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O Ministério Público (MP), a Defensoria Pública e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Amazonas questionaram o governo do Estado sobre o número de doses da Coronavac recebidas, o rateio entre as cidades e a lista de profissionais de saúde imunizados. A vacinação do filho de um deputado estadual e de duas irmãs filhas de um empresário local, todos médicos recém-formados, motivou críticas nesta quarta-feira (20).

Na noite desta terça (19), David Dallas e as gêmeas Gabrielle e Isabelle Kirk Lins publicaram fotos nas redes sociais do momento em que recebiam as doses da vacina. O jovem é filho do deputado estadual Wanderley Dallas (Solidariedade). Elas, de 24 anos, são filhas dos donos da universidade e hospital Nilton Lins, alugado pelo governo para funcionar como hospital de campanha. Os três não vinham atuando na linha de frente de combate à covid-19.

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Só Isabelle teve sua nomeação publicada no Diário Oficial do Município um dia antes da vacinação. Os outros dois tiveram a nomeação publicada no dia seguinte. Eles não ocupam cargos de médicos, mas de gerentes de projetos - com salários de cerca de R$ 15 mil. O Estadão procurou os três, mas não conseguiu contato.

A prefeitura respondeu apenas que as duas jovens foram vacinadas por serem funcionárias, mas não respondeu por que uma delas só foi nomeada depois. Também não explicou o caso de Dallas. O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), publicou ontem em suas redes sociais que baixaria uma portaria proibindo as pessoas de postarem fotos nas redes sociais após serem vacinadas.

Questionamentos

Defensoria, MP e TCE cobram o Estado sobre o total de doses distribuídas entre os municípios. Consta no site do Ministério da Saúde que chegariam para Manaus 101 mil doses de vacina e só chegaram 40 mil. Segundo o ofício enviado ao governo pelos órgãos de controle, outros municípios também receberam menos, como Parintins, que iria receber 4.974 doses, mas recebeu pouco mais de mil esta semana.

"Não há transparência alguma nos dados, estamos enviando ofícios sobre essa falta de informações ao governo do Estado desde a primeira fase da pandemia", afirmou defensor público do Estado, Rafael Barbosa.

A Defensoria pediu ajuda aos coordenadores do Atlas Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Universidade Federal do Amazonas. O grupo cruzou dados de vacinas recebidas com o previsto pelo plano estadual de imunização. "Alguns municípios, como Amaturá, receberam 173% da quantidade de vacinas para a 1ª fase. O governo diz que é para vacinar as duas fases, para facilitar a logística com municípios muito longínquos, mas se fosse assim, seria 200% do total. Os números não batem", diz Danilo Egle, coordenador técnico do ODS.

Membro do Conselho Regional de Enfermagem, Cleide Martins disse que houve hospitais onde, além dos profissionais de saúde, foram vacinados outros setores, como a direção dos hospitais e outros funcionários. Já o presidente do Sindicato dos Médicos, Mário Vianna, cobrou a vacinação de todos os profissionais de saúde. "Se continuarem a adoecer no nível que estão adoecendo, vai faltar oxigênio e profissionais de saúde."

Sobre os questionamentos feitos pelo TCE, o governo amazonense informou que vai prestar todas as informações requisitadas pelo tribunal.

Omissão do AM em crise do oxigênio

O Ministério Público Federal instaurou inquérito civil para investigar possível ato de improbidade administrativa do governo do Amazonas diante da falta de oxigênio na capital e no interior. A apuração busca entender se a administração estadual foi avisada do iminente colapso com uma semana de antecedência. "Autoridades locais sabiam da possibilidade da falta de oxigênio", disse o procurador Igor Spindola, que está a frente das ações do Ministério Público Federal (MPF) no combate à pandemia no Amazonas.

A investigação solicitou informações ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Defesa sobre as medidas adotadas diante de informações prévias sobre a provável crise de desabastecimento de oxigênio no Amazonas e também pediu informações e documentos do governo do Amazonas e da empresa White Martins sobre os alertas oficialmente feitos às autoridades competentes da perspectiva de falta de oxigênio.

Foi constatado que dois aviões da FAB que traziam cilindros de oxigênio de fora do Estado já há uma semana, por conta do aumento da demanda, não fizeram a rota nos dias 13 e 14 de janeiro. Na noite do dia 14, começaram as denúncias de mortes por falta de oxigênio nos hospitais da capital.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Susam) disse que o governo está "empreendendo todos os esforços, com auxílio do governo federal, para equacionar as dificuldades encontradas na logística de abastecimento de oxigênio nas unidades de saúde da rede pública de saúde da capital e interior". A nota destaca que os sistemas de saúde dos municípios de Coari, Parintins e Tefé são independentes, sendo gestão plena das prefeituras municipais, mas o Estado auxilia a administração local.

O Estadão mostrou semana passada que, ao menos desde o dia 23 de novembro, o governo do Amazonas sabia que a quantidade de oxigênio hospitalar disponível seria insuficiente para atender a alta demanda. A informação consta de projeto básico, que foi elaborado pela própria pasta, para a última compra extra do insumo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O deputado federal Raul Henry (MDB-PE) apresentou um pedido para a aberura de uma de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), com a finalidade de investigar as causas e os responsáveis pelo colapso do sistema de saúde em Manaus, no Amazonas. A proposta foi protocolada nessa terça-feira (19) na Câmara dos Deputados. 

Na avaliação de Henry, “a Câmara dos Deputados não pode se omitir da investigação desses fatos gravíssimos. A impunidade não pode prevalecer ante a negligência criminosa que foi praticada contra o povo do Amazonas”.

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“De todos os absurdos dessa tragédia que atinge o Brasil, cujas mortes pela Covid-19 representam 10% das mortes do mundo pela doença, o maior de todos foi o colapso no sistema de saúde de Manaus, em propagação pelo interior da região Norte do país”, observou o deputado ao justificar a solicitação.

 “Sem oxigênio nos hospitais, leitos fechados por falta do insumo, doentes levados a outros estados, cemitérios sem vagas e toque de recolher, a capital do Amazonas vive uma crise sem precedentes. O que chama atenção, no entanto, é que estamos diante de uma tragédia anunciada, que foi formalmente comunicada às autoridades desde as últimas semanas de 2020. Documentos oficiais, inclusive, relatam com detalhes o tamanho do problema e até a previsão exata de quando ocorreria o colapso”, emenda o emedebista.

 Raul Henry ressalta também que os casos de contaminação da doença cresceram e aponta a morosidade de atuação do Ministério da Saúde diante da situação na cidade. Veja a justificativa na íntegra:

De todos os absurdos dessa tragédia que atinge o Brasil, cujas mortes pela covid-19 representam 10% das mortes do mundo pela doença, o maior de todos foi o colapso no sistema de saúde de Manaus, em propagação pelo interior da região Norte do país.

Sem oxigênio nos hospitais, leitos fechados por falta do insumo, doentes levados a outros estados, cemitérios sem vagas e toque de recolher, a capital do Amazonas vive uma crise sem precedentes. O que chama atenção, no entanto, é que estamos diante de uma tragédia anunciada, que foi formalmente comunicada às autoridades desde as últimas semanas de 2020. Documentos oficiais, inclusive, relatam com detalhes o tamanho do problema e até a previsão exata de quando ocorreria o colapso.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de internações em Manaus dobrou em uma semana, saindo de 36 casos, em 20 de dezembro, para 88 casos, em 27 de dezembro. Nessa data, fornecedores de oxigênio da região já apontavam para a insuficiência da oferta do gás.

Após reunião do ministro da saúde, Eduardo Pazuello, com o seu secretariado, no dia 28 de dezembro, foi decidido que um grupo técnico seria enviado para avaliar a situação em Manaus. Mas a comitiva só chegou na cidade no dia 3 de janeiro de 2021. Já no dia seguinte, 4 de janeiro, o governo reconheceu a possibilidade iminente de colapso do sistema de saúde, dentro de 10 dias.

No dia 7 de janeiro, a White Martins oficiou que não tinha condições de atender à demanda dos hospitais por oxigênio, chegando a sugerir o nome de uma segunda fornecedora para ajudar a suprir essa necessidade.

Mesmo diante de todas essas alarmantes evidências, o que se viu foram pessoas indo a óbito por asfixia, pela impossibilidade do socorro adequado.

Diante do exposto, entendo que o Parlamento tem o dever de adotar as medidas que lhe cabem. A Câmara dos Deputados não pode se omitir da investigação desses fatos gravíssimos. A impunidade não pode prevalecer ante a negligência criminosa que foi praticada contra o povo do Amazonas.

Assim, justifica-se plenamente a criação da COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO, respaldada pelas assinaturas que acompanham a proposta.

 RAUL HENRY

Ao menos seis pessoas da mesma família morreram por asfixia na cidade de Faro, Pará, de segunda-feira (18) para terça-feira (19). A realidade no local, de 12 mil habitantes, é de colapso na rede da saúde com a falta de oxigênio para pacientes da Covid-19. O município fica na divisa com o Amazonas, Estado que ainda não resolveu a crise de abastecimento do insumo, que se estende há pelo menos 13 dias.

Na última semana, outras 18 pessoas morreram asfixiadas em três cidades amazonenses, conforme governos locais e o Ministério Público. Balanços extraoficiais de prefeituras e médicos apontam um total de 35 óbitos.

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Em Faro, a situação mais preocupante é na comunidade de Nova Maracanã, onde havia na terça 34 hospitalizados. A prefeitura pede ajuda para transferir oito doentes em estado grave e com urgência de UTI. A falta de estrutura também atinge as cidades vizinhas de Terra Santa (PA) e Nhamundá (AM).

Na manhã desta terça-feira, o prefeito de Faro, Paulo Carvalho, conseguiu comprar 20 cilindros de oxigênio de Santarém (PA). Faro também costuma comprar suprimentos em Manaus. "Ambas as cidades estão em crise. A demanda é maior que a quantidade, porque a produção está comprometida", diz, referindo-se à crise na empresa White Martins, fornecedora de oxigênio hospitalar no oeste do Pará.

Prevendo alta de infecções, a prefeitura de Faro aumentou o total de leitos de seis para 30. Segundo o médico da Unidade Básica de Saúde da cidade Yordanes Perez, o oxigênio recebido nesta terça garante só dois dias de tratamento dos pacientes.

O morador Luís Carvalho relatou a mobilização na madrugada para ajudar os doentes. Segundo ele, foi preciso o empréstimo de dois cilindros de Nhamundá para evitar mais mortes. "Eram três horas da madrugada quando duas balas (cilindros) chegaram de voadeira (espécie de lancha) em Faro. Uma ficou aqui (NA UBS) e a outra levamos de carro para Nova Maracanã", conta.

Desde o dia 5, Faro está em toque de recolher. De 20h às 5h, não é permitida movimentação. Durante o dia, o comércio local funciona com restrições. As medidas foram tomadas após o fim de ano, quando a cidade recebeu muitos visitantes de Manaus.

Na semana passada, o Pará proibiu a circulação de embarcações vindas do Amazonas. A Secretaria de Saúde Pública do Pará informou ser de responsabilidade das prefeituras a manutenção de contratos e a aquisição do oxigênio. Conforme o Estado, 159 cilindros foram distribuídos ontem para a região.

Amazonas

Em Coari, a 362 quilômetros de Manaus, foram confirmados sete óbitos de domingo para segunda por falta de oxigênio no hospital regional. A prefeitura da cidade acusou o Estado de reter 200 cilindros. Conforme o governo, o Estado teria enviado 40 cilindros na segunda, mas o avião que realizaria o desembarque dos equipamentos foi direto para o município de Tefé, a 523 km da capital, impossibilitando o retorno a Coari já que o aeroporto local não opera voos noturnos.

Em nota, a Secretaria de Saúde do Amazonas disse lamentar e afirmou que, por "opção do município, o sistema de saúde na cidade é independente, sendo a gestão municipal". Mas, segundo o texto, o Estado "nunca se furtou de auxiliar a administração local". A pasta alega que a carga de cilindros foi enviada a Tefé, por causa de um atraso da fornecedora de oxigênio.

As outras mortes por asfixia no interior foram em Manacapuru (7), segundo o MP e Itacoatiara (4), onde o governo do Estado sugeriu na semana passada abrir valas diante da impossibilidade de suprir rapidamente os estoques de oxigênio. Em Manaus, não há dados oficiais.

O Amazonas não está conseguindo suprir a demanda do interior de pedidos de internação ou oxigênio. Enquanto defensores públicos e promotores entram com ações civis públicas para tentar priorizar seus municípios, decisões judiciais barram as tentativas e colocam na mão do Estado decidir quem é prioridade.

A líder do PSOL na Câmara, deputada Sâmia Bomfim (SP), cobrou informações do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre os estoques de cilindros de oxigênio, seringas e agulhas para vacinação em todos os Estados do Brasil. A parlamentar protocolou um requerimento pedindo explicações ao Ministério da Saúde.

No documento, ela solicita detalhamento de dados como a média de consumo semanal de oxigênio medicinal em cada unidade federativa e em quais Estados o Ministério da Saúde percebeu aumento de consumo deste insumo a partir de dezembro.

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A deputada questiona ainda se existe um plano para evitar a escassez de equipamentos de proteção individual na rede pública - como luvas descartáveis, óculos de proteção, aventais, máscaras cirúrgicas, máscaras N95, toucas descartáveis e protetor facial de acrílico.

"Devemos garantir urgentemente que tal situação de desabastecimento não se repita e que os trabalhadores da saúde tenham sua segurança assegurada pelo poder público", disse a parlamentar.

Com a nova explosão de casos de Covid-19 no Amazonas, o Estado vive atualmente o pior momento da pandemia, com colapso no sistema de saúde e falta de oxigênio para pacientes.

Na última quinta-feira (14), o estoque do insumo chegou a acabar nos hospitais de Manaus e pacientes morreram asfixiados, segundo o relato de médicos. Nesta terça-feira (19), sete pacientes morreram em Coari (AM) e seis em Faro (PA) devido à falta do insumo.

Conforme divulgou o Estadão, pelo menos desde o dia 23 de novembro a Secretaria de Saúde do Amazonas sabia que a quantidade de oxigênio hospitalar disponível seria insuficiente para atender a alta demanda provocada pela pandemia de Covid-19.

As dificuldades no atendimento da demanda teriam sido relatadas ao Ministério da Saúde no dia 7 de janeiro. O governo federal disse ao Supremo Tribunal Federal (STF) que soube da falta de oxigênio no dia 8. Pazuello esteve em Manaus no dia 11.

Depois do colapso no sistema de saúde de Manaus, capital do Amazonas, a falta de oxigênio hospitalar para tratar pacientes internados com o novo coronavírus também foi registrada no município de Faro, no Pará. Após a cidade de 12 mil habitantes registrar pelo menos seis mortes por asfixia em 24 horas, uma força-tarefa composta por integrantes dos Ministérios Públicos Estadual, Federal e do Trabalho formalizou um pedido de providências ao Ministério da Saúde e ao Governo do Pará.

No documento, enviado na tarde desta terça-feira (18), promotores e procuradores pedem que as autoridades informem as ações em curso para evitar o desabastecimento de insumos e garantir o atendimento aos pacientes. Há preocupação especial de um 'efeito cascata' na região do Baixo Amazonas onde, segundo o ofício, há indicativos de que o sistema de saúde está prestes a entrar em colapso. O prazo fixado para resposta é de três dias.

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Os Ministérios Públicos recomendam que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e o secretário estadual de Saúde, Rômulo Rodovalho Gomes, atuem em conjunto no monitoramento e suporte material e humano aos municípios, incluindo o custeio de eventuais transferências para outros Estados.

O documento observa ainda que a atuação direta do governo federal no combate à pandemia da covid-19 em Estados e municípios jamais foi vetada pelo Supremo Tribunal Federal - ao contrário do que disse o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na esteira das mortes em Manaus.

Na prática, a recomendação é instrumento usado pelo Ministério Público para alertar autoridades sobre a necessidade de providências para resolver uma situação irregular ou que possa levar a irregularidades. Em última instância, abre caminho para a judicialização, nas esferas cíveis e criminais, em caso de descumprimento injustificado.

Em nota divulgada na tarde de ontem, a Secretaria de Saúde do Pará informou que emitiu alerta às secretarias municipais para que monitorem os estoques dos hospitais. No texto, a pasta afirma que cada prefeitura é responsável pela manutenção de contratos e aquisição do insumo para abastecimento local e que ao governo cabe o abastecimento dos hospitais estaduais.

Além do Amazonas e Pará, o Ministério Público também monitora a situação no Ceará. Até esta segunda-feira, 18, o órgão havia formalizado três pedidos de informações, dirigidos às secretarias de Saúde do Estado e de Fortaleza e à empresa White Martins, sobre a demanda de oxigênio hospitalar no Estado. Embora a Promotoria descarte, neste momento, o risco de desabastecimento, a ideia é se adiantar a possíveis explosões na demanda.

"Nós estamos acompanhando como os estoques são controlados pelas autoridades, como é a fabricação, e se a White Martins tem capacidade para, eventualmente, aumentar a produção. Tudo isso para entender quais são as providências que podemos tomar para que o que aconteceu em Manaus não ocorra aqui no Estado do Ceará", explicou ao Estadão a promotora Ana Cláudia Uchôa, titular da 137ª Promotoria de Justiça de Fortaleza.

O pedido coletivo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro formulado por Rede, PSB, PT, PCdoB e PDT vai incluir, além do episódio do colapso da saúde no Amazonas, a situação de mortes por falta de oxigênio no Pará. A peça também vai conter o dado de que o governo federal sabia da situação crítica de escassez de oxigênio nos hospitais desde o dia 8 de janeiro, seis dias antes de pessoas começarem a morrer asfixiadas em Manaus.

De acordo com o gabinete do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a peça está sendo redigida e deverá ser entregue ainda essa semana. Parlamentares da Rede ainda tentam reunir assinaturas para a criação de uma CPI e de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Coronavírus para "apurar as ações e omissões do Governo Federal no enfrentamento da pandemia da covid-19 no Brasil".

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A pressão por pedidos de impedimento do presidente - já são 61 pedidos protocolados na Câmara - se intensificou em virtude do agravamento do combate ao coronavírus e da insistência do mandatário em apostar no tratamento precoce contra a covid-19, com remédios sem eficácia comprovada, em detrimento da campanha de vacinação.

Na semana passada, movimentos sociais, políticos e celebridades aderiram a panelaços anti-Bolsonaro realizados nas principais cidades do País. A iniciativa ganhou inclusive a adesão do apresentador Luciano Huck, um potencial presidenciável em 2022. Antes da formulação do pedido conjunto, partidos da oposição já haviam elaborado e entregue solicitações próprias do impedimento do presidente.

"Esse pedido não pode ter barreira (ideológica). Isso é PT, PCdoB, Cidadania… Se amanhã o PSDB ou o próprio DEM quiserem (participar), acho que não pode ter barreira ideológica. A pauta tem que unir todo mundo", afirmou ao Estadão Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, sigla que custou a se reaproximar do PT depois das eleições de 2018.

Movimentos

A atuação de movimentos da sociedade civil - inclusive dos grupos que trabalharam pelo impeachment da petista Dilma Rousseff - também está ganhando corpo. Além de um novo panelaço para a próxima sexta-feira, há também a convocação de carreatas no sábado e no domingo.

"Agora com o descaso e negligência na pandemia, que culminou com a morte de pessoas por falta de oxigênio em Manaus e escandalizou o Brasil, resolvemos nos mobilizar nas ruas pelo impeachment com as carreatas", afirmou Lucas Paulino, membro do Comitê Estratégico do movimento Acredito, ao Estadão. Criado em 2017, o grupo, que visa a formação de lideranças e a renovação política, ajudou a eleger quatro parlamentares em 2018.

O Acredito está convocando carreatas no sábado, dia 23, em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Paulino disse que, embora o impeachment fosse defendido pelo grupo publicamente desde maio do ano passado, a situação da falta de oxigênio "gerou uma revolta em brasileiros e nos membros do movimento", motivando a convocação de protestos.

Uma coisa parecida ocorre com o MBL e o Vem Pra Rua, movimentos que organizaram protestos pelo fim do governo Dilma. "O MBL protocolou um pedido de impeachment em abril ou maio", disse uma das líderes do grupo, Adelaide Oliveira, que já liderou o Vem Pra Rua e que foi vice na chapa do deputado estadual Arthur do Val (Patriota) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

"Nesse início de ano houve um ponto de inflexão, está ficando bárbaro demais. Deixou de ser só um pensamento ou uma linha política com a qual eu não concordamos. É um grupo político que coloca interesses pessoais acima dos interesses do Estado", afirmou. O MBL está convocando para panelaços na sexta-feira e para carreatas no domingo.

Já o Vem Pra Rua mantém um site chamado "Adeus Bolsonaro", com o posicionamento dos deputados sobre o impeachment e o placar de quantos se posicionaram a favor e contra a saída do presidente. O grupo está convocando uma carreata em São Paulo, no domingo.

Outras iniciativas

Desde domingo, 17, entrou no ar um site chamado "ForaBolsonaro.net" por meio do qual é possível mandar de uma vez só e-mails a todos os 513 deputados da Câmara pedido a votação de um processo de impeachment.

De acordo com um dos responsáveis pela iniciativa, o desenvolvedor de sites Albert França, a plataforma - que chegou a cair do ar por excesso de procura - já disparou mais de 30 mil mensagens em menos de 48 horas. Ele disse que, embora ele seja filiado ao PT, o projeto não tem vínculo com nenhum partido ou instituição, sendo uma iniciativa de um conjunto de amigos que trabalha com construção de sites. O custo do domínio do site, segundo ele, foi bancada através de uma vaquinha.

"A motivação não foi só a falta de oxigênio no Amazonas. Isso foi o estopim", disse, citando a condução da pandemia, a disseminação de notícias falsas, as acusações contra a família do presidente e os comentários homofóbicos, entre outras motivações.

Outra iniciativa civil anti-Bolsonaro - mais jocosa - foi a criação de uma vaquinha virtual para comprar o Centrão, bloco que atualmente apoia o presidente, e, com isso, possibilitar a aprovação do impeachment.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, voltou a tentar afastar do governo federal de qualquer responsabilidades pelo colapso de saúde em Manaus (AM). Desde a semana passada, a cidade não tem oxigênio para todos os pacientes da covid-19 e até para bebês prematuros.

"Fizemos tudo o que tinha de fazer. Estamos fazendo e vamos continuar fazendo", disse Pazuello nesta segunda-feira, 18, no Palácio do Planalto, em entrevista à imprensa.

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O general negou a lentidão do governo federal para oferecer ajuda na entrega de insumos como o oxigênio e culpou a imprensa: "Tudo é noticiado e apresentado diariamente. Nada disso chega desta forma a nossa população", disse. "Essa é a nossa guerra. A guerra contra as pessoas que estão manipulando nosso país há muitos anos", completou.

O presidente Jair Bolsonaro apoiou protestos feitos no Amazonas, em dezembro, que levaram o governador Wilson Lima (PSC) a desistir do fechamento do comércio. "Sei que a vida não tem preço. Mas não precisa ficar com esse pavor todo", disse Bolsonaro em 28 de dezembro. "Vi que o povo em Manaus ignorou o decreto do governador do Amazonas", completou.

Menos de um mês mais tarde, as aglomerações de fim de ano são apontadas pelo próprio governo local como determinantes para a explosão de internações e mortes.

O ministro ainda afirmou que o governo estuda o impacto da variante da covid-19 que foi identificada em Manaus. "Para descobrir o grau de contaminação, se é alto ou normal. Se causa gravidade maior. Se há impacto nas vacinas que estamos projetando ao país", disse. Pazuello afirmou que não adianta "colocar uma redoma em Manaus", pois a variante já circula no resto do País.

O governo federal disse ao Supremo Tribunal Federal (STF) que soube no dia 8 de janeiro da falta de oxigênio. No dia seguinte, segundo Pazuello, ele e sua equipe embarcaram para Manaus e houve reforço na entrega de insumos.

Ao lado de Pazuello na entrevista desta segunda, o governador Wilson Lima disse que conseguiu, nesta segunda-feira, equilibrar a distribuição de oxigênio. Ele afirmou também que há preocupação sobre nova pressão na rede de saúde em fevereiro, quando aumentam os casos de doenças respiratórias.

Pazuello afirmou que, mesmo com o exemplo de Manaus, o governo federal não deve realizar novas campanhas para incentivar o distanciamento social e outras medidas contra a covid-19. "O ministério já faz campanha sobre isso. E muito abrangentes", disse.

'Tratamento precoce'

A viagem do ministro Pazuello a Manaus, na última semana, ficou marcada pela defesa do uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina e a hidroxicloroquina.

Na entrevista à imprensa nesta segunda-feira, Pazuello irritou-se e disse que jamais elaborou protocolo ou estimulou o uso de qualquer medicamento. Segundo Pazuello, a defesa do governo federal é pelo "atendimento precoce".

No vocabulário do Ministério da Saúde e do presidente Jair Bolsonaro, porém, este atendimento tem se misturado com a defesa do uso dos fármacos de eficácia contestada. Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, Pazuello lançou em Manaus o TrateCOV, aplicativo para médicos que ajuda no diagnóstico e indica o uso da cloroquina e outros medicamentos que são aposta de Bolsonaro contra a covid-19. Em ofício à Secretaria de Saúde de Manaus, o ministério chegou a afirmar que é "inadmissível" não prescrever antivirais contra a covid-19.

"A senhora nunca me viu receitar ou dizer, colocar para pessoas tomarem este ou aquele remédio. Não aceito a sua posição", disse Pazuello, no Planalto, a uma jornalista que questionava sobre estes remédios. Em seguida, o general afirmou que o governo seguirá entregando o medicamento, "quando solicitado" por Estados. "Nunca indiquei medicamentos a ninguém. Nunca autorizei o Ministério da Saúde a fazer protocolos indicando os medicamentos."

Em 22 de outubro, quando estava com a covid-19, Pazuello disse que acordou "zero bala" após tomar o "kit completo", que incluiria hidroxicloroquina, entre outros medicamentos. A declaração foi feita ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que disse: "Se algum médico não quiser receitar a hidroxicloroquina, o que faz?" Pazuello respondeu: "O médico chama outro médico, se o paciente quiser tomar, assina lá o compromisso, receita."

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, informou na tarde desta quinta-feira (15), que vai encaminhar agora à tarde um pedido de convocação da Comissão Representativa para que possam discutir o colapso na saúde pública de Manaus.

Além disso, ele quer debater todo o processo que envolve a vacinação no Brasil. "É mais do que urgente que o Parlamento esteja de portas abertas, trabalhando para encontrar soluções para essa situação tão drástica e urgente. Não podemos nos omitir", revela.

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O presidente Jair Bolsonaro reagiu nesta sexta-feira, 15, a declarações de autoridades que o responsabilizam pela crise causada pela pandemia de covid-19 no País. Em entrevista ao apresentador José Luis Datena, da TV Band, o presidente atacou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a quem chamou de "moleque", e disse que ele se aliou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o tirar do cargo.

"Eles querem essa cadeira (de presidente) para roubar, para fazer o que sempre fizeram. Estamos dois anos sem corrupção, isso incomoda Maia e Doria", afirmou Bolsonaro. "Esse inferno que querem impor na minha vida não vai colar. E eu vou continuar fazendo meu trabalho. Não tem do que me acusar. Tem 40 a 50 processos de impeachment, não valem nada."

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Mais cedo, em entrevista após almoço com Maia em São Paulo, Doria responsabilizou o governo federal pelo cenário de falta de tubo de oxigênio em Manaus, em que pacientes estão morrendo por asfixia. Segundo o governador de São Paulo, a postura do presidente é de "genocida". Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem minimizado a doença, adotado posições contrárias a recomendações de autoridades sanitárias e já disse que não irá se vacinar.

Ao rebater a declaração de Doria, Bolsonaro voltou a distorcer uma decisão do Supremo que reconheceu a autonomia de Estados e municípios para adotar medidas de enfrentamento contra a doença, em parceria com o governo federal. Na versão do presidente, no entanto, a Corte o "proibiu" de fazer qualquer coisa.

"O Supremo me tirou esse direito em abril do ano passado. Eu não posso fazer nada no tocante ao combate ao coronavírus, segundo decisão do STF", afirmou Bolsonaro.

O presidente voltou a negar atraso da vacinação no País, o que só deve ocorrer a partir do próximo dia 20, enquanto os principais países do mundo já vacinam há semanas.

"E se daqui 10 a 15 dias tivermos problemas? Eu vou ser responsabilizado? Temos que ter responsabilidade", disse ele. Após dizer que o governo já fez a sua parte no enfrentamento à crise em Manaus (AM), o presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira, 15, em entrevista ao Brasil Urgente, da Band, que as ações não estão restritas a discurso.

"Mais do que discurso, o nosso governo está em Manaus, está no Amazonas para ajudar o povo. Mesmo proibidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) temos levado alento", disse.

Na manhã desta sexta-feira, em conversa com apoiadores, Bolsonaro declarou que "o problema em Manaus é terrível. Fizemos a nossa parte, com recursos e meios".

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), voltou a reforçar, nesta sexta-feira (15) críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e disse ter certeza de que "muitas vozes vão começar a se levantar em defesa do Brasil" e contrárias à atual atuação do Executivo. "Se não fizermos isso, Brasil estará em dois anos destruído pela inépcia", afirmou o governador.

Em coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do deputado federal e candidato à sucessão da Casa Baleia Rossi (MDB-SP), Doria repudiou as declarações do presidente de que o Brasil estaria quebrado, e de que não seria possível fazer mais pelo País. "Esse não é o Brasil que eu amo e gosto", disse.

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Apesar das críticas, Doria afirmou, sobre as manifestações convocadas para este domingo (17) contrárias ao presidente Jair Bolsonaro, que "não é o momento para aglomerações". No lugar, o governador de São Paulo sugeriu às pessoas que se manifestassem de suas janelas, por meio de panelaços, ou pelas redes sociais.

Mais cedo, durante coletiva de imprensa convocada para o almoço, Doria se exaltou ao comentar a falta de oxigênio em Manaus, capital do Amazonas, pela alta demanda, em razão do aumento de internações pela covid-19, que atinge, inclusive, bebês recém-nascidos. Para Dória, "não ter oxigênio disponível para bebês é uma irresponsabilidade do governo Bolsonaro".

Senadores repercutiram o colapso pela falta de oxigênio para pacientes internados com covid-19 em hospitais de Manaus (AM), onde houve relatos de mortos por asfixia nessa quinta-feira (14). Médicos e familiares gravaram vídeos denunciando a falta de cilindros de ar. O estado registrou 3.816 novos casos de coronavírus em um dia, sendo 2.516 somente na capital.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, divulgou nota informando que articula medidas de emergência junto ao Palácio do Planalto para ajudar a combater os efeitos da nova onda da pandemia no estado. Nas redes sociais, Davi também disse que colocou o Congresso Nacional à disposição, em busca do que for necessário para minorar o sofrimento desses brasileiros.

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“Estive em contato com o presidente Jair Bolsonaro, com o ministro Fernando Azevedo, da Defesa, com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e, ainda, com o ministro do Superior Tribunal de Justiça Mauro Campbell, que também é amazonense, para agilizar medidas urgentes de socorro à população”.

O líder do Podemos, senador Alvaro Dias (PR) destacou que cerca de 150 pacientes começaram a ser transferidos de Manaus para oito capitais brasileiras nesta sexta-feira (15). Segundo o parlamentar, duas aeronaves da Força Aérea Brasileira já iniciaram o transporte dos doentes para estados como Maranhão e Piauí.

“Parabenizamos a FAB pela eficiência que sempre demonstra em missões de emergência como esta. Desejamos que os pacientes que estão lutando pela vida sejam curados. Somos gratos por todos que atuam na linha de frente para salvar os brasileiros”.

O líder do MDB, senador Eduardo Braga (AM), ressaltou que uma onda de indignação e de solidariedade se apresentou Brasil afora, na crise vivida pelos amazonenses. Ele disse que as pessoas socorridas pela FAB para outras cidades do país nesta sexta são “quase nada” diante da tragédia registrada no Amazonas, mas ponderou que cada vida vale o esforço.

“Cada vida merece nossa atenção e nossas orações” — compartilhou.

Críticas

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) considerou a situação em Manaus inadmissível e comparou os hospitais a câmaras de asfixia. Para ela, o Ministério da Saúde e os governos estaduais agem com inoperância em relação ao assunto.

“É desesperador assistir brasileiros sufocados. Uma omissão desumana morrer sem ar, enquanto em países vizinhos a vacina já é aplicada”.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) defendeu a retomada das atividades presenciais do Congresso para discutir as medidas emergenciais de combate à pandemia. Ele disse que assinou requerimento do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) nesse sentido.

“Não temos vacina, falta oxigênio, o sistema de saúde de Manaus já colapsou e em outros locais do país pode acontecer a mesma coisa. Não há estoque de seringas suficientes para atender o plano de Imunização, estamos em um dos mais graves momentos da história do país”.

Líder do PT, o senador Rogério Carvalho (SE) também alertou para a possibilidade de os acontecimentos em Manaus se repetirem em outras partes do país.

“A falta de oxigênio em Manaus nos faz perder o ar diante de tanta negligência com a gravidade em que vivemos. Chega de brincar com a vida dos brasileiros. É lamentável a constatação de que a continuidade do desprezo do governo na segunda onda da pandemia tenha como prejuízo mais e mais vidas perdidas”.

Para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), a falta de cilindros de ar nos hospitais é resultado de “negacionismo, falta de informação e uma série de erros”. O senador informou que o Partido dos Trabalhadores acionou o Supremo Tribunal Federal para exigir que o Poder Executivo garanta oxigênio, mobilize a Força Nacional para reforçar a segurança pública e também disponibilize médicos de outras regiões para atender a população de Manaus.

“Deixamos aqui nossa solidariedade e força às famílias, aos guerreiros profissionais de saúde, e a todo o povo de Manaus”.

Ao se solidarizar com os amazonenses, a senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE) considerou a situação dramática e angustiante. Ela defendeu medidas urgentes de socorro à população e lembrou os brasileiros sobre a necessidade de continuarem com as medidas de prevenção e contenção do coronavírus.

“Nunca é demais repetir o protocolo orientado pelos profissionais de saúde: só saiam de casa se necessário, preservem a si e seus entes queridos. Não subestimem a força desse vírus.

O senador Antonio Anastasia (PSD-MG) também reforçou que, por mais impopulares que sejam as medidas de restrições e distanciamento social, elas ainda hoje são a forma mais eficiente de controle da proliferação da pandemia.

“A situação vivenciada em Manaus é chocante e inacreditável, é de sangrar o coração. Torço para que a vacinação que se aproxima ponha fim a esse pesadelo que vivemos no Brasil e no mundo. Espero, e estou cobrando isso, que o governo federal tome as providências para auxílio imediato à população, de forma que os pacientes contem com os insumos necessários para o tratamento da doença e tenham, acima de tudo, dignidade”.

Para o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), é importante cada um fazer a sua parte, tomando os cuidados para evitar a propagação do vírus e, assim, evitar o colapso no sistema de saúde.

“Temos que ter, sobretudo, consciência. Cada brasileiro pode e deve salvar vidas. Precisamos olhar com carinho e cuidar dos cuidadores. Quando o sistema colapsa, vidas humanas perecem. Os profissionais de saúde estão fazendo um trabalho incansável em Manaus e em todo o Brasil. Em respeito a todos que arriscam suas vidas à exaustão, repito: vamos nos cuidar”.

Plínio Valério (PSDB-AM) disse que é hora de reforçar o sistema de saúde também no interior do estado. E cobrou ajuda dos que defendem a preservação da Amazônia.

“As pessoas no Amazonas estão morrendo asfixiadas. Onde se escondem aqueles que nos cobram a preservar 'o pulmão do mundo'? Se fosse queimada de árvores, a comoção seria mundial. Essa situação dramática nos tira o sono e a preocupação é reforçar o sistema de saúde de atendimento também no interior”.

Governo

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) afirmou que, embora o problema não seja de responsabilidade da esfera federal, o Poder Executivo tem agido para minimizar o sofrimento dos amazonenses. Ele informou que, em 2020, o governo transferiu recursos da ordem de R$ 8,91 bilhões para o Amazonas, dos quais R$ 2,36 bilhões foram destinados a medidas de combate à pandemia em Manaus.

“Governo Bolsonaro, mais uma vez, provando que ninguém fica para trás mesmo quando a responsabilidade pelo problema não tem absolutamente nada a ver com a esfera federal. Povo de Manaus, conte conosco”.

Veja o que disseram outros senadores:

Fabiano Contarato (Rede-ES)

Em Manaus, em meio à floresta que é pulmão do mundo, nossos irmãos brasileiros estão morrendo por falta de oxigênio envasado. A negligência do poder público desampara e mata, custando milhares de mortes evitáveis.

Confúcio Moura (MDB-RO)

Anteontem foram transportados de Belém cilindros para Manaus A situação é desesperadora, já que o consumo de oxigênio está seis vezes maior por causa do novo surto da covid-19.

Paulo Rocha (PT-PA)

“Não é Manaus que está jogada a própria sorte, é o Brasil que está abandonado”.

Rodrigo Cunha (PSDB-AL)

“A situação enfrentada por Manaus é de intensa calamidade e exige esforço nacional para que possamos minimizar o mais rápido possível a situação. Destaco ainda a necessidade de que todos os parlamentares do país se dediquem a fiscalizar os equipamentos hospitalares dos seus estados. Assim fiz e seguirei fazendo por Alagoas”.

Kátia Abreu (PSD-TO)

“Se avião da FAB está em manutenção, freta avião privado. Faltar oxigênio aos pacientes é crime. Governo do estado também é responsável. Improviso geral com vidas humanas”.

Paulo Paim (PT-RS)

“O Brasil do caos: 207.160 mortes; em 24h, 1.151 mortes; casos confirmados em 24h, 68.656; média de novos casos nos últimos sete dias, 56.453; total de casos, 8.326.115; Manaus sem cilindros de oxigênio; UTIs lotadas; politização e lentidão na aplicação da vacina”.

Weverton (PDT-MA)

“Muito grave o que está acontecendo em Manaus, com pacientes morrendo por falta de oxigênio. A omissão do governo federal, que se nega a estabelecer uma política séria e nacional de enfrentamento à Covid-19, já nos custou vidas demais”.

Humberto Costa (PT-PE)

“Pacientes estão morrendo asfixiados em Manaus. Isso não pode ser tratado com desdém por Bolsonaro e Pazuello. Isso é um problema de todos. É mais que urgente. Sem o oxigênio, equipes tiveram que ventilar manualmente pacientes internados na UTI”.

Soraya Tronicke (PSL-MS)

“Chegamos ao ponto de politizar a vida. O que falta? Que tragédia, que vergonha”.

Cid Gomes (PDT-CE)

“Incapacidade e desprezo levam Manaus a um caos humanitário. Confirmando a perversidade como característica, o presidente, mais uma vez, não enfrenta o problema. O combate à pandemia no país é um fracasso. Choram e sofrem mais de 207 mil famílias. Um crime diário”. 

*Da Agência Senado

 

Parlamentares aguardam uma decisão do Palácio do Planalto sobre o pedido feito por deputados do PSL por uma intervenção federal na área de saúde do Amazonas. O Congresso se divide sobre a possibilidade de o governo do presidente Jair Bolsonaro assumir a crise. A explosão de casos de covid-19 em Manaus levou o sistema de saúde da cidade ao colapso. O estoque de oxigênio se esgotou em diversos hospitais e pacientes morreram por asfixia, segundo relato de médicos.

Parte dos parlamentares considera que a intervenção é essencial para controlar a situação no Estado, enquanto outros avaliam que o momento é de união e não de ruptura. Nos bastidores, alguns temem a postura negacionista do governo e avaliam que a insistência na defesa de medicamentos sem comprovação científica pode ser ainda pior.

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O requerimento pela intervenção federal na área da saúde do Amazonas foi protocolado na quinta, 14, pelos deputados Delegado Pablo (PSL-AM), Felício Laterça (PSL-RJ) e Marcelo Freitas (PSL-MG). "O povo não aguenta mais, hoje chegamos no limite, desde abril do ano passado vemos a pandemia crescer a níveis alarmantes", afirmou Pablo, em vídeo divulgado nas redes sociais.

Pablo disse ao Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) já ter solicitado uma audiência com Bolsonaro para debater a questão, mas ainda aguarda a resposta. "Já fizemos uma intervenção branca, mas o que precisamos agora é de uma intervenção real", disse.

O governo chegou a cogitar uma intervenção federal no Estado em abril, mas, na época, o governador Wilson Lima (PSC) disse que a situação estava sob controle, o que fez o Palácio do Planalto recuar.

Decretos de intervenção federal em Estados são feitos pelo presidente da República, mas precisam ser aprovados pelo Congresso Nacional. O Legislativo, porém, está em recesso até o início de fevereiro. Uma sessão extraordinária somente seria realizada com a aprovação da maioria absoluta da Câmara e do Senado, ou seja, 257 deputados e 41 senadores. Se houver convocação, a intervenção poderia ser aprovada por maioria simples de votos.

O retorno dos trabalhos do Congresso, a quem cabe a análise do pedido de intervenção, tem sido defendido por vários deputados e senadores, entre eles o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "O parlamento deveria estar funcionando para discutir a crise no Estado do Amazonas e a questão da vacina", disse, por meio de sua conta no Twitter.

Senador pelo Amazonas, o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga, também defende o retorno das atividades do Legislativo e a intervenção. De acordo com o parlamentar, o governo federal precisa "assumir as rédeas" no Estado para estabelecer "um verdadeiro estado de guerra contra a covid-19".

Um manifesto assinado por 37 parlamentares do movimento suprapartidário 'Acredito' - entre eles Tábata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-SP)- também apoia a retomada do Congresso. "O Brasil vive um dos seus piores momentos desde o início da pandemia e discussões importantes acerca do estado de calamidade, do fim do auxílio emergencial e do cronograma de vacinação não podem esperar", diz nota do movimento.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES) também apresentou um requerimento para a convocação de uma sessão extraordinária do Parlamento para deliberar sobre assuntos de urgência nacional.

Mas nem todos os parlamentares são favoráveis à intervenção e à convocação do Congresso, que está em campanha para definir os próximos presidentes das duas casas legislativas. Nos bastidores, alguns acreditam que o governo do presidente Jair Bolsonaro poderia adotar uma política negacionista no Amazonas, como fim do isolamento social e tratamento com medicamentos sem comprovação científica, o que pode agravar a situação do Estado.

Parlamentares do Amazonas dizem que o momento é de unir forças para buscar uma solução para o problema. "Não é momento de pedir intervenção federal. É hora de união de todos. Neste momento, não há culpados. Temos que atravessar esse túnel escuro. Quando clarear, e vai clarear, aí então veremos onde erramos e o que é preciso fazer para corrigir", afirmou o senador Plínio Valério (PSDB-AM).

"Sou contra a intervenção. Tanto o governo do Amazonas como o governo federal têm demonstrado dificuldades para enfrentar a crise. A hora é de uma ação sinérgica entre os governos. Quanto menos trauma e ruptura, mais rápido superarmos esse drama", comentou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).

O Partido dos Trabalhadores entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir uma atuação de urgência por parte do governo federal para tentar minimizar a crise de saúde no Estado do Amazonas. O pedido, uma tutela de urgência, lista as ações que o governo deve fazer para ajudar na contenção da pandemia.

"O colapso de saúde em Manaus estava pré-anunciado, mas mais uma vez temos de recorrer ao Judiciário para obrigar o governo Bolsonaro a fazer aquilo que não faz ou por omissão por desprezo à vida" disse ao Estadão/Broadcast o ex-ministro da Saúde e deputado Alexandre Padilha (PT-SP).

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No documento, o PT pede que o Ministério da Saúde garanta em 24 horas, impreterivelmente, o abastecimento de oxigênio e de outros insumos necessários ao atendimento dos internados nos hospitais de Manaus.

A explosão de casos de Covid-19 na capital do Amazonas levou o sistema de saúde da cidade ao colapso. O estoque de oxigênio se esgotou em diversos hospitais e pacientes morreram por asfixia, segundo relato de médicos.

O PT pede ainda a instalação de hospitais de campanha e a instituição do regime de lockdown na cidade de Manaus, com exceção dos serviços essenciais, pelo prazo necessário à normalização da demanda pelos serviços e insumos médicos.

O uso da Força Nacional em Manaus também é citado no requerimento ao Supremo, para garantir e auxiliar na segurança pública na decretação de lockdown, além da convocação de médicos dos Programas Mais Médicos e Mais Médicos para o Brasil para o Estado do Amazonas, inclusive médicos brasileiros formados no exterior.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta manhã ser "terrível" o problema em Manaus, porém ressaltou ter feito "a sua parte". Em encontro com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada nesta sexta-feira (15), Bolsonaro afirmou: "Agora, nós fizemos a nossa parte de recursos e meios".

"Hoje as Forças Armadas deslocaram para lá um hospital de campanha. O ministro da Saúde Eduardo Pazuello esteve lá na segunda-feira e providenciou oxigênio. Começou o tratamento precoce que alguns criticam - quem critica, não tome", disse o presidente que defendeu o uso de remédios sem comprovação.

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Nesta semana, Manaus voltou a viver o colapso do sistema de saúde. O estoque de oxigênio envasado chegou ao fim em alguns hospitais da capital amazonense nesta quinta-feira (14), e dezenas de pacientes graves morreram por asfixia.

'Gripezinha'

Bolsonaro também tratou de relativizar declarações anteriores sobre a gravidade da Covid-19. Em março do último ano, Bolsonaro, em pronunciamento em rede nacional de televisão, havia afirmado: "90% de nós não terá qualquer manifestação caso se contamine".

"No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus não precisaria me preocupar. Nada sentiria, ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão". Hoje, voltou a repetir: "Quem falou gripezinha não fui eu, foi o médico Dráuzio Varella. Eu já tive e estou imunizado aqui. O que eu falei e desafiei a imprensa depois a me desmentir: era gripezinha para mim".

Vacina

Sem dizer a qual imunizante se referia, Bolsonaro disse que não faz "campanha contra vacina". Entretanto, o presidente ressaltou se tratar, segundo ele, de algo "experimental" e disse que tornar a vacinação obrigatória seria "uma irresponsabilidade". "Queriam aplicar em crianças", afirmou.

Ao comentar com apoiadores sobre a situação de outros países, Bolsonaro ressaltou que "a média está abaixo de 2%" de vacinados em nações que já iniciaram a imunização. Ontem, em meio à nova alta de casos e a situação de sobrecarga da rede de saúde de Manaus, o presidente voltou a negar atraso do país para iniciar sua campanha de vacinação e pediu "calma" à população.

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, nesta sexta-feira (15), que o governo tem feito "além do que pode dentro dos meios que dispõe" para auxiliar no combate à segunda onda da Covid-19 em Manaus. A capital do Estado do Amazonas sofre com a sobrecarga da rede de saúde e a falta de oferta de oxigênio para atendimento de pacientes.

"O governo está fazendo além do que pode dentro dos meios que a gente dispõe", disse em conversa com jornalistas nesta manhã na chegada à vice-presidência. Mourão destacou que na Amazônia "as coisas não são simples" e citou os desafios de logística da região. "Manaus é a cidade mais populosa da Amazônia Ocidental e você só chega lá de barco ou de avião. Então, qualquer manobra logística para aumentar a quantidade de suprimento lá requer meios", afirmou.

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O vice-presidente criticou a falta de recursos da Força Aérea Brasileira (FAB), que segundo ele teve que se desfazer de aeronaves do tipo Boeing por "problemas de orçamento". Como Estadão/Broadcast mostrou, a FAB também está enfrentando falta de recursos para manutenção de sua frota. "Chega nessa hora a gente vê que não pode deixar com que a nossa última reserva, que são as Forças Armadas, sem terem as suas capacidades", ressaltou o vice.

Mourão negou, contudo, que tenha ocorrido um despreparo do governo em termos de logística quanto à oferta de oxigênio. "Você não tem como prever o que ia acontecer com essa cepa que está ocorrendo lá em Manaus totalmente diferente do que tinha acontecido no primeiro semestre (a pandemia)", disse.

Para ele, o governo estadual e municipal "deveriam ter tomado as medidas necessárias no momento certo" quanto à conscientização das pessoas sobre a pandemia. "Não é questão de ter um lockdown, é você comunicar à população que ela tem que manter determinadas regras no intuito de não se contaminar em uma velocidade tal que o sistema de saúde não consiga absorver", observou.

O vice-presidente sugeriu ainda que o brasileiro não é propenso a seguir medidas de restrição. "Nosso povo, ele não tem essa, vamos dizer assim... Essa imposição de disciplina em cima do brasileiro não funciona muito. A gente tem que saber lidar com essas características e buscar informar a população no sentido de que ela se proteja", opinou.

Vacina indiana

Mourão afirmou que é preciso "confiar na palavra do ministro da Saúde", Eduardo Pazuello, sobre a garantia de chegada dos 2 milhões de doses da vacina AstraZeneca/Oxford vindas da Índia. "Por enquanto é o que ministro da Saúde está dizendo, então vamos confiar na palavra dele", disse.

Em missão coordenada pelo Ministério da Saúde, um avião deve sair do Brasil, na noite desta sexta-feira (15), rumo à Índia, para buscar as doses da vacina, produzidas pelo laboratório indiano Serum. O governo conta com essas doses para iniciar a vacinação no dia 20 de janeiro, após possível autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O avião estava previsto para decolar de Recife ontem, mas o voo foi adiado por "problemas logísticos internacionais", segundo Pazuello. Ainda não há previsão sobre a chegada das doses ao Brasil. Em nota, o Ministério da Saúde disse que a data de retorno "está sendo avaliada de acordo com o andamento dos trâmites da operação de logística feita pelo governo federal em parceria com a Azul". O pouso será no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Anurag Srivastava, disse nesta quinta-feira (14), que é "muito cedo" para falar sobre exportação de vacinas para outros países.

Em meio ao colapso do sistema sanitário em Manaus, o estado do Amazonas registrou nesta quinta-feira (14) seu maior número diário de novos casos do coronavírus Sars-CoV-2.

Segundo boletim da Fundação de Vigilância em Saúde, foram contabilizados 3.816 contágios em um período de 24 horas, mais de mil a mais que o recorde anterior (2.763), de maio de 2020.

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Dos casos da última quinta-feira, 2.516 foram registrados na capital Manaus, que sofre com a falta de oxigênio para pacientes e o colapso em seu sistema hospitalar. Até o momento, o Amazonas soma 223.360 infecções e 5.930 mortes por Covid-19, com índice de 143,1 óbitos para cada 100 mil habitantes.

Se fosse um país, o Amazonas estaria atrás apenas de San Marino (192,4/100 mil), que tem menos de 35 mil habitantes; da Bélgica (177,7/100 mil), que contabiliza todas as mortes suspeitas; e da Eslovênia (149,6/100 mil).

Na última quinta-feira, operadores da área da saúde relataram a falta de tubos de oxigênio para auxiliar pacientes com dificuldades respiratórias em Manaus. Um deles, o pesquisador Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, disse à Folha de S. Paulo que os hospitais manauaras viraram "câmaras de asfixia".

Organizações da sociedade civil iniciaram uma campanha de arrecadação de fundos para a compra de cilindros de oxigênio para a capital amazonense, em iniciativa catapultada por dezenas de artistas, como o humorista Whindersson Nunes.

Além disso, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, anunciou que o país vai oferecer oxigênio para "atender a contingência sanitária em Manaus". "Solidariedade latino-americana antes de tudo", escreveu o chanceler no Twitter.

Já o governo do Amazonas requisitou o estoque ou produção de oxigênio de 17 indústrias do Polo Industrial de Manaus, incluindo as multinacionais Honda, Yamaha, Electrolux, Whirlpool, Denso, Samsung e LG.

O governador Wilson Lima ainda editou um decreto que institui toque de recolher em todo o estado das 19h às 6h. "São medidas duras, mas necessárias. Estamos em uma operação de guerra", disse Lima, que no fim de dezembro havia revogado o fechamento do comércio no Amazonas.

Devido ao colapso dos hospitais manauaras, mais de 230 pacientes com Covid-19 tiveram de ser transferidos para outros estados brasileiros.

Governo Bolsonaro - Em transmissão ao vivo com o presidente Jair Bolsonaro no Facebook, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu o colapso do sistema hospitalar na capital amazonense e que a cidade vive uma situação "extremamente grave", mas disse que a responsabilidade é da Prefeitura e do governo estadual.

Além disso, Pazuello culpou o "período de chuvas" e a falta de "tratamento precoce" contra a Covid-19 - medida que não encontra respaldo na ciência - pela situação em Manaus.

No entanto, o procurador da República no Amazonas Igor da Silva Spindola contou à revista Época que o Ministério da Saúde foi alertado "há quatro dias" sobre a falta de oxigênio em Manaus.

"O Estado não se preparou. E como se não bastasse, a direção de Logística do Ministério da Saúde só se reuniu hoje [quinta-feira] para tratar disso, após ser avisada há quatro dias", declarou.

Da Ansa

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou em sua conta no Twitter que o deputado Delegado Pablo (PSL-AM) enviou um ofício ao presidente Jair Bolsonaro com um pedido de intervenção federal na Saúde do Amazonas. Maia compartilhou a íntegra do ofício. "O deputado @DelegadoPablo_ entrou com um pedido de intervenção federal. O parlamento deveria estar funcionando para discutir a crise no Estado do Amazonas e a questão da vacina", escreveu o presidente da Câmara.

No ofício, Delegado Pablo apresenta como alegação o "caos no sistema de saúde em todo o Estado do Amazonas". "O pedido aqui manifesto, restringe-se a intervenção na pasta da saúde do Estado do Amazonas que está sofrendo grave comprometimento, em total colapso de todo o sistema estadual de saúde", diz o documento.

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Também no Twitter, Maia defendeu a retomada das atividades do Congresso já na próxima semana. Mas, normalmente, o Legislativo só volta aos trabalhos após o recesso parlamentar, em fevereiro.

Com a nova explosão de casos de Covid-19 no Amazonas, o estoque de oxigênio acabou em vários hospitais de Manaus nessa quinta-feira (14), levando pacientes à morte por asfixia, segundo médicos. O governo federal anunciou que levará pacientes para outros Estados - é estimada a necessidade de 750 transferências. Profissionais de saúde disseram ainda que hospitais fecharam as portas ontem por falta de insumos e leitos, e precisaram de apoio da PM para evitar invasões. O governo estadual diz o que Amazonas vive a fase mais crítica da pandemia.

O Hospital Universitário Getúlio Vargas, ligado à Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ficou cerca de quatro horas sem o insumo na manhã de ontem. Segundo um profissional ouvido pelo Estadão e que não quis se identificar, o oxigênio acabou na madrugada, gerando desespero nas equipes de saúde. O hospital teria recebido cilindros às 12 horas, capazes de oferecer ajuda a pacientes por apenas mais duas horas.

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"Colegas perderam pacientes na UTI por causa da falta de oxigênio. Eles ainda tentaram ambuzar (ventilar manualmente), mas foi só para tentar até o último recurso mesmo, porque é inviável manter isso por muito tempo. Cansa muito, tem de revezar profissionais. Chamaram residentes para ajudar na ventilação manual. A vontade que dá é de chorar o tempo inteiro. Você vê o paciente morrendo na sua frente e não pode fazer nada. É como se ver na guerra e não ter armas para lutar", disse outra médica da unidade. Nas redes sociais, profissionais do Getúlio Vargas também divulgaram pedidos de ajuda.

O Pronto-Socorro 28 de Agosto, o Hospital Universitário Getúlio Vargas e o SPA (serviço de pronto-atendimento) Alvorada chegaram a fechar as portas por não terem condições de atender novos pacientes. Em frente a essas três unidades houve tumulto e a PM foi acionada para impedir a entrada à força de quem buscava atendimento.

"Estamos perdendo vidas. Há algumas semanas a gente já vinha citando que era um cenário de guerra e que o caos iria se instalar", afirmou o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mário Viana.

Conforme relatos de outros profissionais de saúde publicados nas redes sociais, a maioria dos hospitais sofre com o mesmo problema. Há registro de falta do insumo nos hospitais Fundação de Medicina Tropical e nos SPAs de Manaus.

Segundo Marcellus Campêllo, secretário da Saúde do Amazonas, as empresas fornecedoras de oxigênio entraram em colapso por não conseguir atender à demanda, que dobrou em relação a abril e maio. "No 1º pico, o consumo máximo foi de 30 mil m³ de oxigênio e, neste momento, estamos com consumo acima de 70 mil m³." O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), atribuiu o desabastecimento ao isolamento geográfico do Estado.

O procurador de Justiça Caio Dessa Cyrino, que tinha um filho internado no Hospital Fundação de Medicina Tropical, disse ao Estadão que pela manhã não havia oxigênio para nenhum paciente. "Minha nora me ligou às 5h, quando ela foi lá visitá-lo, avisando que tinha acabado. Ele estava no 3º dia de UTI e evoluindo bem. Por sorte, eu tinha uma 'bala' de oxigênio em casa e corri para o hospital para levar. Quando cheguei com a bala na mão, vi o olhar de desespero dos médicos, servidores. Estavam em choque, sem poder fazer nada."

Ele conta que o filho, de 36 anos, começou a se sentir mal há quase duas semanas, mas logo no início não achou vaga em hospital e ficou em home care, por isso ele tinha oxigênio. Ele conseguiu contratar uma UTI aérea para transferir o filho para São Paulo. "Mas quantas centenas não têm como fazer isso e podem morrer hoje?"

Segundo o governo local, inicialmente 235 pacientes serão enviados para Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Goiás e Distrito Federal. A União vai apoiar a transferência, em aviões militares, de pacientes com quadros moderados, em condições de serem levados.

Mesmo unidades que ainda não chegaram ao fim do esto, como o PS 28 de Agosto, há receio. Médico na unidade, Diemerson Silva diz que a demanda por oxigênio se intensificou com a alta de internações pela covid. Ele conta que o hospital tinha ontem ao menos cem pacientes com necessidade de oxigenação. "Chegam muitos a cada hora e não sabemos até quando vamos conseguir ofertar."

Igor Spindola, procurador do Ministério Público Federal no Amazonas, ingressou com ação na Justiça, em que cobra medidas da União. "As pessoas estão sufocando, morrendo asfixiadas", disse ao Estadão.

'Ajudei a ambuzar pacientes; um deles morreu na minha frente'

O estoque de oxigênio acabou no Hospital Getúlio Vargas por volta das 6h30. Sou médica residente e não costumo trabalhar diretamente no atendimento a pacientes com covid, mas, quando soube do que estava acontecendo, fui para a ala covid como voluntária porque os colegas precisavam de ajuda para ambuzar (ventilar manualmente) os pacientes. Nesse procedimento, a gente fica apertando uma bolsa ininterruptamente para bombear manualmente o oxigênio para o paciente.

Aquilo cansa. Quando uma pessoa da equipe chega no limite da exaustão, ela reveza com outro profissional. Durante o tempo em que fiquei na UTI, ajudei a ambuzar três pacientes. Um deles, de 50 anos, morreu na minha frente. Quando a gente vê que não tem mais jeito, iniciamos a morfina, para dar algum conforto. Tivemos de fazer isso com ele. Demos morfina e midazolam (sedativo). A gente já chorou e não sabe mais o que fazer.

Só no Getúlio Vargas foram pelo menos cinco óbitos pela falta de oxigênio. No fim da manhã, começaram a chegar alguns cilindros vindos de doações. Os médicos fizeram campanha na internet pedindo que pessoas que tivessem algum estoque em casa levassem para o hospital.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, orientou que sua diplomacia atendesse ao pedido do governo do Amazonas para liberar uma carga de oxigênio hospitalar da White Martins produzida no país. O chanceler chavista, Jorge Arreaza, disse que conversou nesta quinta-feira (14) com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), após o sistema público entrar em colapso no Estado.

"Por instruções de Maduro conversei com o governador do Amazonas, Wilson Lima, para colocar imediatamente à disposição o oxigênio necessário para atender a contingência sanitária em Manaus. Solidariedade latino-americana antes de tudo!", expressou o ministro Arreaza. Lima agradeceu em nome do povo amazonense.

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Principal fornecedora do oxigênio hospitalar no Amazonas, a empresa White Martins comunicou que buscaria o estoque disponível em suas operações na Venezuela e que tentaria viabilizar a importação para abastecer o Estado. "A White Martins já identificou a disponibilidade de oxigênio em suas operações na Venezuela e, neste momento, está atuando para viabilizar a importação do produto para a região", disse a empresa em nota.

Segundo o Ministério Público, a White Martins alegou "não possuir logística suficiente para atender a demanda" no País. A companhia disse que a demanda do Amazonas chegou a 70 mil metros cúbicos por dia, após aumentar cinco vezes nos últimos 15 dias. Ao mesmo tempo, a empresa afirmou que realiza uma "grande operação por vias fluvial e aérea" para trazer oxigênio de fábricas localizadas em outros Estados no Brasil, com apoio das Forças Armadas e governos.

O Brasil pediu ajuda aos Estados Unidos para tentar socorrer a rede de saúde do Amazonas após o estoque de oxigênio acabar em vários hospitais de Manaus nessa quinta-feira (14). O pedido é que um avião da US Air Force auxilie no transporte de cilindros de oxigênio para a cidade. "Tem lugar que tem oxigênio, mas não tem uma aeronave que o transporte em cilindro", afirmou o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM). "Estamos tentando, junto à embaixada dos EUA, a liberação de um avião da Força Aérea americana, um Galaxy, para levar o oxigênio", afirmou ele. O Estadão confirmou com o Itamaraty que o pedido já foi feito e a embaixada dos Estados Unidos disse estar "em contato com as autoridades brasileiras para tratar do assunto".

A Força Aérea Brasileira também tem atuado para tentar socorrer a rede de saúde amazonense. Anteontem, uma aeronave levou 8 toneladas de equipamentos hospitalares. Outros dois aviões Hercules C-130 partirão de Guarulhos (SP) com mais cilindros.

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A White Martins, que produz oxigênio hospitalar em Manaus, não está conseguindo suprir a "demanda exponencial" do sistema amazonense e tenta viabilizar a entrega de suas outras plantas. Ela avalia a disponibilidade do insumo em suas operações na Venezuela e "atua para viabilizar sua importação".

Nas contas da White Martins, a demanda por oxigênio disparou cinco vezes mais em duas semanas, alcançando um volume de 70 mil metros cúbicos por dia. A empresa consegue produzir apenas 28 mil metros cúbicos por dia.

Empresas privadas também se movimentam para ajudar. A regional da Moto Honda da Amazônia disse, em nota, que doou 14 cilindros. A Whirlpool formalizou a doação de mais de 3 mil metros cúbicos de oxigênio. De São Paulo, 32 tanques criogênicos aguardam o apoio do governo para serem levados até o Amazonas.

Famílias tentam comprar cilindro por conta própria

No desespero pela falta de atendimento adequado, muitas pessoas estão tentando comprar oxigênio por conta própria para garantir a vida de parentes com sintomas graves de covid-19. O professor de Educação Física Walhederson Brandão Barbosa, de 38 anos, está correndo contra o tempo para não deixar a mãe sem o insumo.

"Já recarreguei o cilindro três vezes e agora estou indo encher um maior; a família toda está mobilizada para mantê-la com oxigênio", conta.

Barbosa relata que a mãe está internada com sintomas de covid-19 na Unidade de Saúde de Pronto-atendimento José Jesus Lins, no bairro Redenção, zona centro-oeste de Manaus. "Às 8 horas, soubemos que faltou oxigênio. Lá dentro eu vi mais de cinquenta pacientes entubados; minha mãe está com boa saturação e está na sala de inalação improvisada no local, mas ainda assim precisa de oxigênio porque está com cateter nasal. Nós estamos comprando agora um cilindro de dez litros e pagando R$ 1 mil."

Sensibilizados com a situação no Amazonas, artistas se mobilizaram nas redes sociais pedindo doações. O humorista Whindersson Nunes divulgou a compra de cilindros para hospitais em Manaus. "Providenciando 20 cilindros de 50 litros de oxigênio pra distribuir nas unidades mais urgentes em Manaus! Alô, meus amigos artistas! Na hora de fazer show é tão bom quando o público nos recebe com carinho né, vamos retribuir?", escreveu Whindersson no Twitter.

Além de cobrar os amigos, Whindersson aproveitou para divulgar os dados das instituições que estão recebendo doações para providenciar oxigênio para a rede pública da cidade. A publicação foi compartilhada pelo comediante Marcelo Adnet. Fãs dos artistas agradeceram a ajuda nas redes sociais.

O apresentador Luciano Huck também reagiu ao post. "Conte comigo nesta corrente do bem. Vou doar também", disse, criticando também o Ministério da Saúde pelo "negacionismo, incompetência e descoordenação".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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