Apesar da crise que assola grande parte dos comerciantes durante a pandemia, o mercado erótico não tem o que reclamar em relação ao volume de vendas. Um levantamento realizado pela empresa de inteligência de mercado Compre&Confie aponta o aumento de 55,5% nas compras de produtos de sex shop por meio do ambiente virtual. O registro ainda indica que o segmento foi responsável por 64,4 mil transações comerciais via internet em 2019.
Com a facilidade de receber os produtos em casa e não passar pelo constrangimento ainda vigente quando o assunto é sexo, as plataformas e-commerce se tornam o ambiente perfeito para compradores e vendedores. Por esse motivo, a comerciante Fernanda Moggi, 30 anos, montou a Lady Box, um sex shop para vender pela internet de maneira exclusiva. A empresa, que ainda não completou um ano de funcionamento, já colhe os frutos do aumento de vendas no período de isolamento social. "O mercado tem dado uma aquecida legal, tenho percebido que as vendas cresceram. Tivemos uma melhora de 50%", relata a proprietária, que ressalta uma maior incidência do público feminino entre a clientela no período pandêmico. "Como vendemos lingeries e produtos eróticos, a mulherada que está em casa me pergunta muito o que fazer para melhorar, sugerem algo que gostariam de experimentar e acabam comprando, elas estão mais propensas a matar a curiosidade", complementa Fernanda.
##RECOMENDA##Fernanda Moggi criou a loja Lady Box | Foto: Arquivo Pessoal
De acordo com a comerciante, os produtos de sucesso como fantasias, lingeries e cosméticos seguem no topo de vendas da lista. Mesmo assim, Fernanda aponta alguns itens específicos em relação ao aumento da demanda. "As lingeries de modelos mais luxuosos e sensuais, além dos fetiches como chicotes e algemas da parte sadomasoquista tem saído mais depois dessa crise", cita.
Segundo Fernanda, o período da pandemia não foi apenas benéfico no quesito elevação de vendas. A empresa também registrou alta no número de clientes que se tornaram fiéis. "Não posso reclamar, foi um impulso bem legal, pois tenho tido clientes e seguidores novos. Os antigos se mantiveram fiéis e estão acompanhando as novidades que a loja traz", completa.
Outra empresa que se destaca no segmento e-commerce do mercado erótico e sentiu os impactos positivos do isolamento social é a Dona Coelha. Em atividade há cerca de nove anos, o sex shop registrou números elevados desde o início da pandemia, como conta o sócio-proprietário Renan de Paula, 33 anos. "As vendas subiram 475% e algumas categorias de produto do site tiveram aumento de 1568%", afirma.
Segundo o comerciante, a loja virtual espelhou-se nos moldes do setor em países da Europa e Ásia, que também constataram elevação nas transações desde o início da pandemia. "Acompanhando as notícias internacionais do setor, nos preparamos para um aumento da demanda e desenvolvemos novos procedimentos de higiene para cuidar da saúde da nossa equipe e dos clientes", acrescenta.
Ainda de acordo com De Paula, a subida nas vendas trouxe efeitos rentáveis, mas um dos pontos mais importantes está na possibilidade de fortalecer uma das características mais marcantes da empresa: a diversidade de produtos. "Motivou algumas ações para que pudéssemos absorver a demanda e a principal delas foi ampliar o nosso estoque", aponta. Segundo ele, os sex toys mais vendidos pela Dona Coelha são o sugador clitoriano, os vibradores (Bullet, Rabbit e para casal) e cosméticos, como os lubrificantes.
Palavra da especialista
Segundo a psicóloga e psicoterapeuta sexual Carla Cecarello, o tempo de permanência em isolamento social pode servir para que as pessoas inovem em suas relações sexuais. De acordo com ela, a menor preocupação com a falta de tempo e a atenção que o casal tem dado às novidades podem justificar o aumento do acesso aos sex shop. "Os produtos do mercado erótico podem trazer inovação para o casal se aventurar e experimentar novas práticas no momento em que haja um pouco mais de tempo ou disponibilidade emocional para poder conhecer o novo", considera.
Ainda segundo a especialista, mesmo com os tabus e o preconceito que ainda ronda a sexualidade, nos tempos atuais as pessoas estão mais propensas a buscar o prazer. Assim, os brinquedos eroticos são facilitadores. "Hoje, a gente sabe que as pessoas buscam práticas diferentes e novas para sair da mesmice que o próprio cotidiano promove, e faz com que as pessoas muitas vezes não tenham criatividade no relacionamento", diz. Mesmo recomendando a utilização das novidades do mercado, a sexóloga alerta para os cuidados no ato da compra. "É importante saber onde e o que vai comprar, verificar se o produto tem as licenças da Anvisa, se foi testado pela dermatologia e ginecologia para não trazer irritação para a mucosa vaginal", ensina.
De acordo com Carla, quem não teve experiência ou não costuma praticar masturbação com itens como vibradores, também precisa ter atenção na hora de usar o mecanismo. "Ele vai oferecer um prazer incrível porque o ritmo é constante, a pressão é constante, então para quem nunca utilizou, deve tomar cuidado com a frequência que utilizará para não ficar preso a esse tipo de brinquedo", finaliza.