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O presidente Michel Temer sancionou nesta quinta-feira, 4, a lei que permite a capitalização em até R$ 15 bilhões da Caixa Econômica Federal com recursos do FGTS, segundo apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. O empréstimo com o dinheiro do fundo será feito por meio da emissão de um bônus perpétuo, sem prazo de vencimento.

A estratégia do governo e da Caixa é que a operação seja aprovada num "prazo muito rápido" após a sanção do presidente.

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Como mostrou o Broadcast, a costura política já foi feita no Conselho Curador do FGTS para aprovação do empréstimo à Caixa com recursos do fundo.

O empréstimo funciona como uma espécie de capitalização. Sem a capitalização, a Caixa corre o risco hoje de ter de puxar o freio na concessão de crédito para não descumprir normas internacionais de proteção bancária, que definem o quanto a instituição precisa ter em capital dos sócios (nesse caso apenas um, o Tesouro) em relação ao volume de empréstimos.

A instituição hoje está muito perto dos limites mínimos dessas normas, antes mesmo do endurecimento das regras, programado para 2019.

O projeto de socorro aprovado pelo Congresso foi desenhado pelas lideranças do governo em prazo recorde de apenas sete dias, para dar fôlego ao banco público para continuar emprestando em 2018, ano de eleições, sem a necessidade de um aporte direto pelo Tesouro, que não tem recursos para injetar no banco.

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 6, o projeto de lei que permite ao conselho curador do FGTS adquirir, por resolução, bônus perpétuos emitidos pela Caixa com o objetivo de socorrer o banco público. A medida é uma tentativa de driblar o Tribunal de Contas da União (TCU), que abriu investigação sobre a operação. O Ministério Público junto à corte de contas chegou a pedir que a transação fosse barrada por entender que há desvio de finalidade e risco de dano ao patrimônio dos trabalhadores.

O texto foi apresentado pela bancada do PP, mesmo partido do presidente da Caixa, Gilberto Occhi. A urgência da tramitação da proposta foi aprovada no fim da tarde, logo depois de o TCU rejeitar o pedido de cautelar para impedir a operação. Foi um voto de confiança diante do compromisso do governo, sinalizado em documentos ao TCU, de que não faria nenhum movimento para concretizá-la antes do pronunciamento da corte de contas.

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A operação é considerada necessária pelo governo para que a Caixa possa continuar emprestando sem restrições. Com problemas de capital, o risco seria o banco público - responsável por programas sociais como o Minha Casa Minha Vida - ter que puxar o freio no crédito justamente em período eleitoral.

Segundo apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, a iniciativa de votar a urgência do projeto de lei e o seu mérito hoje, no "afogadilho", foi vista como algo no mínimo "contraditório" por integrantes do tribunal, diante da indicação feita pelo governo no processo aberto pelo TCU. A avaliação, no entanto, é que se a permissão para a operação virar lei será difícil continuar a briga.

O projeto foi aprovado por 318 votos a favor, 13 contra e duas abstenções. Agora, o texto segue para o Senado Federal. Diante do temor de a Caixa secar o crédito no ano que vem para se enquadrar às normas bancárias, até a oposição votou a favor da proposta. "O PT entende a importância dessa matéria", afirmou o deputado Caetano (PT-BA).

Um dos ferrenhos defensores do governo na Câmara, o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) disse que a operação "será um grande negócio" para o FGTS. O líder do PSB na Câmara, Julio Delgado (MG), liberou a bancada para a votação, mas alertou para o risco de o FGTS "virar sustentador de eventual quebra da Caixa". Ele disse ainda achar que o dinheiro do trabalhador não deveria ser usado nessa operação.

O projeto de socorro à Caixa foi protocolado uma semana após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se reunir com o presidente da Caixa para discutir as dificuldades do banco. As negociações ocorrem em meio às tentativas do governo para aprovar a reforma da Previdência. O PP é um dos partidos que resistem a apontar quantos votos entregarão para aprovar a proposta.

As resoluções do conselho curador do FGTS podem ser editadas de forma monocrática pelo ministro do Trabalho, passando a ter valor desde então e viabilizando a emissão dos bônus com uma simples assinatura. A análise pelo colegiado seria feita posteriormente, quando a operação já teria sido concretizada.

O projeto de lei foi apresentado em 30 de novembro, dois dias após a abertura da investigação pelo TCU, pelo deputado Fernando Monteiro (PP-PE), um dos principais aliados do presidente da Câmara. O requerimento de urgência foi apresentado ontem pelo líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), e foi aprovado por 317 votos a quatro.

Reação

Sob reserva, deputados admitem que o projeto é uma reação à decisão do TCU de abrir a investigação. Parlamentares dizem que há cerca de dois meses a Caixa tenta negociar com o tribunal, sem sucesso. Diante disso, o Congresso decidiu apresentar o projeto para tentar "legalizar" a operação questionada pela corte de contas.

Como antecipou o Broadcast, a Caixa enfrenta problemas de capital e analisa uma série de medidas possíveis para melhorar sua situação. Uma delas e a emissão de bônus perpétuo em troca da injeção de R$ 10 bilhões do FGTS no banco público.

Na representação do MP-TCU que originou a investigação, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira sustentou que há desvio das finalidades do FGTS na operação pretendida e ainda abuso de poder do agente financeiro do fundo, no caso a Caixa. Há ainda o risco de a operação trazer dano ao patrimônio dos trabalhadores.

O banco está pressionado porque o Tesouro Nacional, acionista único da instituição, já avisou que não tem como tirar dinheiro do Orçamento para capitalizar o banco por causa da delicada situação fiscal do governo. Ao mesmo tempo, o Banco Central cobra o cumprimento das novas exigências mais duras para o capital do banco, seguindo regras internacionais.

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