Tópicos | coletes amarelos

Um dos líderes do movimento dos "coletes amarelos", que protesta contra o presidente da França, Emmanuel Macron, foi preso pela polícia na noite da última quarta-feira (2), por organizar uma manifestação não autorizada no centro de Paris.

Eric Drouet foi detido enquanto se dirigia para a Champs-Élysées, onde uma dúzia de "coletes amarelos" o aguardava no lado de fora de um restaurante perto do Arco do Triunfo. Essa é a segunda prisão de Drouet desde o início dos protestos, em novembro passado.

##RECOMENDA##

Ele já havia sido detido em dezembro, por "posse de arma proibida". O movimento surgiu em protesto contra a alta dos preços dos combustíveis, mas logo abarcou toda a insatisfação social com as políticas econômicas de Macron, que vem batendo recordes de impopularidade.

O presidente anunciou uma série de medidas para conter os protestos, como o aumento de 100 euros no salário mínimo e o congelamento do preço dos combustíveis. Os "coletes amarelos" recebem esse nome por causa da indumentária fluorescente que é item de segurança obrigatório em automóveis. 

Da Ansa

Os "coletes amarelos" voltaram às ruas de Paris neste sábado (22) para protestar, porém em menor número. Os protestos estavam desorganizados, com pequenos grupos dispersos em diferentes pontos de Paris. Algumas centenas de pessoas cercadas por forças policiais marcharam em direção à Igreja Madeleine, próxima ao Palácio Elysée. Foram registrados confrontos de alguns manifestantes que tentavam ultrapassar o bloqueio e policiais, que dispararam bombas de gás lacrimogêneo.

O Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, permaneceu fechado, depois de os "coletes amarelos" terem anunciado que protestariam em frente ao local. Somente alguns manifestantes apareceram. O maior número de pessoas em protesto se reuniu, pacificamente, aos pés da Basílica de Sacre Coeur, no bairro de Montmartre. O Museu do Louvre e a Torre Eiffel, que tinham sido fechados semanas atrás, permaneceram abertos.

##RECOMENDA##

Fora de Paris, cerca de 200 rotatórias permaneceram ocupadas em todo o país. No sul da França, perto da fronteira com a Espanha, dezenas de manifestantes bloquearam caminhões. Na região central do país, perto de Saint-Etienne, os manifestantes bloquearam estradas e fizeram fogueiras, mas o comércio local permaneceu aberto.

Nas últimas semanas, diversas manifestações do grupo trouxeram caos à capital francesa, com mais de cem pessoas detidas. O movimento inicialmente ia contra o aumento no preço de combustíveis, mas se transformou em uma ação nacional contra injustiças econômicas das quais os franceses com menor renda alegam serem vítimas.

O arrefecimento recente dos protestos se deve, em parte, às concessões feitas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que incluem isenção de taxas ao longo do tempo e congelamento dos preços do gás e da eletricidade neste inverno. As medidas deverão custar cerca de 10 bilhões de euros (US$ 1,14 bilhão). Fonte: Associated Press.

O ministro do Interior francês afirmou que uma oitava pessoa morreu desde o início dos protestos que ficaram conhecidos como a manifestação dos "coletes amarelos".

Christophe Castaner afirmou pelo Twitter, neste sábado (15), que a morte ocorreu na noite anterior, de sexta-feira (14). O tweet não forneceu detalhes sobre a morte, mas sugeriu que ela ocorreu em um dos bloqueios em estradas.

##RECOMENDA##

O anúncio ocorreu após mais um dia de manifestações em torno da França, pelo quinto sábado seguido, embora o número de manifestantes tenha diminuído drasticamente.

Um manifestante do movimento "gilets jaunes" de 23 anos de idade foi atropelado por um caminhão e morreu na madrugada desta quinta-feira (13), em Avignon, na França, informou a emissora BFM TV.

O motorista, um homem de 26 anos, está detido e será mantido sob custódia. Com isso, sobe para seis o número de mortos nas manifestações dos "gilets jaunes", iniciadas em meados de novembro contra o aumento no preço do combustível.

##RECOMENDA##

Os protestos ganharam repercussão e atraíram também eleitores descontentes com as políticas econômicas e sociais do presidente Emmanuel Macron.

Para se manter no governo e tentar acalmar os ânimos, Macron anunciou, nesta semana, uma série de medidas, como um aumento de 100 euros no salário mínimo, isenções fiscais e a manutenção do preço do combustível. Mesmo assim, uma parte dos líderes dos "gilets jaunes" insiste em continuar os protestos.

Hoje, o governo fez um apelo para que os "gilets jaunes" fossem solidários e evitassem novas manifestações nos próximos dias, devido ao atentado terrorista contra um mercado de Natal em Estrasburgo, na última terça-feira (11), que deixou ao menos três mortos e 16 feridos.

Em meio a duas crises políticas, as forças de segurança da França têm sido obrigadas a atuar em dobro por todo o país.

Da Ansa

A polícia francesa disparou bombas de gás lacrimogêneo nos "coletes amarelos" que se manifestavam no centro de Paris, neste sábado (8), no início de uma manifestação planejada contra o alto custo de vida sob o governo do presidente Emmanuel Mácron.

De acordo com o ministro do Interior, Laurent Nuñez, cerca de 31 mil membros dos coletes amarelos protestam em todo o país. Mais de 700 pessoas foram detidas até por volta das 11h30 [horário de Brasília]. Foi o quarto dia consecutivo de manifestações desse coletivo antigoverno.

##RECOMENDA##

Em Paris, onde houve conflitos entre manifestantes e policiais, pelo menos 8 mil pessoas participavam dos protestos, e 575 foram detidas - dos quais 361 estão em prisão preventiva -, disse Nuñez à emissora France 2.

A atuação dos agentes antidistúrbio começou por volta das 9h (6h em Brasília), quando um grupo de manifestantes foi impedido de passar pela avenida Champs-Elysées a partir de um determinado ponto, perto do Palácio do Eliseu.

Cerca de uma hora depois, os agentes utilizaram gás lacrimogêneo para dispersar as dezenas de coletes amarelos que tentavam de entrar pela rua Arsène Houssaye, adjacente à Champs-Elysées.

Centenas de manifestantes estavam em volta do Arco do Triunfo, que foi desfigurado com grafites no último sábado, quando manifestantes também incendiaram carros e saquearam lojas.

"Faremos tudo que pudermos para que hoje possa ser um dia sem violência, para que o diálogo que começamos nesta semana possa continuar nas melhores circunstâncias possíveis", disse o primeiro-ministro Edouard Philippe na televisão francesa.

Na terça-feira, Philippe anunciou que o governo suspenderia os aumentos planejados para os impostos de combustível por pelo menos seis meses para ajudar a neutralizar semanas de protestos.

Mais de 89 mil policiais foram mobilizados em toda a França neste sábado, cerca de 8 mil deles em Paris. "Preparamos uma resposta robusta", disse o ministro do Interior, Christophe Castaner, ao site de notícias online Brut. Ele pediu aos manifestantes pacíficos para não se misturarem aos "hooligans".

"Os encrenqueiros só podem ser eficazes quando se disfarçam de coletes amarelos. A violência nunca é uma boa maneira de conseguir o que você quer. Agora é hora de discutir", disse ele.

"Se você não for agressivo, não seremos agressivos", disse um policial mascarado enquanto um manifestante colocava flores amarelas de plástico em policiais.

Pela primeira vez em mais de 40 anos, as forças da ordem em Paris contam com 12 blindados que podem ser utilizados para atravessar barricadas.

A cidade se protegeu diante do temor da violência: estão fechados os principais museus e monumentos (como a torre Eiffel e o Louvre), diversas lojas de departamento e comércios, além de aproximadamente 40 estações de trem e metrô.

As ações dos manifestantes por toda a França começaram há três semanas, em razão do anúncio de que haveria aumento nos impostos sobre combustíveis, em especial do diesel. A medida, que iria passar a valer a partir de 1º de janeiro, foi adiada por Philippe, mas os protestos contra o governo continuaram. (Com agências Internacionais).

Manifestantes do movimento dos "coletes amarelos" e policiais de Paris entraram em confronto neste sábado, 8, durante protesto contra o governo do presidente Emmanuel Macron. Até o momento, 481 pessoas foram detidas, das quais 211 estão mantidas sob o regime de "detenção preventiva", de acordo com o relato do primeiro-ministro francês, Édouard Philippe.

Um grupo de cerca de 1,5 mil pessoas caminhou pela Avenida Champs-Elysées e se reuniu nos arredores do Arco do Triunfo, onde foi cercado por forças policiais. Gás lacrimogêneo foi disparado contra manifestantes em diversos pontos da cidade, como nos arredores do palácio presidencial.

##RECOMENDA##

Torre Eiffel, museus - como o Louvre -, lojas de departamento e metrô amanheceram fechados para visitação e uso por causa de possíveis conflitos entre manifestantes e policiais. Dúzias de vias centrais de Paris foram fechadas por causa do protesto, o que deu à capital francesa um aspecto de "cidade fantasma".

Em toda a França, 89 mil agentes de segurança foram escalados para evitar novos atos de violência no país. No último sábado, 1º de dezembro, 206 manifestantes foram presos e cerca de 400 pessoas ficaram feridas no ato.

As ações dos manifestantes por toda a França começaram há três semanas, em razão do anúncio de que haveria aumento nos impostos sobre combustíveis, em especial do diesel. A medida, que iria passar a valer a partir de 1º de janeiro, foi adiada por Philippe, mas os protestos contra o governo continuaram. (com agências internacionais)

Grupos no Facebook são o centro nevrálgico do movimento de protesto dos 'coletes amarelos', que se espalhou por toda a França, tornando-se um caldo de cultura de 'fake news'.

Quando o diretor-executivo da rede social, Mark Zuckerberg, anunciou, em janeiro, que daria mais peso às notícias locais, ele nunca poderia imaginar que acabaria alimentando a pior crise na Presidência de Emmanuel Macron.

Especialistas em Internet dizem que a mudança no algoritmo do Facebook impulsionou "grupos de protesto", como os que afloram na França e cuja revolta tomou as ruas de várias cidades do país, de norte a sul e de leste a oeste.

Os primeiros protestos dos 'coletes amarelos' começaram em 18 de outubro, depois da publicação no Facebook de um vídeo no qual Jacline Mouraud, até então desconhecida, denunciava o aumento de um imposto sobre os combustíveis, dirigindo-se a Macron.

Sua mensagem viralizou rapidamente e as convocações para bloquear rodovias se multiplicaram nas redes sociais. Desde então, a revolta ganhou terreno e se transformou em um protesto contra o aumento do custo de vida e a política do governo em geral.

Para os especialistas, o Facebook foi crucial para mobilizar manifestantes, originários principalmente de povoados de províncias e zonas rurais.

"Utilizamos o Facebook para nos informar e organizar", conta Chloé Tissier, moderadora do grupo "Motoristas da Normandia Furiosos", que tem mais de 50.000 membros.

"Por exemplo, quando estamos erguendo uma barricada e vemos que não temos tábuas suficientes para atear fogo, escrevemos uma mensagem no grupo e rapidamente alguém as traz. Fazer isto por telefone seria impossível", disse.

O Facebook também é uma excelente plataforma "porque as pessoas mais velhas também estão nessa rede", acrescentou. Os aposentados, irritados com o corte de suas pensões, aderiram ao movimento.

- O poder dos algoritmos -

"Os coletes amarelos não são um movimento estruturado, não há porta-vozes oficiais e por isso o Facebook é ideal para eles", explicou Tristan Mendes France, professor de Cultura Digital na Universidade Paris-Diderot.

A mudança no algoritmo do Facebook no começo deste ano reduziu a visibilidade do conteúdo em páginas administradas por grandes meios de comunicação.

"Agora, se prioriza o conteúdo compartilhado por grupos, perfis individuais e informação local. Esta mudança no algoritmo impulsionou o surgimento deste movimento", avalia o especialista.

"Os sentimentos vinculados à raiva são os que se propagam melhor nesta rede", avaliou Olivier Ertzscheid, professor de Ciência da Informação da Universidade de Nantes.

"O Facebook oferece uma arquitetura técnica de circulação perfeitamente adaptada a um movimento que se construiu em torno da indignação", acrescentou.

Ao mesmo tempo, o Facebook também se "beneficia" disto, já que se "alimenta das interações e os conteúdos virais geram muitas interações", emendou.

- Celeiro de notícias falsas -

Mas junto com este fenômeno, observou-se também uma propagação de notícias falsas, que têm se espalhado como rastilho de pólvora em alguns grupos dos 'coletes amarelos' ativos no Facebook.

Como se viu nas eleições presidenciais nos Estados Unidos e no Brasil, multiplicam-se mensagens alarmistas ou imagens que nem sempre correspondem aos protestos atuais.

"Tentamos, na medida do possível, revisar o que publicamos", afirmou Tissier. Mas, com centenas de mensagens postadas por hora, nem sempre é possível, explicou.

Vários grupos também estão tomados de revolta contra as elites e os meios de comunicação, com comentários parecidos aos feitos entre os eleitores de Donald Trump e de Jair Bolsonaro do outro lado do Atlântico.

"Os políticos são falsos, os meios de comunicação são falsos", pode-se ler em um grupo denominado "Cidadãos em Cólera", que tem 16.000 membros.

"Há uma grande desconfiança dos membros com os meios de comunicação (...) As pessoas confiam em nós para contar-lhes o que está acontecendo", disse Chloé Tissier.

Tábuas de madeira nas vitrines, monumentos fechados, viagens para fora da cidade... Parisienses e turistas se preparam para uma possível nova onda de violência neste sábado (8) na capital francesa, à margem da manifestação dos "coletes amarelos".

"Pediram que recolhêssemos tudo o que pudesse ser usado como arma", explica Aziz, um agente do serviço de limpeza pública da prefeitura de Paris, carregando de sucata de metal seu caminhão estacionado em uma rua perto dos Champs-Élysées.

Não muito longe, dois de seus colegas desmontam as grades de ferro fundido que cercam as árvores da avenida Malesherbes, invadida em 1º de dezembro por vândalos.

"Você pode imaginar alguém sendo atingido por isso na cabeça?", ponderou um deles.

Um dia de "grande violência" é temido no sábado pelas autoridades, que mobilizaram cerca de oito mil membros das forças de segurança para este protesto dos "coletes amarelos".

Além disso, uma célula de crise será ativada, e 2.000 elementos do mobiliário urbano foram desmontados, segundo Anne Hidalgo, prefeita de Paris, uma das cidades mais visitadas do mundo.

A Torre Eiffel e o Museu do Louvre estarão fechados, assim como as lojas de departamentos no bairro da Ópera e as lojas nos Champs-Élysées, principal ponto de tensão.

Na avenida Malesherbes, Louise, segurança de um edifício haussmaniano, guarda as latas de lixo.

"No prédio, várias pessoas vão viajar para o interior", explica a mulher, que se diz "cansada" de ficar confinada em seu apartamento pelo terceiro sábado consecutivo.

A alguns metros de distância, um carpinteiro está ocupado.

"Estamos barricando tudo para amanhã", diz Denis Thibaudet, instalando painéis de madeira para proteger as vitrines de uma loja de champanhe.

Nas ruas ao redor, as mesmas cenas se repetem. Homens carregam chapas de compensado para proteger os estabelecimentos comerciais. Nos canteiros de obras, funcionários escondem máquinas, ferramentas e produtos inflamáveis.

Na quinta-feira à noite, a polícia visitou uma cervejaria.

"Fomos convidados a retirar as mesas da calçada, os vasos de flores, fechar as portas de ferro", conta uma garçonete, que não quis se identificar.

Os turistas parecem impassíveis. Com uma câmera em volta do pescoço, Szery Mayra, uma argentina de 28 anos, visita a capital francesa até domingo, acompanhada da mãe.

"Viemos hoje para visitar Champs-Élysées, porque sabemos que não conseguiremos amanhã", explica.

No sábado, vão ao Castelo de Versalhes, localizado nos subúrbios de Paris. "Para evitar as manifestações", acrescenta.

"Não temos medo. Acontece frequentemente na Argentina, e continuamos a viver nossas vidas normalmente", diz ela.

Do outro lado do rio Sena, os turistas fazem fila na Torre Eiffel. Símbolo de Paris, "a dama de ferro" será fechada no sábado, por ordem da prefeitura.

"É por isso que estamos aqui hoje", diz Kate Johnson, uma americana de 64 anos. "Amanhã, não sabemos ainda, vamos ver", completa.

Perto delas, homens com coletes amarelos e capacetes de proteção nas cabeças se movimentam. "Não é apoio, hein! É para o trabalho", exclama um deles, rindo.

As barreiras de metal são posicionadas, e o entulho, depositado em caçambas.

Ao redor, algumas lojas estarão fechadas no sábado. Não por medo da violência - que permanece localizada em algumas partes da capital -, mas porque os turistas vão para outras partes.

Sair às ruas para desafiar o poder é uma "tradição" muito francesa que nem sempre acaba em violência. No entanto, as cenas de caos e confrontos, como as que eclodiram em Paris no fim de semana passado, estão se tornando mais frequentes, dizem os especialistas.

Augustin Terlinden, um belga de 33 anos, corria pela avenida Foch, um dos endereços mais elegantes da capital francesa, quando se deparou com veículos em chamas e barricadas. "Vejo que a tradição revolucionária segue muito forte na França", disse com um sorriso nos lábios, antes de fugir apavorado, em meio à fumaça provocada por uma bomba de gás lacrimogêneo.

##RECOMENDA##

Oito mil manifestantes em Paris, segundo a Prefeitura, mais de 10.000 granadas lançadas pela polícia, 133 feridos e 412 detidos. A manifestação dos "coletes amarelos", os franceses que protestam contra a política social e fiscal do governo de Emmanuel Macron, esteve marcada por uma "violência extrema e sem precedentes", reconheceu no dia seguinte o prefeito da polícia de Paris, Michel Delpuech.

"Paris em chamas", alertava a imprensa estrangeira, que viu nas cenas de guerrilha urbana uma confirmação de que a rebelião faz parte do DNA da França, "esse país sempre tentado pela violência", segundo escreveu o jornal suíço Le Temps.

Mas para Michel Pigenet, professor de História da Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne, isso não é certo. "As manifestações violentas não são uma tradição francesa. São vistas também no Reino Unido, na Alemanha e Itália", afirma este especialista em movimentos sociais.

"Mas o que é certo é que na França há uma tradição de mobilização coletiva", estreitamente ligada à história do país, começando com a violenta Revolução de 1789, na qual cabeças rolavam, explica.

"Na França, a revolução tranquila não é algo que funcione (...) Há uma ideia de que quando o povo se manifesta ele deve ser ouvido, do contrário, a situação pode degenerar", diz Pigenet.

'O direito à insurreição'

O historiador lembra que a Constituição de 1793 havia estabelecido o "direito à insurreição, quando o governo não escutar o povo". "A ideia segue latente", diz.

"As manifestações fazem parte da cultura francesa", confirma Olivier Cahn, professor da Universidade de Tours. E a tradição persiste já que "muitas vezes deu resultados", destaca este especialista.

Assim, vários governos franceses retrocederam após manifestações violentas, criando a impressão de que são o único modo de expressão capaz de fazer o poder se dobrar.

Em maio de 1968, o salário mínimo aumentou em um terço após as manifestações nas quais várias pessoas morreram. Em 1986, o "projeto Devaquet", considerado pelos manifestantes como uma seletividade para entrar na universidade, foi abandonado depois da morte de um estudante. Em 2006, a introdução do CPE, um contrato de trabalho destinado a facilitar as contratações, mas criticado por sua precariedade, foi retirado após manifestações violentas.

"Os franceses têm a impressão de que todos os métodos são bons: como não são ouvidos, é preciso encontrar outras formas", explica Michel Pigenet.

"Há um movimento crescente que defende métodos mais combativos que as marchas clássicas", analisa Erik Neveu, professor de Ciências Políticas em Rennes.

Isso explica o apoio maciço (70% a 80%) da população francesa aos "coletes amarelos", apesar da violência de alguns de seus membros.

"Alguns simpatizam com o 'pobre comerciante' cujas vitrines foram destruídas, mas outros acham que é a única maneira de conseguir algo", resume Neveu.

Isso poderia explicar, acrescenta Neveu, que manifestantes até agora moderados participaram dos abusos. Como esses "coletes amarelos" pais de família que agiram nos tumultos de sábado.

A multiplicação de confrontos durante as manifestações, um fenômeno cada vez mais comum "desde os anos 2000", também é explicado pela "perda de força das estruturas clássicas que normalmente estruturam as manifestações", como os sindicatos, conclui Pigenet.

 Um porta-voz do movimento "gilets jaunes" recusou nesta terça-feira (4) a oferta do governo da França de congelar por seis meses os preços dos combustíveis, da energia elétrica e do gás. Eric Drouet, considerado por muitos como um dos criadores do movimento, disse à emissora BFM-TV que haverá mais um protesto no próximo sábado (8).

"É o único modo de mostrar que a maior parte dos gilets jaunes não está de acordo com as medidas anunciadas e que continuaremos até que haja realmente uma mudança", ameaçou. O movimento do "gilets jaunes" (coletes amarelos, na tradução) sofre divisões internas, com uma ala favorável às negociações com o governo e outra contrária. 

##RECOMENDA##

Da Ansa

Centenas de manifestantes contrários ao aumento de impostos para combustíveis na França voltaram a entrar em confronto com policiais neste sábado nos arredores da Avenida Champs Elysées e do Arco do Triunfo, em Paris. Segundo o jornal francês Le Monde, ao menos 122 pessoas foram presas. Os manifestantes construíram barricadas no meio das ruas, atearam fogo e lançaram pedras contra os policiais, que dispararam bombas de gás lacrimogêneo e canhões d'água para tentar dispersar o grupo.

No sábado passado (24), mais de 106 mil pessoas saíram às ruas de diversas localidades francesas em protesto. Conhecidos como "coletes amarelos", os manifestantes marcharam até a Champs Elysées carregando uma faixa na qual se lia "Macron, pare de achar que somos pessoas estúpidas". Além de serem contra o aumento de impostos, eles também se opõem a políticas mais amplas do presidente francês, acusado de estar indiferente às dificuldades econômicas da população.

##RECOMENDA##

Mácron defende que os impostos sobre combustíveis são necessários para reduzir a dependência da França de combustíveis fósseis, mas prometeu novos planos para tornar a "transição energética" mais fácil. Os protestos tiveram início no dia 17 de novembro.

Ainda neste sábado, foram realizados protestos em outras regiões da França, como Gironda, Brest, Toulouse, Montpellier, Lille e Marselha. As autoridades do país vêm enfrentando dificuldades para lidar com o movimento, pelo fato de ele não possuir uma liderança clara e estar atraindo um grupo diverso de pessoas, com múltiplas demandas. Os manifestantes se autodenominaram "coletes amarelos" em alusão aos coletes refletivos que motoristas têm de manter em seus veículos. (Clarice Couto - clarice.couto@estadao.com, com Associated Press)

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando