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Engravidar em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, é saber que só pode contar - na cidade - com uma única maternidade disponível para a população: o Tricentenário. E, como não poderia ser diferente, o espaço já acumula várias denúncias de descasos com as parturientes e seus filhos. 

As últimas violências denunciadas aconteceram com Larissa Ferreira, uma jovem de 20, anos que perdeu o bebê na unidade, e com Ana Paula de Souza, 37 anos, que denuncia lesão corporal sofrida pelo seu filho.

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No dia 8 de novembro, Lunna viria ao mundo para ser a primeira filha de Larissa, que não conseguiu concretizar o seu sonho após a bebê morrer depois de um trabalho de parto de quase três dias. Em boletim de ocorrência registrado no dia 12 de novembro, Larissa denuncia o Hospital Tricentenário de negligência médica e violência obstétrica. 

Na época, Larissa revelou à imprensa local que tinha se preparado para ser mãe. "Eu me preparei por meses para ser a melhor mãe que a minha filha poderia ter. Eu me preparei para amar, para cuidar dela. Ajeitei as coisinhas do quarto dela, eu ainda não consigo entrar no quarto. Eu tive meu sonho de ser mãe frustrado por negligência médica", disse. 

Já Ana Paula revela que o seu filho Ariel, nascido no dia 25 de setembro, sofreu ferimentos na orelha durante o parto. A mãe afirma que o médico usou instrumentos e muita força para tirar a criança, tendo até caído ao tentar puxar o recém-nascido. Na época, em entrevista ao NETV, Ana revelou que, sem receber nenhuma anestesia, o médico colocou o Fórceps para puxar o seu bebê.

Situação da rede materna de Pernambuco é complicada. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

"Fiquei sozinha. Colocaram um remédio e eu estava morrendo de dor. Amanheceu, veio um médico, olhou e começou a colocar dois ferros. Eu gritava de dor. Ele saiu, me levaram para outra sala e fizeram a cesárea. Depois de tudo, mostraram a orelha rasgada do bebê", relembrou a mãe.

No dia 5 de outubro, Ana Paula registrou um boletim de ocorrência e o caso está sendo investigado pela Polícia Civil, assim como a situação denunciada por Larissa. 

"É com muita tranquilidade que a gente aceita essas denúncias. A maternidade em si, é uma coisa maravilhosa porque ela traz a questão do nascimento. Mas, como todas as questões relativas à saúde, ela pode trazer algumas complicações. Uma complicação em um momento tão bonito como esse gera um descontentamento que a gente não estava esperando", revela o coordenador do Hospital Tricentenário, Eud Jonhson.

O Conselho Regional de Medicina (Cremepe) afirmou ao LeiaJá que Todas as denúncias que chegam ao Conselho são investigadas e elas correm em sigilo processual para não comprometer a investigação.

Defasagem

Com apenas uma maternidade funcionando, a situação de Olinda ainda é “melhor” do que de outras cidades da Região Metropolitana do Recife, mas as demandas desses municípios acabam caindo no ‘colo’ do Tricentenário. 

Em um levantamento feito pelo LeiaJá em meados de 2019, das 15 cidades do Grande Recife, oito não têm nenhuma maternidade funcionando. 

Foto: Arthur Souza/LeiaJá Imagens

Por conta dessa defasagem, a única maternidade de Olinda chega a atender mais mulheres vindas de fora do município, do que as próprias olindenses. Segundo informado pela assessoria do Tricentenário, por mês são realizados em média 200 partos na unidade, sendo Paulista e Igarassu as cidades que mais demandam serviços da maternidade.

Do dia 20 de outubro até o dia 10 de dezembro, 222 partos foram realizados na maternidade do Tricentenário, mas só 90 deles foram de mulheres que residiam em Olinda. Ou seja, 132 crianças conheceram primeiro a cidade que não é a sua residência. 61 são de Paulista, 29 de Igarassu, 20 de Abreu e lima, oito de Itamaracá, cinco do Recife, quatro de Goiana, dois de Itapissuma, Camaragibe, Condado e até João Pessoa demandaram um parto sendo realizado no Tricentenário.

O coordenador da unidade de saúde explica que o Hospital do Tricentenário é regulado pela Central de Leitos do Governo de Pernambuco para atender gestantes vindas de outras cidades. Além disso, a unidade não pode recusar uma mulher que procure o espaço de saúde, independente do município onde ela resida. 

Eud revela que o custo financeiro para manter uma maternidade é muito alto. Para se ter uma idéia, uma unidade de clínica médica para funcionar precisa, basicamente, de um médico clínico plantonista e um médico clínico evolucionista.

No caso da maternidade é preciso de, pelo menos, dois obstetras, um neonatologista, um anestesista, um enfermeiro obstetra por plantão e quatro técnicos de enfermagem, sem contar nos insumos, leitos e o gasto com tudo o que envolve a área.

"A gente precisa entender que muitos municípios, através de financiamento do Sistema Único de Saúde, não comportam custear uma maternidade. Mas isso vale para que a gente faça certas parcerias entre um município com um quantitativo menor no número de gestantes, que se junta com outro município de um quantitativo médio de gestantes", esclarece o coordenador do Hospital Tricentenário.

Está é a imagem do que deveria ser a maternida Maria Rita Barradas, em Jaboatão. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Nas últimas décadas, Pernambuco vem sofrendo com o fechamento de diversas maternidades, em Olinda mesmo, a antiga maternidade Brites de Albuquerque, que estava desativada bem antes da pandemia, hoje está sendo utilizada pelo Governo de Pernambuco para atender os pacientes com Covid-19. 

A Secretaria de Saúde de Olinda afirmou, por meio de nota, que só poderá se posicionar sobre a retomada das atividades após o término da pandemia e, consequentemente, o fechamento definitivo dos leitos disponibilizados no hospital de campanha que funciona na referida unidade de saúde.

"Isso sobrecarrega muitas maternidades, é notório que a gente vê maternidades superlotadas. A gente precisa ter mais maternidades, mas lembre que a gente pode fazer parcerias para que a gente possa organizar a rede materna e assim prestar uma assistência adequada voltada para o bem estar materno e familiar, é isso que a gente propõe", pontua Eud Jonhson.

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