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“Recifense é bairrista”, afirmam logo os que vêm de fora. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU, encomendado pelo LeiaJá em parceria com o Jornal do Commercio, aponta que a maioria dos nascidos na capital pernambucana tem, de fato, paixão pelo local onde vivem. Moradores de comunidades periféricas do Recife foram ouvidos pelo instituto e pelo LeiaJá, revelando que não há obstáculos que os impeçam de sentir amor pelo bairro.

A história de Erenildo Antenor da Silva é o que mantém o amor do comerciante de 50 anos pelo bairro. “Eu conheci minha esposa na feira de Casa Amarela. Ela estava passando e eu na minha barraca, a gente começou a conversar. Na hora que eu olhei nos olhos dela já me apaixonei; dois meses depois a gente foi morar junto”. 

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Nildo, como prefere ser chamado, tem um box no Mercado de Casa Amarela onde leva o negócio da família. Ele não hesita em afirmar que não trocaria por nenhum outro lugar. “Pode me dar um apartamento em Boa Viagem de graça, eu não quero ir para lá. Eu gosto daqui, eu amo Casa Amarela”.

Nildo conta que não trocaria o bairro por nenhum outro, por melhor que possa parecer (Foto: Brenda Alcântara/LeiaJáImagens)

A pesquisa revela que os entrevistados mais jovens não têm intenção de morar em outro bairro. A comerciante Lindinalva Carvalho, de 72, por sua vez acredita que a vontade de morar no mesmo lugar para sempre independe de faixa etária. “Eu só troco Casa Amarela por Jesus”, diz a idosa, nascida e criada no bairro da Zona Norte, onde atualmente mora com dois netos. 

Ela diz que considera um lugar bom por toda história que passou lá. “Eu já moro desde que nasci, conheço muita gente. Não tenho vontade de sair daqui para outro canto não”. Ela conta que a família, toda “natural do bairro de Casa Amarela”, vive no Rio de Janeiro e São Paulo, mas Dona Lindinalva não aceitaria trocar seu bairro por lugar nenhum no mundo. 

Em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, vive Luciene Francisca da Silva, de 50 anos, com a filha Patrícia da Silva, de 30, e o neto de dois anos. Ao falar do seu bairro e das redondezas, ela lembra logo das festas. “Época de festa sempre tem atividade. Carnaval e São João eu sempre saio na rua para dar uma olhada em como é, e tudo isso coisa do bairro”, conta. Luciene fala, ainda, sobre os barzinhos da redondeza. “Quando tenho um tempinho livre, me junto com as minhas amigas que moram por aqui e a gente vai para um barzinho”, diz. 

Luciente, que mora com a filha Patrícia em Nova Descoberta, lembra do convívio com as amigas no bairro (Foto: Brenda Alcântara/LeiaJáImagens)

Segundo o cientista político e coordenador da pesquisa, Adriano Oliveira, esse sentimento compartilhado por tantos recifenses está ligado à confiança e história naquele lugar. “Por ‘terem sido criados lá’ ou por ‘viverem por muito tempo’ faz com que tenham confiança no local onde vivem”, ele explica. Para Oliveira, as pessoas se sentem à vontade vivendo no lugar onde possuem raízes. 

A pesquisa revela, ainda, que as disputas existentes entre bairros se dão por cada pessoa que tem a identidade construída naquele lugar. "Você ser de outro bairro sugere que você é um estranho", esclarece o cientista político. Ele conta que o sentimento de pertencer a determinado local gera uma desconfiança sobre os demais bairros, e nenhum dos entrevistados, principalmente os jovens, admite discriminação de moradores de outros locais. 

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