A formatura do dia 9 de julho do curso de psicologia entrou para a história da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pela primeira vez, a instituição concedeu láurea a uma estudante transgênero. Aos 29 anos, a recém-formada Verônica Valente recebeu o reconhecimento com emoção.
“É muito importante para mim pela representatividade, para ser um espelho para outras pessoas trans e mostrar que, além de estarmos em uma universidade federal, também podemos ser destaque”, afirma Verônica, que obteve média geral de 9,4 durante a graduação.
##RECOMENDA##Natural de Orobó, no interior de Pernambuco, ela morou na Casa do Estudante Mista durante todo o curso. “A UFPE foi meu quintal”, conta. De acordo com Verônica, a vida acadêmica abriu muitas portas, mas também a obrigou a encarar situações de preconceito no campus. “Apesar de a UFPE contar com uma Política LGBT, o preconceito é estrutural”, coloca ela, que também é técnica em enfermagem.
Vale lembrar que quando Verônica entrou na UFPE, no ano de 2015, em que surgiu a Diretoria LGBT, ainda não existia a portaria que regulamenta a política de utilização do nome social para pessoas que se autodenominam travestis, transexuais, transgêneros e intersexuais, aprovada apenas em 2016. Assim, a recém-formada conta que pediu aos professores para ser chamada de Verônica, mas um deles se recusou. Na aula seguinte, todos os alunos da turma usaram roupas femininas e as alunas, roupas masculinas, em protesto contra o docente. “Naquela hora, soube que estava, sim, no lugar certo”, comenta.
A transfobia também acompanhou Verônica nos estágios curriculares. “O processo foi bem sofrido. A láurea é simbólica e serve para mostrar a outras pessoas que é possível”, destaca Verônica, que se sente à vontade identificando-se tanto como “mulher trans” quanto como “travesti”. “Durante muito tempo ser mulher trans foi um lugar de marginalidade, tanto que muitas ainda acham que o espaço acadêmico não é para elas. Travesti para mim é orgulho”, frisa.
A professora Umbelina do Rego Leite, coordenadora do bacharelado em psicologia, ressalta que a conquista de Verônica pode encorajar outras pessoas transgênero a buscarem ingressar no ensino superior. “Há um ataque muito forte contra as minorias atualmente e é preciso naturalizar que as pessoas trans podem estar onde quiserem”, ressalta.
Já diretora da Diretoria LGBT da UFPE, Geovana Borges, acredita que conquista é um marco para quem lida com as políticas afirmativas e luta pela permanência da população trans nas universidades, que, por vezes, abandonam os estudos quando se deparam com a transfobia nesses espaços.“Recebi a notícia com muita felicidade, pois é uma motivação para continuar nosso trabalho”, comemora.
Com informações da UFPE