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Os dados mais recentes, de 2014, são de relatórios da ANA e do DNPM. Segundo o órgão federal de fiscalização da mineração, a probabilidade de acontecer um acidente na Barragem do Fundão era baixa em virtude da forma como a estrutura era gerida. A boa gestão é aferida, de acordo com o DNPM, por meio do bom monitoramento do reservatório e da documentação regularizada.

Segundo o documento da ANA, que contabiliza todas as estruturas de contenção do País, a barragem de Mariana integrava um grupo de 265 reservatórios, cerca de 1,7% do total, usados para armazenar rejeitos. Levantamento mostra que, entre 2011 e o ano passado, dez pessoas perderam a vida em 16 deslizamentos do tipo no Brasil.

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Especialistas afirmam que as estruturas são planejadas justamente para evitar catástrofes ambientais. Na área de fiscalização, no entanto, nas recomendações finais do Relatório de Segurança de Barragens da ANA não consta nenhuma orientação de melhoria na segurança das estruturas. O documento da agência é encaminhado para o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, que avalia os dados e também pode dar orientações.

"É uma das estruturas mais seguras que existem porque é uma obra de muita responsabilidade. A porcentagem de ruptura é irrisória", diz o engenheiro civil Ciro Humes, professor do Centro Universitário FEI e membro do Comitê Brasileiro de Barragens.

Humes explica que três fatores podem influenciar na ruptura de uma barragem. "A causa mais frequente é uma vazão de água maior do que a capacidade de descarga", diz. Isso quer dizer que, caso haja enchente e o reservatório fique sobrecarregado, o ponto de saída da água, dispositivo conhecido como "ladrão" ou "sangrador" - espécie de ralo -, pode se romper.

O outro motivo, segundo o especialista, é a erosão interna. De acordo com uma comissão internacional que estuda e monitora grandes barragens, a International Commission on Large Dams (Icold), essa erosão causa um efeito chamado "piping", que remete a tubos. Isso acontece quando os resíduos da mineração não têm a vazão adequada, causando furos na estrutura da barragem, até o deslizamento da terra.

Em terceiro lugar aparecem os problemas estruturais, diz Humes. "Ou seja, foi feito um projeto com materiais inadequados ou a construção não foi bem feita e a resistência ficou menor do que a prevista."

Luiz Roberto Guimarães Guilherme, professor do Departamento de Ciências do Solo da Universidade Federal de Lavras, explica que, após o rompimento da barragem, a lama vermelha, apesar de não ser tóxica, pode impermeabilizar o solo. "Precisa ter monitoramento. Na verdade, vai ter de fazer um processo de recomposição", afirma. "Para nascer uma nova vegetação vai ter de colocar matéria orgânica, é demorado."

Consequências

Em condições adequadas, o rejeito de ferro dentro do reservatório pode ser reaproveitado, explica o advogado Danilo Miranda, especialista em licenciamento ambiental e concessões minerárias - o que não causaria o dano ao solo. Ele diz que as barragens são estruturadas para recuperar o que se perde no processo de fabricação de composições como o ferro industrial, por exemplo.

Sobre a fiscalização, Miranda afirma que há rigor. "As barragens geralmente são muito controladas após acidentes em Minas, que é um Estado sujeito a acidentes pela quantidade de mineradores", diz. Ele afirma ainda que, pelas proporções do deslizamento, mais pessoas poderiam ter perdido a vida. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), se organizam na manhã deste sábado, 7, para voltar ao vilarejo para tentar buscar bens que possam ter escapado da destruição. Há um temor generalizado com relação a saques nas casas que escaparam - 22 imóveis na parte alta. "Tinha uma criaçãozinha, com vacas, galinhas e uns cavalos. Preciso ver como estão", relata o comerciante Agnaldo Pereira, de 42 anos. A prefeitura estimava, na sexta-feira, que 90% das construções da cidade estavam destruídas, mas os imóveis restantes, sem água nem energia, também foram desocupados pelo poder público.

As caravanas dos moradores partem dos hotéis onde os moradores passaram a noite de sexta para sábado. Nesses locais, eles estão organizando vaquinhas para comprar berços e fraldas para os bebês de Bento Rodrigues. "Não dá para esperar essa Samarco", declarou Aparecida de Jesus, de 58 anos, uma das organizadoras da vaquinha.

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As buscas por pessoas ilhadas foram retomadas nesta manhã. A Prefeitura divulgará ainda nesta manhã um balanço sobre as atividades da madrugada.

Cenário

O risco de rompimento das barragens do Fundão e Santarém da mineradora Samarco em Mariana (MG) foi alvo de alerta em 2013 pelo Instituto Prístino, instituição particular sem fins lucrativos que realizou um estudo na região a pedido do Ministério Público Estadual (MPE).

Análises do Serviço Geológico do Brasil indicam a possibilidade de os rejeitos de minério chegarem ao Espírito Santo nas próximas 48 horas. É possível que a enxurrada de lama já tenha atingido afluentes do Rio Doce, 100 quilômetros longe de Mariana.

A lama lançada dos reservatórios deixou cerca de 300 famílias desabrigadas. Três distritos de Mariana foram atingidos - Camargos, Paracatu de Baixo e Bento Rodrigues -, além da cidade de Barra Longa. Pelo menos 500 pessoas tiveram de ser resgatadas só de Bento Rodrigues, que fica mais perto da mina da Samarco, segundo balanço divulgado ontem.

A tragédia provocada pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da Samarco, sociedade entre a Vale (50%) e a anglo-australiana BHP Billiton (50%), fez as ações da mineradora brasileira desabarem ontem (6). Apesar da reação negativa do mercado, o impacto financeiro para a Vale tende a ser limitado.

O principal efeito negativo pode vir do lado da imagem, diante das proporções do acidente, que deixou a região de Mariana, em Minas Gerais, debaixo de lama e vários desaparecidos. O episódio pode elevar o controle dos órgãos ambientais em relação às barragens na mineração.

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As ações ordinárias (ON) da Vale encerraram a sexta-feira com queda de 7,55% na Bolsa de São Paulo, enquanto as PNA caíram 5,70%, arrastando o Ibovespa para uma perda de 2,35%. Os papéis da BHP também fecharam em baixa na Bolsa de Sidney. "É a pior crise da história da companhia", reconheceu o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, em entrevista coletiva ontem, em Mariana.

No início da noite, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) colocou os ratings da Samarco Mineração em observação negativa, alegando que ainda não é possível "avaliar a extensão total dos estragos e o impacto em potencial nas operações da empresa". A S&P já havia retirado o selo de grau de investimento da empresa na esteira do rebaixamento da nota soberana do Brasil.

Fundada em 1977, a Samarco é a segunda maior exportadora global de pelotas (pequenas bolinhas de minério de ferro usadas na produção de aço), atrás apenas da própria Vale. Com operações em Minas e no Espírito Santo, tem capacidade para produzir 30,5 milhões de toneladas anuais de pelotas. A Vale divide o controle da empresa com a BHP, recebendo dividendos e parte de sua produção.

De janeiro a setembro, a produção da Samarco atribuível à sócia brasileira foi de 10,7 milhões de toneladas. No mesmo período, a Vale produziu 35,8 milhões de toneladas de pelotas por conta própria. A relevância da Samarco no mercado de pelotas fará com que o acidente tenha efeito significativo no mercado global de minério. Segundo relatório do UBS, a redução da oferta por um eventual comprometimento de sua produção pode favorecer a cotação das pelotas. A expectativa de analistas é de um possível freio na queda dos preços do insumo.

Curto prazo

Por outro lado, o Itaú BBA levanta que no curto prazo a Samarco pode ser obrigada a comprar o produto de terceiros, a um custo mais alto para suprir a demanda. Segundo analistas do banco, a reconstrução da barragem exigirá mais investimentos e a mineradora deverá oferecer uma compensação pelos estragos causados. A expectativa nesse caso é que esses efeitos sejam mitigados pelo plano de seguro da Samarco.

O economista e ex-diretor de Relações com Investidores da Vale Roberto Castello Branco diz que a Vale não deve sofrer com o episódio. Segundo ele, a Samarco é sólida e financeiramente independente. "A Samarco não vai precisar de aporte dos sócios para enfrentar essa situação." Em 2014, a fabricante de pelotas teve uma receita líquida de R$ 7,5 bilhões, lucrou R$ 2,8 bilhões e pagou R$ 1,8 bilhão em dividendos aos seus acionistas. Segundo o Itaú BBA, os dividendos da Samarco representaram 3% da geração de caixa da Vale em 2014.

Risco de imagem

A despeito das dúvidas sobre o risco financeiro, o acidente afeta fortemente a imagem da mineração. Segundo um executivo do setor, a obtenção de novas licenças ambientais para construção de barragens no País será uma missão ainda mais difícil após a tragédia em Mariana. A expectativa é que os órgãos ambientais reforcem a fiscalização das barragens em funcionamento e imponha mais exigências para liberar a construção de novas.

A tragédia pode frear as atividades de mineração no Brasil. Isso porque, o modelo nacional necessita a construção de barragens para permitir que o minério seja concentrado e, com isso, ganhe um maior teor de ferro, o que o torna mais valioso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O risco de rompimento das barragens do Fundão e Santarém da mineradora Samarco em Mariana (MG) foi alvo de alerta em 2013 pelo Instituto Prístino, instituição particular sem fins lucrativos que realizou um estudo na região a pedido do Ministério Público Estadual (MPE). A promotoria quer saber se foram tomadas medidas preventivas e vai agora pedir o fechamento da mina da Samarco.

Conforme balanço divulgado ontem, a lama lançada dos reservatórios deixou cerca de 300 famílias desabrigadas. Ao todo, seis distritos do município foram atingidos. Pelo menos 500 pessoas tiveram de ser resgatadas só de um dos vilarejos, Bento Rodrigues, que fica mais perto da mina da Samarco. O prefeito de Mariana, Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior (PPS), afirmou que a Defesa Civil tem informações de sete pessoas desaparecidas.

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Já o Corpo de Bombeiros trabalhava ontem na localização de 13 funcionários da Samarco que estavam perto das barragens. O coronel Luiz Gualberto, dos bombeiros, tem a confirmação de uma morte na tragédia: um funcionário da Samarco que ficou ferido no acidente e teve uma parada cardíaca ao ser hospitalizado. Há ainda um corpo encontrado na cidade de Rio Doce, a 100 km de Mariana - sem confirmação de elo com o desastre.

O documento técnico que falava do risco de uma tragédia foi elaborado há dois anos e assinado por técnicos - na maioria professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tem oito páginas e identificava pontos de contato entre rejeitos da mineração e a barragem. "Com a evolução da saturação por causa do fluxo natural das águas superficiais resultantes da precipitação atmosférica (chuva), a zona acima do nível de equilíbrio hidrostático ficaria saturada. Tal situação ocasionaria a ressurgência de água nas faces dos taludes da pilha de estéril e a possibilidade de desestabilização da face do talude, resultando em colapso."

Em outro trecho, há uma descrição parecida com o que de fato teria acontecido. "Dependendo do raio da ruptura no processo, podem ocorrer vários colapsos em diferentes níveis de taludes e criar um fluxo de material com grande massa estéril se deslocando para jusante na direção do corpo da barragem do Fundão e adjacências." Os especialistas da UFMG fizeram uma série de recomendações, como a apresentação de um plano de contingência em caso de acidentes e um monitoramento por parte do poder público sobre os riscos ao meio ambiente. Ontem, o diretor-presidente da empresa, Ricardo Vescovi, disse que "desconhece esse estudo".

Já o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador de Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais, afirmou ontem que o relatório foi entregue à empresa e à Secretaria de Estado de Meio Ambiente. O material foi solicitado quando a empresa acionou o Estado para renovar a licença ambiental da barragem. "Vamos ver se a Samarco cumpriu tudo o que foi previsto", afirma o promotor. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, porém, o material não aponta nada de irregular, trazendo apenas recomendações-padrão de segurança.

Fechamento

O promotor Ferreira Pinto ainda vai pedir na segunda-feira o fechamento da mina da empresa. "Vamos recomendar à Secretaria de Estado (de Meio Ambiente) que suspenda a licença até que se apure a regularidade e garanta a segurança das comunidades."

Um inquérito civil público já foi aberto pelo MP anteontem para apurar as causas da tragédia - entre as peças a serem anexadas estará o estudo do Prístino. Segundo o promotor, a investigação se concentrará no possível descumprimento de normas técnicas na manutenção da estrutura. "A barragem estava em processo de alteamento (levantamento para aumentar a capacidade). Isso pode ter influenciado na ruptura", pontuou. O MPE apura ainda se uma explosão em uma mina da Vale influenciou no desastre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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