somente em 1975, proclamou a Declaração de Direitos das Pessoas com Deficiências pela Organização das Nações Unidas. Na mesma direção, a lei 13.146 de 9/7/2015 definiu regras com o objetivo de redesenhar ambientes acolhedores e inclusivos para estas pessoas.
A segunda lição vem do que denomino “profissionalismo amoroso”, testemunha que sou da forma como são tratados por competentes profissionais e dedicados voluntários.
A terceira lição me é dada pelo suporte das famílias, em especial, pelo amor incomensurável das mães que comemoram o simples gesto de a criança se alimentar com autonomia.
De repente, defronto-me com os Jogos Paralímpicos de 2016 com 176 países participantes, 4500 atletas, 526 eventos de 27 modalidades, um espetáculo universalmente consagrado, cuja semente foi plantada pelo judeu Ludwig Guttman, neurologista, nascido na Polônia, refugiado da Alemanha nazista e do furor genocida, para revolucionar o tratamento de lesões na espinha, utilizando, em Londres, pioneiramente, a prática de esportes na recuperação de mutilados da Segunda Guerra.
Em 1948, Guttmann abriu um novo capitulo da história ao promover uma competição de arco e arremesso de dardo para seus atletas (16 homens e mulheres), em cadeiras de rodas, nos jardins do hospital de Stoke Mandeville, no mesmo dia em que o Rei George V assistia, em Londres, à abertura da Olimpíada de Verão.
O Brasil brilhou. No encerramento dos jogos, a emoção me empurrava para o recorrente choro quando atravesso os portões da AACD. Sem choro. Então, sorri. O espetáculo ratificava o valor da vida. E todos os heróis, pacientes e atletas, são medalhas de ouro na modalidade superação.
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