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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão, divulgada na segunda-feira (12), aponta dados referentes à violência sexual contra brasileiras. O levantamento expressa, entre os dados coletados, um número equivalente a 39% de vítimas desse tipo de crime. Isso equivale a uma estimativa de 30 milhões de mulheres atingidas. 

Ao todo, para a pesquisa de nome “Violência Sexual – Percepções e comportamentos sobre violência sexual no Brasil", foram entrevistadas mil mulheres, maiores de idade, em 70 municípios das cinco regiões brasileiras. O levantamento foi feito entre os dias 6 e 19 de julho de 2016.

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Sobre as opiniões apresentadas nas entrevistas, as contradições se fizeram presentes. O ensinamento de que homem deve respeitar a mulher faz parte do discurso de 96%. Já 69% delas ligam esse tipo de violência ao machismo. Enquanto isso, 42% dos homens apontam que as mulheres são as provocadoras da violência.    

Outros aspectos foram levantados entre os pontos discutidos. Ao todo, 67% dos entrevistados, de ambos os sexos, relacionam a violência porque o homem 'não consegue controlar seus impulsos'. Outros 58% explicam violência pelo uso, por parte do homem, de bebida alcoólica e drogas. Já 32% apontam problemas mentais do agressor como sendo o aspecto motivador. 

Quase todos os entrevistados mostraram o crescimento da percepção do que é violência sexual - sexo sem consentimento sempre é estupro -, e o mesmo percentual (97%) conclui que sob qualquer hipótese o ato sem consentimento é considerado estupro. 

Entre outras questões abordadas na pesquisa estão o uso de preservativos, divulgação de fotos e vídeos íntimos, papel da mídia na conscientização de homens e mulheres, além do aumento no reconhecimento de práticas machistas por parte dos homens.

A Universidade Guarulhos recebeu hoje uma palestra seguida de debate que abordou o tema violência doméstica. Quem iniciou o evento foi Maria Helena Gonçalves, responsável pela Coordenadoria de Políticas para as Mulheres da cidade de Guarulhos, que discursou para os presentes falando sobre os trabalhos desenvolvidos pela coordenadoria criada em 2009, após a desvinculação da Coordenadoria de Igualdade Racial.

Maria Helena Destacou também o papel das associações Casa das Rosas, Margaridas e Beths e a Casa da Mulher Clara Maria: a primeira desenvolvendo o papel de luta direta pela defesa e por ampliação dos direitos das mulheres na busca por equidade de gêneros, e a segunda atuando para defender a posição da mulher na sociedade através de programas sociais de educação e profissionalização.

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A coordenadora declarou que as secretarias de segurança não têm programas de acompanhamento de estatísticas para elaboração de relatórios precisos sobre a violência contra a mulher: “173 mulheres foram assassinadas entre 2012 e 2013, mas suspeito que esse número seja maior, porque a SSP (Secretaria de Segurança Pública) não faz medições periódicas, então não tem como saber se aumentou ou diminuiu”, explica.

A segunda palestrante foi a jornalista Débora Prado, do Instituto Patrícia Galvão, que falou sobre o lugar da mulher na sociedade e sobre a visão da sociedade sobre o papel que ela desenvolve. A profissional exibiu dados reunidos pela agência de notícias que pertence ao instituto, que mostram que ocorrem cinco espancamentos de mulheres a cada cinco minutos no país, e que a cada 11 minutos ocorre um estupro.

A jornalista explicou como funciona o portal do instituto, onde há um dossiê disponível para consulta. Débora Prado falou das agressões que sofre a população LGBT e também do que ocorre com as mulheres negras: “O racismo tem um papel fundamental na violência contra a mulher. Temos que entender porque depois da criação da Lei Maria da Penha o número de ocorrências de violência cresceu no grupo das mulheres negras enquanto sofreu queda no de mulheres brancas”.

Após as falas, foram abertos os microfones para a participação e manifestações dos espectadores presentes, entre eles, líderes comunitários e representantes de grupos e ONG´s de defesa dos direitos das mulheres, além de profissionais da própria coordenadoria de políticas para as mulheres.

Leia também: Lei Maria da Penha completa dez anos

A diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, fez duras críticas a rejeição da reserva de cadeiras para mulheres nos legislativos federal, estaduais e municipais. “É a mais completa tradução de que deputados operam em causa própria, é uma maioria masculina que não tem condições políticas e éticas para reestruturar o sistema politico brasileiro”. Formada em filosofia política, ela destaca que a proposta das cotas apresentada no plenário da Câmara durante a votação da reforma política, nesta semana, não produziria mudanças bruscas mas poderia aumentar gradualmente a representatividade de gênero.

“Estava em debate algo minimalista, mas da maior importância”, avaliou a filósofa ao citar exemplos como o da Bahia, que tem 39 deputados federais dos quais apenas três são mulheres. “Teríamos na Bahia pelo menos mais uma mulher. Temos hoje cinco estados que não têm qualquer representação parlamentar feminina [Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba e Sergipe]. Com esse mecanismo que eu não chamo de cota teríamos alguma representação que é democrática e legítima”, acrescentou Jacira.

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A proposta, que recebeu 293 votos favoráveis – eram necessários 308 – ficou fora do texto da reforma política. Ela reservava 10% das cadeiras na primeira legislatura, passando para 12% na segunda, até chegar a 15%, em 2027. Além do resultado da votação, Jacira Melo lamentou a postura de parlamentares diante da emenda que, segundo ela, revelaram a cultura machista no Parlamento.

“Entre os defensores da regra, um deputado chegou a dizer que era a favor das cotas porque o plenário ficaria mais bonito. Outro disse ser a favor para dar um voto de confiança às mulheres”, criticou Jacira. Mais de 100 deputados votaram contra o mecanismo, entre eles, o deputado delegado Edson Moreira (PTN-MG) que afirmou que “não é justo é que uma minoria, pequena e de pouco trabalho, conquiste uma cadeira que não é fácil".

Autora de tese sobre a representatividade feminina no Poder, Luciana Ramos, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que existem três tipos de cotas políticas no mundo – reserva de assentos mínimos, cotas partidárias voluntárias e cotas legislativas – que impõem a todos os partidos um percentual mínimo de candidatas. “No Brasil temos as cotas legislativas, mas isso não é cumprido por uma série de razões, especialmente pelo fato de não ter sanção para o descumprimento dessa lei”, avaliou.

Luciana disse que não se surpreendeu com a rejeição da medida por um Congresso “conservador” como o atual. Alertou que a composição legislativa de hoje produz impactos diretos na formulação de leis e políticas. “As mulheres representam 51% da população brasileira, mas elas não fazem as leis que regem essa sociedade composta pela maioria de mulheres. É uma discrepância enorme ter menos de 10% de mulheres na Câmara, por exemplo”.

Para a pesquisadora, a diversidade de visões é fundamental em espaços de poder. “A inserção de mulheres faz toda diferença. Enquanto um homem decide onde vai passar uma linha de ônibus, ele pensa que tem que ir da casa ao trabalho. Na perspectiva da mulher, esse ônibus precisa passar na casa, na escola do filho, no mercado e no trabalho, por exemplo”.

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