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A condução da resposta ao coronavírus no Brasil vinha chamando a atenção da comunidade internacional de maneira negativa para o País. Em meio a este cenário, a saída de Sérgio Moro do governo de Jair Bolsonaro ligou um novo e mais gravoso sinal de alerta entre analistas nos Estados Unidos.

Para especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, as últimas notícias do Brasil podem deixar o País isolado no cenário internacional e indicam que há um "caos" político instalado, enquanto o restante do mundo luta para conter as consequências de uma pandemia.

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"Moro e Paulo Guedes (ministro da Economia) são os dois líderes dentro do governo brasileiro mais respeitados pela comunidade internacional. São líderes de credibilidade independente dos seus cargos atuais. Num governo anormal, como o de Bolsonaro, são esses líderes respeitados os que a comunidade internacional procura", afirma Fernando Cutz, ex-conselheiro da Casa Branca nos governos Obama e Trump, atualmente consultor no Cohen Group. Para ele, a situação atual tende a deixar o Brasil "mais isolado" no mundo.

À frente da Operação Lava Jato, Moro se tornou conhecido nos Estados Unidos antes de Bolsonaro. Desde 2014 o nome do agora ex-ministro é recorrente em reportagens na imprensa estrangeira que noticiaram os desdobramentos da Lava Jato no Brasil e, ainda juiz, ele passou a ser presença frequente em eventos nos EUA. Os sucessos e erros da Lava Jato são objeto de estudo por especialistas em combate à corrupção das maiores universidades norte-americanas. Quando está em Washington e Nova York, Moro é disputado para agendas com investidores, acadêmicos, estudantes e analistas.

Caos

"A renúncia do Moro e as consequências políticas e econômicas disso confirmam a sensação de que o Brasil está em meio ao caos no pior momento possível", afirma Michael Camilleri, ex-diplomata do governo Barack Obama e diretor do centro de estudos Rule of Law, do instituto Diálogo Interamericano. "Desde que assumiu, Bolsonaro procurou transmitir para a comunidade internacional que está remodelando o Brasil. Agora, muitos começam a se perguntar por quanto tempo esse projeto pode durar, a que custo, e o que pode vir depois", afirma Camilleri.

Bolsonaro havia sido apontado como um dos piores líderes mundiais na condução da crise do coronavírus pelo presidente da Eurasia Group, Ian Bremmer, no final de março. Depois disso, os jornais internacionais noticiaram a demissão do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e a saída turbulenta de Moro.

"Como todo o mundo, o Brasil está em uma crise de saúde que afeta diretamente a economia e o seu futuro. Mas a renúncia de Moro, apenas uma semana depois da demissão de Mandetta, exacerba a instabilidade política em um momento em que o País deveria enviar sinais de liderança efetiva. Para aqueles que olham de fora para o Brasil, o alvoroço político provavelmente fará com que pensem duas vezes antes de se relacionar com esse governo", afirma Roberta Braga, diretora associada do departamento sobre América Latina do Atlantic Council, "think tank" com sede em Washington.

Para parte da comunidade internacional, Moro personificava o compromisso com o combate à corrupção, um dos componentes de aumento da confiança externa no País. "No cenário externo a repercussão é seriíssima, mesmo em relação aos governos que de certa forma se alinham ao Bolsonaro, como o próprio governo americano", afirma Lívia Lopes, diretora associada do Centro de Estudos Brasileiros da George Washington University.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), alertou no fim da noite deste domingo (8), em sua conta no Twitter, que o cenário internacional "exige seriedade e diálogo das lideranças do País". Ele defendeu a adoção de medidas emergenciais e afirmou que a crise pode se tornar uma oportunidade "se agora os poderes da República agirem em harmonia e com espírito democrático".

"O cenário internacional exige seriedade e diálogo das lideranças do País. A situação da economia mundial se deteriora rapidamente. O Brasil não vai escapar de sofrer as consequências dessa piora global. É preciso agir já com medidas emergenciais", advertiu o presidente da Câmara.

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A declaração foi feita horas depois das primeiras notícias sobre divergências entre Arábia Saudita e Rússia em torno de um acordo sobre cortes na produção de petróleo diante da desaceleração da economia decorrente do avanço do novo coronavírus. Os preços de negociação internacional do barril da commodity já caem mais de 20%.

A manifestação de Maia também vem um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro convocar publicamente a população para participar das manifestações de 15 de março. Em Roraima, antes de seguir viagem aos Estados Unidos, o presidente disse que a manifestação é "espontânea" e "pró-Brasil", e não contra o Congresso ou o Judiciário, mas também afirmou que "político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político".

Segundo Maia, o Congresso "está pronto" para avançar com as reformas necessárias capazes de restabelecer a confiança. "Se agora os Poderes da República agirem em harmonia e com espírito democrático, esta crise pode virar uma oportunidade de se somar forças em busca das soluções necessárias e urgentes", afirmou o presidente da Câmara.

A Bovespa acompanhou o otimismo do cenário internacional e fechou em alta de 1,55% nesta segunda-feira, 29, aos 58.610,39 pontos. Os investidores não perderam de vista a intensa movimentação em torno do julgamento do impeachment de Dilma Rousseff no Senado, mas o otimismo com os sinais de fortalecimento da economia americana sustentaram as bolsas locais e acabaram por influenciar diretamente os negócios por aqui.

As bolsas americanas dedicaram o início da semana a uma recuperação de perdas recentes, amparadas por dados positivos divulgados pela manhã. Os gastos com consumo avançaram 0,3% em julho ante junho e a renda pessoal teve alta de 0,4% na mesma comparação.

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Os dois indicadores ficaram dentro da previsão dos analistas, mas foram bem recebidos. O índice de produção manufatureira medido pelo Federal Reserve de Dallas, por sua vez, subiu a 4,5 em agosto, de 0,4 em julho.

Segundo Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença Corretora, os grupos de ações que mais subiram no Brasil coincidem com as maiores altas nos EUA. Isso porque, explica, o mercado acompanha a correlação entre papéis.

Assim, as ações do setor financeiro dos EUA, que avançaram diante dos sinais de aquecimento econômico e possibilidade de alta de juros no país, acabaram por favorecer também os papéis de bancos no Brasil. "As altas mais significativas aqui foram de ações que acompanharam seus pares no exterior", disse.

O mesmo aconteceu com Vale e Petrobras, que também se destacaram no pregão desta segunda. No caso dos papéis da Petrobras, a alta se sustentou mesmo diante da queda expressiva dos preços do petróleo.

O cenário político foi secundário e pouco influenciou os negócios, segundo a maioria dos analistas. Alguns, no entanto, citaram como positivo o fato de a defesa de Dilma Rousseff não ter trazido novidades que gerassem qualquer ruído ou temor de mudança de rumos no processo de afastamento.

Entre as ações do setor financeiro, as maiores valorizações ficaram com Banco do Brasil ON (+4,02%), Bradesco ON (+2,68%), Santander Brasil unit (+2,26%) e Itaú Unibanco PN (+1,76%). Petrobras ON e PN terminaram o dia com ganhos de 1,54% e 2,55%, respectivamente. Já Vale ON e PNA subiram 2,20% e 2,39%.

Na contramão do mercado, lideraram as baixas do dia os papéis de Usiminas PNA (-4,19%), Multiplan ON (-1,39%) e Pão de Açúcar PN (-0,69%). O volume de negócios na bolsa brasileira totalizou R$ 5,31 bilhões, abaixo da média diária de agosto, de R$ 7,445 bilhões.

Depois de três dias consecutivos de queda, as taxas de juros negociadas no mercado futuro ficaram perto da estabilidade nos vencimentos mais curtos e voltaram a subir nos mais longos nesta quinta-feira, 7. A turbulência no cenário internacional e ajustes técnicos nas posições dos investidores contribuíram para a mudança de tendência.

Os temores de desaceleração da economia chinesa voltaram a derrubar as bolsas locais, que tiveram novamente acionado o circuit breaker. Com isso, os mercados acionários tiveram perdas em todo o mundo e o dólar ganhou força perante moedas de países emergentes, principalmente pela manhã. A desaceleração econômica também foi destaque no Brasil, com a produção industrial em queda de 2,4% em novembro ante outubro, bem acima da mediana das estimativas do mercado, que apontava uma queda de 0,90%.

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A menos de duas semanas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que definirá o rumo da taxa Selic, o mercado pouco alterou as projeções, que nos últimos dias vêm apontando para um Copom mais "dovish". A ponta curta da curva de juros indicou hoje 80% das apostas dos investidores em uma elevação de 0,50 ponto porcentual na taxa básica, hoje de 14,25% ao ano. Os outros 20% estão concentrados na aposta em uma elevação de 0,25 ponto na taxa básica.

Após os ajustes para baixo registrados desde segunda-feira, o mercado agora aguarda novos sinais sobre os próximos passos da política monetária do Banco Central. Amanhã, por exemplo, será conhecido o IPCA de dezembro e do acumulado de 2015. De acordo com pesquisa do AE Projeções, o índice deve ficar entre 10,66% a 10,88%, com mediana de 10,78%. Em 2014, o IPCA havia sido de 6,41%.

Nos negócios na BM&F, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em abril de 2016 encerrou o pregão regular de negócios indicando taxa de 14,638%, ante 14,644% do ajuste de ontem. O vencimento de janeiro de 2017 ficou com taxa de 15,54%, de 15,52%. Na ponta mais longa, o DI para liquidação em janeiro de 2021 terminou com taxa de 16,28%, acima dos 16,11% do ajuste anterior. O avanço das taxas longas foi atribuído principalmente a um ajuste técnico de posições, relacionado principalmente ao leilão de LTNs, títulos prefixados, feito pela manhã.

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