Casemiro, jogador da seleção brasileira e do Manchester United, é dono da Case Esports, equipe de CS:GO (Counter-Strike: Global Offensive), inaugurada em dezembro de 2020, oportunidade em que o volante fez questão de frisar: "O projeto nasceu de um hobby meu. Quero principalmente que os jogadores se sintam à vontade dentro e fora das competições. Por isso, daremos totais condições a eles, oferecendo as melhores instalações e conforto."
Dito e feito. Com sede em Madri, na Espanha, onde o jogador defendeu o Real Madrid por muitos anos, a Case Esports tem entre os seus comandados o paulista Leonardo de Oliveira Carlos, que usa o nickname leo_drk, contratado em agosto deste ano para reforçar a equipe, que hoje conta com cinco jogadores brasileiros e um analista português.
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"O primeiro contato que tive com o Casemiro foi no ano passado. Ele queria me levar para o time dele, mas eu estava em outro projeto e não foi possível naquela ocasião. Como agora estava disponível, voltei a conversar com ele e deu certo. Casemiro é um dos caras mais sensacionais que conheci em toda minha vida. Um profissional fora de série, com um mindset incrível. Quem atua no time dele, se sente seguro. Eu não tive dúvidas e assinei contrato", revela Leo, que nasceu em Lençóis Paulista, interior de São Paulo.
Pouco antes de se apresentar à seleção brasileira na França para os últimos amistosos antes da Copa do Mundo do Catar, Casemiro reuniu os jogadores e todo o estafe do Case Esports em sua residência. "O Casemiro sempre fez questão de estar muito próximo de todos nós. Aprendemos muito com ele. Ele nos trata como atletas de alto nível e nos orienta como se fosse uma partida de futebol. Há, sim, semelhanças entre o Counter-Strike e o futebol, pois usamos esquemas táticos para vencer o adversário, estudamos a maneira como nosso oponente se comporta. No nosso time, cada jogador tem uma função e todos trabalham em equipe", destaca o entry fragger, que é o jogador responsável por conquistar o território ainda não dominado, o primeiro a dar combate aos inimigos. "Sou o camicase do time", orgulha-se.
LAPIDANDO AS JOIAS DOS GAMES
A rotina de Leo e seus companheiros pode ser comparada a de um astro de futebol. A Case Esports coloca à disposição a estrutura necessária a um jogador profissional de Counter-Strike. "A Case oferece o apartamento de seis dormitórios, onde moro em Madri, com os demais jogadores da minha equipe, uma senhora que cuida de nossas roupas e de nossa comida, um motorista que nos leva ao Game Office, onde treinamos, além dos computadores, academia, fisioterapeuta, quiropraxista e até um psicólogo, que é um "performance coach", que trabalha nosso foco e concentração".
O trabalho diário para se atingir a alta performance também é puxado. Quase um dia inteiro de treinamentos exaustivos. "A gente respira este universo desde o momento em que acordamos até a hora de dormir. Fazemos treinos táticos, analisamos adversários, estudamos a teoria do jogo. Não é só sentar lá e jogar. Há todo um planejamento a ser seguido. Isso requer muito foco, disciplina e concentração. E quando chego em casa ainda vamos para a academia para um treino físico. Temos uma folga por semana, geralmente aos domingos. Para mim, é muito gratificante viver esse dia a dia e desfrutar destes momentos", relata Leo ao Estadão, com a alegria de quem faz o que ama.
Além do prazer de fazer o que gosta, a recompensa financeira também faz despertar o interesse. Jogadores profissionais de Counter-Strike, que despontam no Brasil e são contratados por times europeus, começam recebendo em média US$ 500 (cerca de R$ 2,6 mil) e podem chegar a US$ 15 mil (cerca de R$ 80 mil) por mês. As remunerações não param por aí. "Quando chegamos a disputar grandes torneios, recebemos um adesivo, que seria uma assinatura na nossa arma, onde os organizadores chegam a pagar US$ 50 mil."
CONCILIAR COM OS ESTUDOS
Filho único do casal Suely e Clodoaldo, Leonardo teve o primeiro contato com o universo dos games logo aos seis anos de idade, quando começou a frequentar as lan houses de Lençóis Paulista com os primos. "Meus pais não implicavam comigo porque as minhas notas na escola eram boas e eu sabia conciliar e dividir bem o tempo. Mas lógico que eu ouvia bastante conselho da minha mãe e do meu pai. Eu nasci em 99, mesmo ano em que o primeiro Counter-Strike foi lançado. Graças ao jogo, eu fui me relacionando com as pessoas e fiz verdadeiros amigos. Ali eu aprendi a trabalhar em equipe e a me comunicar com a vida."
Com 13 anos, Leo começou a competir e ganhar destaque no cenário internacional. O primeiro convite para jogar na Europa veio em 2016, quando estava cursando o segundo ano do ensino médio. Os convites, que vieram de times da Suécia e de Las Vegas, não foram convincentes e Leo seguia no propósito de ingressar na carreira de Direito, sonho de sua mãe. "Mas no ano seguinte, em 2017, veio o interesse do Sharks, um time de Portugal, que mexeu comigo. Era uma oportunidade que eu tinha que agarrar. Conversamos muito a respeito com os empresários, analisamos contrato e vistos de trabalho e resolvi aceitar este desafio."
Até assinar contrato com o time de Casemiro, Leo percorreu o mundo. "Joguei em Portugal, na Sérvia, Polônia, Noruega. No começo não é fácil, pois eu vivia numa bolha, na casa dos meus pais e, de repente, lá estava eu sozinho e encarando uma nova realidade", ressalta Leo, que conta com o apoio da noiva Danielle, que mora em Lençóis Paulista. "Eu tô num relacionamento há oito anos, e estamos noivos. Eu e a Dani sabemos que estamos construindo nosso futuro."
Apesar de recente, o casamento com a Case Esports promete ser longo. "O Casemiro pensa a longo prazo e se o resultado não vem de imediato, ele não se importa. Temos segurança para dar sequência ao nosso trabalho", assegura leo_drk, que tem contrato com a equipe madrilenha até agosto de 2024.
Prestes a completar 23 anos, Leo dá um conselho aos adolescentes que vislumbram a chance de se profissionalizar no eSports e ganhar a vida no mundo dos games. "Não deixem os estudos de lado e acreditem nos seus sonhos. Esse é o primeiro passo para dar certo. Parece clichê, mas é a verdade. A gente atrai aquilo que pensa."