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Jornalistas foram alvo de 126 atos de agressão desde o início da onda de manifestações populares por todo o País, em junho do ano passado. O balanço foi apresentado nesta terça-feira (11) por representantes das empresas de comunicação brasileiras ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em reunião realizada em Brasília.

No encontro, os empresários do setor demonstraram "preocupação" com o "despreparo" da atuação policial durante as manifestações. Também defenderam a federalização de crimes cometidos durante os protestos e também em situações de assassinatos de jornalistas por motivos como narcotráfico, agiotagem ou disputas políticas. A reunião ocorreu depois da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, de 49 anos, atingido por um rojão enquanto realizava a cobertura de uma manifestação no Rio de Janeiro na última quinta-feira, 6. Santiago teve morte cerebral declarada na manhã de ontem.

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"O enfrentamento desse tipo de movimento exige uma força especial", afirmou o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Carlos Fernando Lindenberg Neto. "Essas reações de excesso da polícia, acredito que não são da natureza do policial, mas da circunstância do momento, por falta de preparo", ressaltou.

Durante o encontro, o ministro disse que vai discutir na próxima quinta-feira (13) em reunião a ser realizada em Aracaju, propostas que recebeu nos últimos meses para enfrentar a violência nos protestos. Entre as propostas estão a federalização de alguns crimes, como os cometidos contra jornalistas, e medidas para impedir o anonimato dos manifestantes. Em entrevista coletiva, Cardozo evitou dizer quais das ações que irá defender no encontro, embora já tenha afirmado - como ele próprio ressaltou - entender que a Constituição proíbe o anonimato nos protestos.

Cardozo rebateu declaração do secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, de que o governo federal está demorando em avaliar propostas enviadas pelo governo fluminense para enfrentar o problema. "Essas propostas estão sendo discutidas. Foram entregues no final de novembro. Algumas são polêmicas, outras contraditórias. Eu não sou dono da verdade e tenho primeiro de ouvir os secretários estaduais", disse. O ministro, segundo participantes do encontro, deixou claro que pretende dividir com os governos estaduais a responsabilidade de um possível pacote de combate à violência nas manifestações.

O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, também criticou a "demora" no enfrentamento do problema. "Se os órgãos responsáveis por coibir essa violência não tivessem demorado para agir, possivelmente não estaríamos vivendo o luto pela morte de um colega", disse, em referência ao cinegrafista Santiago.

Cento e dois casos de agressão contra jornalistas foram registrados durante a cobertura de manifestações em todo o país, desde junho. Vinte e cinco partiram de ativistas e 77 de policiais militares e agentes da Força Nacional. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (28) pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

O repórter fotográfico Sérgio Silva, que trabalha como freelancer, faz parte dessa estatística. “Meu caso ficou bastante conhecido por causa da brutalidade e pelo abuso da violência. Não tenho muito o que falar sobre o 13 de junho. Resumidamente: sofri agressão da Polícia Militar [PM]. Foi um tiro de bala de borracha e infelizmente fui atingido no olho esquerdo. A bala que me atingiu foi certeira. Tenho diagnosticado 100% da perda da visão do olho esquerdo. E isso está sendo muito difícil já que tenho o olho como meu instrumento de trabalho”, disse, em entrevista à imprensa. Sérgio Silva entrou com uma ação judicial pedindo reparação ao Estado pela violência que sofreu.

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Ao apresentar os números do levantamento, o diretor executivo da Abraji, Guilherme Alpendre, disse que a entidade tem observado o aumento da violência contra jornalistas nos últimos três anos. “Ela [violência] aumenta discretamente no número de homicídios”, declarou. Segundo ele, de cinco a oito jornalistas morrem assassinados a cada ano.

Mas os casos de agressões, na avaliação de Alpendre, têm sido frequentes, aumentando desde as eleições do ano passado e se intensificando com as manifestações. “Em 2013, contando desde os protestos de 13 junho até as 12h30 de hoje, chegamos a 102 agressões a jornalistas em protestos”, disse Alpendre, durante entrevista na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), na capital paulista.

Do total de 102 agressões, 39 ocorreram no estado de São Paulo, sendo que 38 delas na capital: Seis foram cometidas por manifestantes e 33 por policiais. No Rio de Janeiro, foram 24 casos, sendo 23 na capital, e dez delas partiram de ativistas. Os últimos episódios de violência contra jornalistas ocorreram no dia 21 de outubro, quando nove profissionais foram agredidos em manifestações ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Para o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a violência contra os profissionais de imprensa, principalmente nas manifestações de junho, “superaram todas as estatísticas de violência anteriormente conhecidas”. Até então, de acordo com o sindicato, o episódio mais violento ocorreu em maio de 2011, durante a Marcha da Maconha, quando seis jornalistas foram agredidos. “Esse é portanto um caso político porque o Estado brasileiro é o responsável por essa agressão [contra os jornalistas]. É a Polícia Militar o elemento catalisador dessa violência contra o jornalista”, disse José Augusto Camargo, presidente da entidade.

Os jornalistas mais atingidos são os fotógrafos e cinegrafistas. Para Esdras Martins, secretário da Associação dos Repórteres Fotográficos de São Paulo (Arfoc-SP), isso ocorre principalmente por causa da ação desses profissionais durante a cobertura, pois ficam sempre próximos dos manifestantes e dos policiais durante os conflitos. “Eles [cinegrafistas e fotógrafos] precisam estar perto. É muito próximo o contato do cinegrafista e do fotógrafo com a manifestação”, disse.

Adriano Lima, fotógrafo da Agência Brazil Photo Press, foi atingido por golpes de cassetete no último dia 21, quando tentava fotografar o momento em que um manifestante era detido por policiais. Para ele, uma das razões que explicariam as agressões contra jornalistas é a falta de melhor identificação dos profissionais e a falta de um preparo melhor para cobrir os protestos. “Nosso posicionamento pode estar errado por falta de orientação da Polícia Militar”, disse.

O sindicato e a Polícia Militar pretendem, em breve, se reunir em São Paulo para discutir uma forma a fim de evitar as agressões contra os profissionais da imprensa. Em 2012, um estudo feito pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) apontou que o Brasil ocupa o 11º lugar no ranking de países que não punem os crimes cometidos contra os profissionais de imprensa.

A Polícia Militar do Rio inaugurou nesta quinta-feira, 25, uma nova forma de atuação em manifestações durante mais um protesto realizado na rua onde mora o governador Sérgio Cabral (PMDB), no Leblon, zona sul do Rio. Além do Caveirão, do caminhão de jato d’água, apelidado de brucutu, e o Batalhão de Choque, situados dentro da barricada de grades na rua Aristides Espínola, do lado de fora, cem policiais fardados e identificados com grandes letras e números no colete integravam o novo destacamento de policiamento de multidão.

Eles circulavam sempre em grupos pelos manifestantes, revistando mochilas de alguns deles, com uma forma de abordagem elogiada até por advogados que acompanham as manifestações desde o início. "A partir de hoje, vamos atuar dentro das multidões para prevenir delitos e selecionar grupos que estão se aproveitando das manifestações para cometer crimes", disse o comandante do destacamento, Tenente Coronel Mauro Andrade. "O Batalhão de Choque não tem conseguido fazer essa seleção nas últimas manifestações", acrescentou.

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Segundo o Coronel, os policiais do novo grupo participam do policiamento em estádios e são especializados em contenção física. "Observamos que havia uma lacuna e estamos tentando nos adaptar com essa nova iniciativa." Sobre a falta de identificação dos policiais pelos nomes, Andrade afirmou que "isso ainda não ficou pronto hoje, mas vai ficar."

A identificação alfanumérica é controlada pelo comando da tropa e qualquer denúncia pode ser feita a ouvidoria da polícia. "Até agora, é a primeira vez que a PM está agindo com inteligência, educação e sem truculência", disse a advogada Priscila Pedrosa Trisco, do grupo Habeas Corpus-RJ, que tem apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no acompanhamento do protesto.

Com o tempo frio e chuvoso no Rio, a manifestação não teve tanta adesão quanto as anteriores. Até as 19h30, o ato reunia cerca de 250 pessoas que começaram a percorrer as ruas do bairro. Mais uma vez, Cabral foi o principal alvo. Em pesquisa divulgada hoje pelo CNI/Ibope, o governador teve apenas 12% de aprovação.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nesta sexta-feira, 28, uma nota pública em repúdio à violência contra os profissionais de imprensa que participaram da cobertura das recentes manifestações no Brasil pela redução do preço das tarifas de ônibus.

Segundo a Abraji, 52 profissionais foram agredidos, hostilizados ou presos. Levantamento da associação revela 34 agressões e ameaças pela polícia, 12 por manifestantes e 6 prisões - em 11 cidades brasileiras.

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