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Partidos da base da presidente Dilma Rousseff decidiram usar os últimos dias de definição das coligações para ameaçar abandonar o governo. Após a defecção do PTB, que anunciou apoio ao tucano Aécio Neves na semana passada, PR, PP e PSD protagonizam agora uma "guerra fria" para obter mais espaço num eventual segundo mandato da petista. Dilma se reuniu ontem com seu antecessor e fiador político, Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, para traçar um plano a fim de conter os rebeldes. As convenções, que decidem pelas alianças, têm de ser realizadas até segunda-feira, segundo a Justiça Eleitoral.

O PR, que tem atualmente o Ministério dos Transportes, foi o mais explícito na ameaça ontem. Líderes do partido exigiram a substituição do atual titular da pasta, César Borges, sob o argumento de que ele não representa a legenda. À tarde, quando ainda estava no Planalto, seu local de trabalho, Dilma respondeu com um "não" ao ser questionada por repórteres se atenderia à demanda dos aliados. O ministro já avisou que não pedirá demissão.

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Conversado’

Pela manhã, o senador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP) esteve no Planalto acompanhado de outros líderes do partido para falar de sua insatisfação aos ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. Mercadante levou a notícia a Dilma e depois disse que o assunto "está sendo conversado".

O Planalto também está negociando com o PP, que tem hoje o Ministério das Cidades. Os petistas esperam garantir o apoio do partido do ex-prefeito Paulo Maluf ao projeto de reeleição de Dilma hoje, quando a sigla realiza a sua convenção nacional. A aliança nacional tem boas possibilidades de ser fechada, mas os palanques de candidatos nos Estados estratégicos já estão perdidos. No Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, o PP prefere o nome de Aécio, candidato do PSDB à Presidência.

A ala contra Dilma defende pelo menos a "neutralidade", ou seja, não se coligar a ninguém. "Eu defendo a candidatura de Aécio. Acho que o caminho mais inteligente para o partido é votar pela neutralidade", disse a senadora Ana Amélia (PP), que disputa o governo do Rio Grande do Sul com o atual governador, o petista Tarso Genro.

Os problemas que o Planalto enfrenta com os aliados se espalham por outros Estados. Em Santa Catarina, o governador, Raimundo Colombo (PSD), apoia Dilma, mas os três deputados federais e cinco estaduais do PP no Estado defendem Aécio. "A tendência é a executiva nacional fechar com Dilma e liberar os Estados", disse o deputado Esperidião Amin (PP-SC). Ele observa que em Minas Gerais, reduto do candidato tucano, o governador Alberto Pinto Coelho (PP) defende abertamente o apoio a Aécio. Já em Alagoas, o senador Benedito Lyra, que concorrerá ao governo estadual, dará palanque para o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos.

Entre os partidos que tentam se cacifar, o menor risco, pelo menos na avaliação do Planalto, é com o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. O partido também realiza sua convenção hoje em Brasília. O encontro nacional do PSD deverá oficializar apoio à campanha da presidente por "aclamação". "A decisão no âmbito nacional já foi tomada no ano passado", afirmou o líder da legenda na Câmara, Moreira Mendes (RO).

Para o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, a adesão à campanha de Dilma forçará integrantes do partido que apoiam outros candidatos à Presidência a ter mais cuidado com a propaganda eleitoral durante a disputa. "O Kassab está alertando todo mundo. Se algum candidato do PSD fizer cartazes com imagens do Aécio, por exemplo, poderá ser enquadrado por infidelidade uma vez que a aliança nacional é com o PT", disse. Atualmente, o PSD integra a base aliada do governo Dilma e ocupa a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, comandada por Afif Domingos. (Colaboraram Erich Decat e Ricardo Della Coletta). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Integrantes da Executiva Nacional do PSDB se reúnem nesta terça-feira, 11, em Brasília para discutirem uma resolução em que devem estabelecer que a última palavra sobre as alianças regionais será dada pela cúpula tucana. O texto final da resolução ainda não foi distribuído para os integrantes da Executiva e deve ser apresentado durante o encontro previsto para ocorrer na sede da legenda.

"Ainda não conheço o texto da resolução, mas acredito que ele passa pela questão da uniformidade do partido nos Estados dando prioridade à eleição presidencial, o que acho correto", afirmou o vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman (SP).

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Segundo ele, na pauta da convocação não está prevista uma discussão sobre quais medidas o partido deve tomar em relação ao julgamento do deputado Eduardo Azeredo. Ele deve enfrentar no Supremo Tribunal Federal (STF) julgamento pela acusação de peculato e lavagem de dinheiro no esquema conhecido como mensalão mineiro, ocorrido durante sua campanha à reeleição ao governo, em 1998.

"Não é uma questão partidária. Ela está no Poder Judiciário, tem um parecer, mas não acho que seja discutido na reunião", afirmou Goldman. Na última sexta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao STF parecer em que sugere que o deputado seja condenado no processo do mensalão mineiro a 22 anos de prisão.

A proibição de coligações nas eleições para deputado, um dos pontos da proposta de reforma política que a Câmara começará a debater nesta semana, provocaria mudanças profundas na composição de quase todas as bancadas partidárias já a partir de 2015. Os maiores beneficiados seriam os partidos mais fortes - apesar disso, as chances de aprovação são mínimas. Se as coligações estivessem proibidas na eleição de 2010, a atual Câmara dos Deputados seria muito diferente.

O PMDB e o PT teriam, cada um, 30 deputados a mais. Isso representaria um aumento de 38% e 35% no número de vagas peemedebistas e petistas, respectivamente. O PSDB também levaria vantagem, com sete cadeiras a mais, assim como o PV, com ganho de uma vaga. Todos os demais perderiam, sendo que seis partidos nanicos seriam varridos do Congresso e do mercado do tempo de TV nas campanhas eleitorais. As coligações nas eleições para deputado e vereador não são permitidas na grande maioria dos países democráticos - o Brasil é uma das exceções.

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Graças a esse instrumento, partidos menores conquistam mais cadeiras na Câmara ao pegar "carona" na votação dos partidos grandes com os quais se coligam. As caronas são necessárias para os pequenos e médios partidos porque eles têm mais dificuldades para alcançar o quociente eleitoral - patamar mínimo de votos para que uma legenda ou uma coligação consiga eleger representantes para a Câmara.

O quociente eleitoral é o resultado da divisão do total de votos válidos pelo número de vagas em disputa em cada Estado. No Ceará, por exemplo, o quociente foi de 193 mil votos na eleição de 2010. Seis partidos tiveram mais votos do que isso. Três não chegaram lá (PDT, PP e PTB), mas conseguiram eleger deputados mesmo assim, pois o patamar mínimo foi atingido pela coligação da qual faziam parte.

Mas por que os partidos maiores dão "carona" a outras legendas se isso significa ter uma representação menor na Câmara? Porque as coligações proporcionais (nas eleições para deputado) são uma das "moedas" nas negociações de alianças majoritárias (eleições para governador e presidente). Nessa lógica, partidos pequenos e médios cedem seu tempo de propaganda no rádio e na TV para candidatos majoritários de partidos mais fortes e, como uma das contrapartidas, exigem coligações nas eleições proporcionais. Assim, de carona no grandes, garantem vagas na Câmara e, consequentemente, mais tempo de televisão para negociar na eleição seguinte. Um ciclo vicioso na política hoje. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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