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O governo Bolsonaro deixou R$ 255,2 bilhões em despesas contratadas e não pagas para 2023. Chamados tecnicamente de restos a pagar (RAPs), os valores são transferidos de um ano para outro e se transformam em um "orçamento paralelo", competindo por espaço com os novos gastos.

Como comparação, ao fim do seu segundo mandato o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou R$ 246,8 bilhões (em valores corrigidos a dezembro de 2021) em RAPs para sua sucessora, Dilma Rousseff. Já o presidente Michel Temer deixou R$ 189,6 bilhões que, com a correção pela inflação, resultam em R$ 227,4 bilhões.

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O Tesouro Nacional informou ao Estadão que já bloqueou R$ 33,7 bilhões de RAPs deixados pelo governo Bolsonaro depois que decreto do governo Lula determinou que os ministérios e órgãos públicos façam uma avaliação da necessidade de se manter ou não os contratos. O decreto faz parte do conjunto de medidas de ajuste de fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há duas semanas.

O Tesouro informou ainda que um alerta será disparado na próxima semana pelos ministérios da Fazenda, do Planejamento e de Gestão com as orientações técnicas e de governança fiscal aos seus gestores orçamentários para que façam esse pente-fino. O governo conta com a medida para reduzir as gastos deste ano e tirar as contas públicas do vermelho. Contratos superiores a R$ 1 milhão passarão por avaliação.

"Independentemente do bloqueio já feito, todos os órgãos terão de fazer uma revisão de contratos e convênios", explicou o subsecretário de Contabilidade Pública do Tesouro, Heriberto Henrique Vilela do Nascimento. "É uma medida de ajuste fiscal porque esperamos que boa parte dessas despesas bloqueadas sejam canceladas", disse.

O pacote de Haddad prevê um potencial de economia de R$ 50 bilhões neste ano, sendo R$ 25 bilhões por meio da revisão de contratos e programas.

O subsecretário afirmou que, por restrições legais, nem todos os RAPs podem ser bloqueados. Nada também pode ser feito com gastos que já foram processados e liquidados - ou seja, já houve a entrega do produto ou do serviço, mas nem tudo foi pago. As despesas desse grupo somam R$ 81,8 bilhões.

Também não podem ser bloqueadas despesas obrigatórias, emendas parlamentares impositivas, do Ministério da Saúde e das fundações e autarquias da administração pública indireta.

'Herança'

Os RAPs deixados para este ano tiveram um aumento de R$ 21,6 bilhões na comparação anual. De 2021 para 2022, foram deixados R$ 233,6 bilhões. A razão do salto foi que, faltando poucos dias para o fim do ano passado, o governo Bolsonaro liberou R$ 20 bilhões de crédito orçamentário autorizando novas despesas. Como não houve tempo para executá-las, elas foram "carregadas" para 2023, inflando o Orçamento deste ano.

A edição desses novos créditos, no apagar das luzes, só foi possível porque a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, negociada pelo governo Lula com o Congresso, abriu brecha para gastar R$ 23 bilhões fora teto de gastos - a regra que impõe um limite anual ao crescimento de despesas - ainda em 2022. A PEC também autorizou o governo a empenhar as emendas de relator do orçamento secreto - mecanismo revelado pelo Estadão de transferência de verbas a parlamentares em troca de apoio político.

Em 2018, Mansueto Almeida, então secretário do Tesouro, determinou o cancelamento dos RAPs depois de três anos. A medida reduziu o estoque inicialmente, mas o montante voltou a crescer na pandemia da covid-19, quando o governo aumentou os gastos com o chamado "orçamento de guerra".

No fim do ano passado, o Congresso também aprovou uma medida para proibir que RAPs fossem cancelados no fim de 2022. O prazo foi estendido para o final deste ano.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governo federal estendeu até 31 de dezembro o prazo para desbloqueio dos restos a pagar não processados pelos órgãos do Executivo. Esta é terceira prorrogação da data limite, inicialmente marcada para 30 de junho, depois para 31 de agosto e, em seguida, para 31 de outubro. A decisão está publicada em decreto no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira (30).

O decreto diz que "as unidades gestoras responsáveis pela execução das despesas poderão desbloquear, até 31 de dezembro de 2015, os restos a pagar não processados, desde que, até essa data, seja iniciada a execução das despesas". Restos a pagar são despesas empenhadas que não foram pagas no período do exercício financeiro. As despesas não processadas são aquelas que foram empenhadas, mas não foram liquidadas e pagas antes do fim do ano.

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Em uma década, o governo federal multiplicou por dez os gastos que são registrados no Orçamento federal mas não são pagos até 31 de dezembro. Conhecida tecnicamente como "restos a pagar", essa rubrica orçamentária alcançou de 2013 para 2014 a marca recorde de R$ 218,4 bilhões, informou nesta quarta-feira, 08, a Secretaria do Tesouro Nacional. Na comparação com o que ficou na passagem de 2012 para 2013, o aumento foi de mais de 23%.

Do total desse "orçamento paralelo", R$ 33,6 bilhões foram retidos na boca do caixa e ajudaram a contabilizar o superávit primário do governo - economia feita para o pagamento da dívida pública. Essa parcela é destinada às despesas nas quais o serviço que deu origem a esse gasto já foi comprovadamente executado, faltando, apenas, o pagamento - os chamados restos a pagar processados. Ou seja, são recursos que deveriam ter ido para as empresas que prestaram serviços ou venderam produtos para o governo, mas foram represados para ajudar na contabilidade oficial no fim do ano.

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Houve crescimento de 27,8% desse tipo de resto a pagar na comparação com 2013, expansão muito superior à verificada nos últimos anos. Em 2009, os restos a pagar processados chegaram a R$ 27,1 bilhões, antigo recorde. No ano seguinte, caiu para R$ 22,9 bilhões. Fechou 2011 em R$ 25,4 bilhões, ficou em R$ 24,1 bilhões em 2012 e terminou 2013 em R$ 26,3 bilhões.

A maior parte do "orçamento paralelo", no entanto, é formada pelos chamados restos a pagar não processados, que são despesas que foram autorizadas, mas que não foram ainda executadas na sua totalidade e podem ser até canceladas porque não foram liquidadas. De 2012/2013 para 2013/2014, elas subiram de R$ 150,4 bilhões para R$ 184,8 bilhões, expansão de 23%.

Cheque

Os restos a pagar aumentaram significativamente no início da década passada, quando começaram a ser usados também como mecanismo de cumprimento do superávit primário. Para os especialistas, o governo ganha uma espécie de cheque em branco, porque consegue margem de manobra para gastar sem as amarras do Orçamento oficial, cuja aprovação pelo Congresso Nacional depende de um ambiente político favorável. Além disso, como os "empenhos" são feitos, os políticos podem exibir aos eleitores uma "conquista" de alguma obra local antes mesmo de os recursos serem liberados efetivamente e a obra ficar pronta.

Gil Castelo Branco, secretário-geral do Contas Abertas, afirma que o governo usou dois movimentos para conseguir melhorar o superávit primário do ano passado, de R$ 75 bilhões anunciados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Além de elevar o valor de restos a pagar processados que deveriam ser pagos no ano passado, mas ficaram para 2014, a equipe econômica deixou para emitir as ordens bancárias de pagamento no valor de R$ 4,1 bilhões somente entre 28 e 31 de dezembro de 2013 para que os saques efetivos só acontecessem neste ano e não impactassem o resulto primário do ano passado.

"A protelação desses pagamentos é pior que o ingresso das receitas extraordinárias, que efetivamente entraram. As mágicas de fim de ano do governo tentaram melhorar o resultado de 2013, mas deixaram a conta para este ano", afirma.

A equipe econômica nega ter feito uso de estratagema para aumentar o resultado positivo das contas públicas. "Não houve crescimento estrondoso da rubrica de restos a pagar nem qualquer alteração de procedimentos que implicassem em postergação de despesas do exercício de 2013 para 2014", contestou, em nota, o Tesouro Nacional.

O Tesouro Nacional informou nesta quarta-feira, 8, por meio de nota à imprensa, que os restos a pagar processados e inscritos para pagamento em 2014 são de R$ 33,5 bilhões, 27% a mais que em 2013 (R$ 26,2 bilhões). Já os restos a pagar não processados em 2014 alcançaram o montante de R$ 184,8 bilhões, crescimento de 23% em relação a 2013 (R$ 150,4 bilhões). "Dessa forma, não houve crescimento estrondoso da rubrica de restos a pagar nem qualquer alteração de procedimento que implicasse em postergação de despesas do exercício de 2013 para 2014", afirma o Tesouro.

Os restos a pagar do Orçamento federal devem chegar à marca recorde de R$ 200 bilhões em 2013, segundo estimativa do portal Contas Abertas, especializado em contas públicas. Os restos a pagar são despesas de orçamentos anteriores, que não foram pagas, e que são roladas para a frente. Em 2002 e 2003, os restos a pagar estavam em torno de R$ 20 bilhões, o que significa que foram multiplicados por dez em uma década.

O aumento de 2012 para 2013 deve ser de R$ 58,9 bilhões, quase quatro vezes maior do que a média anual de aumento de restos a pagar de 2009 a 2012, que foi de R$ 15,3 bilhões. "Uma conta de R$ 200 bilhões pode ser chamada de tudo, menos de restos a pagar", critica o economista José Roberto Afonso, especialista em assuntos fiscais.

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Gil Castelo Branco, secretário-geral do Contas Abertas, diz que "os restos a pagar são um orçamento paralelo, tão ou mais relevante que o Orçamento oficial em algumas rubricas, como investimentos".

Ele nota que os restos a pagar de investimentos em 2013 (há diversos outros tipos de despesa também), estimados em R$ 73,5 bilhões, serão bem maiores que todo o investimento federal em 2012, de R$ 46,8 bilhões. Além disso, em 2012 foram feitos mais investimentos de restos a pagar (R$ 25,3 bilhões) do que os investimentos do próprio Orçamento do ano, de R$ 22 bilhões.

Quando se toma o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o mesmo padrão se repete. Foram pagos R$ 21,3 bilhões de investimentos de restos a pagar, e apenas R$ 18,2 bilhões do Orçamento de 2012.

O aumento de restos a pagar de investimentos em 2013 foi de R$ 16,2 bilhões, quase três vezes maior do que a média anual de aumento da mesma rubrica de 2009 a 2012, que foi de R$ 5,7 bilhões.

Dentro da estimativa do Contas Abertas de restos a pagar de investimento para 2013, o item principal é transporte rodoviário, com R$ 7,7 bilhões. O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, nota que os investimentos em transporte estão caindo desde 2010 como proporção do PIB. No valor acumulado até novembro, saiu-se 0,33% do PIB em 2010 para 0,29% em 2011 e 0,22% em 2012.

Para Velloso, o aumento dos restos a pagar nos últimos anos é uma combinação de "dificuldade financeira de acomodar gastos e cumprir a meta de superávit primário, inoperância dos ministérios e bagunça orçamentária". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Em seu primeiro ano de governo, a presidente Dilma Rousseff deixou de executar as próprias prioridades no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para quitar os restos a pagar deixados pela administração de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda assim, até o momento, ela só conseguiu liquidar metade das contas penduradas. É o que mostra levantamento da Associação Contas Abertas. O governo deverá divulgar o segundo balanço oficial do PAC na semana que vem.

Dilma dispõe de R$ 40,4 bilhões no Orçamento de 2011 para o PAC. Porém, desse total apenas R$ 5,6 bilhões, ou 13,7%, saíram dos cofres públicos, o que significa que a obra ou serviço contratado foi realizado e pago.

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Do total previsto no Orçamento do ano, R$ 17,9 bilhões, ou 44%, estão parados na estaca zero. Não cumpriram nem sequer a primeira etapa do gasto público, que é o empenho, que corresponde ao comprometimento do dinheiro com um determinado contrato.

Mas, enquanto os gastos programados para 2011 ficaram em marcha lenta, o governo desembolsou R$ 16,1 bilhões para pagar despesas contratadas em 2010 e antes disso. Assim, somando-se os pagamentos referentes a este ano aos restos quitados de anos anteriores, a conclusão é que Dilma executou R$ 21,7 bilhões do PAC até agora, próximos dos R$ 22 bilhões registrados no ano de 2010 inteiro.

Apesar do esforço para pagar os restos de anos anteriores, Dilma só deu conta de metade das faturas deixadas por Lula. Ainda sobra um estoque de R$ 16,4 bilhões em restos a pagar.

"Provavelmente ainda viraremos o ano com um saldo grande", comentou o secretário-geral da Associação Contas Abertas, Gil Castelo Branco.

Conta. Somando o estoque deixado por Lula ainda não quitado, mais os restos gerados neste ano, referentes a despesas contratadas ainda não entregues, a conta chegaria a R$ 32 bilhões a ser transferida para 2012.

O programa Minha Casa Minha Vida, um dos carros-chefes da campanha eleitoral de Dilma, é o melhor exemplo da estratégia adotada este ano.

Dos R$ 12,7 bilhões reservados para ele no Orçamento de 2011, apenas 0,05% (R$ 6,8 milhões) foram desembolsados até agora. Mas, ao mesmo tempo, foram quitados R$ 5,6 bilhões em restos a pagar do programa.

"Como explicar que um programa tão importante na campanha tenha uma execução tão pífia?", questionou Castelo Branco. "Para mim, é não querer injetar recursos na economia com receio da inflação, que estava ascendente." Mas, avalia ele, é difícil explicar isso ao cidadão.

A necessidade de conter a inflação é uma das causas para a baixa execução do PAC e outros investimentos do governo, mas não a única. A contenção dos gastos ocorre também pela opção de fechar as contas públicas com saldo positivo este ano, uma medida de prudência diante da crise.

Há, também, problemas gerenciais nos ministérios. O dos Transportes, responsável pela segundo maior Orçamento do PAC, passou meses mergulhado em crise. Outras pastas não tiveram autorização para gastar o que está no Orçamento porque Dilma resolveu mantê-las em rédea curta para evitar desvios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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