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Mais da metade das cesarianas feitas no Brasil é agendada previamente pelos médicos, informa a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013, feita pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde e que está sendo divulgada nesta sexta-feira, 21, no Rio. De todos os nascimentos ocorridos entre 1/1/2012 e 27/7/2013, 54,7% foram via cirurgia; desses, 53,5% foram marcados previamente. São casos em que a gestante não entrou em trabalho de parto, sendo este o indicativo de que o bebê está pronto para vir ao mundo.

A PNS traz também informações importantes sobre os exames da saúde da mulher: 40% das brasileiras entre 50 e 69 anos não se submeteram a uma mamografia nos dois anos anteriores à pesquisa. A mamografia é recomendada nessa faixa etária com essa periodicidade para a detecção precoce do câncer de mama.

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E 16,9% das mulheres entre 25 e 64 anos nunca fizeram papanicolau na vida. O exame deve ser realizado anualmente, para prevenção de doenças como o HPV e o câncer do colo do útero, além de infecções bacterianas. É um dos procedimentos mais básicos da saúde da mulher, ao qual se submetem desde as meninas que começam a se consultar com um ginecologista até as idosas. Em relação à saúde reprodutiva, 61,1% das mulheres sexualmente ativas entre 18 e 49 anos relataram aos técnicos que usam métodos contraceptivos.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decidiu que as operadoras de planos de saúde continuarão cobrindo as cesáreas eletivas - aquelas feitas por decisão da grávida e do obstetra, não por indicação clínica. O que muda agora é que as gestantes terão de assinar um termo de consentimento sobre os riscos da cirurgia.

A medida esvazia o plano da agência de reduzir drasticamente as cesarianas entre as mulheres atendidas pelos planos, modificando resolução da própria ANS sobre o tema, que passou a valer ontem. As cirurgias, no entanto, só poderão ser marcadas se a gestação completar 39 semanas, para reduzir os casos de bebês prematuros.

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A medida ainda será detalhada em instrução normativa. Hoje, 84,6% das mulheres atendidas por planos têm filhos por cesárea; na rede pública, a proporção cai para 40%.

Entre as regras anunciadas em janeiro para reduzir a quantidade de cesarianas estava a do partograma, que passava a fazer parte do processo de pagamento. O relatório mostra se houve algum problema que levou à necessidade de fazer a cesárea e agora pode ser consultado pela operadora, em auditoria.

A intenção da ANS, ao editar a resolução, era a de que o plano poderia "glosar" (negar) o pagamento se as etapas não fossem cumpridas, e a cesárea não se justificasse. Em emergências, quando não é possível preencher o partograma, deve ser apresentado relatório médico.

Na prática, com a medida, os planos poderiam negar o pagamentos de cesáreas eletivas. Agora, o partograma e o relatório médico continuam sendo exigidos, mas, se houver cesárea eletiva, o termo de consentimento assinado pela grávida substitui os documentos.

"A resolução não deixava claro como seria o procedimento para o caso da cesárea por decisão da mulher. Tudo tem de ficar muito claro, porque as operadoras querem auferir lucro. Elas poderiam glosar (negar) o pagamento. Argumentamos que a mulher tem o direito de escolher o que é melhor para ela. Desde que o médico explique o que é o parto cirúrgico e o normal. Negociamos então a assinatura de um termo de consentimento", explicou o obstetra José Hiran Gallo, integrante do Conselho Federal de Medicina, que participou das negociações com a ANS.

Recuo

O assessor da ANS, João Luís Barroca, negou que tenha havido recuo. "Houve uma interpretação equivocada de que as cesáreas eletivas não seriam cobertas pelos planos. A exigência do partograma e do relatório médico é porque hoje não há nada, nenhum documento. Não se sabe como um parto vira cesárea ou se é decisão da mulher. O importante é o retorno do parto a níveis aceitáveis; 85% de cesáreas é inaceitável em qualquer lugar do mundo. Não posso entrar na relação médico-paciente, mas o que nós queremos evitar são casos como o da mulher que marca o nascimento para o dia tal porque o mapa astral é mais favorável."

Ele defende "um pacto" para reduzir o número de cesarianas na saúde suplementar, "como já aconteceu com o aleitamento materno". "Há 30 anos, pediatras viveram bombardeio de que o leite materno não era bom. Graças à mobilização da sociedade, virou-se esse jogo."

A resolução tem outros pontos importantes. As grávidas poderão perguntar à operadora sobre a proporção de partos normais e cesáreas que o médico faz.

As empresas terão 15 dias para fornecer a informação, sob pena de ser multada em R$ 25 mil. Elas também terão um Cartão da Gestante. Na cartilha de oito páginas, o médico preencherá informações sobre resultados de exames médicos, ultrassonografias e até mesmo tratamento dentário.

O presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Etelvino Trindade, diz que a redução de cesáreas é importante, mas que as normas deviam ter sido aplicadas após uma análise das causas do crescimento do procedimento.

"A primeira coisa a se fazer, nesses casos, é um diagnóstico de situação. Em algum momento, houve o interesse de médicos e de pacientes e isso se tornou uma cultura." Trindade diz que a cesárea não deve ser descartada, pois é a única alternativa quando o parto normal é inviável.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) colocará em consulta pública, a partir de quarta-feira (15) duas resoluções para tentar diminuir o número de cesarianas na rede privada, especialmente entre os planos de saúde, que chega a 84,6% dos partos, em dados de 2012. Uma das medidas permitirá que as mulheres, grávidas ou planejando engravidar, recebam dos planos as estatísticas de cada médico obstetra, com o número de partos normais e de cesáreas realizadas. Também passará a ser obrigatório o preenchimento do partograma, um documento em que são colocadas hora a hora as informações sobre o avanço do trabalho de parto.

"Sabemos, inclusive por casos próximos, da dificuldade que muitas mulheres têm de encontrar profissionais que façam o parto normal. Essas medidas pretendem dar mais informações às mulheres" , afirmou o ministro da Saúde, Arthur Chioro. As informações serviriam para que as mulheres pudessem optar por um médico mais inclinado a atender o pedido pelo parto normal. Já o partograma - que já existe hoje, mas passaria a ser um dos documentos de entrega obrigatória à paciente no momento do pagamento - permitirá uma fiscalização sobre médicos e hospitais que realizam demasiadamente os partos cesáreos. De acordo com Chioro, será possível, através do documento, verificar se um médico realizou uma cesariana desnecessária, apesar de não haver consequências imediatas para o profissional. O próprio ministro reconhece que, para que algo aconteça, é preciso que uma mãe insatisfeita faça uma denúncia em um dos conselhos regionais de medicina. "Estamos colocando mais uma estratégia para tentar induzir que pelo menos a mulher entre em trabalho de parto", explicou o ministro.

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Uma terceira resolução é a adoção, pelas operadoras, de uma caderneta da gestante, nos mesmos moldes da usada hoje no Sistema Único de Saúde. Nela, os médicos terão de colocar todas as informações do pré-natal. Ao mesmo tempo, será incluída uma carta com todas as informações sobre os riscos de parto cirúrgico, como o aumento em 125 vezes do risco de parto prematuro. "É uma estatística feia, mas o Brasil é hoje o campeão mundial dos partos cesariana", afirmou o representante da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), Joaquim Molina.

Em média, 55,6% dos 2,9 milhões de partos realizados anualmente no País são cirúrgicos, mas essa média só baixa porque no SUS eles representam 40%. Um número ainda considerado alto pelo ministério, mas muito inferior ao índice de 84,6% dos realizados por planos de saúde. De acordo com uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, apenas 5% dos partos no Brasil não têm qualquer tipo de intervenção, como anestesia, medicamentos ou cortes.

Chioro atribui esse índice estratosférico a questões de formação e também culturais, que não serão mudadas imediatamente. "Vivemos uma inversão de valores. A natureza é muito sábia. Deu 9 meses para que se estabeleça um vínculo entre mãe e filho e preparação para um parto normal, não para uma intervenção inadequada fruto de um desejo inadequado causado muitas vezes por desinformação", afirmou. "Respeitar a mulher é aportar um conjunto de informações necessárias para que ela possa tomar a decisão correta".

Entre as medidas de incentivo que o ministério pretende tomar está a criação de um projeto piloto a que hospitais privados poderão aderir para criar ambientes mais favoráveis ao parto normal. Na estratégia, no entanto, não está prevista uma das principais reivindicações dos médicos, a de uma tabela de remuneração diferenciada para partos normais e cesárias.

De acordo com Karla Coelho, gerente da área de atenção à saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar, mudanças desse tipo não teriam tido grande impacto. Os melhores resultados teriam vindo de ações integradas de formação de médicos e enfermeiros e adoção de protocolos de atendimento visando o parto normal. "A mudança de remuneração não surtiu efeito. A questão é uma mudança de modelo. Se fosse assim seria muito fácil resolver", disse. "Não é porque você ganha pouco que vai deixar de trabalhar. A vida não pode ter preço. Eu não posso inverter uma indicação médica porque a modalidade de remuneração está baixa", criticou o ministro da Saúde. As resoluções ficarão 30 dias em consulta pública e devem passar a valer para as operadoras de planos de saúde a partir de dezembro.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai entrevistar 24 mil mulheres que tiveram bebê recentemente (pós-parto) para descobrir o porquê da preferência de muitas brasileiras pela cesariana. Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2010, 52% dos partos no país foram cirúrgicos. Na rede privada, o índice chega a 82% e na rede pública, a 37%.

A pesquisa vai verificar com a mãe qual foi a indicação médica para o tipo de parto, onde foi feito o pré-natal e se o profissional que acompanhou a gestação foi o mesmo que realizou o parto. No caso de mulheres que passaram por cesariana, será perguntado o motivo da escolha.

Doula há cinco anos, Rachel Bessa oferece apoio a mulheres grávidas para alcançar o bem-estar físico e emocional durante a gestação e o parto. Ela explicou que o parto normal é um ato de respeito ao próprio corpo feminino, enquanto a cesariana exige um procedimento cirúrgico com riscos, como a hemorragia interna.

Outra desvantagem, segundo Rachel, é que, após a cesariana, a mãe não pode ficar junto com a criança imediatamente porque precisa se recuperar da cirurgia – mesmo que o bebê necessite desse primeiro contato já que, por meio dessa aproximação, é possível, por exemplo, controlar a temperatura corporal.

“Além disso, durante o parto normal, acontece uma compressão natural no peito da criança. Com isso, todo o resquício de líquido, próprio da gestação e que pode estar dentro da criança, é limpo. É um processo natural. No caso da cesárea, é usada uma sonda para a retirada desses líquidos.”

Lais Ignácio, 25 anos, é nutricionista e está grávida do primeiro filho. “Pretendo ter parto normal, mas vai depender da situação na hora”, disse. Apesar do receio da dor, ela explicou que prefere parto normal porque a recuperação é mais simples. “O corpo feminino foi preparado para isso”, completou.

Catiana Ferreira, 29 anos, trabalhadora doméstica, compartilha o sentimento de ansiedade. Grávida do primeiro filho e já no oitavo mês de gestação, ela disse que ainda não recebeu uma indicação médica sobre que tipo de parto optar. “Quero parto normal, porque é mais rápido e recupera logo. Assim, não necessito de muito repouso já que preciso voltar a trabalhar.”

Já Maria de Fátima Oliveira, 36 anos, fará uma cesariana, mesmo preferindo o parto normal. A empregada doméstica está grávida do primeiro filho, mas tem um mioma que pode complicar o procedimento. “Se não fosse esse problema, faria o [parto] normal, porque a recuperação é mais rápida e mais saudável”, disse.

De acordo com o Ministério da Saúde, as chamadas cesáreas eletivas são as que mais representam risco. Nesse tipo de procedimento, a mãe agenda o dia e o bebê nasce sem que a mulher entre em trabalho de parto, o que pode causar problemas de saúde, sobretudo respiratórios, na criança.

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