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A reunião dos países do G-20 em Buenos Aires, na Argentina, abriu caminho para iniciar a ensaiada reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC). Com a previsão na declaração final dos países de apoio ao aperfeiçoamento da instituição, as conversas em Genebra passam a ser em torno de como a reforma deve ser para sair do papel - e não mais se ela é necessária.

As conversas estão em estágio inicial, mas a expectativa entre países envolvidos nas negociações é que mudanças sejam feitas de forma pragmática, ponto a ponto e plurilateralmente. A ideia é não perder tempo com a negociação de um pacote de medidas, o que tornaria a reforma muito lenta. A adesão plurilateral significa avanços com o grupo de países que estiver disposto, quando não se puder chegar a um consenso entre os 164 membros.

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Em Washington na última quarta-feira, o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, considerou como positiva a declaração do G-20, pois "reconhece o momento difícil que nós todos estamos vivendo, reconhece que o sistema multilateral da OMC contribui para o crescimento econômico, para a criação de empregos, para o desenvolvimento e reconhece que o sistema multilateral, para continuar dando essa contribuição, pode e deve melhorar."

As mudanças na instituição são vistas por países-membros como única saída para a sobrevivência do organismo multilateral, em meio ao protecionismo encampado pelos Estados Unidos e a escalada de tensões com a China.

A avaliação no órgão é de que o governo Donald Trump colocou o sistema multilateral à beira do precipício, o que jogou pressão sobre a discussão a respeito da reforma.

Chacoalhada. Nos corredores da entidade em Genebra, a "chacoalhada" que a OMC recebeu foi vista inicialmente com uma mistura de apreensão e uma oportunidade para mudar uma instituição que pouco avançou em negociações de novas regras nos últimos 20 anos. Depois de dezenas de encontros a portas fechadas e consultas, a percepção foi de que seu desmonte seria muito mais perigoso que aceitar a reforma.

A partir de agora, a "refundação" da OMC terá três pilares. O primeiro é como melhorar o funcionamento normal da instituição - para essa, há uma proposta americana em discussão sobre transparência nas notificações do órgão. A meta é a de forçar a China a dizer de forma clara o que está subsidiando, onde e em qual patamar.

Controvérsia

O segundo, considerado o mais cinzento, é sobre o sistema de solução de controvérsias. Hoje, os Estados Unidos praticamente bloquearam o funcionamento do órgão de apelação ao travar as nomeações de juízes que compõem o colegiado. O resultado tem sido o atraso nas decisões da corte, com adiamento de julgamentos em até um ano.

Por último, os países discutem novas regras da instituição. Os Estados Unidos tentam, neste ponto, incluir na mesa questões relevantes na discussão sobre a China, como a transferência de tecnologia e subsídios intelectuais. A dúvida é saber se a China pretende aderir às novas regras que serão colocadas à mesa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) alerta para uma nova desaceleração do comércio mundial nos últimos três meses de 2018. Dados publicados nesta segunda-feira (26), às vésperas da reunião de cúpula do G-20 em Buenos Aires, sugerem que a guerra comercial está tendo um impacto real no fluxo de bens.

Os indicadores ainda apontam que a expansão deve ser a mais baixa em dois anos. Com 98,6 pontos, o "termômetro do comércio global" está abaixo dos 100,3 pontos do último trimestre e aponta para desempenho "abaixo da tendência".

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Para medir a tendência do comércio, a OMC criou um indicador que coleta dados de exportações, cargas e outros índices setoriais considerados pilares da economia mundial. Uma taxa de 100 pontos significa estagnação do crescimento do comércio. Qualquer número abaixo, como no caso do atual trimestre, aponta para perda de força nos fluxos de exportação e importação.

Segundo a OMC, há ainda uma tendência de que a perda de força continue no primeiro trimestre de 2019. Todos os principais setores foram atingidos. A demanda por exportação continuou a tendência de queda que já havia sido registrada ao longo do ano. Já os índices de produção automotiva (96,9 pontos), componentes eletrônicos (93,9 pontos) e material agrícola (97,2 pontos), deixaram de estar dentro de uma média para serem classificados como "abaixo da tendência".

Cenário

A projeção em maio era de uma expansão do comércio mundial de 4,4%. Para 2019, o crescimento seria de 4,0%. Em 2017, a expansão em volume foi de 4,7% e em valores chegou a 10,7%, a melhor desde 2011 e atingindo US$ 17 trilhões. Nada disso, porém, previa a proliferação de medidas protecionistas.

Agora, a projeção é de que o comércio em 2018 tenha expansão de 3,9%, com um impacto ainda maior em 2019, não deve passar de 3,7%.

Na visão da OMC, uma guerra comercial poderia tirar bilhões de dólares da economia mundial e uma escalada tarifária entre as maiores economias do mundo reduziria em 17% o crescimento do comércio mundial e em 1,9% o crescimento do PIB. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A perspectiva de um Estados Unidos mais protecionista e focado em assuntos internos sob a batuta de Donald Trump abre espaço para a China expandir sua influência global.

Ao passo que o Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que exclui a China, tem poucas chances de se materializar sob um governo Trump, Pequim deve continuar a atuar para assegurar novos pactos comerciais concorrentes. Paralelamente, as estatais chinesas se preparam para expandir seus investimentos no exterior, ao longo dos países abarcados pela estratégia do "Cinturão Econômico da Rota da Seda". Para isso, eles contam com o apoio do Banco de Desenvolvimento Infraestrutura Asiático (AIIB), que será comandado por Pequim mas conta com a participação de cerca de uma centena de países.

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O governo Obama alertou que um fracasso em aprovar o TPP, que é parte fundamental do "pivô" para a Ásia dos Estados Unidos, poderia resultar na China conseguindo mais vantagens comerciais às custas dos EUA. Esta semana, a ministra de Relações Exteriores da Austrália, Julie Bishop, afirmou que o colapso do TPP "deixaria um vácuo em acordos comerciais, que certamente seria aproveitado por outros".

Bishop afirmou que caso isso aconteça, a Austrália irá fazer o que puder para conseguir melhores condições para seu comércio, e mencionou em particular a Parceria Econômica Regional, um acordo que está sendo costurado entre países do Pacífico, entre eles a China, e que deixaria os EUA de fora. Separadamente, a China afirmou que iria buscar apoio para um acordo de livre comércio liderado por Pequim na região durante uma cúpula de líderes do Pacífico que acontece na semana que vem, no Peru.

"A eleição de Trump é uma espécie de retrocesso na globalização", afirmou o professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, Li Xi. Isto poderia dar, à China, a "oportunidade de expandir sua influência", acrescenta.

Nas últimas semanas, a China estreitou os laços econômicos e diplomáticos com as Filipinas, um aliado próximo dos Estados Unidos, e a Malásia. Juntos, os três países anunciaram acordos no valor de US$ 58 bilhões.

He Yimin, gerente de vendas da Xin Gang Cheng Stainless Steel Wares, um exportador baseado na cidade de Yunfu, acredita que seu país pode se beneficiar do fracasso da TPP. "Acredito que é algo bom para a China", disse. "Atualmente, os países sudeste asiático têm tido postura bastante amigável em relação à China".

Logo após o fim das eleições norte-americanas, a primeira-ministra britânica, Theresa May, sublinhou que Londres permanece "aberta para negócios com a China". Na quinta, os dois países anunciaram um plano para aprofundar os laços entre si no setor de serviços financeiros. Esta semana, em visita à Letônia, o primeiro-ministro chinês anunciou um fundo de US$ 11,1 bilhões para investimentos na Europa Oriental.

Em parte porque têm enfrentado o enfraquecimento da demanda global, os exportadores chineses estão menos dependentes dos EUA mesmo com a desaceleração da economia doméstica. Cinco anos atrás, Kin Yat exportava 100% de seus produtos. Agora, 30% do que fabrica é vendido na China. "As fábricas chinesas são bastante flexíveis, elas podem se adaptar rapidamente às mudanças", disse.

Em um setor exportador que tem sido alvo preferencial de disputas nos últimos anos, o de aço, os EUA respondem por uma parcela cada vez menor das exportações chinesas. Atualmente, o país compra cerca de 2,5% do que a China vende para fora. Dez anos atrás, essa porcentagem era de 6,6%. A criação de tarifas maiores em um governo Trump aceleraria este processo, mas não teria impacto significativo na indústria de aço chinesa.

Apesar disso, os Estados Unidos ainda é o maior parceiro comercial da China e a perspectiva de relações estremecidas por causa da postura de Trump é um motivo de preocupação em Pequim. Autoridades chinesas comentam que ainda é muito para compreender qual pode ser o efeito do novo governo na China. No entanto, um artigo publicado pela agência estatal de notícias, Xinhua, alertou contra o protecionismo, afirmando que tais políticas aceleraram a crise nos EUA durante a Grande Recessão, na década de 1930.

Alguns analistas questionam a lógica das acusações de Trump de que a China manipula sua moeda de forma prejudicial aos EUA. O país manteve por anos o yuan desvalorizado para beneficiar os exportadores mas, nos últimos anos, com os capitais deixando o país por causa da desaceleração econômica, o Banco Central tem intervido na direção contrária, tentando prevenir uma depreciação muito rápida.

"A expectativa é de que a chegada de Trump crie mais condições para a desvalorização", disse Zeng Hao, da Shanxi Fenwei Energy, uma consultoria de commodities especializada em carvão.

Fonte: Dow Jones Newswires.

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