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Cada vez mais é comum exigências específicas no mercado de trabalho. Para conseguir uma boa vaga de emprego e, consequentemente, sucesso profissional, é importante estar por dentro do mundo tecnológico. Muitas escolas estão começando a incluir, em seus currículos escolares, aulas de programação e robótica. Pedagogos preveem que uma nova pedagogia pode estar surgindo.

Nesta quinta-feira (24), véspera de Natal, o Portal LeiaJá traz a última matéria da série de reportagens sobre pedagogias alternativas. Anteriormente, foram abordados métodos já existentes, como Waldorf, construtivista e Pedagogia do Oprimido. Desta vez, a reportagem vai abordar uma perspectiva futura, de um novo tipo de pedagogia, indicado pelos especialistas consultados. 

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A Austrália, recentemente, tornou as aulas de História e Geografia facultativas de sua grade curricular. No lugar, estão sendo introduzidas disciplinas de programação em computadores. Na Irlanda, por sua vez, um jogo de computador está ganhando espaço como disciplina. Mais de 200 escolas adotarão a versão educativa do game para ensinar.

No Brasil, em Pernambuco, algumas escolas estão aplicando a robótica na grade curricular. Inclusive, a gestão municipal da capital também adota o sistema, por meio do Programa Robótica na Escola. Desde 2014, 73 mil estudantes tiveram acesso ao programa. Também no Recife, a primeira escola de programação e robótica já está com pré-matrículas abertas.

A perspectiva da inclusão de uma nova pedagogia é citada pela pedagoga Bárbara Almeida, da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau. “Com a inclusão de tantas disciplinas relacionadas à computação, e da forma como o mundo tecnológico está caminhando, juntamente com o mercado de trabalho, é possível que uma nova pedagogia possa surgir, a pedagogia da programação”, sugeriu a especialista.

Precauções

Porém, segundo Bárbara Almeida, é importante ter cuidado com a formação de grades curriculares baseadas na tecnologia. “Tudo tem seu lado bom e ruim. Deixar as crianças muito fixas na internet, em meios de programação, computação e robótica pode atrapalhar o desenvolvimento”, explica. “Deixar algo muito prático ao alcance dos pequenos poder ‘fechar’ a mente e a curiosidade em buscar outros meios. Além de afetar a interação com o mundo ao redor”, completa Bárbara.

A pedagoga especialista em inclusão Maria Auxiliadora Diniz explicou que uma nova pedagogia com foco tecnológico pode auxiliar na inclusão, mas que deve ser cuidadosamente avaliada. “As crianças com necessidades especiais podem se beneficiar muito com uma nova pedagogia como essa, porém é necessário que sejam tomadas precauções para que não se confunda os objetivos pedagógicos com recreativos”, finalizou.

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Revolucionário, Paulo Freire é o patrono da Educação no Brasil. Suas ideias inspiraram e inspiram ainda hoje pedagogias de ensino que têm vieses libertadores. Um de seus livros mais conhecidos, chamado Pedagogia do Oprimido, é uma obra que sintetiza todo seu pensamento político educacional. Freire assume a posição idealista de que a educação deveria ser o meio de despertar a consciência crítica dos estudantes, porém observa que o que acontece é que o professor utiliza de seu papel autoritário para oprimir. 

Nesta quarta-feira (23), o Portal LeiaJá dá prosseguimento à série sobre pedagogias alternativas de ensino. A Pedagogia do Oprimido é uma forma de ensino que difere das demais já abordadas por não ser declaradamente adotada em instituições, segundo pedagogos consultados pela nossa reportagem. O que acontece é uma inspiração nos ideais de Freire sobre os métodos educacionais.

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Paulo Freire, que morreu há 18 anos, foi um dos mais influentes educadores do Brasil. Para o pensador, o principal objetivo da educação é levar, às parcelas mais desfavorecidas da sociedade, conscientização. O estudioso afirmou, porém, que o sistema educacional é opressor e o professor não instiga o pensamento crítico, mas sim deposita o conhecimento em um aluno receptível. 

Opressor x oprimido

Segundo Paulo Freire, a condição de opressor coloca o ser humano em um status logicamente elevado na sociedade. Nele, a pessoa que oprime tende a continuar o mesmo patamar de opressão e todo o método de “não pensar”, muito debatido por Freire, é planejado pelos que estão no poder.

Já quem se encontra na situação de oprimido se condiciona naquele ambiente. A pessoa que sofre a opressão não consegue ver-se subjulgada por alguém, já que a forma educacional reforça essa ação. A pedagogia de Freire busca, então, conscientizar o docente para que ele se torne um instigador de pensamentos e não um opressor.

Especialistas

A pedagoga Maria Auxiliadora Diniz, professora da Faculdade Franssinetti do Recife (Fafire), explicou que a pedagogia de Paulo Freire é um sinônimo de revolução, mas que não existe método perfeito. “Cada criança, cada família, se adéqua a um modo de pedagogia. O que Paulo Freire diz é muito importante e deve ser aplica, porém não são todos os que vão se adequar”, explica.

Já a pedagoga da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau, Bárbara Almeida, explica que tal fundamentação pedagógica é uma forma de libertar o aluno. “O que Freire prega é uma forma em que o opressor vai sair de sua condição de opressão e vai para o mundo do oprimido”, afirma.

Bárbara Almeida também exemplifica isso em sala. “Com esse tipo de pedagogia, uma criança que é introvertida, sai do processo de exclusão e volta seu pensamento para a sociedade. O professor também tem papel fundamental nisso, quando instiga o conhecimento aos alunos, não apenas os ensina de forma unilateral”, disse.

A especialista também diz que tal tática trabalha mais que o pensamento, como também os âmbitos motores e sociais. “Quando uma criança sai da condição de oprimida, ela também apresenta desenvoltura corporal, como também reduz sua timidez, entre outros tipos de benefícios”, conta Bárbara. 

Esse tipo de pedagogia se assemelha a outros exemplos, como os métodos Waldorf e Construtivista. Neles, a criança aprende com vivências do dia a dia. A Pedagogia do Oprimido também explora essa função. “A criança passa a ver o mundo e o que ela aprende como uma coisa conjunta. O que ela vê em sala de aula faz sentido, justamente porque o que o professor trabalha não é uma fórmula pronta, mas de acordo com o dia a dia de cada um”, complementa a pedagoga Bárbara Almeida.

Tal pedagogia é aplicada nas instituições de ensino, segundo Bárbara. “De certa forma [a Pedagogia do Oprimido] é utilizada, embora pouco. Estamos vendo uma mudança cada vez mais crescente e significativa nesse método de ensino tradicional”, finaliza.

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Em qual escola você deve matricular uma criança? Como será que ela vai se adaptar à instituição? Essas são duas das muitas perguntas feitas pelos pais e responsáveis pelos pequenos que estão na idade escolar. O ano letivo de 2015 já está praticamente encerrado e a preocupação com o ano seguinte começa a surgir.

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Devido à pressa do cotidiano, dificuldade de mobilidade e comodismo, muitos responsáveis matriculam as crianças em instituições que ficam próximas às residências. Poucos ainda são aqueles que levam em consideração o tipo de pedagogia, ou ainda mesmo são cientes dos diferentes métodos de ensino propostos pelas escolas. O Portal LeiaJá traz, a partir desta segunda-feira (21), uma série de reportagens que explicam algumas das pedagogias educacionais que fogem da linha tradicional. A primeira matéria trata da Pedagogia Waldorf, mundialmente conhecida e que, segundo a Federação das Escolas Waldorf no Brasil, já soma 67 instituições afiliadas. De acordo com a Sociedade Antroposófica no Brasil, são mais de mil espalhadas pelo mundo.

O método pedagógico Waldorf foi criado em 1919 pelo alemão Rudolf Steiner. Inicialmente era uma pedagogia exclusiva para filhos dos trabalhadores da fábrica de cigarros Waldorf-Astória, por isso o nome. O método revolucionário ainda é aplicado em diversas instituições em todo mundo.

Uma das principais características da Pedagogia Waldorf é sua forma de encarar o ser humano. Diferentemente das mais tradicionais escolas, em uma instituição em que é aplicado tal método, os alunos são vistos unitariamente e com suas características e fases de desenvolvimento específicas. Ou seja, crianças de idades diferentes podem estar em uma mesma turma e aprendendo o mesmo conteúdo. 

O desenvolver do ser humano pleno é uma preocupação da Pedagogia Waldorf. A aprendizagem é desenvolvida pelos professores como um método prazeroso e não competitivo. As disciplinas são vistas mais de uma vez, cada momento com um aprofundamento diferenciado.

Pedagogias alternativas ainda não apresentam tanta visibilidade e poucas são as pessoas que conhecem ou cogitam matricular as crianças em uma escola como a Waldorf. A pedagoga Bárbara Almeida, da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau, explicou que o método tem o benefício liberatório, em comparação às pedagogias tradicionais. “É uma pedagogia libertadora. É importante que a criança seja educada e criada de uma maneira parecida com o que a escola prega”, explicou.

A professora da Faculdade Franssinetti do Recife (Fafire), Maria Auxiliadora Diniz, explanou que cada pedagogia depende de cada criança. “Não há um método perfeito. Há a criança que se adapta à pedagogia, não a pedagogia ideal para todas [crianças]. É necessária uma investigação profunda do filho ou filha a fim de saber em qual se encaixaria melhor”, disse.

Escola Waldorf Recife

No número 166 da Rua Regueira Costa, no bairro do Rosarinho, Zona Norte da capital pernambucana, está a Escola Waldorf Recife. Cerca de 130 crianças estudam na instituição, que afirma seguir fielmente o método criado por Rudolf Steiner. A fachada preserva um ar de residência e toda escola apresenta móveis, objetos e ambiente com cores em tons terrosos e rústicos, que oferece que acolhimento diferente do que se sente em outras instituições de ensino. Logo no hall de entrada, é possível observar, no canto da parede, uma espécie de mural composto por desenhos, colagens, artes e produções em barro feitas, segundo a direção do colégio, por ex-alunos que ainda frequentam a escola. 

Mais adentro estão as salas. Todas possuem uma pia, uma geladeira e um fogão, onde as refeições podem ser preparadas (os lanches são coletivos). Em algumas séries, as bancas, de madeira, obedecem a regra que se vê em outras instituições: cadeiras enfileiradas em frente a um quadro de giz. O quadro, com sistema de “abre e fecha”, é desenhado pelo professor ou professora que leciona, o que demonstra vários dons artísticos nas obras de artes delicadas observadas nas lousas. 

Na hora do intervalo, as crianças brincam livremente pelo pátio e no parque. Pendurados nos brinquedos, não se escuta algum adulto reprimindo a diversão por medo de queda. “A criança aprende com o corpo”, comentou a mãe de duas alunas e membro do conselho de pais da Escola Waldorf Recife, Maria da Conceição Inácio. Outro ponto característico e interessante é a presença ativa dos pais no funcionamento da instituição, por eles chamada de gestão compartilhada. Reuniões quinzenais são realizadas pelo conselho para que as medidas de administração da escola sejam tomadas. “Mensalmente há reuniões dos professores com os pais para que todos os encaminhamentos sobre os alunos sejam dados”, explicou outra mãe membro do conselho, Delma Silva.

Na Waldorf, os alunos não são submetidos aos exames no estilo tradicional. Não há provas e nem notas, mas sim exercícios e pontos participativos. Celulares, tablets, computadores e demais aparelhos tecnológicos também não são permitidos nas escola. Bonecos de pano, brinquedos de madeira, de material reciclado, playground, areia, tudo vira diversão na imaginação dos pequenos. 

“Eles podem ter um pedaço de pau, e aquele pedaço de pau vira qualquer coisa na cabeça deles”, disse Maria Inácio. “Um dia desses eu estava dando carona para um amiguinho dela (filha), no carro, e eles estavam falando uma linguagem de sons e eles diziam que era a linguagem do tatu-bola. E era muito engraçado porque eles estavam conversando e aí faziam uma tradução depois”, complementou, entre risos. 

Todo o trabalho corporal e intelectual das crianças obedece a um plano pedagógico. As áreas vistas pelas crianças na Escola Waldorf Recife são as seguintes: Geografia; Astronomia; Minerologia; Botânica, Produção Agroflorestal e Horticultura; Física; Química; Matemática; Geometria; Língua Materna/Português; Línguas Estrangeiras; História; Desenho e Pintura; Trabalhos Manuais; Marcenaria e Entalhamento; Música; Educação Física; Euritmia; e Desenho de Formas. “Os alunos também aprendem as profissões originárias e essenciais para a construção da sociedade como conhecemos”, explicou Maria Inácio. Pedreiro e agricultor são alguns exemplos de profissões essenciais, segundo a pedagogia.

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Para que os filhos estudem na Escola Waldorf Recife, os pais precisarão desembolsar R$ 870 mensais para crianças na educação infantil, e R$ 980 para o ensino fundamental. Porém, a escola também oferece bolsas para os pais que estão com dificuldade no pagamento. “É importante que os responsáveis saibam que a escola precisa de manutenção. Porém, os pais que estiverem em condições financeiras difíceis, podem pedir uma bolsa temporária”, afirmou Maria Inácio. 

Integração com a família 

A presença familiar na escola é tão forte que o professor ou professora (que trabalham em dedicação exclusiva) das crianças tem contato intenso com a família. “A professor almoça na casa da criança, conhece o ambiente, o quarto. Não é para averiguar se está certo ou errado, mas para conhecer a rotina daquele menino ou menina”, explicou Maria Inácio.  “É como se fossem vários irmãos. Não há nada de ninguém, tudo é de todo mundo”, complementou Delma Silva. A alimentação é integral e compartilhada pelas crianças. Eles mesmos preparam alimentos, como pães e biscoitos. 

Toda a metodologia da Escola Waldorf funciona sob uma tutoria. A cada seis meses, dois tutores da Federação comparecem à instituição para avaliação. Se o método de ensino é aprovado, a Waldorf continua formar e instigar os pensamentos de pequenos e pequenas que brincam, aprendem e vivem plenamente sob uma pedagogia.

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