Tópicos | Feminicídios

Vários setores da área de segurança pública concluíram nesta sexta-feira (8) a entrega de contribuições para a diretriz que irá nortear as investigações de mortes de mulheres pela perspectiva de gênero. A norma busca enfatizar que em cada etapa, desde o início da investigação até a sentença final do juri, todos os profissionais envolvidos têm que estar atentos para que pode haver um fator de discriminação por trás daquela morte.

A secretária adjunta de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Aline Yamamoto, diz que o cenário atual mostra um processo carregado de estereótipos envolvendo papéis sociais masculinos e femininos. “[O objetivo] é olhar para toda a morte de mulher buscando esses sinais, que estão presentes nos corpos das mulheres, no histórico delas, buscar olhar isso atentamente para que a resposta seja justa e adequada e que pricipalment não fira a memória da vítima".

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Um dos dispositivos a ser incluído no documento será a orientação para que o perito analise se houve violência sexual e também investigue se há cicatrizes e marcas que mostrem que a vítima sofria violência. No âmbito do julgamento, os envolvidos deverão procurar se há h istórico da mulher no Judiciário que apontem para a tese de feminicídio. É definido feminicídio o assassinato de mulheres motivado por questões de gênero. Consideram-se razões de gênero a violência doméstica e familiar, a violência sexual, a desfiguração ou mutilação da vítima e o emprego de tortura ou qualquer meio cruel e degradante. A Lei do Feminicídio foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no dia 9 de março.

Para a representante da ONU Mulher e coordenadora do projeto, Wania Pasinato, o resultado esperado da diretriz é que o todos os envolvidos já peguem o caso tendo a perspectiva de gênero. “O objetivo é que o policial já vá para a cena do crime com essa pergunta na cabeça desde o primeiro momento: será que essa mulher foi assassinada porque era mulher?”

Wania explica que o documento sugere que esses elementos indicando a razão de gênero podem ser evidenciados nos locais do corpo onde a mulher sofreu os ferimentos, no tipo de ferimento que foi provocado, em elementos que podem ser encontrados na cena do crime e também indica que a investigação não fique apenas no local do crime, mas no histórico da relação da mulher com o agressor.

“O grande problema que enfrentamos dentro no sistema de justiça criminal é esse olhar extremamente preconceituoso com relação à mulher, de responsabilizar a vítima pela violência que ela sofreu. O documento vem virará essa lente”, disse Wania.

O documento brasileiro, que deve ser finalizado ainda no primeiro semestre de 2015, é baseado em uma diretriz latino americana. Desde o ontem (7) a Oficina para Validação do Documento de Diretrizes recebeu contribuições das áreas interessadas, como integrantes do Ministério Público, magistrados, defensores, peritos, para a elaboração destas diretrizes. Quando concluído ainda haverá um trabalho do governo federal para que os estados as adapte para suas realidades.

No Brasil, uma mulher morre a cada uma hora e meia por causas violentas. Por ano, o número é de 5.664 óbitos decorrentes de crimes que são geralmente cometidos por homens, principalmente parceiros ou ex-parceiros. Segundo uma análise feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que avaliou o impacto da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) sobre a mortalidade de mulheres por agressões, não houve redução das taxas anuais de mortalidade, comparando-se os períodos antes e depois da validade do regulamento.

Os principais fatores provêm de situações de abusos no domicílio, ameaças ou intimidação e violência sexual. No período de 2001-2006 (momento anterior à criação da lei), a taxa de mortalidade era de 5,28 por 100 mil mulheres. De 2007 até 2011, houve um pequeno decréscimo da taxa – que era de 5,22 -, logo após a instituição da norma, e nos últimos anos, os valores voltaram aos registrados no início da pesquisa.







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Estima-se que ocorreram 16.993 feminicídios - assassinato intencional de uma mulher - resultando em uma taxa de mortalidade anual de 5,82 óbitos por 100.000 mulheres. A região com o maior índice é o Nordeste, com 6,90, seguido pelo Centro-Oeste com 6,86; Norte com 6,42; Sudeste com 5,14 e Sul com 5,08. 

O estado com maior número de óbitos é o Espírito Santo, com 11,24 por 100 mil. Em segundo lugar ficou a Bahia, com 9,08, na sequencia do ranking está Alagoas (8,84), Roraima (8,51) e Pernambuco (7,81). As taxas mais baixas foram observadas nos estados do São Paulo (3,74), Santa Catarina (3,28) e Piauí (2,71). 

Visando reduzir os índices, o Governo do Estado de Pernambuco lançou o programa ‘Justiça para mulheres: Agora e Sempre’, que envolve a criação de casas-abrigo, delegacias, centros de referências especializados e varas de violência doméstica e familiar à mulher.

Os resultados apontaram também que 31% das mulheres estavam na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% de 30 a 39 anos. Mais da metade dos óbitos (54%) foram de mulheres de 20 a 39 anos. Outro dado alarmante é de que 61% das mortes foram de mulheres negras, que foram as principais vítimas em todas as regiões, à exceção da Sul. As regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste tiveram 87%, 83% e 68% respectivamente.

50% dos feminicídios envolveram o uso de armas de fogo e 34%, de instrumento perfurante, cortante ou contundente. 6% dos óbitos decorreram de enforcamento ou sufocação. Maus tratos – incluindo agressão por meio de força corporal, força física, violência sexual, negligência, abandono e outras síndromes de maus tratos (abuso sexual, crueldade mental e tortura) – foram registrados em 3% dos óbitos. Quanto ao local dos crimes, 29% dos feminicídios ocorreram no domicílio, 31% em via pública e 25% em hospital ou outro estabelecimento de saúde.

Entretanto, o estudo realizado investigou apenas os óbitos. A Lei de violência contra a mulher compreende uma ampla gama de atos, desde a agressão verbal e outras formas de abuso emocional, até a violência física ou sexual. No Brasil, não existem estimativas nacionais sobre a proporção de mulheres que são assassinadas por parceiros.

A pesquisa considerou a totalidade dos óbitos de mulheres por agressões como indicador aproximado do número de feminicídios. Essas informações estão disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Contudo, o cálculo das taxas de mortalidade diretamente a partir dos dados do sistema é insuficiente. A cobertura do SIM para o Brasil foi estimada em 93%, ou seja, 7% do total dos óbitos ocorridos não estão registrados no sistema.

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