Tópicos | transplante multivisceral

A menina Sofia Gonçalves de Lacerda, de oito meses, que nasceu com uma doença rara e precisa de um transplante do aparelho digestivo para sobreviver, será transferida para um apartamento adaptado para tratamento homecare, em Miami, nos Estados Unidos. No último dia 14, ela recebeu alta no Jackson Memorial Hospital e vai aguardar no apartamento, junto com os pais, a doação dos órgãos de que precisa para o transplante multivisceral.

O bebê precisa receber de doadores de órgãos como estômago, fígado, pâncreas, intestino delgado, intestino grosso e, provavelmente, um rim. De acordo com os médicos, a cirurgia é a maior que pode ser feita em um ser humano - e por essa razão poucos hospitais têm estrutura para realizar o transplante múltiplo.

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Sofia recebeu alta para continuar o tratamento em casa para prevenir possível infecção em ambiente hospitalar. De acordo com o advogado da família, Miguel Navarro, o serviço de homecare é prestado por uma empresa particular e será custeado pelo governo brasileiro, conforme a decisão do desembargador Márcio Moraes, do Tribunal Regional Federal da 3ª. Região, com sede em São Paulo.

Como o dinheiro ainda não foi depositado, a menina continua no hospital e as diárias estão sendo retiradas do montante reservado para o transplante. Segundo o advogado, o Ministério da Saúde prometeu fazer o depósito até a quinta-feira, dia 28. "Esperamos que tudo seja cumprido conforme o desembargador determinou", disse a mãe da criança, Patrícia Lacerda.

Ela e o marido, Gilson Gonçalves, que viajaram aos Estados Unidos para acompanhar o tratamento, estão preocupados com o risco de faltar dinheiro para o transplante. A família conseguiu arrecadar cerca de R$ 2 milhões em campanhas, mas o dinheiro está sendo usado para custear a estadia dos pais.

Sofia é portadora de Síndrome de Berdon, uma doença rara que impede o funcionamento do aparelho digestivo. O transplante, única forma de tratamento, não é realizado em hospitais brasileiros. A família recorreu à Justiça e conseguiu decisão favorável à transferência da criança para os Estados Unidos, onde ser tratada às expensas da União.

Desde que entrou na fila dos transplantes do sistema de saúde americano, Sofia passou por cirurgias na bexiga e no coração. O Ministério da Saúde informou que o atraso no repasse dos recursos para o homecare deveu-se a falta de informações necessárias no orçamento para o serviço. A campanha nas redes sociais "Ajude a Sofia" já atingiu 1,5 milhão de acessos.

O Ministério da Saúde acerta os últimos detalhes para incluir o transplante multivisceral no Sistema Único de Saúde (SUS). Pacientes com indicação para o procedimento recebem, de uma só vez, estômago, duodeno, intestino, pâncreas e fígado, retirados em bloco, de um único doador.

Até agora, apenas dois procedimentos foram realizados no País. Em 2012, no Hospital Albert Einstein, e neste ano, no Hospital das Clínicas, ambos em São Paulo. "O primeiro passo será definir o marco regulatório", afirmou o coordenador-geral do Sistema Nacional de Transplantes, Heder Murari. Não há estimativa de quantas pessoas seriam beneficiadas.

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Entre os pontos que deverão ser definidos por regulamento, afirmou o coordenador, estão os critérios para a indicação do tratamento e para a fila de espera por doador. "No transplante multivisceral, órgãos de um doador são encaminhados para um paciente apenas. Nos demais, vários pacientes são beneficiados. É preciso criar regras claras para definir a estratégia que resolva essa equação de forma justa", disse Murari.

As regras estarão em um decreto, que deverá ser encaminhado nos próximos dias para a Casa Civil da Presidência da República. O texto abre espaço também para a realização do transplante de tecido composto, como é batizado o procedimento que permite o transplante de braços, pernas ou da face.

Medidas

Murari afirmou que a proposta do decreto integra uma série de medidas para o setor. Ele informou que será criado um Sistema de Regulação do Transplante de Medula Óssea, que permitirá o intercâmbio de pacientes entre Estados para a realização do procedimento.

Atualmente, são 29 centros especializados e credenciados pelo SUS para a terapia. No entanto, segundo Murari, 80% dos procedimentos são realizados em 13 centros. "Vamos avaliar. Há centros que podem ser realizadores do transplante somente no papel", disse o coordenador-geral. O Brasil, afirmou ele, tem um dos maiores bancos de medula óssea do mundo.

Espera

A presidente da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, Lúcia Silla, afirmou que no serviço que trabalha, ligado ao HC de Porto Alegre, a média de espera para atendimento pode ser de 21 meses. "Em todo o País, certamente há gente morrendo na fila de espera de transplante", disse.

A ideia é que, identificado o doador compatível, o procedimento seja realizado no centro disponível, desde que com a anuência do paciente. "Isso dará mais agilidade", disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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