Tópicos | engorda da praia

Governador, ministro e prefeito estiveram visitando a obra de engorda da praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana do Recife, neste final de semana. Sem dúvida uma grande obra, que beneficiará setores de todas as classes sociais, numa clara demonstração do que pode ser feito de útil com o dinheiro público. No entanto, debaixo de todo volume que deixará mais extensa a faixa de areia, onde o mar já havia chegado, está esquecido um pedaço da história do Brasil. Os outros pedaços da Igreja de Nossa Senhora das Candeias – ou Candelária – foram retirados sem nenhuma cerimônia e estão jogados à sorte.

Um distinto cidadão sertanejo, José Sales, nascido em Petrolândia, e morador de Candeias desde 1980, resolveu arregaçar as mangas e lutar pelo resgate da história adormecida. Há dois anos e meio, ele procurou a prefeitura de Jaboatão para contar-lhes que embaixo das máquinas, que invadiriam sua praia, estava uma igreja, de mais de 300 anos, cujas pedras já haviam se misturado a outras, quando o mar começou a “incomodar” e alguns fizeram muralhas para impedir seu avanço.

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Quase que desconhecida por historiadores pernambucanos e sem registros oficiais nos documentos da Arquidiocese de Olinda e Recife - a Cúria Metropolitana - a Igreja de Nossa Senhora das Candeias era supostamente uma das primeiras igrejas de Pernambuco e do Brasil. “Ela era virada para Portugal e servia de referência para os barcos. Há indícios de que havia também um cemitério, inclusive, com a separação entre brancos e escravos, como era comum na época”, conta Sales.

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A tese do missionário da Igreja Católica, como Sales se intitula, é plenamente possível, de acordo com o historiador Severino Vicente, da UFPE. “Nem todas as igrejas eram viradas para Portugal ou serviam de farol, mas é possível que neste caso possa ter acontecido, afinal uma construção na beira do mar favorecia aos que procuravam uma referência”, explica ele, que confirma a existência da candelária. “Sem dúvida a Igreja existia”, afirma.

A idade da Igreja não pode ser comprovada ainda, já que não houve nenhum estudo arqueológico, mas mapas da costa brasileira feitos por holandeses entre 1643 e 1649 – publicados no livro Atlas da Costa do Brasil (2011) - já apontavam a existência da Candelária.

Quando as escavadeiras começaram o trabalho de retirada das pedras para aterrar a parte da praia onde estava a igreja, Sales e alguns amigos resolveram procurar a prefeitura para alertá-los e pedir que essa história fosse investigada, literalmente, a fundo, já que a igreja já estava coberta de água há quase 100 anos. “Depois de muito insistir com a prefeitura e com a ajuda de algumas pessoas influentes conseguimos que pelos menos as pedras fossem separadas das comuns”, relata Sales.

O LeiaJá foi até a praia de Candeias para registrar o atual estado dos pedaços que compunham a histórica construção. Jogadas em uma rua ao lado do condomínio onde o próprio governador passa alguns dias de férias ou “bem cuidadas” dentro do mesmo condomínio, na porta de um bar e em frente à atual igreja de Nossa Senhora das Candeias, em reforma, as pedras, que poderiam estar em um museu, são tratadas como outras quaisquer e “clamam” por reconhecimento.

Procurado pela reportagem, o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em Pernambuco, Frederico Farias Neves Almeida, confirmou ter recebido no início deste mês uma solicitação e prometeu averiguar a situação, mas sem dar prazos. Almeida disse ainda que a responsabilidade pela autorização da obra cabia à Marinha, já que a igreja estava embaixo d’água. A assessoria da Marinha se comprometeu a fazer uma análise do caso e enviar a resposta ao LeiaJá posterioremente.

 A secretária de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade da Prefeitura de Jaboatão, Fátima Lacerda, disse à reportagem que "as pedras haviam sido retiradas por alguns interessados e colocadas em algum lugar", que ela não recordava no momento da entrevista. Ela afirmou ainda que dentro de alguns meses, após a conclusão da obra de engorda da praia, no projeto de urbanização, será feito um marco para lembrar a existência da Igreja. A secretária também afirmou que o IPHAN foi avisado sobre a descoberta das pedras e "achou que não era preciso fazer nenhum estudo na área".

Confira o relato de José Sales sobre a descoberta:

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Com colaboração de Felipe Mendes e Wagner Cesario 

Devido a obra de engorda da praia de Jaboatão dos Guararapes a prefeitura do município deu início neste final de semana a reestruturação do comercio da orla para notificar os ambulantes quanto às novas regras do serviço oferecido no local.  Uma nova cartilha que está sendo distribuídos para cerca 300 vendedores explica, entre outras regras, qual a quantidade de mesas e cadeiras podem ser colocadas na praia.

A partir de agora, serão permitidas 20 mesas, 80 cadeiras, 10 mesas pequenas e 20 espreguiçadeiras por estabelecimento. A cartilha ainda informa as regras de higiene que regulam a manipulação e cozimento de alimentos nas vendas e a utilização de descartáveis em locais que não contém água corrente, e proibição de uso e venda de gelo e bebidas caseiras, como batidas e água em saco plástico.

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Segundo o secretário Executivo de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Luís Carlos Matos, o intuito principal é orientar os comerciantes. “Começamos as notificações com as novas regras, e a partir daí vamos dividir a praia em quatro lotes distribuindo-os uniformemente ao longo da faixa de areia. Em seguida, vamos implantar uma fiscalização efetiva para que as recomendações sejam cumpridas”, explicou.

Já de acordo com o secretário de Ordem Pública e Segurança Cidadã, Elmo Freitas, o processo está sendo feito há 40 dias. “Agora estamos entrando na etapa de conscientizar quanto à manipulação de alimentos e à uniformização do número de mesas, o que vai dar mais espaço para que o cidadão utilize a praia”. Segundo ele,  haverá uma capacitação para os trabalhadores, e a prefeitura irá buscar parcerias para padronizá-los.

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