Tópicos | choros constantes

Cansaço sem fim, irritação, choros compulsivos e desinteresse. As horas dentro de sala de aula passavam arrastadas, o amor pela profissão já não era o mesmo e acordar para ir trabalhar era cada vez mais difícil.

Aconselhada pela direção da escola estadual Tabajara, em Olinda, Região Metropolitana do Recife, a professora (que não quis ser identificada), L.M, 52 anos, procurou um médico e foi diagnosticada com depressão. Após sete meses de readaptação junto a tratamentos psicológicos, ela voltou à escola e hoje trabalha prestando apoio à biblioteca. “Não sinto a mínima vontade de voltar a ensinar. Já estou há três anos afastada da sala de aula e isso contribuiu para eu me sentir melhor. Devolveu a minha paz interior, porque não há mais tanta pressão em cima de mim”, conta. “Meu objetivo agora é esperar o tempo certo para a chegada da minha aposentadoria”, completa L.M.

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A educadora, que exerceu o cargo durante 30 anos, explica que a depressão foi desencadeada, especialmente, pelo desinteresse dos estudantes dentro de sala e pela falta do reconhecimento do seu trabalho. “A indisciplina e a falta de interesse dos alunos fizeram com que eu começasse a ver que todo o meu esforço em educá-los era em vão. Fora que eles mediam forças comigo, quando eu ia repreendê-los por mau comportamento. Com o passar do tempo, fui ficando saturada, não tinha vontade de abrir o livro para iniciar um novo assunto e, quando eu ia escrever no quadro, vinha vontade de chorar. Comecei a ir à escola sem motivação nenhuma, pois já estava me sentindo um nada”, desabafa a professora.

A educadora também enfatiza a ausência da participação dos pais como fator agravante do mau comportamento dos alunos: “A escola tem o papel de dar continuidade à educação, que já deve vir de casa com os princípios básicos ensinados pelos pais. Educação vem de berço, como já diz o ditado. Se ele não tem o mínimo de educação em casa, não devemos esperar que, na escola, seja diferente”.

Casos parecidos

Histórias como a da professora L.M se repetem em escolas de todo o país. O problema, porém, não é mensurável e muitos professores não dão aula atualmente pelo mesmo diagnóstico. São doenças como estresse, depressão, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, insônia, arritmia cardíaca, hipertensão, entre outros problemas que os afastam do cotidiano da sala de aula.

A professora Ceci Barbosa, 72 anos, que trabalhou na função há 40 anos, é mais um exemplo, entre tantos outros, que experimentou sintomas de doenças associadas ao esgotamento profissional. “A falta de respeito por parte dos alunos e o desinteresse me fizeram desacreditar na profissão. Eles tratam o professor da maneira que bem entendem. Não é mais como antigamente, em que os educadores eram vistos como uma autoridade em sala de aula. Hoje tudo está pelo avesso e não se sabe, realmente, qual o papel do professor nas instituições de ensino. Não tenho mais estímulo nenhum em voltar à sala de aula. Cansei”, ressalta.

“Além disso, à noite, quando faltava energia, os alunos se aproveitavam para jogar bancas, lixeiras e outros objetos para o alto. Eu ficava perto da porta para correr, qualquer coisa, pois não ia esperar ser atingida”, relembra Ceci. Ela, como a professora L.M, também trabalha dando apoio à biblioteca e participando, também, de projetos educacionais da escola. “Por conta dos estresses, vivo à base de remédio e calmante, que controlam a minha depressão, diabetes, colesterol, pressão e insônia. Como você pode ver, hoje sou uma pessoa doente”.

Ceci conta também que faltou apoio da Secretaria de Educação. "Na época, meu tratamento foi todo particular e os medicamentos, que eu continuo tomando, são caros. Isso é um descaso com nossa classe”, relata.

Segundo a assessoria da Secretaria de Educação do Estado (SEE), são oferecidos aos professores da rede estadual, através do Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Estado de Pernambuco (Sassepe) - plano de saúde semi-particular optativo - prestação de serviços de assistência à saúde, estendido também aos dependentes do professor.

Além disso, a Secretaria de Educação informa que o docente tem à disposição o Núcleo de Atenção ao Servidor (NAS), que conta com uma equipe fonoaudiólogos, psicológicos e assistentes sociais em todas as 17 Gerências Regionais de Educação (GRE).

Adoecimento também é consequência dos baixos salários e falta de condições adequadas de trabalho

De acordo com a vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), Antonieta Trindade, “a solução não é individual, visto que a cada dia os problemas tornam-se mais coletivos. Esse é um indicativo que demonstra a necessidade dos estados e municípios pensarem políticas públicas que enfrentem o problema”, acredita.

“Além do desinteresse dos alunos, na maioria dos casos, o adoecimento é consequência dos baixos salários, da falta de condições adequadas de trabalho, da superlotação das turmas e do baixo resultado de aprendizagem dos estudantes”, aponta Antonieta.

Sobre a mudança de função do professor para um outro cargo, a vice-presidente opina: “Mudar de cargo não resolve o problema, pois os readaptados não são preparados para desempenhar novas funções pedagógicas na escola. No Estado, a secretaria de educação atendeu a nossa reivindicação e criou núcleos de assistência ao servidor em todas as gerências regionais, mas ainda falta um melhor entendimento por parte da Perícia Médica do Estado, que , na maioria das vezes, trata o servidor doente como alguém que simplesmente não quer trabalhar”.

Conforme Antonieta Trindade, no mês de agosto, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), órgão que a vice-presidente também representa, realizará um seminário de âmbito nacional, que contará com a presença de diversos especialistas para aprofundar o tema e consolidar propostas a serem encaminhadas na pauta dos trabalhadores em todos os estados e municípios.







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