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Pelas ruas de pedra que levam ao colorido do casario antigo de Olinda, o tempo parece assumir ritmo próprio. Esse lugar repleto de fascínio e magia que, segundo o poeta, detém a "paz do mosteiro das Índias" - aquela somente interrompida pela explosão do Carnaval - vem inspirando há 487 anos - comemorados neste sábado (12) - poetas, compositores e artistas plásticos, entre outros trabalhadores das artes, de forma quase instantânea e até natural, como se tivesse sido criado para esse fim.

Entre esses artistas, estão Aline Feitosa e Emmanuel Cansanção, do Pequeno Ateliê, que assumiram quase como uma missão a preservação dessa atmosfera e das memórias que ela guarda transportando-as para o barro. 

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Em  suas peças, eles reproduzem o colorido do casario da Cidade Alta, bem como algumas figuras do Carnaval, como a La Ursa e o Homem da Meia-Noite. A inspiração vem da própria vivência de cada um em solo olindense. "É natural por uma questão de memória afetiva A gente viveu em Olinda e adora passear aqui pelo Sítio Histórico. São coisas que  fazem parte da nossa história, a gente não inventou, é verdadeiro", diz Aline, que trocou sua cidade natal, Rio de Janeiro, pelo estado de Pernambuco, berço da sua família materna aos 14 anos de idade. 

Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Emmanuel também trocou o local do nascimento por Olinda e Recife. O artista plástico é nascido em Catende (PE), mas foi trazido pelos familiares, logo após o nascimento, para o bairro olindense de Rio Doce. E foi entre as etapas deste bairro e as ladeiras históricas da Marim dos Caetés que ele se descobriu artista, desde cedo, quando pintava camisetas e as vendia em um varal colocado na Ladeira da Misericórdia a fim de descolar grana para assistir aos shows de Chico Science, na época do Manguebeat. "Minha infância e adolescência toda foi aqui em Olinda. Olinda é meu lugar, conheço tudo, todas as ruas, todos os becos", diz, garantindo que é reconhecido como olindense onde quer que chegue.

Há cerca de quatro anos, os dois somaram esforços e começaram a produzir sua arte juntos. Aline, então jornalista com mais de 20 anos de experiência na área cultural, acabou tomando gosto pelo barro e hoje, dedica-se somente a ele. Foi através da parceria com Emmanuel, artista plástico com quase três décadas de experiência, que eles descobriram o quanto as influências e o amor que nutrem pela cidade aniversariante deste sábado (12) poderiam resultar em obras que tocariam significativamente o público. "O primeiro (vaso) que eu fiz foi a La Ursa e tive a surpresa de que aquilo estava tocando outras pessoas. Foi de forma espontânea e verdadeira. Eu, particularmente, sempre gostei dessa questão do patrimônio histórico, sempre me tocou muito. Reproduzir esse patrimônio, essa memória histórica no barro, é muito gostoso", diz Aline.

Assim, as obras de arte da dupla  assumiram o caráter de preservação de uma memória histórica e cultural, algo que vai além do apelo estético das peças. "Nós, brasileiros, temos um problema com a memória. A gente se esquece das coisas muito rápido. A gente não dá atenção. Olinda, por exemplo, não tem a atenção que merece como patrimônio histórico e cultural da humanidade. Eu acho que (nosso trabalho) é uma coisa de resgate", comenta Aline. Ao que Emmanuel complementa: "É muito essa coisa da memória afetiva. As coisas estão se perdendo, se acabando. Então, a gente leva isso de volta para as pessoas". 

Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Para além da natural preservação e manutenção de tantas memórias - os dois também produzem, sob encomenda, peças personalizadas - o trabalho de Aline e Emmanuel tem conseguido dar a cada peça um apelo afetivo e emocional que apenas a arte é capaz de oferecer. A 'mágica' parece mesmo vir da própria cidade que os inspiram, com suas ruas de pedra, seu casario colorido e seu tempo totalmente único. Eles mesmo é que o dizem e esculpem, com visível carinho e amor, peça a  peça. 

 "Olinda tem uma energia criativa que é própria dela. Ela tem essa coisa boêmia... Na minha infância e adolescência, eu vivi a Olinda dos ateliês abertos, sinto bastante saudade disso.  Na pandemia, às vezes a gente vinha passear nas ruas vazias, só para olhar e para criar, desenhar. É um lugar muito marcante. Olinda é muito inspiradora". Aline Feitosa. 

Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

“Aqui, durante a manhã, numa segunda-feira, eu saio na rua e vejo as pessoas calmamente indo comprar pão… O cheiro da cidade, as pessoas, as cores, a brincadeira, a safadeza de Olinda, os costumes… Isso influencia de uma maneira que é tão natural que se eu chegar em algum lugar a galera vai dizer: ‘tu é de Olinda’. Eu gosto da cidade, eu sofro com a cidade; quando tá ruim eu sofro com ela também, fico triste. Mas, quando tá bom, eu vou pra rua, brinco, comemoro. Acho que é uma relação de carinho muito forte com a cidade. É praticamente um vício”. Emmanuel Cansanção

Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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