Tópicos | Chat GPT

O uso da inteligência artificial como ferramenta de estudo dentro de sala de aula têm sido muito discutido, principalmente com a recente popularização da tecnologia, em especial pela chegada do Chat GPT no fim de 2022. O programa funciona como um chatbot e se dispõe a dar respostas rápidas para comandos.

Segundo o bot, ele pode fazer responder a perguntas, esclarecer perguntas, explicar conceitos, escrever textos, criar conteúdo escrito, traduzir idiomas, resumir textos, auxiliar na programação com exemplos de códigos, resolver problemas matemáticos, fornecer recomendações, sugestões de filmes, livros, músicas, restaurantes, viagens, conversar e fornecer informações gerais.

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A ferramenta é de fácil acesso, exige um login apenas por endereço de e-mail, e alcançou a marca de 100 milhões de usuários ativos mensais em janeiro de 2023. A dúvida é, como utilizar essa tecnologia tão eficiente sem atrapalhar o processo de aprendizado e esforço dos estudantes? 

IA e instituições

Ariane Feijó, estudiosa e desenvolvedora de sistema e algoritmos com o uso de IA, defende que “não dá para desinventar o que já foi inventado” e, por isso, o ideal é ter a mente aberta para poder se adaptar e aprender a utilizar a tecnologia na nossa educação. Assim como a TV não acabou com o rádio, a IA não vai acabar com os estudos. Para a empresária, o essencial é trabalhar a IA para integrar a instituição:

“A gente tem que enxergar inteligência artificial como um estagiário. Ela tá em uma fase que é um estagiário, mas ela pode chegar no nível do pós-doutor, à medida que a gente for trazendo mais informações para dentro e dependendo da empresa, da organização ou instituição que está utilizando, daqui a pouco, por estar direcionando mais ela para os seus objetivos, ela vai chegar nesse nível de educação que nos ajuda muito mais rápido”, declara Feijó.

Para a empresária de 43 anos, as instituições deveriam “perder o medo da inteligência artificial” e aproximar a relação da inteligência artificial com as tendências da instituição, transformando a tecnologia em parceria no processo de trabalho. É essencial saber acompanhar a evolução para continuar se atualizando.

A desenvolvedora ainda defende que a escola não deve desencorajar os estudantes a usar IA, muito pelo contrário, que eles estimulem mas ensinando a utilizar da forma certa, sem que ultrapassem os limites da criação e da cópia.

Um dos problemas mais discutidos quando se pensa em uso de IA como o Chat GPT para educação, é a problemática do que é plágio e o que não é. Por fazer rápidas análises, textos e resumos, existe a preocupação sobre qual o limite do que a IA pode ou não fazer pelo estudante.

A estudiosa declara: “Eu acho que não se trata aqui de limite, mas se trata de educar sobre esse uso. O ponto número um que as pessoas têm que ter em mente: Não é porque leu, ou viu na inteligência artificial, ou gerou uma informação, um conteúdo, que tá pronto. A gente tem que pensar na inteligência artificial como uma maneira de co-criar conteúdo, e não de criar. Porque não é, ela não faz o trabalho pra nós. Ela otimiza, ela agiliza, ela nos ajuda.”

O bot pode, por exemplo, explicar uma frase ou um conceito que não foi entendido, enumerar fatos destaques que devem ser estudados, sugerir temas de pesquisa, otimizando o nosso trabalho intelectual, mas nunca criando o trabalho propriamente dito. Para Ariane isso é “potencializar o conhecimento” através da tecnologia.

“A inteligência artificial ela não vai ler por nós e ela não vai substituir que a gente faça a leitura dos artigos, mas ela pode nos ajudar a trazer uma compreensão prévia mais aprofundada daquilo que está no artigo, para que quando a gente for ler a gente já saiba quais são as principais perguntas de pesquisa, as principais hipóteses, o que eu tenho que prestar mais atenção na hora de ler, então ela nos traz mais contexto”, explica.

“Acho que isso é um ponto bem importante, a inteligência artificial, ela não substitui um professor, ela não substitui a avaliação, ela não substituir a necessidade de organizar para produzir um artigo muito bem estruturado, ela não substitui nada disso, mas ela nos ajuda a acelerar, agilizar esses processos”, continua a profissional.

Ética e Inteligência Artificial

Feijó também levanta a discussão do que é ético ou não no uso das tecnologias de inteligência artificial. Para ela, não existe limite para a mente humana, mas existe o que é ético e o que não é e como as pessoas estão utilizando a ferramenta.

“O que a gente tem que discutir é como é que está sendo o uso disso tudo enquanto sociedade, não é? O que está se fazendo com esses dados que a gente gera? E principalmente garantir que a gente não copia a informação dela, que a gente realmente co-cria. Eu acho que esse é o grande ponto”, detalha a empresária

Porém, com o chatbot mais utilizado, a versão gratuita torna esse processo de co-criação ainda mais limitado. Então o cuidado com checagem de plágio deve ser dobrado, nas palavras da profissional, “tem que co-criar ainda mais”. 

“Tem que ser uma revisão mais minuciosa, tem que, eventualmente, usar outras ferramentas de checagem de plágio, tem ferramentas gratuitas, inclusive, na internet, tem ferramentas que são usadas para verificar o plágio do conteúdo gerado pela Inteligência Artificial. A própria OpenAI, que é quem criou o chat GPT, tem essa ferramenta. Então, para garantir aquilo que eu estou fazendo”, conta Ariane. 

Para ela, hoje em dia, a “inteligência artificial está correndo nas veias da sociedade” e das organizações. Um dos problemas levantados pela profissional é a disponibilidade das pessoas de fazerem perguntas, pois, muitas vezes, só procuram a resposta. Com a IA, a forma que você faz a pergunta interfere diretamente na resposta. 

Com o exemplo do Chat GPT, Feijó ainda reforça que nem sempre a IA irá conseguir dar a resposta almejada, por isso tem que saber como utilizá-la: “nem sempre ela vai nos entregar o caminho todo, né? Ou ela vai precisar de mais dados, ela vai precisar acessar a internet, ela vai precisar buscar em outras frentes.”

A internet é cada vez mais necessária no nosso dia a dia e vem mexendo com a cultura das escolas e instituições. A profissional defende que a sociedade está ainda em um processo de amadurecimento digital, conhecendo e aprendendo como lidar com as atualizações das tecnologias.

Procurando entender sobre isso, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) realizou, no mês de maio de 2023, uma reunião para discutir o uso da inteligência artificial nas escolas. Em uma pesquisa global feita pela organização com 450 escolas e universidades mostrou que menos de 10% delas possuem políticas institucionais sobre o uso de inteligência artificial generativa, como o Chat GPT.

Assim a Unesco lançou, durante a Semana de Aprendizagem Digital, no mês de setembro, a primeira orientação global sobre o uso de IA generativa na educação e pesquisa, com sete passos que devem ser cumpridos para garantir um uso exato para o estudo. Um dos pontos declarados no livro de orientação é que o limite de idade para o uso de ferramentas deve ser de 13 anos.

Esta é uma das formas de cuidar e regulamentar o avanço das ferramentas digitais nas escolas, sem impedir a interação das crianças com a IA. A empresária Ariane Feijó deseja que as instituições sejam mais curiosas em relação às inteligências artificiais, pois as pessoas costumam colocar o medo da evolução na frente do interesse pela novidade.

“Eu acho (o uso de tecnologias no ensino) fantástico, mas todo mundo precisa aprender a usar. Precisa querer usar, né? Precisa olhar pra tudo isso com menos medo e mais curiosidade. As pessoas têm muito pouca curiosidade. E aí, gera medo. Porque tu não sabe o que é, já chega com preconceito, não funciona, não é bom”, afirma.

Porém, apesar dos muitos avanços, das várias funcionalidades, inclusive com uma orientação global de uso da tecnologia nas escolas já definida pela Unesco, Ariane Feijó acredita que o potencial de educação da IA ainda vai levar um tempo para ser realmente aplicada nas escolas.

“Eu acho que mesmo tendo esse potencial, (a IA) é uma coisa que vai levar tempo ainda, porque a tecnologia está muito conectada com cultura, então para que ela seja amplamente adotada, seja por empresa, por escola, tem que ter uma mudança cultural”, finaliza a especialista.

De que forma o uso de agentes autônomos computacionais ou bots no contexto da internet tem influenciado a execução de processos informacionais e a interação com os seres humanos? Este foi um dos questionamentos levantados – e confirmados – pela tese de doutorado “A Influência dos Bots em Processos Informacionais: limitações, benefícios e desdobramentos”, de Camila Oliveira de Almeida Lima.

O estudo foi defendido, em 2022, no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e teve orientação da professora Sandra de Albuquerque Siebra, do PPGCI e do Departamento de Ciência da Informação.

Um bot – forma reduzida da palavra robot – é um software que executa tarefas automatizadas, repetitivas e pré-definidas. Por ser automatizado, ele é capaz de executar uma infinidade de processos informacionais em uma velocidade superior à dos seres humanos e em áreas tão diversas como saúde, educação, comércio e jurídica.

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“Uma das coisas que mais me chamou a atenção durante a pesquisa foi essa versatilidade dos bots em executar diferentes tipos de processos informacionais de forma autônoma, ou seja, sem intervenção humana na realização das atividades”, afirma Camila Lima. 

Processos informacionais para os quais é possível especificar uma lógica, por exemplo, são facilmente desempenhados por esses agentes, sem intervenção humana e com um bom nível de precisão, o que torna essas ferramentas atraentes para empresas e organizações. No entanto, conforme ressalta Camila, esses softwares ainda possuem limitações quando o processo informacional envolve cognição, empatia e criatividade, consideradas habilidades humanas.

Durante o estudo, Camila se deparou com três situações: uma na qual os processos eram realizados exclusivamente por seres humanos; outra, em que o trabalho era desenvolvido de forma híbrida, com validação humana; e uma terceira, na qual a ação era realizada pelos bots de forma incompleta ou com falhas de execução. Nesse caso, ao invés de apenas pontuar que não havia compreendido a mensagem recebida, o bot oferecia alternativas para tentar descobrir o que o usuário desejava para poder atender sua necessidade informacional. Tal cuidado foi visto como uma medida de segurança, uma vez que os agentes autônomos providos de mecanismos de aprendizagem mais complexos e evoluídos podem agir de forma imprevisível.

“Os bots possuem uma programação inicial que é feita por humanos, e isso já pode influenciar o comportamento deles. Contudo, ao passo que o bot é disponibilizado em rede, ele assume sua personalidade de acordo com as interações e o contexto, podendo adotar padrões benéficos, melhorando a eficiência em determinados processos; como de forma maléfica, propagando desinformação ou violando princípios éticos e legais”, alerta Camila.

Arte: Asscom/UFPE

Com base nisso, a pesquisadora destaca a importância de serem consideradas as implicações éticas, morais e legais relacionadas ao uso dessas ferramentas na interação com a informação. “Houve casos nos quais os bots violaram essas restrições, levantando questões importantes sobre a necessidade de regulação e diretrizes para seu uso responsável”, afirma Camila Lima.

ANÁLISE

Para obter os resultados apresentados na tese, Camila Lima fez um mapeamento da literatura envolvendo o tema, a análise documental e a observação direta da utilização de alguns bots. Para essa observação, ela analisou nove casos distintos nos quais os bots foram protagonistas ativos a fim de verificar os processos informacionais executados, limitações, benefícios, desdobramentos e também a influência em temáticas da área de Ciência da Informação para entender se o comportamento das pessoas poderia ser afetado pela interação com esses agentes computacionais. Os critérios utilizados para a escolha foram abrangência, impacto social da ferramenta, casos reconhecidos pela sociedade e comunidade científica e, principalmente, a existência de informações suficientes para a investigação.

Os chatbots mapeados e listados na tese, assim como aqueles analisados especificamente por Camila, tinham finalidade benigna e influenciaram positivamente seus usuários, motivando-os, orientando-os, informando-os e, em alguns casos, favorecendo o aprendizado. Com relação aos socialbots, segundo tipo de mecanismo mais mencionado nas produções analisadas pela pesquisadora, verificou-se que o cenário mudou um pouco, uma vez que foram encontrados casos de sistemas que atuaram tanto de forma benigna como maligna. Chatbot é um tipo de bot que se concentra na comunicação, enquanto que o socialbot é um software que se comunica de forma autônoma nas redes sociais.

Entre os episódios analisados por Camila está o das eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, quando o conteúdo propagado artificialmente pelos bots enfraqueceu o debate político, influenciando opiniões e revertendo votos em favor do candidato republicano Donald Trump – estima-se que 81,9% do conteúdo automatizado sobre as eleições indexado no Twitter envolvia alguma mensagem pró-Trump, o que sufocava as mensagens contrárias ao republicano ou a favor de sua oponente. O mesmo fenômeno foi observado nas eleições presidenciais de países como México, Rússia, Venezuela e Brasil.

Outro contexto apresentado por Camila foi o uso de bots na análise da qualidade da informação publicada na Wikipédia, enciclopédia on-line de licença livre escrita de maneira colaborativa. Os bots presentes nesse ambiente têm por finalidade atuar de forma autônoma na correção do conteúdo inserido por humanos ou por outras máquinas, estando em constante processo de aprendizado. Isso já levou a situações, conforme explica a pesquisadora, nas quais os softwares entraram em conflito entre si e com os internautas a fim de manter na plataforma as informações na forma como julgavam corretas.

CAMINHO SEM VOLTA

Além da necessidade de uma regulamentação envolvendo o uso de bots, o trabalho de Camila ressalta que é preciso que o profissional da informação considere a presença e atuação desses agentes autônomos em suas pesquisas e estudos – uma vez que a realidade atual é marcada pela interação cotidiana entre máquinas e pessoas. Traz ainda como reflexão a importância de que sejam delimitados os papéis e responsabilidades tanto dos atores humanos como dos não humanos.

“Para garantir uma relação saudável e equilibrada, é essencial que sejam estabelecidas regulamentações adequadas para o uso de bots, especialmente no que diz respeito à ética e à proteção dos Direitos Humanos. Os profissionais da informação e pesquisadores da área devem continuar acompanhando de perto esses avanços tecnológicos e compreender como os bots afetam os processos informacionais, a fim de garantir o desenvolvimento responsável e ético dessas tecnologias”, afirma Camila.

Imagem: Pixabay

Deixa ainda um aviso para aqueles que ainda não perceberam a crescente presença desses softwares em nosso dia a dia – tanto em quantidade como em relevância.

“A relação entre seres humanos e bots/chatbots continuará a se desenvolver e evoluir. Este é um caminho sem volta”, diz. “Não há mais como pensar que os bots e a inteligência artificial não farão mais parte do nosso cotidiano, pois já o fazem em vários aspectos, mesmo quando não percebemos. Certamente, todo mundo tem um celular ou utiliza redes sociais. Essas ferramentas, tão comuns de nosso dia a dia, têm uma inteligência artificial sofisticada que conhece cada usuário tão profundamente a ponto de sugerir conteúdos relevantes para cada um”, completa Camila Lima.

Camila finaliza: “É crucial que o fator humano, com suas características únicas, continue sendo valorizado e preservado, evitando que sejamos meramente direcionados por algoritmos; e preservando nossa capacidade de sermos críticos, emocionais e conscientes em nossas interações com a informação na era da inteligência artificial.”

NÚMERO CRESCENTE

De acordo com o Mapa do Ecossistema Brasileiro de Bots mais recente, publicado em agosto do ano passado, de 2020 a 2022, a quantidade de bots produzidos no Brasil triplicou, passando de 101 mil para 317 mil. O dado reforça a necessidade de atenção ao tema.

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFPE

(81) 2126.7754

ppgci@ufpe.br

 

Por Anderson Lima, da assessoria da UFPE

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