Janguiê Diniz

Janguiê Diniz

O mundo em discussão

Perfil:   Mestre e Doutor em Direito, Fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional, Presidente do Instituto Exito de Empreendedorismo

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Intercâmbio é diferencial

Janguiê Diniz, | sex, 20/04/2012 - 08:50
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Participar de um intercâmbio, estudantil ou cultural, é um privilégio que tem se tornado cada vez mais acessível aos estudantes do Brasil. A economia do país tem melhorado e junto com ela, a educação tem sido, cada vez mais, o destino de novos projetos e investimentos.

As vantagens de um intercâmbio começam na possibilidade de aperfeiçoar-se em outros idiomas e ter uma experiência profissional no exterior, passando pela oportunidade de conhecer e conviver com outras culturas. Historicamente o intercâmbio surgiu na década de 60, quando entidades sem fins lucrativos criaram um conceito de viagem focado na troca de experiências.

Em 2010, cerca de 160 mil brasileiros passaram por essa situação. Destes, 70 mil eram do estado de São Paulo. Esses números aumentaram em torno de 25% em 2011, colocando o Brasil entre os países que mais tem intercambistas no mundo. Além do mais, a expectativa é que, em 2012, esse número cresça 20% no país e movimente 8 bilhões de dólares no mundo. A título de informação, nos últimos oito anos, o número de intercambistas no Brasil aumentou 280%.

Atualmente várias faculdades e universidades oferecem opções de intercâmbios aos alunos e aliado a essa proposta, o Governo Federal brasileiro vem ampliando o número de investimento da prática através do programa “Ciência sem Fronteiras”. O programa visa promover o desenvolvimento tecnológico e estimular os processos de inovação no Brasil por meio do intercâmbio de docentes, discentes de vários níveis e de pesquisadores brasileiros. Nos próximos quatro anos, deverão ser concedidas até 75 mil bolsas de estudos, financiadas pelo Estado, a alunos com os melhores desempenhos acadêmicos, um total de investimento de R$ 3.2 bilhões até 2015.  O setor privado também deve aumentar os incentivos, com o oferecimento de 26 mil bolsas, totalizando mais de 100 mil alunos brasileiros beneficiados.

Para isso, o governo brasileiro tem firmado parceria com as melhores universidades do mundo, como a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Esse é apenas um dos passos que estamos dando em busca da melhoria da qualidade da educação no Brasil. Além dos intercâmbios internacionais, os alunos também devem pensar nas oportunidades regionais, como a de cursar semestres em outras universidades de uma mesma rede de faculdade, mas em outras regiões do país, que também possuem culturas e costumes diferentes.

Pensando nos benefícios, o aumento do número de bolsas de intercâmbio é mais do que simples investimento em educação. Ao levarmos os nossos melhores estudantes para participar de projetos em países de importância mundial, estaremos mostrando ao mundo que também somos capazes de estimular e colocar em destaque no mercado mundial profissionais competentes e competitivos.

Paulo Freire, o patrono da educação

Janguiê Diniz, | qua, 18/04/2012 - 09:39
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Recebemos, com orgulho, a notícia de que Paulo Freire foi declarado o patrono da educação brasileira. O feito foi estabelecido na Lei nº 12.612, do dia 13 de abril de 2012. O filósofo e educador pernambucano sempre destacou-se e fez parte da história do Brasil por sua luta em prol da alfabetização, da educação popular e pela formação da consciência política.

Paulo Reglus Neves Freire nasceu no Recife, em 1921, faleceu em São Paulo, aos 76 anos e foi sem dúvidas o mais ilustre educador brasileiro – teve suas ações reconhecidas no âmbito nacional e internacional. Com vários obras publicadas, Freire teve seu mais conhecido livro intitulado de “Pedagogia do Oprimido”, nele o autor discursou sobre o seu maior objetivo através da educação: conscientizar o aluno.

Devemos tomar Paulo Freire como um exemplo a ser seguido. Ele conviveu com a pobreza e a fome durante parte da infância, e mais tarde usou sua experiência para ajudar os menos favorecidos através do seu método revolucionário de ensino, quando montou uma equipe e alfabetizou 300 cortadores de cana em 45 dias.

Paulo Freire é uma inspiração para várias gerações de professores, onde o diálogo é utilizado na educação como forma de levar os alunos a despertar a consciência, ou seja, extinguir o pensamento de que o professor sabe tudo e que o aluno não possui nenhum conhecimento.

Ainda vivo, ele criou o Instituto Paulo Freire (IPF), em 1991, com o projeto de reunir pessoas e instituições que possuíam seus mesmos sonhos – de construir uma educação humanizada e reflexiva para fortalecer a luta pela construção de um mundo digno e igualitário. Hoje, o IPF tornou-se internacional, com participação de membros de 90 países, que dão continuidade ao projeto de vida de Freire.

Uma das mais impactantes, entre as inúmeras frases do filósofo Paulo Freire, mostra a importância da educação para a construção de um país: “Se a educação não é capaz de mudar a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda.” (Pedagogia da Autonomia, 1996). Diante de tanto conhecimento, ele foi o brasileiro mais homenageado da história: ganhou 41 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades mundialmente conhecidas, como Harvard, Cambridge e Oxford. Com essa história, ser patrono da educação brasileira é uma homenagem mais do que justa.

Quanto vale a educação brasileira?

Janguiê Diniz, | seg, 16/04/2012 - 10:13
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Quando falamos da educação brasileira, alguns números precisam ser lembrados: o Brasil tem, atualmente, mais de 8 milhões de alunos matriculados no ensino médio e 6,5 milhões no ensino superior. Um crescimento expressivo se comparado aos dados de 2001, quando o ensino superior contabilizava apenas 3 milhões de alunos.

Porém, esses números ainda não expressam uma realidade favorável ao país. Em 2009, durante a última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil ocupou a 53ª e a 57ª posições - nas disciplinas de leitura, matemática e ciências - entre 65 países. Isso é comparar os alunos do Brasil aos alunos de países como Trinidad e Tobago. Enquanto a Finlândia, que começou uma mudança na educação do país há 30 anos, destacou-se com o 3º lugar na avaliação.

Atualmente, o Brasil investe em torno de 5% do Produto Interno Bruto, PIB, em educação. A título de ilustração, o PIB do Brasil em 2011 atingiu R$ 4,1 trilhões. No início desde ano, o governo federal anunciou que irá elevar esse número para investimento total de 7,5% a 8% do PIB no setor, o que é muito importante, entretanto,  de acordo com especialistas da área, ainda é insuficiente.

A realidade é que mesmo o aumento do investimento no setor não será capaz de mudar drasticamente a educação atual do Brasil. Tal mudança é um projeto que deve ser executado a longo prazo e continuamente. Seria necessário um investimento de 10% do PIB, durante anos, para que se faça uma transformação positiva na educação. Voltando aos números, temos mais de 4,1 milhões de crianças fora da escola; No Ensino Superior apenas 14% da população de idade universitária – de 18 a 25 anos – estão estudando e 86% da população não tem acesso a esse nível do ensino. O pior índice da América latina. Ademais,  o ensino público tem baixa qualidade em quase todos os níveis e o Brasil está entre os últimos no ranking mundial nessa área.

É preciso investir em todas as áreas da educação, desde a educação infantil aos cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorados. A Finlândia pode, e deve, ser tomada como exemplo pelo  Brasil. O país chamou a atenção não apenas pelo resultado, mas por apresentar um modelo diferente dos líderes do ranking, China e Coreia do Sul. A transformação do sistema educacional finlandês começou na década de 70, quando foi criado o sistema de ensino obrigatório de nove anos e um currículo nacional visando igualar as oportunidades de acesso e a qualidade da educação.

Caro leitor, não existe nenhuma fórmula mágica, nem um milagre para ter educação de qualidade e acessível a todos. As crianças, assim como os adultos, são indivíduos com necessidades diferentes e é preciso conhecer essas necessidades e transformá-las no objetivo da educação. É preciso, acima de tudo, investimento e utilização correta do investimento. 

Ciência sem fronteiras

Janguiê Diniz, | sex, 13/04/2012 - 08:33
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O que é ciência? A resposta para esta indagação é encontrada na própria atividade científica e só através dela é possível respondê-la.  Ciência não é senso comum. Ciência significa argumentação lógica, relações de causalidade, hipóteses falseadas. Enfim, a ciência desmistifica a realidade e sugere novas tecnologias.

A atividade científica está atrelada à educação e a formação do cientista ocorre desde o ensino básico. São os ensinamentos iniciais transmitidos pelo professor que possibilitarão que o aluno adquira o interesse pela ciência. No caso, o educador tem condições de incentivar o aluno para indagar a realidade, propor novos ensinamentos, produtos e interpretações de fenômenos físicos e sociais.

Não é possível pensar na formação de cientistas desconsiderando as variadas etapas da educação. O Brasil tem, atualmente, cerca de 5,9 milhões de alunos no ensino superior e, talvez, muitos cientistas tenham desabrochado por completo durante essa fase dos estudos. É nesta etapa que as carreiras são definidas em virtude da vocação profissional do indivíduo e nas variadas atividades em que a aptidão científica pode ser exercida.

A realização do mestrado e do doutorado são etapas que precisam ser cumpridas pelos cientistas. Costumamos  dizer que, no mestrado, respostas empíricas ou teóricas surgem diante de problemas científicos e que no doutorado, alunos aplicados podem construir teorias sofisticadas para explicar variados tipos de fenômenos. Além disso, nas etapas apresentadas, a criatividade dos alunos floresce e se consolida.

A inserção internacional da atividade científica é necessária, pois o compartilhamento do conhecimento possibilita o aprimoramento ou a criação de novas análises, teorias e tecnologias. Além disso, debater e aprender com professores que têm visões de mundo diferentes podem vir a permitir a inovação.

O Estado brasileiro, através das agências de fomento Capes e CNPq, deve incentivar fortemente o surgimento de novos cientistas. Mas os investimentos não devem estar concentrados apenas nas universidades públicas. As instituições privadas de ensino e de pesquisas também precisam ser contempladas com tais investimentos, já que nelas se concentram 4,43 milhões dos alunos do ensino superior. Diante desses números, a parceria com empresas privadas, que devem investir na inovação, se faz necessária.

Recentemente, a presidenta Dilma Rousseff anunciou a criação do programa Ciência sem Fronteiras. Por meio dele, o governo pretende possibilitar que 100 mil estudantes brasileiros frequentem as principais universidades do mundo, dos quais 20 mil devem ir para os Estados Unidos. Louvável a atitude da presidente. O programa Ciência sem Fronteiras chega como um incentivo para a formação de cientistas brasileiros. Afinal, um país desenvolvido precisa produzir ciência. E a presidente Dilma mostra que tem ciência disso!

 

 

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Uma infância perdida

Janguiê Diniz, | qua, 11/04/2012 - 11:10
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Recentemente fomos surpreendidos pela decisão do Superior Tribunal de Justiça – STJ, que, ao julgar o caso de um homem acusado de estuprar três meninas de 12 anos, considerou que ele não cometeu crime porque as meninas já eram prostitutas. Ademais, em trecho transcrito do acórdão, o STJ relatou que “as vítimas (…) já estavam longe de serem inocentes, ingênuas, inconscientes e desinformadas a respeito do sexo.”

A prostituição infantil é um dos problemas que ainda continua sem solução no Brasil e no mundo, além de ser o terceiro comércio mundial que mais dá lucro, atrás apenas da indústria de armas e do narcotráfico. O fato é que esse tipo de mercado é caracterizado com a utilização de meninas que vivem, geralmente, em uma total miséria na periferia e que possivelmente foram violentas por algum parente antes dos 15 anos. E completando o cenário, a maioria dos clientes são de classe média alta ou ricos, aparentemente bem casados e, com filhos crianças ou até em idade adulta.

Segundo dados da UNICEF, em 2010, cerca de 250 mil crianças estavam  na rede de prostituição no Brasil. Elas são vítimas do aliciamento por adultos que as abusam em busca do sexo fácil e barato ou que tentam lucrar corrompendo os menores e inserindo-os no mercado da prostituição.

No Brasil, existem várias legislações que visam proteger e esclarecer qual a responsabilidade de cada um sobre as crianças e os adolescentes. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, promulgado  em 1990, esta responsabilidade se divide entre familiares, estado e a sociedade. Além desse, o governo brasileiro publicou, em 2004, o Protocolo Facultativo para a Convenção sobre os Direitos da Criança, elaborado pela UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância, em 2000, e que trata  sobre a venda de crianças, prostituição e pornografia infantis.

Não podemos considerar que apenas a miséria seja justificativa para a prostituição, aliado a este fator temos as famílias mal estruturadas, o consumo de drogas, a falta de acesso à educação e a impunidade dos adultos que cometem esse tipo de crime, que por muitas vezes são incentivados pela rede hoteleira para atrair clientes, o que conhecemos como “turismo sexual”.

O que é preciso entender, em primeiro lugar, é que esse tipo de prática gera consequências, muitas vezes, irreversíveis. Além da degradação moral, o envolvimento com o tráfico de drogas e o risco de contaminação com doenças sexualmente transmissíveis, os efeitos psicológicos causados a essas crianças são imensuráveis.

Não é fácil encontrar soluções para solucionar o grave problema da prostituição infantil. Mas, a proteção às crianças que serão o espelho do nosso país é necessária e tem que ser feita de forma eficaz. Leis mais rígidas contra os abusadores, educação com melhor qualidade e acessível a todos, políticas de prevenção e combate às drogas e a execução de programas de auxílio à famílias de baixa renda são apenas ações iniciais que precisam ser executadas e acompanhadas para que todas as nossas crianças e adolescentes tenham o direito de crescer de forma segura.

A política da corrupção

Janguiê Diniz, | qui, 05/04/2012 - 08:29
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No Brasil, política e corrupção acabaram se tornando palavras agregadas. Todos os dias são inúmeras matérias publicadas falando de desvio de verbas, superfaturamento de obras e tantos outros crimes cometidos pelos políticos, que deveriam usar o  poder para ajudar a população.

A palavra corrupção deriva do latim corruptus, que, numa primeira definição, significa “quebrado em pedaços” e em um segundo sentido, “apodrecido; pútrido”. Em uma definição ampla, corrupção política significa o uso ilegal – que pode ser por parte de governantes, funcionários públicos ou privados - do poder político e financeiro de órgãos ou setores governamentais com o objetivo de transferir renda pública ou privada de maneira criminosa para determinados indivíduos ou grupos de indivíduos ligados por quaisquer laços de interesse comum – negócios, localidade de moradia, etnia, entre outros.

A corrupção no Brasil vai muito além de um erro cometido uma única vez. A condição da política brasileira é baseada na acomodação da sociedade com a situação atual, na aceitação da corrupção como normalidade, na legislação defasada e complacente com os erros. As constantes denúncias de desvio das verbas públicas, divulgadas pela mídia, fazem com que a indignação dos cidadãos vá diminuindo, e, sem ser pressionados, os réus encontram métodos para se livrar das acusações.

Se ampliarmos para um quadro mundial, o Brasil está na 69º posição do Índice de Percepção de Corrupção da ONG Transparência Internacional. Vale salientar que o país tem um índice de 3,8 em uma escala que vai de zero - países vistos como muito corruptos - a dez – países com poucos corruptos - em um ranking de 180 países. Para ilustrar em números, de 2003 a 2008, quase 2.000 servidores públicos brasileiros foram expulsos do governo federal por cometer práticas ilícitas. Entre as principais causas da punição estão o uso do cargo para obtenção de vantagens, improbidade administrativa, abandono de cargo, recebimento de propina e lesão aos cofres públicos.

Os números ficam ainda mais impressionantes quando relacionamos com os dados monetários. Nos últimos dez anos, segundo matéria da revista Veja, foram desviados dos cofres brasileiros mais de R$ 720 bilhões, em média R$ 82 bilhões por ano ou 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB).  No mesmo período, a Controladoria Geral da União encontrou irregularidades em 80% dos 15.000 contratos firmados pela União com estados, municípios e ONGs.

Como é possível esquecer nomes como Anthony Garotinho, Jader Barbalho, Nicolau dos Santos - o Lalau, Paulo Maluf e Celso Pitta? Todos fazem parte da história do Brasil como políticos corruptos que desviaram milhões de reais dos cofres públicos. Além disso, o quadro atual mostra que muitos governantes entram na política apenas para beneficiar-se e não para trabalhar em prol da população.

É preciso que a população tenha a consciência de que a corrupção produz pobreza e impede o desenvolvimento do país. Com os valores já citados nesse texto, seria possível elevar a renda per capita em R$ 443 reais, pensar em erradicar a miséria e reduzir a taxa de juros.

Se questionarmos o que falta para o Brasil tornar-se uma potência mundial, diríamos que a resposta está na política.

O resgate da história do Recife

Janguiê Diniz, | qua, 04/04/2012 - 08:47
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Quando andamos pelo Recife, que possui um dos maiores e mais variados acervos arquitetônicos com valor histórico-cultural do Brasil, o que vimos é uma cidade em crescimento contínuo, muitas obras, prédios em construção, alargamento de vias, enfim, muitas mudanças. Mas, ao mesmo tempo, vemos inúmeras construções e lugares que fazem parte da história da cidade sem nenhum tipo de manutenção, abandonados e prejudicando o visual da cidade.

Durante anos o Recife Antigo, onde há uma das principais concentrações de prédios históricos da cidade, ficou abandonado, com os casarões se tornando ruínas. Mais recentemente, esses prédios vem sendo “adotados” por instituições que estão promovendo as reformas e transformando esses locais em centros culturais. O edifício Chanteclair, por exemplo, foi um dos restaurados. Construído nos anos 20 do século passado, foi tombado há cerca de 14 anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas isso não impediu que ele quase desabasse.

Infelizmente esse tipo de iniciativa não aconteceu em todo o bairro. Várias ruas continuam abandonadas, entregues aos usuários de drogas e a falta de segurança - fatores estes que afastam cada vez mais os turistas.

O que acontece no Recife Antigo não é um fato isolado. Na Rua da Aurora, famosa pelos casarões em toda sua extensão, muitas residências que antes serviam de moradia para os nobres que habitavam o Recife agora estão entregues ao abandono. E o caso se repete na extensão do Cais de Santa Rita, Cais José Estelita e até com o Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, mais conhecido como Geraldão, que durante anos recebeu importantes campeonatos esportivos, como a Liga Mundial de Volei.

O progresso e desenvolvimento do Recife não devem se aplicar apenas a economia, e este crescimento econômico não implica no esquecimento da história do povo. Esta deve ser preservada. Recife tem em torno de 33 Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico, além de um conjunto de 154 imóveis especiais de preservação que podem ser integrados a novas construções.

Uma dessas zonas especiais de preservação fica nos bairros de Santo Antônio e de São José e foi criada em 1934 pelo arquiteto Nestor de Figueiredo, a Avenida Guararapes. Esquecida durante muito tempo, a avenida que já foi cartão postal do Recife entre as décadas de 40 e 70 começou a ter sua história resgatada através da restauração de vários prédios, que vem sendo realizada pelo Grupo Ser Educacional.

Prédios como o Trianon, Art Palácio, e o edifício onde funcionou o antigo Bar Savoy, além do Sertã, serão totalmente restaurados e irão abrigar novas unidades educacionais do Grupo e um centro cultural também deverá ser construído no Savoy, tudo prezando pela arquitetura e estruturas originais dos prédios. Mas, todo esse esforço não será suficiente se os órgãos públicos também não fizerem a sua parte, combatendo a venda de drogas e organizando o comércio local.

É possível aproveitar espaços históricos, hoje abandonados, de forma correta e viável. Da mesma forma que as praças públicas vem sendo adotadas por empresas e se tornado espaços de convivência da população, os grandes empresários podem elaborar projetos de restauração e revitalização das áreas que contém imóveis históricos, aliando modernidade com a tradição de outrora. Preservar as áreas históricas da cidade é também preservar a história do povo.

O impacto ambiental das hidrelétricas

Janguiê Diniz, | ter, 03/04/2012 - 08:48
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As usinas hidrelétricas ainda são uma das mais importantes fontes de energia do mundo. De acordo com o Renewables Global Status Report 2006, no ano de 2005, elas produziram 19% da eletricidade consumida pela população mundial. A energia produzida pelas usinas hidrelétricas também equivale a cerca de 5 bilhões de barris de petróleo.

Sabe-se que por possuir inúmeros rios em toda sua extensão territorial, o Brasil investe maciçamente  nas hidrelétricas e está entre os cinco maiores produtores mundiais dessa forma de energia, possuindo atualmente 158 usinas hidrelétricas de grande porte. Em 2011, o governo brasileiro autorizou a construção da terceira maior central hidrelétrica do mundo, no meio da Amazônia, a hidrelétrica de Belo Monte, parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além desta, a previsão é que, entre 2016 e 2020, sejam construídas dez novas usinas na Amazônia, utilizando rios importantes da região, como o Tapajós e Jamanxim, no Pará.

A título de informação, Belo Monte será a maior hidrelétrica em território nacional e utilizará as águas do rio Xingu, afluente do Amazonas e a obra, que inicialmente custaria 19 bilhões de reais, já está estimada em 35 bilhões. As águas serão represadas em dois lagos artificiais com superfície de 668 Km², o que equivale ao lago suíço de Constança. Mas, antes de pensar nos benefícios resultantes de uma obra como esta, é preciso avaliar os impactos ambientais que serão causados.

No caso de Belo Monte, mais de 20 mil pessoas serão removidas da área a ser inundada. Mas, o comum a todas as hidrelétricas é o grande impacto sofrido pelo ecossistema da região, principalmente na fauna e a flora. O grande volume de represamento da água contribui bastante para esta destruição, visto que diversas espécies morrem ao ficarem submersas e aqueles animais que conseguem fugir acabam precisando se adaptar em novos lugares, saindo de seu habitat natural.

É fato que a produção de energia é um fator essencial para o desenvolvimento sócio-econômico de qualquer país, mas os impactos sócio-ambientais causados por essas, normalmente não são visíveis para a sociedade, que na maioria das vezes desconhece os projetos e as principais consequências de obras dessa magnitude.

Uma alternativa dos países desenvolvidos para produção de energia elétrica com menos impacto que os trazidos pelas hidrelétricas, são as usinas eólicas, que transformam a energia cinética dos ventos em energia elétrica. Ilustrativamente, existe cerca de 20.000 turbinas eólicas de grande porte em operação no mundo, grande parte está concentrada nos Estados Unidos. Na Europa, há projetos para gerar 10% da energia elétrica a partir da eólica, até o ano de 2030.

Apesar de pouco utilizada aqui, o Brasil produz e exporta equipamentos para usinas eólicas. Talvez essa seja a hora de pensarmos como um país desenvolvido e investir em tecnologias que não destruam nosso ecossistema.

 

 

 

A paixão e o perigo das torcidas organizadas

Janguiê Diniz, | sex, 30/03/2012 - 10:24
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É incontestável a paixão que o brasileiro, e porque não dizer o povo do planeta, tem pelo futebol. E diante de tantas manifestações ao esporte, as torcidas organizadas se mostram presentes na maioria dos clubes. Algumas delas até recebem incentivo financeiro dos seus respectivos times. Não há como negar que elas são capazes de transformar os jogos de futebol em verdadeiros espetáculos fora do gramado, com cores, cantos e emoção.

 No Brasil, além de apoiar o time, algumas torcidas organizadas almejam reconhecimento além do nível estadual - desejam, também, serem conhecidas no âmbito nacional - como é o caso da Mancha Verde e da Gaviões da Fiel, ambas de São Paulo e que também comandam tradicionais Escolas de Samba no estado.

O problema começa quando a paixão pelo time ultrapassa os limites da legalidade e as torcidas, compostas por torcedores fanáticos, acabam se tornando em quadrilhas. A título de referência, a maior demonstração de violência dos hooligans - termo utilizado para definir um comportamento destrutivo e desregrado tipicamente associado com fãs de esportes-, foi a tragédia do Estádio do Heysel, na Bélgica. O episódio, conhecido como Massacre de Bruxelas, resultou em 38 mortos e mais de 450 feridos. Na época, os hooligans ingleses foram responsabilizados pela confusão e as equipes britânicas foram proibidas de participarem de competições europeias por cinco anos.

No Brasil, as torcidas organizadas existem desde 1969 e algumas delas admitem em seus estatutos o confronto aberto com outras torcidas e até mesmo contra a polícia. É evidente que as brigas das torcidas organizadas não acontecem ao acaso. São pensadas, planejadas. Basta perceber que a utilização de coquetel molotov, bombas caseiras e outros armamentos não podem ser avaliados como um simples acaso. Recentemente, as torcidas Gaviões da Fiel e Mancha Alviverde tiveram o acesso aos estádios proibidos em resposta ao confronto que ocorreu horas antes do jogo entre Corinthians e Palmeiras e que havia sido marcado através da internet.

As organizadas, em sua maioria, perderam a proposta inicial. Alguns jovens integram as torcidas apenas pelo “prazer” de participar de brigas gratuitas e diante de tantos confrontos violentos e banais, onde a polícia se torna impotente e apenas assiste aos embates, famílias e torcedores que frequentavam os estádios pelo prazer de torcer por seus times de coração e até como atividade de lazer, deixaram essa prática.

Caros leitores e leitoras, a proibição da entrada das torcidas não passará apenas da proibição das camisas e das bandeiras que promovam a exposição desses movimentos. Aqueles que usam o escudo das torcidas para brigar, continuarão brigando, até porque o “ringue” utilizado não costuma ser o estádio, mas sim as ruas de entorno. Além disso, não se pode generalizar afirmando  que todos os participantes das organizadas são criminosos. De fato, há pessoas nesses movimentos que serão prejudicadas por essas proibições.

Se fosse tão simples assim eliminar o problema, proibindo as torcidas, as brigas generalizadas com vítimas fatais não existiriam há anos. É preciso conhecimento da causa e atitude firme das autoridades em identificar e punir severamente os que participam desses confrontos. Talvez depois disso, os estádios voltem a ser um espaço para todos aqueles que apreciam, verdadeiramente, o bom futebol.

A importância do planejamento estratégico para os gestores estatais

Janguiê Diniz, | qui, 29/03/2012 - 08:26
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As empresas modernas para sobreviverem e se perpetuarem precisam elaborar e construir um planejamento estratégico formal bem estruturado e bem delineado e através de metas e ações concretas, fazê-lo cumprir integralmente.  É o planejamento estratégico quem norteia as atividades e os  investimentos dos gestores privados, bem como é através dele que os sócios e acionistas da organização empresarial definem os pontos onde querem alcançar. Por via de consequência, a inexistência de um  planejamento estratégico formal e bem estabelecido  possibilita que os  executivos e  empresários tomem iniciativas muitas vezes  equivocadas,  que podem conduzi-los a bancarrota.

 

Nesse contexto, importa registrar que as organizações governamentais não são empresas, haja vista que enquanto aquelas são pessoas jurídicas de direito público, estas são de direito privado.  Entrementes, tanto uma quanto outra,  são instituições,  as quais necessitam  atender demandas específicas e produzirem bens e/ou serviços, já que, enquanto, os  Estados trabalham para atender os indivíduos de uma dada  comunidade, as empresas produzem majoritariamente bens e serviços  privados,  buscando sempre atender uma demanda de consumidores – que podem,  eventualmente,  serem públicos.

Seguindo a linha de raciocínio, enfatizo que, assim como as  empresas carecem  de um  planejamento estratégico,  as organizações governamentais e os próprios Estados precisam  muito mais.   Assim como no setor privado, é somente através do planejamento que a entidade estatal define suas metas e ações para que possa, dentro do orçamento público, prover, efetivamente, os indivíduos e a sociedade de bens e serviços de qualidade.

Ao estabelecerem metas e ações -  possíveis e concretas orçamentariamente - , os gestores  dos entes governamentais demonstram aos cidadãos os planos efetivos de governabilidade. Esses cidadãos, após comprovarem o cumprimento daquele planejamento, poderão decidir pela recondução do gestor público, - ou não -, ao cargo numa próxima eleição.  Embora, seja particularmente pesaroso salientar que em razão da frágil memória do cidadão – principalmente o brasileiro -, certos gestores públicos  são  eleitos  - e reeleitos -  sem sequer elaborarem um planejamento estratégico de governo, e mesmo que tenham elaborado, não cumpriram o estabelecido e delineado naquele plano durante a sua gestão.

Diante disso, a guisa de arremate, afirmamos, sem medo de errar, que  a impressão que temos é que, salvo raras exceções,  os gestores públicos brasileiros não elaboram seus planos ou planejamentos estratégicos  de governo, e quando o fazem, não cumprem, permanecendo sempre na improvisação e – porque não dizer – enganação dos cidadãos que os conduzem aos cargos. A título de corolário, citamos a construção apressada de  certas obras públicas; a redução de impostos apenas para um determinado setor industrial; a criação de regras perenes através de leis provisórias, as chamadas medidas provisórias; e em momentos de tragédias e crises econômicas procuram agir sempre às vésperas, sem qualquer planejamento anterior. E é público, e notório, que o ato de improvisar não combina com o ato de planejar. Estados eficientes planejam,  pois através dele, a sociedade adquire condições de reconhecer a importância da máquina estatal.           

Por fim, é particularmente triste concordar com o Deputado Romário – o ex jogador – quando afirma que  nunca se viu  no Brasil tanta roubalheira como a que se verá com as obras para a copa do mundo,  em virtude da falta de planejamento que acarretará na realização das obras sem licitação e superfaturadas. É uma pena!

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