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O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse nesta segunda-feira, 28, que tem "vontade" de abrir a Avenida Paulista para pedestres e ciclistas a partir deste domingo, 4, e a Companhia de Engenharia do Tráfego (CET) já está preparada. A Prefeitura deve enviar nesta terça-feira, 29, as informações solicitadas pelo Ministério Público Estadual (MPE). O órgão ainda argumenta que a Paulista só pode ser fechada três vezes por ano, conforme Termo de Ajustamento de Conduta assinado com a Prefeitura em 2007.

"Estamos fazendo a análise técnica daquilo que o MPE pediu, que é o impacto (da abertura da Paulista) na Avenida Doutor Arnaldo. Se estiver pronta (a análise), colocamos na mesa e decidimos", afirmou Haddad. "Tecnicamente falando, a CET está pronta para isso (abrir domingo). Não queremos atropelar as formalidades exigidas pelo MPE, mas nossa vontade é essa. Estamos sensibilizando o MP para isso."

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O procurador-geral do Município, Antônio Carlos Cintra, e o secretário municipal de Negócios Jurídicos, Robinson Barreirinhas, devem enviar nesta terça, 29, as informações solicitadas. Atendidas todas as solicitações do MPE, a Prefeitura anunciará a abertura da avenida.

O MPE disse, também por nota, que a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da capital "espera o cumprimento do TAC que limita a três por ano os eventos com fechamento da Avenida Paulista para veículos, uma vez que nenhum acordo posterior foi firmado pela Promotoria e pelo poder público municipal sobre esse assunto". Para a Promotoria, o TAC continua válido.

Repercussão

O vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Roberto Ordine, defende a necessidade de mais testes e estudos. "Não é só o comércio que está em jogo. De hospitais a restaurantes, existe um mundo de elementos em torno da Avenida Paulista; não apenas o que o prefeito imagina", afirmou, criticando a "decisão unilateral" da Prefeitura.

A presidente da Associação Paulista Viva, Vilma Peramezza, voltou a criticar a proposta de fechamento. Para ela, a existência da ciclovia e a abertura das ciclofaixas aos domingos, combinadas com a presença de parques e "calçadas amplas e acessíveis" para passeio seriam espaços suficientes para o lazer de todos, além de proporcionar o acesso a todos os equipamentos no entorno da avenida.

A Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreendedores do bairro Cerqueira César (SAMORCC) mantém a posição contrária ao fechamento. Segundo Célia Marcondes, diretora jurídica da entidade, "a dor do transtorno causado pelo fechamento só sabe quem mora na própria avenida".

"Agora já não é normal o que dá de malandro regular, profissional / Malandro com aparato de malandro oficial / Malandro candidato a malandro federal." Foi ao som de Homenagem ao Malandro, composição de Chico Buarque, que um grupo de sapateadores comandado pela professora Christiane Matallo, de 43 anos, interditou parte da Avenida Paulista na manhã deste domingo (30).

Além da proposta de levar apresentações artísticas para as ruas, o ato serviu para fazer pressão pela abertura de vias públicas para pedestres e ciclistas. Da calçada e acompanhados por um piano elétrico, membros do coral da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) executavam a música para os sapateadores ocuparem a Paulista. Entre os dançarinos, havia crianças, jovens e adultos.

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O número foi apresentado duas vezes e manteve a avenida fechada por 20 minutos, das 10h30 às 10h50, no sentido Rua da Consolação, da Rua Bela Cintra até o início da Praça do Ciclista. O bloqueio foi combinado com a Companhia de Engenharia de Trânsito (CET) e não provocou congestionamentos.

"A ideia é levar um pouco do sapateado para popularizar nossa arte", afirmou Christiane Matallo, convidada pelo movimento Playing For Change para fazer a apresentação em plena Paulista. "Eu uso carro, mas também quero ocupar as ruas. Acho que pedestres e motoristas podem se entender numa boa, basta organização e boa vontade", disse.

Três mil pessoas confirmaram presença em um evento criado no Facebook para ocupar a Paulista neste domingo, a partir das 10 horas. "Venham com suas cangas, cadeiras, patins, patinete, bicicleta, tênis, descalço, para pintar, desenhar, tomar sol, CURTIR!", dizia o anúncio da página.

A adesão, no entanto, foi bem menor: reuniu cerca de 50 pessoas, além de dezenas de ciclistas que, na verdade, participavam da "super-pedalada" organizada para a Virada Sustentável. Prevista para acontecer, uma caminhada até o Parque Trianon acabou não saindo.

De paletó e gravata borboleta, o palhaço Fernando Carril distribuía balões, apertos de mão e piadas para as pessoas que passavam pela Paulista. Em sua bicicleta equipada com um guarda-sol e um pequeno armário, onde guarda livros de doação, ele também convidava os pedestres a lerem. "Eu acho que a Paulista também pode ser para o livro, para o circo e para mais pessoas", disse.

"O fechamento foi um ato simbólico. A adesão das pessoas acontece de forma orgânica", afirmou o coordenador da Minha Sampa, Guilherme Coelho, um dos organizadores do evento. Segundo ele, a abertura da Paulista é uma demanda da sociedade civil e a ideia nasceu da população - e não da Prefeitura. "O Haddad já declarou que quer fazer disso uma política pública, mas ainda precisamos negociar com o Ministério Público", disse.

Após o ato, membro das entidades que defendem a abertura da Paulista iniciaram uma consulta com comerciantes para saber qual impacto do bloqueio para carros sobre as vendas.

Embate

A Avenida Paulista foi bloqueada para teste pela última vez no domingo anterior (23) para inauguração da ciclovia na Avenida Bernardino de Campos. Apesar de se posicionar a favor da abertura para pedestres e ciclistas, o prefeito Fernando Haddad (PT) encontra resistência do Ministério Público e de associação de moradores e comerciantes.

O argumento da Promotoria de Habitação e Urbanismo é que a Paulista só pode ser fechada três vezes por ano, segundo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com a Prefeitura em 2007. Caso o termo não seja cumprido, a administração municipal deverá pagar multa de R$ 30 mil.

Como em 2015 já houve a Parada Gay, além dos dois testes da Prefeitura, o MPE afirma que a Paulista não poderia mais ser bloqueada, o que impossibilita, por exemplo, a corrida de São Silvestre e o show da Virada, ambos no dia 31 de dezembro.

A gestão Haddad, no entanto, considera que a abertura para pedestres e ciclistas aos domingos faz parte de uma política pública de ocupação do espaço, enquanto a Parada Gay, a São Silvestre e o show da Virada são considerados eventos.

A Polícia Militar informou há pouco que, às 15h40, já havia um milhão de manifestantes na Avenida Paulista e adjacências protestando contra o governo da presidente Dilma Rousseff. Segundo a PM, o Metrô informou que a cada dois minutos chegam 4 mil pessoas para o protesto na região, informação que tem sido levada em conta no cálculo das estimativas. A estação Trianon-Masp, que fica na região onde os manifestantes estão concentrados, foi fechada por excesso de usuários.

Em três anos, a Avenida Paulista ganhará mais um centro cultural. Conhecido por guardar desde 1992 um rico acervo de fotografia, artes plásticas, música e literatura, o Instituto Moreira Salles (IMS) terá sua sede paulistana na mais famosa avenida da cidade, entre as Ruas Bela Cintra e Consolação. O novo espaço terá três andares para exposições, um cinema, um restaurante e um café.

Entidade sem fins lucrativos, o IMS tem hoje três centros culturais: em São Paulo, no Rio e em Poços de Caldas (MG). Na capital paulista, entretanto, o endereço, em Higienópolis é um tanto acanhado: tem uma galeria de cerca de 240 metros quadrados, contra os 1,2 mil metros quadrados destinados à função no novo prédio. "O terreno já era do instituto desde 2003. Há alguns anos estávamos planejando essa construção", explica Flávio Pinheiro, superintendente do IMS. Nesse meio tempo, funciona um estacionamento no local.

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Concurso

Em 2011 foi lançado um concurso para eleger o melhor projeto arquitetônico. "Queríamos arquitetos brasileiros, mas que ainda não fossem medalhões", diz Pinheiro. "A ideia era privilegiar a nova arquitetura brasileira que está surgindo e que é muito interessante." Levou a melhor o escritório Andrade Morettin Arquitetos.

Após anos em que as poucas pedras de construção na Paulista eram os seixos rolados colocados nas floreiras dos edifícios, esta não deve ser a única obra em andamento na avenida. Houve um boom imobiliário nos anos 1980 e duas décadas praticamente sem novidades - exceções são o Condomínio CYK (inaugurado em 2003) e a Torre João Salem (de 2009). Agora, há quatro empreendimentos sendo erguidos na avenida.

A sede do Instituto Moreira Salles deve valorizar muito a localização, o "estar na Paulista". Tanto que o projeto prevê uma escada rolante de 15 metros de altura, ligando o "meio" do prédio até o nível térreo. "Chamamos isso de térreo elevado. Será uma praça no meio do edifício, por onde o percurso pelo centro cultural efetivamente deve começar", conta o arquiteto Marcelo Morettin. "Nossa preocupação é integrar o prédio com o entorno. Não queríamos que ele se fechasse para a cidade."

Intelectuais nacionais e estrangeiros acreditam que a Avenida Paulista, tida como o maior centro financeiro do País, deve cada vez mais explorar sua vocação cultural. "Acho fantástica a ideia de que a avenida se torne um polo de criatividade no Brasil", comentou o sociólogo italiano Domenico De Masi, em conversa com o jornal O Estado de S. Paulo ocorrida no mês passado, quando ele visitava a cidade.

Projeto

Dono de um acervo de 800 mil imagens, 100 mil fonogramas, 1,2 mil obras de iconografia do século 19 em papel e 400 mil documentos e livros de arquivos pessoais de escritores e pensadores, o instituto não vai ter falta de material para ser exibido no prédio da Paulista. Além das exposições, o cinema deve ser incorporado à agenda cultural paulistana, já que vai servir tanto para mostras específicas como, planeja-se, entrará para o circuito de filmes de arte.

"Também nos preocupamos em planejar o edifício de modo que não ficasse um museu burocrático", afirma o arquiteto Morettin. A equipe encarou como um desafio o fato de o terreno ser considerado pequeno para um edifício com essas funções - são 20 metros de frente por 50 metros de fundo. "Forçosamente, acabamos tendo de resolver o prédio verticalmente", complementa. "Mas com a ideia da praça no meio do edifício, o percurso a pé pelos espaços expositivos se torna perfeitamente agradável e possível."

Morettin conta que foram dois meses para preparar o estudo preliminar do projeto, em 2011, a fim de participar do concurso. Uma vez escolhidos, os arquitetos do escritório ganharam o reforço de consultores e engenheiros e se dedicaram ao longo de 2012 para concluir o projeto. "Acredito que o importante foi termos partido de uma premissa de que era preciso valorizar a efervescência cultural que já existe na Paulista, com fluxo constante de todo tipo de gente", avalia Morettin.

Tanto tempo depois, falta pouco para a obra sair do papel. O IMS corre atrás das últimas pendências burocráticas no Poder Público. A expectativa é de que a construção comece ainda neste semestre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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