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O diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, afirmou, nesta terça-feira, 30, que a política externa brasileira foi marcada pela "partidarização" e pelo "interesse ideológico" nos últimos anos e citou o Mercosul como um exemplo de equívoco do governo da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). "O Mercosul se tornou um fórum de política social e não comercial; está paralisado, com os membros que não respeitam o tratado e cujos produtos brasileiros têm comércio restrito", disse ele em teleconferência da GO Associados sobre os desafios e as expectativas da política externa brasileira, a partir do ponto de vista do candidato Aécio Neves (PSDB), do qual Barbosa é um dos colaboradores.

Segundo Barbosa, o Brasil deveria convocar os parceiros comerciais no bloco econômico para uma revisão dos pontos do acordo, e não ficar "a reboque" dos países vizinhos. "Se não for possível avançar segundo nosso interesse, e não sobre interesses ideológicos, o Brasil precisa passar a negociar com independência" fora do bloco, disse. "Estamos fora das correntes de comércio, há uma ausência de política até em relação aos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)", completou.

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Barbosa considerou que o Itamaraty está marginalizado e cobrou que o Ministério das Relações Exteriores seja revalorizado como principal formulador da política externa brasileira. Para o ex-embaixador, o Brasil fez poucos acordos comerciais - três nos últimos 15 anos, segundo ele -, ficou preso ao multilateralismo da Rodada Doha, que fracassou, e o comércio exterior, que crescia 25% ao ano, hoje cresce 3% ao ano apenas por conta do dinamismo do setor privado.

O diplomata, que preside o Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Coscex/Fiesp) e é colaborador de Aécio para o programa de governo tucano no setor externo, criticou o "antiamericanismo" do governo federal e considerou que a vaga pleiteada pelo Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) fica cada vez mais difícil. Ele citou como um novo entrave ao pedido do Brasil o discurso da presidente Dilma Rousseff na ONU, semana passada, pregando o diálogo com o Estado Islâmico. "Como o País se posiciona a favor do diálogo e contrário a uma decisão que foi tomada no Conselho de Segurança da ONU e ainda quer uma vaga no órgão? É preciso restabelecer a credibilidade do Brasil e ter uma política moderada e equilibrada", disse Barbosa.

Para o colaborador de Aécio, caso eleito o tucano irá restaurar a projeção do Brasil no exterior, com a revisão das políticas do Mercosul e da estratégia comercial regional. Segundo ele, o senador e candidato do PSDB a presidente da República finalizará o acordo com União Europeia e definirá prioridades do País para acordos com Estados Unidos e China. "Será revista ainda a política Sul-Sul de integração de tecnologia, que deixou os países desenvolvidos em segundo plano", afirmou.

O Brasil está cada vez mais isolado no comércio exterior por não tomar parte na negociação de acordos de livre comércio com outros países. É o que pensa o embaixador Rubens Barbosa, que já ocupou a embaixada dos Estados Unidos e da Inglaterra. De acordo com ele, a nova tendência do comércio internacional é a de integração das cadeias produtivas entre diversos países, e não a de defesa do produto nacional, como, na sua opinião, o Brasil vem tentando fazer. Para Barbosa, essa é uma das razões do déficit na balança comercial brasileira de mais de US$ 6 bilhões acumulado de janeiro a abril deste ano.

"O comércio exterior está evoluindo. Não se trata mais de produzir e exportar bens. Está evoluindo para a integração de cadeias produtivas. O modelo tradicional é aquele no qual você investe no país, produz um bem e exporta para outro país. No comércio das cadeias produtivas, você investe no país para produzir um produto que se integrará na cadeia produtiva de outro local desde que você esteja de acordo com as regras desse acordo de livre comércio", explicou o embaixador em palestra realizada nesta segunda-feira na sede do Insper, na zona sul de São Paulo.

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"Neste momento há 545 acordos de livre comércio no mundo e o Brasil tem apenas três (Egito, Israel e Autoridade Palestina), não toma parte em outras discussões. Se você não faz parte desses acordos, você não exporta porque seus preços perdem competitividade com relação aos outros mercados que se abrem a (países que são) possíveis compradores. Assim, o Brasil está cada vez mais isolado. Isso já começou a afetar o comércio exterior do Brasil", afirmou.

Na visão de Barbosa, o Brasil vem sendo penalizado pelo que chamou de "falta de estratégia de negociação comercial externa" e pela "dificuldade de integrar os países da região (América do Sul)". "A integração comercial está ocorrendo em todas as partes do mundo. Na Europa, na Ásia, essa é a tendência e o volume de negociações em curso mostra isso. O Brasil dificilmente irá se beneficiar do comércio (internacional) se não se adaptar. O mundo está se multipolarizando, assim como as cadeias produtivas. Não há mais países que produzem de tudo em seus territórios", afirmou.

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