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Economistas que participaram, na segunda-feira (29), do painel sobre futuro da economia no Brazil Forum UK 2020 afirmaram que, neste momento, não dá para escolher entre economia e saúde. Segundo eles, a atuação do presidente Jair Bolsonaro, ao defender a reabertura do comércio e a extinção de medidas restritivas para possibilitar a retomada da economia, é "imperdoável".

Na visão do economista e professor do King’s College London Alfredo Saad-Filho, as "raízes" do impacto da pandemia no País têm relação com a desigualdade brasileira e com "o descaso deliberado do governo" ao lidar com a questão. Saad-Filho cita "a tentativa deliberada de se manter a atividade econômica a partir de um ponto de vista de que, para se manter o nível da renda, valeria a pena sacrificar vidas".

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Com um ministro interino na Saúde, o Brasil somava, até às 19h30 desta segunda, 57.658 mortes por Covid-19, conforme Consórcio de imprensa. Segundo Saad-Filho, o governo brasileiro abriu mão de suas responsabilidades com a população. "A psicopatia impede os níveis mais altos de governo de olhar para o outro, de cuidar do seu, de tratar da população. Estamos lidando com um desastre que poderia ter sido evitado. Isso, ao meu ver, é imperdoável."

Zeina Latif, colunista do Estadão e ex-economista chefe da XP, avalia que "faltou articulação (do governo) com os Estados" no enfrentamento à pandemia. Citando um cenário em que nenhuma medida tivesse sido tomada, Zeina afirma que "a contaminação seria muito rápida", com consequências duras. "Isso poderia gerar crise social, distúrbios, e de qualquer forma ia acabar impactando a economia pelas mortes, pela mão de obra que você perde, pelo caos social, pelo medo das pessoas".

Segundo ela, é importante ter em vista este cenário extremo, senão podemos acabar "confundindo a análise, achando que o isolamento causa a crise, e não exatamente a doença".

Para o filósofo Vladimir Safatle, as raízes da crise institucional que o País vive hoje estão no modelo de governo aplicado na relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso desde a redemocratização. Convidado para o painel "Novas Ideologias e Disputas Políticas", do Brazil Forum UK, Safatle acredita que sucessivos governos falharam, desde 1985, em resolver contradições do chamado "presidencialismo de coalizão", em que o presidente da República muitas vezes precisa conquistar, no Legislativo, apoio de partidos com ideologias opostas.

"Nessa tentativa de criar uma democracia, nós falhamos profundamente", diz o filósofo sobre o período da Nova República, a partir da Constituição de 1988. Ele acredita que a estagnação do modelo fez crescer a insatisfação da sociedade com instituições do poder, até explodir em grandes manifestações em 2013. "A Nova República teve muito essa característica: a paralisia impedia que o Brasil tivesse grandes reformas, tanto para o bem quanto para o mal."

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O resultado é um cenário político em que "todos os atores políticos tradicionais do Brasil são questionados" e, nas eleições de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro consegue capitalizar esse sentimento em votos.

O filósofo foi acompanhado no painel pela governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), e a colunista do Estadão Vera Magalhães. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a confirmar presença no painel, mas disse que teve de ir a uma reunião de última hora e não participou. A maior parte das discussões foram sobre circunstâncias que facilitaram a vitória de Bolsonaro, do impeachment de Dilma Rousseff à Lava Jato.

"Ao longo desse processo, o que a gente tem visto é que foi se criando, cada vez mais, um caldo de ceticismo em relação à democracia", disse a governadora, que vê no impedimento de Dilma o início do processo de crise entre instituições. Ela propôs que atores políticos se unam para a defesa de valores básicos. "É preciso, sim, ter clareza e responsabilidade de que nós precisamos nos unir em torno dessas bandeiras: a vida e a democracia."

Vera Magalhães lembrou que os esforços para a construção de uma "frente ampla" em defesa da democracia tem esbarrado em ressentimentos. "Quando se tem discussão sobre se o (ex-juiz Sérgio) Moro pode entrar na frente ampla, se fulano pode, essa frente já não é ampla, é limitada", disse Vera.

O Brasil Forum UK é promovido por estudantes brasileiros no Reino Unido e tem transmissão exclusiva do Estadão.

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) disse que se arrependeu de ter assinado a lei que instituiu a delação premiada, sem tipificação. De acordo com a petista, o instrumento de colaboração com investigações pode virar uma “arma de arbítrio”.  

“Infelizmente eu assinei a lei que criou a delação premiada. Por que infelizmente?  Porque ela foi assinada genericamente, sem tipificação exaustiva. E a vida mostrou que sem tipificação exaustiva, ela pode virar uma arma de arbítrio, de absoluta exceção”, declarou Dilma. 

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O argumento sobre o assunto foi exposto durante a participação dela no Brazil Forum UK, seminário criado por estudantes brasileiros no Reino Unido, sediado na Universidade de Oxford, que aconteceu no último dia 5.

Na ocasião, a ex-presidente também enalteceu o fato de ter sido o PT, alvo de delações premiadas, a endossar a legislação. “Quem assinou? Quem fez as leis? Foi algum outro partido político? Não, foi o meu partido, porque fui eu que assinei”, observou Dilma. 

A petista vem questionando os efeitos das delações premiadas desde que se tornou alvo delas no âmbito da Lava Jato. A última delação firmada citando-a foi a do ex-ministro Antonio Palocci, que disse que Dilma tratou de propinas oriundas de contratos da Petrobras. A ex-presidente contestou o fato e disse que o ex-aliado está fazendo um “esforço desesperado” para sair da prisão e, para isso, tem mentido nos depoimentos.

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